terça-feira, 24 de março de 2015

Papa Francisco: “O ensino é um trabalho bonito, pena que os professores são mal pagos”.


DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
À UNIÃO CATÓLICA ITALIANA DE PROFESSORES,
DIRIGENTES, EDUCADORES E FORMADORES [UCIIM]

Sala Paulo VI
Sábado, 14 de Março de 2015


Prezados colegas!

Permiti-me chamar-vos assim, porque também eu fui professor, como vós, e conservo uma bonita recordação dos dias passados nas salas de aula com os estudantes. Saúdo-vos cordialmente e agradeço ao Presidente as suas palavras de cortesia.

Ensinar é um trabalho muito bonito. É uma lástima que os professores sejam mal pagos. Porque não se trata apenas do tempo que dedicam à escola; além disso, devem preparar-se, devem pensar em cada um dos seus alunos: como se pode ajudá-los a ir em frente? É uma injustiça. Penso no meu país, que eu conheço: coitados, para receber um salário mais ou menos suficiente, devem fazer dois turnos! Mas como acaba um professor, depois de dois turnos de trabalho? Trata-se de um trabalho mal pago, mas muito bonito, porque permite ver crescer cada dia as pessoas confiadas aos nossos cuidados. É um pouco como ser pais, pelo menos espiritualmente. Mas é também uma grande responsabilidade!

Ensinar é um compromisso sério, que somente uma personalidade madura e equilibrada pode assumir. Um compromisso deste tipo pode incutir temor, mas é necessário recordar que um professor nunca está sozinho: compartilha sempre o seu próprio trabalho com os demais colegas e com toda a comunidade educacional à qual pertence.

A vossa Associação completou 70 anos de vida: é uma bonita idade! É justo festejar, mas também se pode começar a fazer o balanço de uma vida. Quando vós nascestes, em 1944, a Itália ainda estava em guerra. Desde então percorreu-se um longo caminho! Também a escola percorreu uma longa vereda. E a escola italiana progrediu inclusive graças à contribuição da vossa Associação, que foi fundada pelo professor Gesualdo Nosengo, um professor de religião que sentiu a necessidade de reunir os professores das escolas secundárias de então, que se reconheciam na fé católica e que, com esta inspiração, trabalhavam no mundo da escola. 

Durante estes anos, vós contribuístes para fazer crescer o país, contribuístes para reformar a escola, contribuístes principalmente para educar gerações inteiras de jovens.

Em 70 anos, a Itália transformou-se, a escola mudou, mas há sempre professores dispostos a comprometer-se na sua profissão com aquele entusiasmo e aquela disponibilidade que a fé no Senhor nos confere.

Como Jesus nos ensinou, a Lei inteira e os Profetas resumem-se em dois mandamentos: ama o Senhor teu Deus, e ama o teu próximo (cf. Mt  22, 34-40). Podemos perguntar-nos: quem é o próximo para o professor? O «próximo» são os estudantes! É com eles que transcorre os seus dias. São eles que esperam a sua guia, orientações, respostas — e, antes ainda, boas perguntas!

Entre as tarefas do UCIIM não deve faltar aquela de iluminar e motivar uma ideia recta de escola, por vezes ofuscada por debates e posições redutivas. Sem dúvida, a escola é feita de uma educação válida e qualificada, mas também de relacionamentos humanos que, da nossa parte, são relações de acolhimento e de benevolência, que devemos reservar a todos indistintamente. Aliás, o dever de um bom professor — sobretudo de um professor cristão — consiste em amar com maior intensidade os seus alunos mais difíceis, mais frágeis, mais desfavorecidos. Jesus diria: se amais apenas aqueles que estudam, que são bem educados, que mérito tendes? E alguns deles fazem perder a paciência, mas são precisamente aqueles que nós devemos amar em maior medida! Qualquer professor está bem com estes estudantes. Peço-vos que ameis mais os alunos «difíceis», aqueles que não querem estudar, aqueles que se encontram em condições de dificuldade, os portadores de deficiência e os estrangeiros, que hoje constituem um grande desafio para a escola.

Se hoje uma Associação profissional de professores cristãos quer testemunhar a inspiração que lhe é própria, está chamada a comprometer-se nas periferias da escola, que não podem ser abandonadas à marginalização, à ignorância, à criminalidade. Numa sociedade que tem dificuldade de encontrar pontos de referência, é necessário que os jovens encontrem na escola uma referência positiva. E ela só pode sê-lo ou tornar-se tal, se no interior houver professores capazes de dar um sentido à escola, ao estudo e à cultura, sem reduzir tudo unicamente à transmissão de conhecimentos técnicos, mas apostando na construção de uma relação educativa com cada um dos estudantes, que deve sentir-se acolhido e amado por aquilo que é, com todos os seus limites e as suas potencialidades. Neste sentido, a vossa tarefa é mais necessária do que nunca. E vós deveis ensinar tanto os conteúdos de uma determinada matéria, como os valores e os hábitos de vida. São estes os três pontos que vós deveis transmitir. Para aprender os conteúdos é suficiente o computador, mas para entender como se ama, compreender quais são os valores e os hábitos que criam harmonia na sociedade, é necessário um bom professor.

A comunidade cristã dispõe de numerosos exemplos de grandes educadores, que se dedicaram a preencher as lacunas da formação escolar ou, por sua vez, a fundar escolas. Pensemos, entre outros, em são João Bosco, cujo bicentenário de nascimento se celebra precisamente este ano. Aos seus sacerdotes, ele aconselhava: educai com amor! A primeira atitude de um educador é o amor. É nestas figuras que também vós, professores cristãos, podeis inspirar-vos para animar a partir de dentro uma escola que, prescindindo da sua gestão estatal ou não estatal, tem necessidade de educadores que sejam credíveis e de testemunhas de uma humanidade madura e completa. Testemunho! E isto não se compra, nem se vende: oferece-se.

Como Associação, permaneceis por natureza abertos ao futuro, porque há sempre novas gerações de jovens às quais transmitir o património de conhecimentos e de valores. No plano profissional, é importante actualizar as próprias competências didácticas, inclusive à luz das novas tecnologias, mas o ensino não consiste unicamente num trabalho: o ensino é um relacionamento em que cada professor deve sentir-se inteiramente comprometido como pessoa, para dar sentido à tarefa educacional em relação aos seus alunos. A vossa presença aqui hoje constitui a prova de que tendes as motivações das quais a escola precisa.

Encorajo-vos a renovar a vossa paixão pelo homem — não se pode ensinar sem paixão! — no seu processo de formação, e a ser testemunhas de vida e de esperança. Nunca, nunca fecheis as portas; ao contrário, escancarai-as todas, a fim de que os estudantes tenham esperança!


Peço-vos também, por favor, que oreis por mim, enquanto convido todos vós a rezar a Nossa Senhora, para lhe pedir a Bênção.
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Santa Sé

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