sábado, 26 de julho de 2014

O futuro do cristianismo nos Estados Unidos


Se você quer (tentar) prever o futuro da economia de um país, não faltam métricas à sua disposição. Alguns dos principais indicadores têm base ampla, como os rumos do índice Standard & Poor’s 500, do mercado de ações, enquanto outros, como a construção de novas unidades habitacionais privadas, se concentram em setores específicos da economia.
 
Também existem alguns indicadores que parecem bizarros, mas têm relação com o ciclo econômico. O Índice da Bainha, por exemplo, é uma teoria apresentada pela primeira vez por um economista em 1926: ele sugere que as bainhas dos vestidos das mulheres sobem juntamente com os preços das ações. Parece bastante bobo, mas, em 2010, uma pesquisa confirmou essa curiosa correlação.

 
Em contraste com os inúmeros indicadores sobre o futuro da economia, há poucos índices que preveem os rumos espirituais futuros de um país. É por isso que eu quero chamar a atenção para um indicador espiritual incomum: o número anual de batismos na Convenção Batista do Sul (SBC, na sigla em inglês).

 
O Dr. Paige Patterson, presidente do maior seminário da SBC, escreveu recentemente: "A única estatística que me preocupa é a diminuição de batismos. Mas, embora aumentar os batismos não deva ser o foco da SBC, nem de qualquer outra denominação, eu acredito que este dado pode servir como uma prévia do crescimento ou do declínio do cristianismo".
 
Nós, cristãos, acreditamos que a propagação da fé depende, em última análise, da ação do Espírito Santo. Mas também reconhecemos que Jesus nos encarregou de levar a sua mensagem para o mundo todo. Jesus disse: “Ide, fazei discípulos em todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a obedecer a tudo o que eu vos mandei” (Mateus 28,19-20). Os batistas do sul levam este mandamento tão a sério que, em 2012, a SBC adotou um nome auxiliar para as suas igrejas-membros: "Batistas do Grande Envio".

 
Para se filiar a uma igreja da SBC, qualquer indivíduo precisa ser batizado por imersão, um "ato de obediência que simboliza a fé do crente no Salvador crucificado, sepultado e ressuscitado, a morte do crente para o pecado, o enterro da vida antiga e a ressurreição para caminhar na novidade da vida em Cristo Jesus". Depois do batismo, espera-se que o novo crente assuma o seu papel na evangelização e nas missões, abraçando o Grande Envio a "fazer discípulos em todas as nações".

 
Os novos batismos registrados pelas igrejas da SBC, portanto, podem servir como métrica peculiar para identificar um novo crente disposto a compartilhar a mensagem do cristianismo com o resto do mundo. Esta métrica serve apenas para contabilizar "novos crentes", já que os cristãos vindos de outras tradições de fé não precisam repetir o ritual do batismo na SBC.

 
Há limites nessa métrica, é evidente, mas há várias razões, ainda assim, para considerarmos que os batismos na SBC podem predizer o futuro do cristianismo nos Estados Unidos.

 
1. O efeito magnitude

 
A SBC é grande. Com quase 16 milhões de membros, é o maior corpo protestante dos Estados Unidos e a segunda maior entidade cristã do país, depois da Igreja católica. Devido ao seu tamanho, os “elementos cristãos gerais” presentes na SBC podem servir como amostra potencialmente representativa do que está acontecendo no cristianismo norte-americano como um todo. Se os batismos estão aumentando ou diminuindo na SBC, o número de norte-americanos que se tornam cristãos (em qualquer denominação) tenderá igualmente a ser crescente ou decrescente.

 
2. O efeito autonomia

 
A SBC é uma organização descentralizada, composta por 46.034 igrejas locais e autônomas. Cada igreja da SBC é uma congregação de crentes batizados que toma as suas próprias decisões sobre recursos humanos, orçamento, programas, etc. Nenhuma organização, nem a própria SBC, detém autoridade sobre elas. Esta autonomia ajuda naquilo que os cientistas sociais chamam de “experimentos naturais”. Como as igrejas individuais não recebem diretrizes centrais sobre como realizar a evangelização e a missão, cada igreja local tem que descobrir o que funciona para o seu próprio caso. Podemos enxergar, portanto, de acordo com o número de novos batismos nas igrejas individuais, o que está atraindo novos crentes para a fé cristã em geral.




3. O efeito cultural
 
Apesar da autonomia local, a maioria das igrejas da SBC é teológica e culturalmente conservadora. Elas se opõem ao aborto e ao casamento homossexual, por exemplo, e acreditam na verdade e na confiabilidade da Bíblia. Se os batismos na SBC aumentam ou diminuem, pode-se extrapolar uma aceitação ou rejeição desses valores culturais e teológicos dentro de uma cultura mais ampla.

 
Agora que enumeramos as razões para se considerar o número de batismos na SBC como um indicador espiritual, o que esse indicador revela?
 
De acordo com o recém-lançado Perfil Anual da SBC, o ano de 2012 sofreu um declínio de 5,5% nos batismos. Naquele ano, foram batizadas 314.956 pessoas. Os batismos caíram em seis dos últimos oito anos, sendo que 2012 teve os números mais baixos desde 1948. Há hoje um batismo para cada cinquenta membros.

 
Tal como acontece com os indicadores econômicos, o significado e a importância de indicadores espirituais como este estão abertos à interpretação. Durante a reunião anual da SBC, nesta semana, muitos batistas do sul discutirão a pouca quantidade de batismos como indício do fracasso da evangelização por parte das igrejas individuais e dos seus membros. "Nós comemoramos cada novo crente batizado que esses números representam, mas a queda é de partir o coração", declarou Thom S. Rainer, presidente e CEO da LifeWay, a editora da SBC. "Os batistas do sul não pode descansar em cima do que Deus já realizou através de nós no passado. A mensagem do evangelho é viva, relevante e poderosa hoje, e a tarefa do Grande Envio, de compartilhar essa mensagem, tem que nos animar e encorajar como cristãos".

 
Outros analistas, no entanto, atribuirão o declínio dos batismos na SBC à rejeição de versões teológica e culturalmente conservadoras do cristianismo. Molly Worthen, docente de História na Universidade da Carolina do Norte, acredita que a queda se deve em grande parte ao aumento da secularização. "As organizações religiosas tradicionais estão perdendo influência na esfera pública e na vida das pessoas".


 
Seja qual for a interpretação dos dados, o crescente declínio dos batismos na SBC é digno de consideração pelos crentes de todas as confissões. O que quer que esta métrica esteja refletindo, é provável que se trate de algo significativo para o futuro do cristianismo nos Estados Unidos.
_________________________________
Fonte: Aleteia

Nenhum comentário:

Postar um comentário