quarta-feira, 15 de abril de 2015

Homilética: 3º Domingo da Páscoa - Ano B: "Testemunhando a fé no nome de Jesus ressuscitado".


Hoje, no terceiro Domingo da Páscoa, encontramos Jesus ressuscitado que se apresenta no meio dos discípulos (Lc 24, 36), os quais, dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito (Lc 24, 37). Escreve Romano Guardini: “O Senhor mudou. Já não vive como antes. A sua existência… a sua vida inteira, o destino atravessado, a sua Paixão e a sua Morte. Tudo é realidade. Ainda que mudada, é sempre realidade tangível”. Visto que a Ressurreição não cancela os sinais da Crucifixão, Jesus mostra aos Apóstolos as mãos e os pés. E para os convencer, pede até algo para comer. Então os discípulos “deram-lhe um pedaço de peixe assado; e, tomando-o, comeu diante deles” (Lc 24, 42-43).

Que alegria! Voltar a ver o Mestre. Foram os discípulos de Emaús que disseram: “não se nos abrasava o coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32). Quando eles ainda estão conversando sobre o que tinha acontecido com eles no caminho, Jesus aparece e lhes deseja a paz; ele continua a explicar-lhes sem interromper o argumento: “Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o quede mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos” (Lc 24,44).

Observe-se o seguinte: Jesus fala com eles recordando-lhes diretamente as profecias do Antigo Testamento e, indiretamente, as maravilhas de Deus outrora operadas. Isto é, as grandes obras que Deus operou noutros tempos continuam sendo uma referência para falar do Messias Salvador, que é Jesus Cristo. Contudo, o Antigo Testamento ganha todo o seu esplendor somente quando interpretado desde Cristo, é ele quem faz a interpretação das antigas escrituras de Israel. Neste sentido, o Concílio Vaticano II afirmou que “Deus, inspirador e autor dos livros dos dois Testamentos, dispôs sabiamente que o Novo Testamento estivesse escondido no Antigo, e o Antigo se tornasse claro no Novo” (DV 16). Na verdade, toda a Bíblia só tem sentido como revelação divina em Cristo e na Igreja. Desvincular a Escritura Sagrada de Cristo e da Igreja é transformá-lo num mero livro de literatura.

Os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como haviam reconhecido Jesus na fração do pão. 

Também nós encontramos o Senhor na Celebração Eucarística. Explica São Tomás de Aquino que “é necessário reconhecer segundo a fé católica, que Cristo está inteiramente Presente neste Sacramento, (…) porque a divindade deixou o corpo que adquiriu” (S. Tomás, lll, q. 76, a. 1).

A Eucaristia, o lugar privilegiado no qual a Igreja reconhece “o Autor da Vida” ( At 3, 15 ), é “a Fração do Pão”, como é chamada nos Atos dos Apóstolos.

Os discípulos falavam ainda, quando o próprio Jesus se apresentou no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. Diante da dúvida dos discípulos, Jesus lhes mostra as chagas das mãos e dos pés. Pede-lhes, enfim, de comer. Apresentam-lhe um pedaço de peixe assado. Jesus o tomou e comeu diante deles.

A seguir passa a interpretar as Escrituras: “Era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Então abriu-se-lhes a mente para que entendessem as Escrituras, e disse-lhes: “Assim está escrito que o Messias devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que, em seu nome, fosse proclamada a conversão para a remissão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém. Vós sois testemunhas disso”.

Esta missão impossível é aquilo que vemos realizar-se no trecho bíblico de At 3, 13-19. Na manhã de Pentecostes, Pedro diz ao povo de Jerusalém: Matastes o Príncipe da Vida, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos: disso nós somos testemunhas […]. Arrependei-vos, portanto, convertei-vos, para que vossos pecados sejam apagados. Embora tendo ficado poucos e sozinhos, com o encargo de pregar o Evangelho em todo o mundo (Mc 16,15), os apóstolos não desanimam; sabiam que sua missão era uma só: dar testemunho do que tinham ouvido e visto cumprir-se em Jesus de Nazaré; o resto o teria feito Ele mesmo agindo junto com eles e confirmando Sua Palavra com os prodígios (At 1,22). A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas é o resumo de sua pregação (At 2,32; 5,15; 10, 40). Nós vimos a Vida e lhe damos testemunho ( 1Jo 1,2).

Esse testemunho levou a todos, um depois do outro, ao martírio; no entanto, porém, em poucos decênios se cumpriu aquilo que antes parecia uma missão impossível aos homens a divulgação do Evangelho em todo o mundo, fazendo discípulos todos os povos.

Os Apóstolos não demoraram a descobrir que não estavam sozinhos para dar testemunho de Jesus; outra testemunha, silenciosa, mas irresistível, se unia a eles toda vez que falavam de Jesus, o Espírito Santo: Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu a todos aqueles que lhe obedecem (At 5,32). O Espírito da Verdade, que procede do Pai- tinha predito Jesus -, ele dará testemunho de mim. Também vós dareis testemunho (Jo 15,26).

Ser testemunha é conhecer, viver e anunciar a mensagem de amor, que Cristo trouxe.

A Ressurreição de Jesus, no Evangelho, aparece como um fato real, mas assim mesmo os apóstolos não conseguiam acreditar facilmente. O caminho foi longo, difícil, penoso, carregado de dúvidas e incertezas.

A Ressurreição de Cristo é o acontecimento central do Cristianismo, verdade fundamental que se deve reafirmar com vigor em todos os tempos, porque negá-la como se tentou fazer de várias formas, e ainda se continua a fazer, ou transformá-la num acontecimento meramente espiritual, significa banalizar a nossa própria fé. “Mas se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã nossa fé” (1 Cor 15, 14).

O caminho espiritual para chegar à fé continua o mesmo.

“Tocai em mim”, diz Jesus. O gesto de tocar nos ensina que o encontro dos discípulos com Jesus ressuscitado foi um fato real e palpável.

Também o Ressuscitado revela o sentido profundo das Escrituras.

Cada um de nós, a comunidade, deve reunir-se com Jesus ressuscitado para escutar a Palavra, que sempre ilumina a nossa vida e nos ajuda a descobrir os caminhos de Deus na história…

Os discípulos recebem a MISSÃO de serem testemunhas de tudo isso…

A raiz da Missão é o Encontro com o Ressuscitado e a compreensão das Escrituras.

Cristo continua precisando, ainda hoje, de testemunhas…

O Concílio Vaticano II fala dos bispos e sacerdotes como “testemunhas de Cristo e do Evangelho” (LG, 21.25).

Porém, referindo-se aos leigos diz que eles também são testemunhas da Ressurreição de Cristo. “Cada leigo deve ser diante do mundo uma testemunha da Ressurreição e da vida de Jesus, um sinal do Deus vivo” (LG 38).

Todos somos chamados a ser testemunhas da presença do Ressuscitado, através de nossas palavras e ações.

Cristo, ainda hoje, continua nos lembrando: “Vocês também devem ser minhas testemunhas!”
COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: At 3,13-15.17-19; 1 Jo 2,1-5a; Lc 24,35-48

Neste terceiro domingo do tempo pascal, a liturgia da Palavra traz mais uma vez ao centro da nossa atenção o mistério de Cristo ressuscitado.  O episódio que o evangelista São Lucas nos relata no evangelho nos faz lançar o nosso olhar para Jerusalém, pouco depois da ressurreição. Os onze discípulos estão reunidos e já conhecem uma aparição de Jesus a Pedro (cf. Lc 24,34), bem como o relato do encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,35).  Apesar de tudo, o ambiente é de medo, de perturbação e de dúvida, que aparece frequentemente nos evangelhos. Jesus ressuscitado não é reconhecido com facilidade. Quem consegue vê-lo sempre parece ter dúvidas. Maria Madalena o confunde com um jardineiro; os discípulos de Emaús pensam tratar-se de um viajante; os apóstolos o tomam por um fantasma; Pedro, no lago de Tiberíades, o confunde com um companheiro de pescaria.  As dúvidas estão presentes em todas as aparições de Jesus após a sua ressurreição. Todos os relatos das aparições de Jesus falam das dificuldades que os discípulos sentiram em acreditar e em reconhecer Jesus após a ressurreição (cf. Mt 28,17; Mc 16,11.14; Lc 24,11.13-32.37-38.41; Jo 20,11-18.24-29; 21,1-8).

O medo e a insegurança também aparecem muitas vezes na Sagrada Escritura e, normalmente, no âmbito de uma experiência relacionada com o universo de Deus, como aconteceu com Moisés, no deserto do Sinai, quando um anjo lhe aparece na chama de uma sarça ardente (cf. At 7,30); o mesmo ocorre com Zacarias no Templo (cf. Lc 1,12) e com Maria, no momento da anunciação do anjo (cf. Lc 1,29).  Tanto Zacarias como a Virgem de Nazaré ficam perturbados quando recebem o anúncio do nascimento de um filho. Também os apóstolos Pedro, Tiago e João, no momento da Transfiguração de Jesus no Monte Tabor, ficam movidos pelo medo, motivados pela experiência sobrenatural pela qual passaram. A mesma cena volta a repetir quando eles encontram com o Cristo Ressuscitado, que aparece para eles.

Na página evangélica, São Lucas narra que os dois discípulos de Emaús, regressando a Jerusalém, contaram aos Onze como o tinham reconhecido “ao partir do pão” (v. 35). E enquanto eles narravam a experiência do encontro que tiveram com o Senhor, Ele “esteve pessoalmente no meio deles” (v. 36). Mais uma vez, como tinha acontecido com os dois discípulos de Emaús, enquanto está à mesa e come, Cristo ressuscitado se manifesta, ajudando-os a compreender as Escrituras e a reler os acontecimentos da salvação à luz da Páscoa.

Visto que a ressurreição não cancela os sinais da crucifixão, Jesus mostra aos Apóstolos as mãos e os pés. E para os convencer, pede até algo para comer. Então os discípulos “Deram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele o tomou e comeu diante deles.” (v. 42-43).  Este gesto de tocar e comer nos ensina que o encontro dos discípulos com Jesus ressuscitado foi um fato real e palpável. Graças a estes sinais os discípulos superaram a dúvida inicial e se abriram ao dom da fé; e esta fé permitiu que eles compreendessem o que estava escrito sobre Cristo “na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (v. 44).

É surpreendente que enquanto o grupo estava ouvindo o relato dos dois discípulos de Emaús e comenta a aparição de Jesus ressuscitado ao apóstolo Pedro, justamente quando Cristo aparece no meio deles, os discípulos sentem medo e resistem a crer no que seus olhos estão vendo.  Mas eles, depois de um processo gradual de fé e com base em sua experiência e contato pessoal com o Senhor ressuscitado, acabaram por reconhecer que era o próprio Jesus de Nazaré, o mestre, que morreu e agora está vivo porque ressuscitou.

Os Apóstolos hesitam em crer na Ressurreição de Cristo.  O testemunho de Maria Madalena e das outras mulheres, o de Pedro e o dos dois discípulos de Emaús, eram mais que suficientes, pois a tudo isso precedia a profecia da ressurreição, feita por Cristo, para que cressem.  Há certamente, nesta conduta dos apóstolos, um grande temor, um medo de serem enganados. Ao mesmo tempo surge uma manifestação de timidez. Jesus oferece aos seus discípulos uma prova definitiva. Estando reunidos no Cenáculo, aparece a eles, para que, vendo-o, estejam convencidos da realidade de sua ressurreição.

Nas aparições temos uma catequese de Jesus para os seus discípulos, que se manifesta no gesto de mostrar as suas mãos e os seus pés com as chagas recentes de sua cruz,  tocar, palpar, e até tomar parte na refeição deles, fato que não deixa de ser um sinal eucarístico, onde Jesus une o pão com a palavra, ao explicar algumas passagens da Sagrada Escritura que se referiam a Ele próprio.  Assim completa o “sacramento” pascal da fé que se concretiza com a sua aparição, atestada por Maria Madalena, Pedro e pelos demais apóstolos.

O trecho do evangelho termina com as palavras: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (v. 48). Era uma difícil missão que Jesus lhes designava.  Eles viviam ainda escondidos após a Sua morte, temerosos de serem reconhecidos pelas autoridades como discípulos do Senhor; e eis que agora Jesus lhes pede que saiam para proclamar que Ele ressuscitou dos mortos ao terceiro dia e para pregar em Seu nome a todos os povos a sua mensagem de conversão, de perdão e paz.

Os apóstolos serão testemunhas de toda esta verdade e ensinamento.  Mas serão preparados com a grande força renovadora e fortalecedora de Pentecostes.  Receberão o Espírito Santo. Neste tempo pascal nós também deparamos com um repetido convite de Jesus a vencer a incredulidade e a crer na sua ressurreição, porque somos chamados a também testemunhar precisamente este acontecimento extraordinário. A ressurreição de Cristo é o acontecimento central do cristianismo, verdade fundamental que se deve reafirmar com vigor em todos os tempos.

Na segunda leitura, o Apóstolo São João lembra que para conhecer Jesus Cristo, precisamos fazer a experiência do Amor: “Quem diz que conhece a Deus, mas não cumpre os seus mandamentos, é mentiroso, e a Verdade não está nele” (1Jo 2,4). E continua: “Por outro lado, o amor de Deus se realiza de fato em quem observa a Palavra de Deus. É assim que reconhecemos que estamos com ele” (1Jo 2,5). Essas narrativas nos dizem respeito, pois temos a possibilidade de reencontrar o Ressuscitado e a obrigação de testemunhar para que outros possam também encontrá-lo. E é pela vivência do amor que nós faremos que os outros o reconheçam.

Jesus nos garante a sua presença real entre nós, por meio da Palavra e da Eucaristia. Por conseguinte, assim como os discípulos de Emaús reconheceram Jesus ao partir o pão (cf. Lc 24, 35), também nós encontramos o Senhor na Celebração eucarística. Explica, a este propósito, Santo Tomás de Aquino: “É necessário reconhecer, segundo a fé católica, que Cristo está inteiramente presente neste Sacramento… porque a divindade deixou o corpo que adquiriu” (S. TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica, III, q. 76, a. 1).

A páscoa traz também a nós uma mensagem de paz.  “A paz esteja convosco” (v. 36), é o que mais uma vez repete Jesus.  Prestes a se entregar pela nossa redenção, Jesus Cristo deixa aos seus discípulos a paz.  Depois de sua morte, é novamente a paz que ele oferece, duradoura e eficaz. Jesus nos convida a acolher o dom da sua paz, mas também a sermos construtores da cultura da paz onde estivermos.

Que a Virgem Maria possa nos amparar com a sua intercessão, para que possamos responder com a nossa vida a proposta que Jesus nos fez, de sermos testemunhas da sua ressurreição, propagando a todos os dons pascais da alegria e da paz. Assim seja.

PARA REFLETIR

A Palavra de Deus deste Domingo do Tempo Pascal recorda-nos um fato histórico tremendo, ao mesmo tempo misterioso e doloroso: os judeus, povo que esperou o Messias, não acolheu o Messias! E tudo terminou num desastre: “Vós rejeitastes o Santo e o Justo. Vós matastes o Autor da vida. Vós o entregastes e o rejeitastes diante de Pilatos”. Eis, caríssimos: misteriosamente o Povo de Deus do Antigo Testamento não foi capaz de reconhecer o Messias que lhe fora enviado e o entregou a Pilatos, que o mandou crucificar. Não culpemos os judeus. A própria Palavra do Senhor afirma: “Eu sei que agistes por ignorância, assim como vosso chefes. Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer”. Que mistério, amados irmãos: na rejeição dos judeus, que terminou levando Cristo à cruz, o plano de Deus estava sendo cumprido! O próprio Senhor ressuscitado afirma a mesma coisa no Evangelho de hoje: “Assim está escrito: ‘O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações”.

Mas, por que deveria ser assim? Por que o plano de Deus deveu passar pela cruz, tão feia, tão humilhante, dolorosa e sofrida? Com piedade e unção, procuremos contemplar um pouquinho tão grande e santo mistério. A cruz fazia parte do plano de Deus, caríssimos, primeiramente porque nela se manifesta o que o pecado fez com o homem e do que o homem pecador se tornou capaz: de matar Deus e se desgraçar. A humanidade pecadora – esta, que vemos hoje – de tal modo se fechou para Deus que o está matando (recordem a mais recente punhalada: uma obra de arte blasfema numa exposição no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Lá apresentaram dois terços da Virgem Maria em forma de órgão genital masculino. Os católicos protestaram. E o ministro da cultura do Governo Lula, o Gilberto Gil ficou indignado com os católicos; e muitos artistas foram à rua protestar contra esses católicos reacionários. É a lógica do mundo atual: massacrar Deus, ridicularizá-lo, matá-lo no coração dos homens e do mundo). Desde o início da história temos matado Deus, renegando-o, desobedecendo-o, colocando-o em último lugar… Mas, quando fazemos isso, nos destruímos, nos desfiguramos, edificamos a nossa vida pessoal e social sobre a areia. Na cruz de Jesus, Deus nos mostra isso: a gravidade do nosso pecado, o desastre que é fechar-se para o Senhor. Num mundo que brinca com o pecado e já não leva a sério a gravidade de pecar, olhemos a cruz e veremos o que nosso pecado provoca! Não deixará nunca de impressionar a frase de São Pedro na primeira leitura de hoje: “Vós matastes o Autor da Vida!” – Eis! Com o nosso pecado, matamos aquele que é a Vida e nos matamos a nós!

Mas, a cruz revela também, com toda a força, até onde Deus é capaz de ir por nós: ele é capaz de se entregar, de dar sua vida por nós! No seu Filho o Pai nos entrega toudo de precioso que ele tem! No Filho feito homem de dores, humilhado e derrotado, nós podemos compreender o quanto somos amados por Deus, o quanto ele nos leva a sério, o quanto é capaz de descer para nos procurar! Contemplemos a cruz e sejamos gratos a Deus que se entrega assim!

Finalmente, a cruz revela a estupenda, desconcertante, fidelidade de Deus: nela descobrimos o verdadeiro nome do nosso Deus. E o seu nome é Fidelidade, o seu nome é Amor. Primeiramente fidelidade e amor do Pai em relação ao Filho. Ao Filho amado que se entregou ao Pai por nós, Deus-Pai o ressuscitou e deu-lhe toda glória. É o que anuncia a primeira leitura de hoje: “O Deus de nossos Pais glorificou o seu servo Jesus. Vós matastes o Autor da Vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos!” Que mistério, meus irmãos! O Filho, entregue ao Pai com toda a confiança e todo o abandono, o Filho, feito homem de dores, agora é glorificado pelo Pai e colocado no mais alto da glória. Deus jamais abandona os que a ele se confiam. Podemos imaginar o Senhor Jesus dizendo as palavras do Salmo de hoje: “Eu tranqüilo vou deitar-me e na paz logo adormeço, pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!” O nosso Salvador adormeceu no sono da morte certo que o Pai o despertaria para a vida da glória! Sim, o Pai é Fidelidade, o Pai é Amor! Mas, é também fidelidade e amor para conosco. Efetivamente, tudo quanto aconteceu com o Filho na cruz foi por nós, para nossa salvação, para que o nosso pecado, a nossa situação de miséria, encontrasse expiação. Eis como a Palavra de Deus deste hoje insiste nisso: “Se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro”. E o próprio Jesus afirma no Evangelho que “no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações”. Meus caros em Cristo, na cruz e ressurreição do Senhor, Deus, amorosamente nos concedeu o perdão dos pecados!

Então, que temos de fazer para corresponder a tanto amor, a tão grande graça? Três coisas: primeira: crer em Jesus, o Enviado do Pai, que por nós morreu e ressuscitou: “Convertei-vos para que os vossos pecados sejam perdoados!” Quem crer em Jesus, quem diante dele reconhecer-se pecador e o acolher como o Salvador e nele colocar a vida, nele encontrará o perdão que vem pela cruz e a ressurreição. Segunda coisa: viver na Palavra do Senhor: “Para saber se o conhecemos, vejamos se guardamos os seus mandamentos. Naquele que guarda a sua palavra, o amor de Deus é plenamente realizado”. A fé, caríssimos, não é um sentimento nem uma teoria. Nossa fé em Jesus morto e ressuscitado deve levar a um compromisso sério e radical com o Senhor na nossa vida concreta. Quem não guarda os mandamentos, não crê! Quem não crê, fecha-se para a salvação! Terceira coisa: testemunhar Jesus morto e ressuscitado: “Vós matastes o Autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. Disso nós somos testemunhas!” E Jesus diz: “Vós sereis testemunhas de tudo isso!” Caros meus, nós não conhecemos Jesus de um modo teórico. Nós o experimentamos na força da sua Palavra e na graça dos seus sacramentos, sobretudo na participação na Eucaristia. Jesus, para nós, não é um fantasma! “Por que estais preocupados tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo!” Sim, meus caros, quantas vezes tocamos Jesus, sentimo-lo vivo, caminhando conosco! Tenhamos, então a coragem de nele crer, de nele viver e dele dar testemunho onde quer que estejamos e onde quer que vivamos. Jesus não é um fantasma! Jesus está vivo! Jesus é Senhor! E que a sua paz, a sua vitória e o seu perdão estejam sempre conosco. Amém.’

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