segunda-feira, 18 de maio de 2015

Paquistão: “É melhor ser um mártir do que um refugiado”


"... telefonemas estranhos, nos quais, por exemplo, alguém diz ser muçulmano desejando se converter ao cristianismo. Se o sacerdote disser alguma palavra imprudente – a conversão de um muçulmano é proibida por lei – ele terá de enfrentar problemas muito sérios."

Há cerca de 190 milhões de pessoas vivendo na República Islâmica do Paquistão. E a população continua crescendo rapidamente. Assim, apesar de haver cerca de 1,2 milhões de católicos no país,  eles constituem apenas uma minoria muito pequena.

Os sacerdotes católicos do Paquistão – cerca de 300 – atendem enormes áreas do país, frente a inúmeros desafios. As ameaças de extremistas são cada vez maiores. Os cristãos com frequência são vítimas de violência e de falsas acusações de blasfêmia contra o islã. Até mesmo na vida cotidiana eles são expostos a todos tipos de hostilidade e discriminação. A maioria deles pertence às classes mais pobres da sociedade. Eles procuram os padres não só em busca por apoio espiritual e pastoral. Se um trabalhador do campo contratado por algum rico proprietário de terras vier a falecer, sua viúva e filhos serão imediatamente postos na rua pelo patrão. Inevitavelmente, eles irão pedir socorro ao padre, assim como os pais de crianças gravemente doentes, as vítimas de ataques violentos, bem como todas as pessoas em necessidade ou desesperadas.

Dos 196 países pesquisados ​​pela AIS, em 55 registra-se essa situação. Além disso, a liberdade religiosa é violada de forma significativa em 82 países: 200 milhões de cristãos são perseguidos e outros 50 milhões discriminados. Na lista dos locais com as mais graves violações deste direito fundamental, predomina os países muçulmanos. Dos 20 países classificados como de "alta perseguição", 14 deles sofrem perseguições ligadas ao fundamentalismo islâmico. Estes são o Afeganistão, Arábia Saudita, Egito, Irã, Iraque, Líbia, Maldivas, Nigéria, Paquistão, República Centro Africana, Somália, Síria, Sudão e Iêmen. Nos outros seis países, as perseguições estão ligadas aos regimes autoritários. Como no caso do Azerbaijão, China, Coréia do Norte, Eritréia, Burma (Myanmar) e Uzbequistão.

Ao mesmo tempo, os próprios sacerdotes com frequência vivem em estado de tensão. A maioria deles recebeu em algum momento cartas e telefonemas com ameaças. Até mesmo alguns bispos tem recebido cartas exigindo que se convertam ao Islã. Quase todos já perceberam que seus telefones são grampeados e, algumas vezes, eles receberam telefonemas estranhos, nos quais, por exemplo, alguém diz ser muçulmano desejando se converter ao cristianismo. Se o sacerdote disser alguma palavra imprudente – a conversão de um muçulmano é proibida por lei – ele terá de enfrentar problemas muito sérios. 

Por toda parte há um clima de medo. Um padre relata como foi ameaçado quando uma pessoa influente da etnia belutsh ocupou um terreno que pertencia a uma escola católica. O sacerdote tentou resistir à ocupação e pediu ajuda ao governo. Então, ele passou a receber telefonemas e cartas ameaçadoras advertindo: “se você celebrar Missa, nós vamos explodir você com uma bomba”! Ao menos ele recebeu proteção policial. Mas mesmo hoje, vários anos depois deste incidente, ele ainda sente calafrios de medo quando ele vê, por exemplo, uma moto chegar muito próximo de seu carro. Outros sacerdotes receberam ameaças por terem defendido vítimas de injustiças e perseguição. Um deles, entretanto, nos assegurou: “Eu não tenho medo de dizer a verdade. De qualquer modo, eu um dia terei de morrer. Se eu tiver de morrer como resultado desta situação, então eu estarei em paz sobre isso. Em nossa sociedade, os padres receberam o papel profético de falar a verdade”.

O Pe. Emmanuel Parvez recebeu telefonemas ameaçadores por que ele é primo de um político católico de 42 anos que foi assassinado em 2 de março de 2011. Este político, Shahbaz Bhatti, que era o ministro das minorias, foi baleado em seu carro, próximo de sua própria casa, por atiradores mascarados armados com metralhadoras. Um grupo aliado do Taliban depois assumiu responsabilidade pelo atentado. Ele foi assassinado por sua oposição à assim chamada “lei da blasfêmia”. Apenas três anos após sua morte, a conferência dos bispos do Paquistão entregou um pedido oficial ao Vaticano para que ele seja incluído na lista dos “Mártires da Igreja”. Depois de seu assassinato, muitos membros de sua família foram ameaçados e foram forçados a deixar o país. Mas o Pe. Emmanuel Parvez, apesar de ameaçado, decidiu ficar com o seu povo, pois ele disse – “É melhor ser um mártir do que um refugiado”.

Em face de tais desafios, a Conferência dos Bispos do Paquistão está tentando assegurar que estes sacerdotes possam se encontrar de tempos em tempos para que se apoiem e se fortaleçam mutuamente, num espírito de irmandade fraterna, para trocar experiências, aprofundar seu entendimento teológico e ganhar uma nova compreensão de sua própria vida religiosa. Deste modo, eles poderão retornar ao seu povo espiritualmente fortalecidos. A ideia é que a cada cinco anos todos os padres de todo o Paquistão possam se encontrar para um tempo de recolhimento espiritual e de encontro mútuo.

No passado, isto nem sempre foi possível, mas é esperado que neste ano os sacerdotes do país possam estar reunidos novamente. Eles irão passar cinco dias juntos, rezando, ouvindo palestras, conferências e trocando experiências. A Conferência dos Bispos do Paquistão pediu ajuda e a Ajuda à Igreja que Sofre prometeu financiar cerca de 38.000 reais. Uma quantia relativamente pequena em vista do bem que fará para que cada padre possa retornar seu árduo trabalho e continuar a dedicar a sua vida a Deus e ao seu povo.
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AIS Brasil
Com informações: ZENIT

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