quinta-feira, 7 de maio de 2015

Capitalismo ou socialismo? Leão XIII aponta a solução para esta briga interminável.


No início do filme “Coração Valente”, Mel Gibson diz que “a história é escrita por aqueles que enforcaram os heróis”. Will Durant, no primeiro dos 11 volumes da sua “Story of Civilization” [História da Civilização], observa que “a maior parte da história é adivinhação e o resto é preconceito”. O escritor Mark Twain endossa esta visão, dizendo que “a própria tinta com que toda a história é escrita é puro preconceito líquido”. E Voltaire declarava que os historiadores eram apenas “fofoqueiros que provocam os mortos”.

Todos nós já ouvimos dizer que “a história é escrita pelos vencedores” e desconfiamos (ou deveríamos desconfiar) que os vencedores contam a sua própria versão dos fatos.

O que nem sempre admitimos é que isto não é diferente quando se narra a história do capitalismo e do socialismo.

Comecemos pelo relato que o capitalismo contaria sobre si próprio:

“O capitalismo é o herói da civilização. É a melhor teoria econômica já inventada, responsável pela era da tecnologia e por um grau sem precedentes de bem-estar, liberdade e conforto. O capitalismo tornou a vida melhor em todos os lugares. No entanto, apareceu um propagandista radical chamado Karl Marx. Ele era um idealista utópico, semeador da discórdia, que procurava acabar com a propriedade privada por meio do controle estatal dos meios de produção. Felizmente, Marx foi derrotado pelo próprio sucesso: as nações que acolheram a sua ideologia se tornaram exemplos assustadores de fracasso para o resto do mundo, provando, de uma vez por todas, que o capitalismo é O Caminho”.


Na vida real, se o capitalismo não estivesse deixando muita gente gravemente insatisfeita com as próprias condições desumanas de sobrevivência, as ideias socialistas não teriam germinado. Ninguém lutaria honestamente contra a propriedade privada se já não possuísse propriedade alguma. O capitalismo trouxe muitos progressos, mas, ao mesmo tempo, condenou a maior parte da humanidade ao papel de empregados em troca de tostões.

A denúncia de Karl Marx, portanto, fazia sentido e tinha ressonância na experiência real de boa parte da população que não colhia os frutos do próprio esforço. Este cenário continua existindo. O mal óbvio do capitalismo, que é a alienação da propriedade, precisa de cura. Entretanto, a cura proposta por Marx é ainda pior do que a doença.

Foi isto o que o papa Leão XIII observou.

Em maio de 1891, ele publicou a histórica encíclica “Rerum Novarum”, condenando firmemente tanto o capitalismo quanto o socialismo e procurando lançar luz sobre os erros que ambos cometiam no tocante à ideia de propriedade privada.

Primeiro, o papa notou as tristes condições causadas pelo capitalismo desenfreado:

"A contratação de mão de obra e a condução do comércio estão concentradas na mão de relativamente poucos; deste modo, um número pequeno de homens muito ricos pode impor à massas dos trabalhadores pobres um jugo que é pouca coisa melhor que o da própria escravidão".


A seguir, ele rejeitou também a solução marxista:

"Para remediar esses erros, os socialistas exploram a inveja que o pobre tem do rico e se esforçam para acabar com a propriedade privada, afirmando que as posses individuais devem tornar-se propriedade comum de todos. Mas as suas afirmações são tão claramente impotentes para acabar com a controvérsia que, com elas, o trabalhador seria o primeiro a sofrer".

Por quê? Porque o capitalismo tinha concentrado a riqueza em grau extremo. O socialismo completaria o desastre, transferindo a propriedade, já concentrada, para um único “dono”: o Estado.

Leão XIII argumentou numa direção oposta a ambos: na direção da propriedade real para o trabalhador e para a sua família:

"A propriedade privada deve ser considerada sagrada e inviolável. A lei, portanto, deve favorecer a propriedade e adotar como política a de levar o maior número possível de pessoas a se tornarem proprietárias".

Nos dias de hoje, a concentração da propriedade fora das mãos das famílias é um perigo mais claramente percebido, assim como a constatação de que o capitalismo provoca exatamente o mesmo problema. Ainda assim, continua havendo grande polarização entre as duas ideologias, com uma fechando os olhos para o que pode haver de bom na outra e para o que há de ruim nela mesma.



O papa Francisco, seguindo a perspectiva de Leão XIII e dos demais pontífices que o sucederam, volta a propor que o centro do diálogo social seja ocupado pela dignidade da pessoa humana. Em meio à briga tantas vezes rancorosa entre as teorias, é sempre a dignidade da pessoa humana que acaba sendo atropelada na prática.
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A partir de textos de Daniel Schwindt
Fonte: Aleteia

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