quarta-feira, 16 de julho de 2014

Os "podres" da Igreja


Recebemos de um (ou de alguns) leitor(es) anônimo(s) algumas mensagens breves e repetidas, ligeiramente diferentes entre si mas com idêntico teor e conteúdo. Todas trazem as mesmas afirmações, que de fato já foram indiretamente respondidas por aqui, em diversas de nossas postagens. Em todo caso, reproduzimos abaixo uma destas mensagens, seguida de nossa resposta. Esperamos que nossas reflexões sejam de proveito para quem vier a lê-las.

"Você vive dizendo que a igreja romana é a certa, mas tem muitos podres na sua igreja romana , na história da sua igreja nem se fala. Vc me diz que não tem podres na história da igreja romana? Não tem padre pedófilo, padre fornicador? Entao Quem é vc pra falar alguma coisa? sigo evangélico e  com muito orgulho"

Bem, anônimo, para começar esta conversa, devo dizer que logo de início talvez eu não seja a pessoa mais indicada para responder às suas perguntas, porque eu não conheço "igreja romana". Conheço e integro, com a Graça de Deus, a Igreja Católica ApostólicaRomana. Na história desta, sim, posso afirmar que houveram muitas páginas ou atos "podres", – para usar a sua expressão, – começando pelo de Judas, que traiu o Senhor, o de Pedro, que o negou por três vezes, e o de Tomé, que depois de conviver longo tempo com o Senhor, mesmo assim não pôde crer na sua Ressurreição antes de tocar as suas santas chagas. Poderia somar a estes exemplos o de todos os outros Apóstolos, exceto João, que fugiram para salvar as próprias peles quando Jesus foi preso. Então, os homens que integram a Igreja, desde o começo, sempre foram imperfeitos, falhos, fracos e pecadores. Nenhum problema em admitir isso.

Nada disso, porém, afeta a santidade e a pureza da imaculada Esposa de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a mesma Igreja. "Podres" no correr de sua história, sim, sempre existiram e continuam existindo, partindo de alguns de seus filhos ingratos e traidores. Podres ou manchas na própria Igreja, não, nenhum sequer.

Ocorre que "a Igreja é, aos olhos da fé, indefectivelmente (infalivelmente) santa. Unida a Cristo, é santificada por Ele e nEle se torna também santificante.” (Lumen Gentium n.39 / CIC §823-824).

E aqui você provavelmente estará se perguntando se esses tais olhos da fé precisam de óculos, ou se estarão totalmente cegos... Se a Igreja é santa, porque então ouvimos dizer de tantos escândalos e graves pecados envolvendo padres e bispos? Você deverá achar que, se aos olhos da fé a Igreja não falha, então esses olhos devem estar precisando  urgentemente de um oftalmologista!

A verdade, porém, é o exato oposto desta impressão superficial. Não é que os olhos da fé não vejam bem; de fato, os olhos da fé vêem muito além das aparências, e enxergam que a Igreja é a continuidade da Encarnação do Cristo neste mundo. É por isso que ela não se desvia do seu Caminho, não naufraga, não se perde. O Espírito Santo a assiste, e mesmo com tantos pecados de filhos traidores, que lhe dão as costas e não ouvem a sua voz, ela permanece fiel à sua missão e cumprindo plenamente o seu propósito.

Sim, porque é por meio da Igreja que nós chegamos à salvação, já que é por meio dela que temos o Batismo, – porta de entrada para a vida cristã; – é por meio dela que comungamos Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, na sagrada e preciosa Eucaristia; é por meio da Igreja que alcançamos o perdão dos nossos pecados, pela Confissão, como Jesus determinou, dizendo aos primeiros pastores desta mesma Igreja, que é una e indivisível: "Os pecados que perdoardes serão perdoados, e os que retiverdes serão retidos" (Jo 20,22-23).

É somente na Igreja, sendo membros da Igreja, que podemos ser cristãos de fato. A Igreja, então, continua cumprindo fielmente a sua missão, continua sendo fiel Esposa de Cristo, nos santos da Terra e nos do Céu, em perfeita Comunhão com Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

Assim, por mais bobagens ou mesmo barbaridades que alguns filhos da Igreja cometam, por mais pecados que acumulem, a autêntica Igreja continua pura e sendo divinamente conduzida.

Ora, a Igreja não pode ser julgada a partir dos seus traidores, e sim a partir daqueles que lhe são fiéis. Isso não é óbvio? 

Vou deixar aqui um exemplo muito simples, para facilitar a compreensão do que estou dizendo: imagine um time de futebol, do qual um de seus jogadores aceitou suborno para entregar a final do campeonato à equipe que é a sua grande rival. Seja este jogador o goleiro ou o atacante principal, ou o responsável pela armação das jogadas ou um zagueiro, de qualquer jeito ele vai ter muitas oportunidades durante a partida para facilitar a vitória do time adversário. Certo. Aí o time perde, e depois se descobre a falcatrua e a traição deste jogador vendido. Pois bem; ele evidentemente deveria ser afastado. Mas o que nos interessa aqui é saber o seguinte: este jogador infiel, vendido e traidor, representa o seu time? Poderia ele servir como exemplo daquela equipe de atletas? 

Se pedissem ao treinador deste time que apontasse um jogador para simbolizar aquela equipe, será que ele escolheria o traidor? E se perguntassem ao patrocinador do time, ou ao diretor, ou a algum membro da torcida? Será que alguém escolheria o traidor para ser o símbolo da equipe, o atleta que representaria "o espírito" dessa agremiação esportiva?

Claro que não. Só poderia representar o time um atleta que fosse dedicado, comprometido, um que tenha honrado sua camisa, que tenha sido fiel ao escudo no seu peito.

Do mesmo modo, se você quer saber o que é a Igreja, não pode olhar para o padre acusado de pedofilia. Você deve olhar para Francisco de Assis, Vicente de Paulo, João Maria Vianney, Maximiliano Maria Kolbe, Filipe Neri, Pio de Pietrelcina, Gianna Beretta Molla, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce dos Pobres, etc, etc, etc... Você deve olhar para o exemplo de Pedro e de todos os Apóstolos depois de Pentecostes, quando foram batizados no Espírito Santo e se tornaram de fato santos. Você deve olhar para São Paulo, para a Santíssima Virgem Maria, etc, etc, etc... São estes que representam a Igreja Católica Apostólica Romana.

São os milhões de santos da Igreja, canonizados ou anônimos, os do Céu e os da Terra, que a representam, simplesmente porque são estes que fizeram e fazem o que a Igreja manda fazer. São estes que a honram e lhe são fiéis. Os que a desobedecem, os que a traem, não podem de modo algum representá-la.

Encerro deixando meus agradecimentos a todos os leitores anônimos que procuram me fazer perguntas embaraçosas e me dão a oportunidade para esclarecer as dúvidas daqueles que realmente querem aprender as coisas da fé. Todos vocês têm as minhas frequentes orações.
___________________________________ 

Autor: Henrique Sebastião
Fonte: O Fiel Católico

Nenhum comentário:

Postar um comentário