quarta-feira, 27 de maio de 2015

A confusão mental dos seguidores de Olavo de Carvalho


Há alguns meses publiquei neste blog dois textos sobre um jornalista que se auto-intitula filósofo chamado Olavo de Carvalho. Para minha surpresa, nos últimos dias tenho recebido um enxurrada de comentários raivosos, de pessoas que vêm aqui xingando e descarregando todo tipo de insanidades contra essas duas postagens. Só aprovei aqueles comentários de pessoas que falam com o mínimo de civilidade. Pois bem: todas essas pessoas são seguidoras e admiradoras do tal Olavo de Carvalho.

A questão é que acompanhei durante alguns meses as postagens de textos e vídeos do site do qual Olavo é dono: o Mídia sem Máscara. Como já falei em outras postagens, o site é exclusivamente voltado a falar mal (nem posso dizer que são análises porque não há análises sérias ali, apenas esculachos) da esquerda, do marxismo, do PT, do MST, de Lula, da Dilma, de tudo o que não seja de extrema direita e que não esteja vinculada a uma visão de mundo conservadora, fascista e cristã.

Mas os colunistas são uma verdadeira piada: há um tal de Julio Severo, um protestante homofóbico; Graça Salgueiro, uma senhora que vive desejando golpes militares de direita na América Latina (uma característica desses colunistas: golpes militares podem, desde que sejam de direita e mesmo que sejam contra governos de esquerda eleitos democraticamente); Nivaldo Cordeiro, que praticamente repete as mesmas asneiras ditas e escritas por Olavo de Carvalho, entre vários outros.

Entre um desses admiradores de Olavo está um tal de Leonardo Bruno, que edita um blog chamado Conde Loppeux de La Villanueva e também escreve para o Mídia sem Máscara, mas em quem eu nunca tinha prestado atenção até ele vir aqui me anunciar uma postagem que ele fez respondendo à minha “Olavo de Carvalho e a pieguice intelectual brasileira”. Leonardo é um blogueiro de orientação fascista que xinga a todos os que não estão alinhados a suas ideias. Em um desses comentários, me falou que não interessa que eu tenha publicado artigos e livros porque a universidade brasileira é tão insignificante quanto eu. Agora vejam só: um homem que considera a universidade insignificante apenas porque ela não é a imagem e semelhança do que ele acha que tem que ser. O sujeito é tão ignorante que não entende nada de linguística e antropologia (segundo ele próprio) e fala que essas duas áreas do conhecimento servem apenas para empregar pessoas. Mas pessoas de orientação fascista não suportam a universidade enquanto centro de livre discussão de ideias; ela só é útil pra eles se estiver livre de qualquer oposição e rigidamente controlada por um Estado de extrema direita. Ora, a academia ainda é um dos poucos espaços na sociedade onde convivem ideias pluralistas, há intelectuais de direita, de esquerda, outros que estabelecem diálogos com ambos sem necessariamente aderir a um lado ou a outro. 

A universidade brasileira ainda tem menos de cem anos mas tem dado contribuições inestimáveis à sociedade. No campo da historiografia, por exemplo, que é a minha área, há expoentes reconhecidos internacionalmente por suas pesquisas. O Brasil possui uma historiografia abundante e bem consolidada e o Sr. Leonardo Bruno generaliza dizendo que nossas universidades são insignificantes. Acontece que não é possível nem dialogar com ele porque tudo o que fala se resume xingamentos, desqualificação do interlocutor, escárnios, uma verdadeira baixaria sem fim, bem ao estilo de Olavo de Carvalho, de quem seus seguidores imitam os trejeitos. Leonardo Bruno é um apedeuta que sai vomitando esculachos e intimidações contra os outros na internet. E outros como ele acham isso o máximo, afinal, demonstração de intelectualidade para eles é distribuir palavrões gratuitos.

Leonardo Bruno é um sujeito que não teve competência para concluir um curso de graduação em História e hoje fica na internet achincalhando a tudo e a todos de quem discorda. Vi alguns de seus vídeos no Youtube, onde é possível ver o quanto o homem é mesquinho, rude, pedante. Ele simplesmente não argumenta, apenas ofende. E então fiquei pensando: essa é a cara da direita brasileira formada pelo Sr. Olavo de Carvalho: uma direita que despreza a universidade e cultiva o ideário fascista.

Todos são saudosistas da ditadura. Olavo de Carvalho costuma dizer em seus vídeos que o maior erro do regime militar foi não ter acabado com a esquerda. Ou seja, para eles deveria ter acontecido aquilo que Mussolini e Francisco Franco tentaram fazer na Itália e na Espanha, respectivamente: liquidar fisicamente a oposição de esquerda. Curioso é que eles gostam de falar do Gulag e das vítimas soviéticas, mas os crimes contra a humanidade perpetrados por ditadores de direita são considerados normais para estes senhores. Eles idealizam o regime militar como o paraíso do desenvolvimento brasileiro.


Para tomarmos esse assunto como exemplo, o que fez a ditadura militar foi promover um crescimento econômico desordenado que levou a uma falência da máquina estatal. Evaldo Vieira em “Viagem Incompleta: a grande transação” informa que entre 1956 e 1983 a dívida externa brasileira cresceu 3.400%, passando de 2,5 bilhões de dólares para 90 bilhões. Em 1980 a inflação era de 110,2% e, apenas quatro anos depois, havia saltado para 223,7%. Por isso a década 1980 foi de estagnação econômica para o Brasil. A degradação do salário mínimo fez com que os produtos básicos para alimentação custassem mais de 60% da renda mensal dos trabalhadores.

O desemprego cresceu exponencialmente: na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o número de desempregados atingiu 15% da população economicamente ativa. Mas é claro que Leonardo Bruno não sabe disso, porque seu “professor” Olavo de Carvalho não traz essas informações. A ditadura militar é que foi boa, independente do fato se as pessoas estavam passando fome ou sem trabalho. O importante para esses fascistas é que a esquerda não esteja no poder, não importa o quanto a população esteja sendo massacrada.

Os militares depuseram um governo eleito democraticamente (Goulart era vice de Jânio Quadros, que renunciou em 61). Seu programa de governo apresentava um plano de reformas de base que o país necessitava com urgência, como a reforma agrária, constitucional, educacional. As amplas manifestações de trabalhadores rurais evidenciavam a crise advinda do campo. Para que o leitor tenha um ideia do tamanho da concentração fundiária, segundo Francisco Carlos Teixeira da Silva apenas 31% das terras do país eram efetivamente ocupadas. As terras com mais de 1.000 hectares de área ocupavam 47,3% do total, contribuindo com apenas 11,5% da produção e tendo em cultivo apenas 2,3% do total de suas áreas, ou seja, a maior parte eram improdutivas. Em 1963 o governo promulga o Estatuto do Trabalhador Rural, que previa pagamento de salário mínimo e jornada de trabalho de oito horas aos camponeses. O resultado foi a expulsão em massa de trabalhadores pelo fato de seus patrões recusarem-se a cumprir a legislação. Em novembro de 64, os militares criaram em substituição o Estatuto da Terra que nunca saiu do papel e nem era uma proposta concreta de reforma agrária.

Os saudosistas da ditadura costumam falar de crescimento do PIB, mas “esquecem” que o
PIB não implica distribuição de renda. Ao contrário, os salários dos trabalhadores foram cada vez mais comprimidos. Segundo Boris Fausto, em 1972 mais de 50% da população economicamente ativa recebia menos de um salário mínimo. Os baixos salários e a concentração de renda também se refletiam na precariedade dos programas sociais. O Brasil tinha um dos piores indicadores de saúde, educação e habitação do mundo, e isso em plena era do “milagre” econômico do governo Médici. Mas esse é o governo perfeito daqueles que odeiam Lula, Dilma e a própria sociedade brasileira. São aqueles que não querem cotas pra negros porque não querem conviver com negros na universidade, não gostam do bolsa família porque não sabem nem se existem pobres no país.

Olavo de Carvalho também mente quando diz que o governo americano não teve participação no golpe de 64. Kennedy já vinha exercendo pressão sobre o governo brasileiro por um alinhamento contra Cuba e a CIA financiava órgãos daqui para fazer oposição ao governo Goulart como o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES). A ESG participou ativamente da luta contra a reforma agrária. Segundo o mesmo autor que citei, eles chegaram a movimentar um fundo de 12 bilhões de dólares para campanhas contra o governo. E quem estava na linha de frente desse processo era o mesmo Golbery do Couto e Silva que criou a doutrina da “segurança nacional” para legitimar o golpe. E vem um impostor como Olavo de Carvalho dizer que não houve participação americana no processo. Afirmação estapafúrdia que só poderia vir de um sujeito que nunca passou em um vestibular.

E  ainda vem um bobo como Leonardo Bruno, que fugiu da universidade, repetir o mesmo lenga-lenga de seu mestre. E eles não têm argumentação histórica. Apenas dizem que o Brasil estava se tornando comunista. Outra informação falsa, pois Goulart não era comunista. Pelo contrário, as reformas de base pretendiam impulsionar o capitalismo no Brasil, engessado por uma modernização claudicante e anacronismo da elite latifundiária. Os que depuseram Goulart foram os mesmos entreguistas que provocaram o suicídio de Vargas.

Essas pessoas também não têm a menor vergonha de sair acusando os outros com o único objetivo de denegrir a imagem do oponente; entre as calúnias que Leonardo Bruno fala contra minha pessoa está a afirmação de que sou nazista. Agora imagine o leitor se eu, nordestino, mestiço e que jamais estive vinculado a nenhum órgão ou movimento de direita, imagine se eu poderia ser nazista. Mas Olavo adestrou pessoas como Leonardo Bruno a acreditarem o nazismo era de esquerda, para que possam sair caluniando seus interlocutores de coisas que eles não são. Ele chega inclusive a mencionar o acordo entre Hitler e Stálin. Coisa de quem fugiu da escola.

O acordo entre Hitler e Stálin foi apenas uma jogada estratégica de ambas as partes. Hitler queria conquistar a Europa e precisava de uma União Soviética que não atrapalhasse seus planos. Por outro lado, Stálin sabia que o poderio militar alemão naquele momento era superior ao soviético e precisava ganhar tempo. Já o governo inglês esperava de imediato um embate entre os dois países que deveriam se esfacelar numa guerra. A atitude de Stálin frustrou os planos da Inglaterra forçando-a a usar outros meios para tentar evitar uma guerra. Apenas dois anos depois ficou clara a intenção de Hitler com o pacto realizado com Stálin: depois de ter conquistado praticamente toda a Europa continental, ele decide invadir a União Soviética.

Por que as olavetes não falam que o nazismo chegou ao poder usando um discurso anti-comunista e que os comunistas foram ferozmente perseguidos após Hitler ter tomado posse como primeiro ministro em 1933? Hitler associava o judaísmo ao comunismo, dois inimigos que pretendia erradicar. Todos os princípios do nazismo se chocam frontalmente com os do marxismo. A autobiografia de Hitler, “Minha Luta” é a prova mais contundente disso. Mas não adianta tentar demonstrar nada para essas pessoas, eles fraudam a história e espalham suas opiniões racistas como vírus pela internet, parasitando mentes jovens e algumas até de boa fé, que acreditam em suas palavras por não terem leitura suficiente para perceber o quanto são fraudulentas.

Vendo isso eu compreendo porque essas pessoas desprezam a universidade: porque são impostores, não estão comprometidos em produzir conhecimento, mas em espalhar desinformação. Espalhar desinformação é algo que o senhor Olavo de Carvalho é especialista e tem feito há décadas. Algo também risível é que quando você não concorda com eles, partem para a agressividade como forma de intimidação, te desprezam como pessoa e usam de todo artifício pra te diminuir enquanto profissional, dizendo que você não estuda, não sabe nada e por aí vai. Olavo de Carvalho e seus seguidores são verdadeiros parasitas virtuais, fascistas, limítrofes e pedantes. São o que há de pior e mais baixo na direita brasileira.


Bertone de Oliveira Sousa
Historiador, professor do curso de História da UFT.
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Fonte: Bertone Sousa

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