domingo, 14 de junho de 2015

O Cristianismo nos Estados Unidos


Olá boa noite, me chamo Artur, tenho dezenove anos e sou católico. Desde minha infância achei, como ainda acho, o povo protestante um pouco confuso em relação a se acharem detentor de poder, de dizer quem vai ao céu ou não. Enfim, não vou esticar muito, vou direto ao ponto: certo dia pesquisar (sic) sobre ex-evangélicos e apareceu na internet que estar (sic) acontecendo um fenômeno nos EUA: protestantes estavam se convertendo ao catolicismo. Fiquei muito surpreso pois só o que via era o contrário. Inclusive vi também um comentário de um brasileiro que mora lá e afirmou a mesma coisa e inclusive acrescentou que lá eles criaram e nomearam uma instituição, ou algo do tipo, decorrente deste fenômeno não menos que curioso. O que vccês (sic) sabem sobre isso, é verdade ou não?

Dissertem.
Grato,
Forte abraço!

Olá Artur, os Estados Unidos possuem uma característica religiosa que é a grande diversidade de crenças e práticas religiosas. Podemos afirmar que muitos grupos religiosos têm aparecido por lá mas também muitos têm desaparecido, o que faz com que os Estados Unidos seja um dos países com maior diversidade religiosa do mundo sendo que a maioria dos americanos são cristãos, cuja maioria é protestante, de tal forma que é considerado o maior país protestante do mundo.

As grandes denominações protestantes tradicionais, abraçadas a um liberalismo agressivo que tem produzido pastores presbiterianos, luteranos e anglicanos gays, têm afastado membros mais conservadores, que buscam alternativas, inclusive nas igrejas não-denominacionais, que são majoritariamente carismáticas e neopentecostais. Um exemplo disso é a maior denominação presbiteriana dos EUA (conhecida pela sigla PCUSA) que está agora oficialmente instituindo pastores gays e lésbicas. A PCUSA é a mãe da Igreja Presbiteriana do Brasil. Mas nem todos estão optando pelas igrejas não-denominacionais. Um grande número de membros simplesmente abandona as igrejas protestantes tradicionais e fica sem religião.

A grande preocupação é que, com o crescimento explosivo do liberalismo nas igrejas protestantes e a perda constante de seus membros, o protestantismo nos EUA está seguindo o caminho da Europa, onde as igrejas da Reforma estão lutando para não morrer. A Europa está espiritualmente morta e em breve será tomada pacificamente pelo Islã, pois os europeus de origem cristã não têm mais filhos, nem mesmo o suficiente para repor o declínio natural da população. Salvo um milagre, é um processo irreversível.

Essa tendência tem implicações políticas, inclusive para o futuro dos EUA. Os eleitores americanos que se descrevem como não tendo religião votam esmagadoramente em políticos esquerdistas, que já contavam com um apoio considerável dos eleitores protestantes progressistas. Os americanos que não têm religião apoiam o aborto e o “casamento” gay numa taxa muito mais elevada do que os protestantes progressistas.

Essa percentagem de cristãos nos Estados Unidos está diminuindo sem parar, principalmente entre os jovens. Esses jovens não só abandonaram a igreja, mas também abandonaram todas as formas de espiritualidade cristã.

No mundo inteiro, o Cristianismo é de longe a maior religião. Há mais de 2 bilhões de cristãos no mundo, de modo que tão cedo o Cristianismo não está em perigo de desaparecer. Aliás, em algumas regiões do globo o Cristianismo está experimentando crescimento explosivo. Mas nos Estados Unidos, o quadro é diferente. As igrejas estão diminuindo, o ceticismo está aumentando e a apatia acerca de questões espirituais parece estar no apogeu de toda a história americana.

Por outro lado, podemos afirmar que a Igreja Católica está crescendo nos Estados Unidos. Diferentemente do Brasil, onde os “católicos não-praticantes” denominam-se católicos. Nos Estados Unidos os não-praticantes são em maioria os protestantes, já que eles são a grande maioria da população. Como a grande parte dos protestantes no Brasil, os católicos dos Estados Unidos são ativos em sua Igreja.

A Diocese de Orange County é a 10ª maior do país. A Catedral atual não tem capacidade para abrigar os fiéis, já chegaram a ter que distribuir entradas para entrar (como no Vaticano). E existem registros de comunidades protestantes inteiras que se converteram ao catolicismo cuja história chegaram a ser publicadas no site Informação Católica, como você pode ver aqui e aqui.

Em setembro deste ano (2015) o Papa Francisco fará uma visita aos Estados Unidos. Cerca de 30 milhões de norte-americanos abandonaram o catolicismo nos últimos anos, e boa parte dos conservadores bispos do país, acossados pelos escândalos de pedofilia, aguardam o Papa com respeito, mas também com um mal disfarçado ceticismo, quando não oposição, com relação à abertura do pontífice a questões até recentemente tratadas como tabus, como as uniões maritais extraoficiais, o casamento gay e a comunhão de pessoas divorciadas.

Francisco visitará um país que o admira, mas onde a Igreja sofre um forte retrocesso, por causa da força das comunidades evangélicas nesse mercado espiritual tão dinâmico. Apenas a presença de uma população imigrante majoritariamente católica mitigou esse efeito.

Os católicos constituem 24% dos quase 320 milhões de habitantes dos Estados Unidos. Os protestantes, muito fragmentados, são 51%. O catolicismo é a religião que mais adeptos perdeu. Um terço dos que cresceram como católicos declaram que deixaram de seguir a Igreja de Roma. Isso significa 10% do total da população norte-americana, ou seja, 30 milhões de fiéis perdidos. A imigração suavizou esse retrocesso: entre a população estrangeira adulta, 46% se declaram católicos, contra 24% de protestantes.

Superada, por enquanto, a tempestade causada pelos escândalos de pedofilia – que levaram muitas dioceses a suspenderem seus compromissos financeiros por causa das indenizações que precisaram pagar –, o problema agora é como digerir as propostas inovadoras do Papa.

Alguns bispos americanos estão dando aula de evangelização. Há uma iniciativa da Conferência Episcopal Americana em fazer propaganda da fé católica em comerciais das mais populares emissoras de TV. É como se a CNBB fizesse comercial da Missa Tridentina e a Globo anunciasse em horário nobre. Veja, por exemplo, um vídeo de ordenação de cinco jovens padres questionando o telespectador sobre sua vocação:



É inegável as frequentes conversões de pastores, ministros e leigos ex-protestantes para a Igreja Católica. Só para lembrar alguns deles: Scott Hann, Paul Thigpen, Marcus Grodi, Steve Wood, Bop Sungenis, Julie Swenson, Dave Amstrong, David B. Currie, Tom Howard, Peter Kreeft, Douglas Bogart. Cada um deles em tempos diferentes e com os meios diferentes

O livro Todos os caminhos levam a Roma, do ex-pastor presbiteriano Scott Hahn e sua esposa Kimberly Hahn até hoje é responsável pela conversão de milhares de protestantes. Na obra, o casal relata o percurso de conversão e como foram vendo quanto a Sola Scriptura (“Só a Escritura”) era incompatível com a mensagem de Cristo. É interessante porque descreve a conversão de duas pessoas que tinham uma falsa ideia de catolicismo.

Uma vez que muitos não suportam uma religião liberal, a atração que os protestantes americanos têm pela Igreja Católica é o seu conservadorismo (no sentido de guardar e conservar o que Cristo deixou a ela).

Em 2014 foi divulgado na Web uma mensagem do Papa Francisco para o encontro de líderes pentecostais que aconteceu no Texas (EUA), presidido por Kenneth Coperland, amigo do Papa. Observe a abertura com que os pentecostais recebem a mensagem do Papa:



Como fruto desta aproximação o pastor Ulf Ekmanda igreja protestante mais influente da Suécia anunciou durante uma conferência dominical em seu templo que se convertera à fé católica.

Há alguns anos atrás, em entrevista à revista Veja, o padre americano, John McCloskey, famoso por converter protestantes, fez as seguintes afirmações a respeito do atrativo ao catolicismo nos Estados Unidos:

A Igreja Católica tem sacerdotes, o papa, a tradição dos grandes santos, a arte, a cultura, a literatura. Enfim, tem uma carga que não se vê em outras religiões. Os protestantes são cristãos. Mas compartilham apenas uma parte da verdade, de acordo com o ponto de vista dos católicos. A posição do papa sobre divórcio, aborto, controle de natalidade não pode mudar, pois está ligada ao que é a Igreja Católica. A Igreja propõe a verdade a seus fiéis, não impõe. Se alguém não quiser pertencer à Igreja, está livre para sair. Note que a Igreja Católica não é uma democracia. É uma instituição divina que não pode ser questionada. Ao ser criada, tinha apenas doze apóstolos. Hoje chega a 1 bilhão de fiéis – e isso sem que precisasse mudar suas opiniões, baseadas na ressurreição divina e na palavra de Jesus Cristo. Concordo com a tese de que é preferível ter um rebanho menor de católicos, mas fiéis aos princípios e às normas da Igreja, a mudar as regras apenas para arregimentar mais seguidores.

Nos Estados Unidos, mais do que em outros países, há um grande número de pessoas que se dizem católicas, mas não concordam com os ensinamentos doutrinários e morais da Igreja. Isso me parece confuso. A definição de um protestante, desde a Reforma, tem sido a mesma: é aquele que é cristão, mas não está de acordo com certos ensinamentos da Igreja Católica. As principais divergências se dão em relação a temas como o divórcio, o aborto, a homossexualidade e a ordenação de mulheres. Não se trata de estar de acordo ou não com esses temas – trata-se de uma questão de fé. Se você acredita na Igreja Católica, tem de se entregar totalmente às causas defendidas pela Igreja. A tendência nos próximos anos é de que desapareçam essas pessoas que se dizem católicas, mas na prática não o são. Sempre existiram na Igreja os católicos não-praticantes, que são aqueles que não estão cumprindo as leis morais que norteiam a Igreja. Ou seja, culpam a Igreja, mas não culpam a si mesmos. A Igreja sempre foi formada de pecadores. Sempre há a possibilidade de você confessar seus pecados e voltar à Igreja. Mas sempre me pareceu uma contradição essa pretensão de ser católico sem acreditar no que a Igreja ensina”.

Quanto à instituição que estuda a conversão dos protestantes ao catolicismo, apesar de pesquisarmos, não encontramos nada a respeito. Esperamos ter colaborado de alguma forma com as suas dúvidas.


Gratos, Att. iCatólica.

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