quarta-feira, 2 de julho de 2014

São Paulo ensina: com amor, uma voadora no baço não dói


Uma das passagens bíblicas mais deturpadas pelos cristãos é aquela em que Jesus diz “Não julgueis, e não sereis julgados” (Mat 7, 1). Muitos católicos-jujuba, que se acham os profetas da misericórdia, adoram usar essa expressão de forma totalmente mutilada de seu sentido autêntico.

Lendo essa passagem do Evangelho de Mateus em seu contexto, vemos que Jesus não censura quem alerta o irmão de estar agindo errado. De forma alguma! Ele alerta contra o julgamento hipócrita e imprudente; se não tiramos a sujeira do nosso próprio olho – o ímpeto de julgar de forma precipitada e sem caridade – não temos capacidade para julgar as coisas de forma justa e santa.

Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão.” (Mat 7, 3-5).

Devemos pensar bem antes de apontar o erro alheio, pois, como somos limitados, é comum emitirmos um juízo errado. Ninguém deve ter prazer em chamar a atenção dos outros, mas o amor ao destino do irmão que erra não nos deixa calar, quando, dentro de um espírito de caridade, estamos certos daquilo que falamos.


São João Batista, por exemplo, não se calou e apontou o pecado do adultério de Herores e Herodíades. Acaso ele deveria ser censurado por estar “julgando o irmão”?



Infelizmente, a misericórdia vem sendo confundida em nossas comunidades com o RELATIVISMO, que nega a possibilidade de identificar qualquer atitude como objetivamente boa ou má. Muitos vivem arrotando “eu não julgo ninguém” pra tirar onda de bonzinho e tolerante; na verdade, estão mais preocupados em ficar bem na fita e não se indispor com ninguém. São os católicos-jujuba: sempre doces, mas sem sustança.

Te cuida, jujubada! Deixar um irmão pecar sem alertá-lo sobre seu pecado não é compaixão: é cumplicidade com o erro. Diz a Bíblia: “Se eu disser ao pecador que ele deve morrer, e tu não o avisares para pô-lo de guarda contra seu proceder nefasto, ele perecerá por causa de seu pecado, mas a ti pedirei conta do seu sangue. (Ez 33,8)

Do mesmo modo, nos ensina D. Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro: “Se um irmão está errado (…), mas em nome de uma falsa amizade ou do medo, se você o deixar continuar nessa lacuna, acabaremos sendo corresponsáveis pelo delito dele porque não o ajudamos com a correção fraterna” (Fonte: Zenit).

Devemos ficar atentos: corrigir não é apedrejar. Corrigir é um ato de amor, reflexo do desejo de que o irmão não perca a sua vida e nem desvie outros com seus erros; apedrejar, por sua vez, é um ato de arrogância de quem deseja a meramente a condenação do outro. E a correção nem sempre deverá ocorrer de uma forma gentil. É bom lembrar que Judas traiu Jesus com um beijo, enquanto São Paulo devolveu o juízo a São Pedro por meio de uma voadora sinistra!

Vocês não tão sabendo desse barraco, não? Eu lhes conto.


No Concílio de Jerusalém, as autoridades da Igreja já haviam decidido que os pagãos convertidos não tinham a menor necessidade de seguir os preceitos da lei mosaica, que incluía, entre muitas outras práticas, a circuncisão. Bastava que fossem batizados e seguissem os mandamentos.

Pois bem… Passado algum tempo, em uma visita aos gálatas, São Pedro estava relax, convivendo naturalmente com os pagãos e agindo conforme os seus costumes. Mas quando um grupo de cristãos-judeus chegou, o homem passou a agir diferente: evitava comer com os pagãos convertidos, com medo de ser acusado de comer com gente “impura” e de praticar atos impuros (tipo, comer carne de porco).

Os gálatas ficaram confusos ao ver o comportamento de São Pedro. Afinal, eram obrigados ou não a seguir a lei mosaica? Ao notar a situação, o Apóstolo dos Gentios veio pra cima, sem meias palavras:

Quando Pedro foi a Antioquia, enfrentei-o em público, porque ele estava claramente errado. De facto, antes de chegarem algumas pessoas da parte de Tiago, ele comia com os pagãos; mas, depois que chegaram, Pedro começou a evitar os pagãos e já não se misturava com eles, pois tinha medo dos circuncidados. Os outros judeus também começaram a fingir com ele, de modo que até Barnabé se deixou levar pela hipocrisia dele. Quando vi que eles não estavam a agir conforme a verdade do Evangelho, disse a Pedro, na frente de todos: “Tu és judeu, mas vives como os pagãos e não como os judeus. Como podes, então, obrigar os pagãos a viverem como judeus?” (Gálatas 2,11-14)

And the winner is… São Pauloooooo, o Pé de Chumboooooo! Não, não! Quem venceu foram ambos os santos, pois o efeito da correção fraterna é naturalmente a consolidação dos laços de irmandade. 

Mas, pra muitos católicos, a correção fraterna não é expressão de virtude, um instrumento de santificação; antes, é um crime, uma ação contrária à caridade cristã. Esse pessoal tá precisando entrar no octógono com São Paulo!


“No momento em que é aplicada, qualquer correção parece não ser motivo de alegria, mas de tristeza; porém, mais tarde, produz um fruto de paz e de justiça naqueles que foram corrigidos.” (Hebreus 12,11)
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Fonte: O Catequista

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