terça-feira, 5 de maio de 2015

Homilética: 6º Domingo da Páscoa - Ano B: “O amor em prática”.


“Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo” (Jo 15,12). Trata-se do amor que pressupõe o amor de Deus e que deve realizar-se através das nossas obras. Com relação ao amor ao próximo, por exemplo, é muito importante que não sejamos teóricos. 

Estamos fartos de discursos humanitários retóricos! Gostaríamos de ver solucionada a situação das pessoas com as quais convivemos: “esse vive num barracão, aquele passa fome, fulano não tem trabalho, o outro está com depressão, os grupos estão divididos na minha paróquia, no meu grupo há uma pessoa que sempre quer destacar-se mais que os outros, há críticas… um desastre!”

No Evangelho (Jo 15,9-17), S. João nos fala do mandamento do amor. João é a “testemunha ocular” por excelência de Jesus; esteve com ele desde a primeira hora (cf. Jo 1,35); junto com Pedro e Tiago, seu irmão; assistiu à Transfiguração e à agonia no Getsêmani (cf. Mc 14,33) e foi uma das primeiras testemunhas da Ressurreição (cf. Jo 20,2). Ele mesmo se apresenta no Evangelho como “aquele que viu” (cf. Jo 19,35). Porém, com mais frequência ainda João se apresenta como “o discípulo que Jesus amava” (cf. Jo 13,23; 19,26; 20,2). Seu principal testemunho não diz respeito às coisas feitas por Jesus, mas a seu amor.

No Evangelho e na segunda leitura (1Jo 4,7-10) encontramos descrita a estrutura do amor em três planos: Amor do Pai por seu Filho Jesus Cristo; o amor de Jesus Cristo pelos homens; e o amor dos homens entre si. Como o Pai me ama assim também eu vos amo. Amai-vos uns aos outros.

Insistindo sobre o mandamento novo João nos faz Jesus repetir (Evangelho): amai-vos uns aos outros; e ele mesmo (João) nos diz (1Jo 4,7-10): amemo-nos uns aos outros. Se não se dá este último passo - de nós aos irmãos- a longa cadeia de amor que desce de Deus Pai fica como que suspensa no vazio; o amor chega perto, mas não toca; nós ficamos fora de seu fluxo, fora, portanto, da vida e da luz, porque quem não ama permanece na morte (1Jo 3,14).

São Paulo teceu o mais alto elogio ao Ágape (amor): “O amor é paciente; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça… Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo” (1Cor 13,4-7).

Resumindo numa frase: para ser amados precisamos amar. Para receber amor do Pai e de Jesus Cristo precisamos doar amor aos irmãos. Na realidade, o verdadeiro paradoxo cristão consiste em acrescentar esta outra verdade: para amar precisamos ser amados. João, o discípulo que Jesus amava, compreendeu por experiência que só quem é amado é capaz de amar e escreveu, por isso, em sua carta: Amamos, porque Deus nos amou por primeiro (1Jo 4,19).

O próprio Jesus parece atribuir ao amor fraterno o papel de ser sinal eficaz do amor do Pai: Para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim (Jo 17,23).

Será que os acatólicos conhecem os católicos pelo amor mútuo, pela atenção caridosa, pelo carinho, pela boa educação, pela generosidade e pela disponibilidade? Para saber como se vive a caridade é preciso olhar, em primeiro lugar, para Jesus. A regra, a medida da caridade, é ele: “como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”. Como Cristo amou-nos? Rebaixando-se a si mesmo, sofrendo na cruz e derramando todo o seu Sangue por nós, preocupando-se verdadeiramente com os nossos pequenos e grandes problemas. Assim deve ser o nosso amor aos irmãos: será preciso dedicar-lhes tempo, escutá-los, dispor-nos a ajudá-los quando for preciso, mostrar o nosso agradecimento às pessoas, corrigir com fortaleza e gentileza quando necessário, viver as normas da educação e da prudência, viver a discrição, compreendê-los, sorrir também quando não se tem vontade; sacrificar-nos por eles, sem que percebam, para que tenham bons momentos.

E nas paróquias? Quantas rivalidades! Quantos ciúmes! Quanta inveja! Disse alguém que “Cristo mandou que nos amássemos, não que nos amassemos”. Há muitas reuniões, e pouca união! Os problemas na comunidade cristã não são novos, São Paulo escreveu aos Gálatas: “se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros” (Gl 5,15). Por que será que os cristãos às vezes se mordem devorando-se uns aos outros? Pelo mesmo motivo que São Paulo identificou entre os gálatas: eram carnais. O que é necessário para viver a caridade? Deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e fazer as obras do Espírito: “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5,22-23). Hoje é o dia para que renovemos os bons propósitos de viver “opere et veritate”, com obras e na verdade, a virtude da caridade, não em geral e em abstrato, mas em particular e concretamente: na família, com o pai, com a mãe, com os irmãos, com os amigos, com o patrão, com o empregado, com o meu irmão de comunidade. Não é fácil porque as pessoas têm problemas, dificuldades, às vezes exalam mau olor, falam demasiado (e às vezes com a boca cheia) ou não falam quase nada, faz calor. Poderíamos enumerar mil e uma razões para não viver a caridade, nenhuma delas é consequente.

Deus nos fez solidários e responsáveis uns pelos outros; deseja que os amados por Deus procurem levar outros a ter a mesma experiência do único modo possível, isto é, amando-os e amando-os concretamente: “…não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em verdade” (1Jo 3,18).

Para amarmos de verdade o nosso próximo, intensifiquemos a nossa vida de oração.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: At 10,25-26.34-35.44-48; 1Jo 4,7-10; Jo 15,9-17

Caros irmãos e irmãs, chegamos ao sexto domingo do tempo pascal e o evangelho prescrito para este dia nos situa outra vez em Jerusalém, onde Jesus se encontra com os seus discípulos. As autoridades judaicas já haviam decidido pela morte de Jesus (cf. Jo 11,45-57). A morte na cruz é o cenário imediato. E Jesus está plenamente consciente disso. Os discípulos também já perceberam estes sinais e estão apreensivos. É neste contexto que podemos situar a última ceia de Jesus com os discípulos. Trata-se de uma “ceia de despedida” e tudo o que for dito por Jesus soa a “testamento final”. Ele sabe que vai partir para o Pai e que os discípulos ficarão no mundo, continuando a sua missão. Nesse momento de despedida, Jesus recorda aos discípulos o essencial da sua mensagem e se dirige a eles como amigos, escolhidos para serem colaboradores no trabalho apostólico.

Podemos extrair deste texto evangélico muitos ensinamentos, mas concentremos a nossa atenção nestas significativas palavras de Jesus: “Já não vos chamo servos… Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (cf. Jo 15,15). Ele nos oferece a sua amizade, lembrando que não existem segredos entre amigos: Cristo nos diz tudo quando ouve o Pai; nos oferece a sua plena confiança e, com a confiança, também o conhecimento. Ele nos revela o seu rosto, o seu coração, nos mostra a sua ternura, o seu amor apaixonado que vai até à loucura da cruz.

No início do texto Jesus diz: “Já não vos chamo servos…” (v.15). Como de fato, o conceito que predominava no Antigo Testamento para indicar o relacionamento do homem com Deus era o conceito de servidão. Deus é o Senhor, nós os seus servos. Ao ser chamado por Deus, responde, por exemplo, o jovem Samuel: “Fala Senhor, que teu servo escuta” (cf. 1Sm 3,1-10). No canto do “Benedictus”, Davi é apresentado como o “servo do Senhor”. E é exatamente isto que Maria diz no momento da anunciação do anjo: “Eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,38). E, no canto do “Magnificat”, Maria volta a dizer: “Porque olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48). Agora Jesus nos diz a consoladora palavra: “Já não vos chamo servos… Eu vos chamo amigos” (Jo 15,15).

E sobre a amizade, a Sagrada Escritura nos apresenta ricos testemunhos.  O Primeiro livro de Samuel nos narra o relacionamento de David e Jônatas como uma das mais belas experiências de amizade (cf. 1Sm 18).  O Livro do Eclesiástico frisa: “Aqueles que amam e respeitam o Senhor encontrarão o amigo fiel; Amigo fiel é proteção poderosa, e quem o encontrar, terá encontrado um tesouro. Amigo fiel não tem preço, e o seu valor é incalculável. Amigo fiel é remédio que cura, e os que temem ao Senhor o encontrarão” (Eclo 5,16; 6,14-16). O Livro dos Provérbios observa: “Em todo o tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (Prov 17,17).

Os amigos verdadeiros são tesouros de inestimável valor, porque tornam o homem capaz de encarar e aceitar sua real condição: a fragilidade humana. A fragilidade desempenha importante papel na vida humana. É por causa dela que os homens precisam de amigos. Não somos fracos nos mesmos pontos, assim, cada um supre e completa o outro, compensando mutuamente as carências,  deficiências e fragilidades. A amizade pode ter como origem um instinto de sobrevivência da espécie, com a necessidade de proteger e ser protegido. A amizade é uma experiência sublime; sua existência na vida de um ser humano é a principal prova de que ele não está sozinho. Amigo é companheiro, uma presença que nos impulsiona e torna qualquer dificuldade mais fácil de ser vencida. Uma amizade só se constrói com base em muita confiança, respeito e fidelidade.  É uma das mais expressivas formas de amor. É uma virtude extremamente necessária à vida. Mesmo que possuamos diversos bens, riqueza, saúde, poder, ainda assim, não serão suficientes para nossa realização plena, pois nos falta a essencial e indispensável amizade. Certamente ninguém escolheria viver sem amigos (cf. T. MERTON, Homem algum é uma Ilha, Campinas, 2003, p. 150).

Uma amizade consolidada no tempo pode nos transformar, porque, antes de tudo, o amigo nos ama como somos.  É com ele que partilhamos as alegrias e as tristezas e nele encontramos o apoio que faz diminuir as nossas mágoas. O que muitas vezes os pais não conseguem, um amigo consegue fazer, sobretudo, nos corrigir. Ele atinge o coração. O amigo é capaz de dizer as coisas como elas são. Ele nos dizer as verdades que não gostaríamos de ouvir. Muitas vezes podem ocorrer rupturas, pode surgir o afastamento, mas os dias passam e a tendência é voltar atrás.  Ambos se entendem. Não conseguem ficar longe um do outro. A amizade é mais forte que o desentendimento. Muitas vezes só a amizade é capaz de nos dobrar. Ter amigos é essencial. Ser amigo é o segredo da vida e da vitória. Porque na amizade há amor, amor puro, amor fraternal.

Para Santo Agostinho a amizade é um dom de Deus.  E ainda sustenta: “Nem sempre o que é indulgente conosco é nosso amigo, nem o que nos castiga, nosso inimigo. São melhores as feridas causadas por um amigo que os falsos beijos de um inimigo. É melhor amar com severidade a enganar com suavidade” (S. AGOSTINHO, As confissões, Livro II, cap. 9, p. 55).  Para São Tomás de Aquino “a amizade diminui a dor e a tristeza” (S. TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologica, I-II, q. 36, a. 3). Para Aristóteles o “amigo é um outro eu… Sem amizade o homem não pode ser feliz… O verdadeiro amigo deve ser capaz de chegar até as últimas consequências, a ponto de doar não só os próprios bens, mas também a própria vida pelo amigo” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, Martin Claret, p. 173). O dar a vida pelos amigos tem, em Jesus, um valor infinitamente superior ao que pensaram os filósofos de todos os tempos.  

Jesus entende o seu amor como um amor entre amigos.  Não é um amor que vem de cima, é um amor que vê no outro um igual, quando a dedicação ao outro vem antes do próprio interesse.  E o auge desse amor está na morte de Jesus pelos amigos que somos nós: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15,15).  Jesus deu a vida pelos seus amigos. Amigos que não o tinham compreendido, que no momento crucial o abandonaram e o traíram e renegaram. O amor do amigo é, tanto para os judeus quanto para os gregos, o maior bem e o cumprimento de seu desejo mais profundo.

Jesus chama os seus discípulos de amigos. Eles já não são servos que não sabem o que o senhor faz e que não têm acesso ao coração de seu amo. O servo está distante do seu senhor, ele está sempre no escuro e temeroso, enquanto os discípulos de Jesus são por ele amados incondi-cionalmente. Nessa imagem da amizade, o Evangelista São João descreve o mistério da nova relação de Deus com os homens, que se tornou realidade por Jesus.  Somos amigos de Deus. E. quando somos amigos, o amor flui espontaneamente. Na imagem do amigo, Jesus nos mostra a nossa dignidade. Passamos a ser íntimos dele. Ele se abriu conosco, nos revelou o mistério do Pai. Com isto percebemos como somos importantes para Jesus, a ponto dele entregar a sua vida por nós (cf. A. GRÜN, Jesus, porta para a vida, São Paulo, p. 128). Sob este aspecto podemos compreender as palavras de São Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8,35), pois “Ele me amou e se entregou por mim!” (Gl 2,20). O cristianismo eleva o conceito de amizade, onde passa a ter o caráter de dom, vocação, comunhão como fruto da amizade que Cristo viveu com o Pai, tornando-se agora o referencial para o amor humano.

Há algo comovedor nesta declaração de Jesus: “Eu vos chamo amigos”. É uma afirmação que nos emociona. Quanta dignidade para nós termos um amigo, mas uma dignidade maior está em sermos amigos de Jesus. Mas não podemos esquecer que para Jesus, a amizade está também na comunhão das vontades: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15,14).  Nesta comunhão realiza-se a nossa redenção: sermos amigos de Jesus, é também sermos amigos de Deus. Com isto, somos chamados a uma relação pessoal, cheia de confiança e de amizade com a pessoa de Jesus. Não podemos esquecer que a verdadeira amizade com Cristo se expressa na forma de viver, por isto, precisamos nos empenhar sempre em abrir o nosso coração à amizade com Cristo. Permitamos que ele seja nosso amigo, que ele participe da nossa vida e que possamos fazer sempre a sua vontade.  Assim seja.

PARA REFLETIR

Para bem compreender esta Palavra de Deus que acabamos de escutar, é necessário recordar o Evangelho de Domingo passado. Estamos ainda no capítulo 15 de São João: aí Jesus revelou-se como a videira verdadeira, cujo agricultor é o Pai e cujos ramos somos nós. Eis, caríssimos: estamos enxertados no Cristo morto e ressuscitado; somos ramos seus, vivendo da sua seiva que é o Espírito Santo, “Senhor que dá a vida”, Espírito de amor derramado em nossos corações (cf. Rm 5,5). Porque temos o Espírito do Cristo, vivemos do Cristo e, no Espírito, o próprio Cristo Jesus habita em nós e nos vivifica. Recordando essas coisas, podemos compreender o que o Senhor nos fala neste hoje. Vejamos.

“Como o Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor”. Caríssimos em Cristo, de que amor o Senhor nos fala aqui? De um sentimento, de um afeto, de uma simpatia, de uma amizade? Não! De que amor? Escutemos São Paulo: “O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5). O amor de que fala Jesus é o amor-caridade, o amor de Deus, o amor que é fruto da presença do Espírito de amor, o Espírito Santo. Coloquem isso na cabeça e no coração: na Escritura, falar de amor, de glória, de presença e de poder de Deus é falar do Espírito Santo! Pois, podemos agora compreender a profunda afirmação de Jesus: “Como o Pai me amou, assim também eu vos amei”. Como o Pai amou o Filho? No Espírito de amor! Desde a eternidade, o Santo Espírito é o laço, o vínculo de amor que une o Pai e o Filho numa única e indissolúvel divindade. Na sua vida humana, Jesus foi sempre amado pelo Pai no Santo Espírito. Basta recordar quando o Pai derrama sobre ele o Espírito, no Jordão, exclamando: “Este é o meu Filho amado, em quem eu me comprazo” (Mt 3,17). Eis: o Pai declara o seu infinito amor pelo Filho, derramando sobre ele, feito homem, seu Espírito de amor. Jesus é o Filho amado porque nele repousa o Amor-Deus Espírito Santo! Pois bem, escutemos: “Como o Pai me amou no Espírito, eu também vos amei! Dei-vos o meu Espírito de Amor, que agora habita em vós! Permanecei no meu amor, isto é, deixai-vos guiar pelo meu Espírito, vivei no meu Espírito!” Vede, irmãos, como agora tudo tem sentido, como as palavras de Jesus são profundas! Vede como tudo isso é verdadeiro! Escutai ainda uma palavra da Escritura: “Nisto reconhecemos que permanecemos nele e ele em nós: ele nos deu o seu Espírito!” (1Jo 4,13).

E qual é o sinal de que temos e vivemos no Espírito? Que frutos esse Espírito de Amor, permanecendo em nós, nos dá? O primeiro é cumprir os mandamentos: “Se guardardes os meus mandamentos, é porque permanecereis no meu amor”. É experimentando o amor de Jesus, vivendo na doçura do seu Espírito, que podemos compreender a sabedoria dos preceitos do Evangelho e teremos a força e a doçura para cumpri-los. Como o mundo não conhece nem tem o Espírito Santo de amor, não pode compreender nem gostar dos preceitos do Senhor! Por isso esse tão grande choque entre o que a Igreja propõe em nome de Cristo para a nossa vida moral e aquilo que o mundo propõe! Aborto, eutanásia, uso de preservativos, divórcio, relações pré-matrimoniais, relações homossexuais, riqueza, prazer, etc… Caríssimos, há um abismo entre o sentir do mundo e o sentir do cristão. Somente o cristão, sustentado pelo Santo Espírito de Amor, pode compreender que os mandamentos do Senhor não são pesados, mesmo quando nos parecem difíceis! É o Espírito de Jesus que, habitando em nós, faz-nos permanecer em Jesus e ter prazer e força no cumprimento da sua santa vontade.

Mas, há ainda outro fruto, outro sinal da presença do Espírito em nós: a alegria interior, mesmo em meio a dificuldades, lutas e provações da vida. Escutai: “Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena”. Onde o Espírito de Jesus ressuscitado está presente, a alegria triunfa, porque a morte, a treva, o pecado foram vencidos. Por isso mesmo, o cristão, ainda que entre provações e dificuldades, poderá sempre manter uma profunda alegria interior – a alegria pascal, fruto da presença do Santo Espírito!

Ainda um último sinal dessa doce presença do Espírito do Ressuscitado em nós: o amor fraterno. “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei!” Jesus nos amou até entregar toda a sua vida por nós, como remissão pelos nossos pecados. Pois bem, ao nos dar o seu Espírito de amor, ele nos dá as condições e a graça para amar assim, como ele. Isso é tão forte, que a segunda leitura de hoje nos desafia: “Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, porque Deus é amor. Todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus”. Ainda uma vez mais, meus caros, é no Espírito de Amor que podemos nascer de Deus no Batismo, é no Espírito de Amor que podemos conhecer a Deus como Pai e a Jesus como o Filho amado! É o Espírito de Amor que nos reúne, apesar de sermos tão diferentes! Recordai-vos, caríssimos, da primeira leitura: como o Espírito, descendo sobre a família de Cornélio, que era toda pagã, fez com que Pedro, o Chefe da Igreja, aceitasse os primeiros pagãos na Comunidade cristã! Só no dom do Espírito o nosso coração pode ser aberto a todos, como o coração de Cristo!

Caríssimos, a Palavra de Deus hoje escutada já nos aponta para Pentecostes, daqui a quinze dias… Prestai atenção como o fruto da morte e ressurreição de Jesus é o Dom do seu Espírito, que permanece conosco e torna Jesus presente a nós, vivo e vivificante! Estejamos atentos, meus caros: todos temos o mesmo Espírito de amor e no amor que é esse Espírito devemos viver e dar frutos que permaneçam. A Igreja não é uma comunidade de amiguinhos simpáticos entre si; não é a reunião de pessoas interessantes e bem relacionadas! Nada disso! Somos a Comunidade reunida em nome de Cristo morto e ressuscitado, nascidos no Batismo no seu Espírito Santo, Espírito que nos faz amar a Jesus e, por Jesus, amarmo-nos uns aos outros. Assim sendo, sejamos dóceis ao Espírito, permaneçamos em Cristo e arrisquemos viver de amor. Que no-lo conceda Aquele que, à direita do Pai, deu-nos o Espírito e intercede por nós. Amém.

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