terça-feira, 20 de dezembro de 2016

"E não havia lugar para eles na hospedaria" (Lc 2,7c).


Quando Maria, a Santíssima Virgem e São José foram a Belém recensear-se, obedecendo ao edito de César, por serem eles pobres, disseram-lhes que não havia lugar para eles na estalagem.

Por isso o Menino Jesus teve que nascer fora da cidade, numa cocheira miserável, onde havia um boi e um burro.

Cristo veio para o que era seu - Israel -- e os seus, os judeus, não O receberam. Ele nasceu numa cocheira, fora da cidade, assim como iria morrer fora da cidade de Jerusalém. Por que "os seus não O receberam" (Jo. I, 11).

"O boi conhecerá o seu dono, e o burro conhecerá o presépio de seu Senhor" profetizou Isaías (Is. I, 3).

Mas, os seus não o receberam...

Nasceu numa pobre cocheira, porque Israel, seu povo, a Sinagoga, não O recebeu, nem o conheceu, recusando o Messias que Deus lhe prometera.

Nasceu numa cocheira símbolo da Igreja. Porque, como explica Hugo de São Victor, na cocheira os animais -- o boi e o burro -- deixam suas sujeiras, e se alimentam no cocho, assim como nós, cristãos, vamos à Igreja, para deixar, no confessionário, nossos pecados, a fim de, depois, irmos nos alimentar com o Pão que desceu dos céus, na mesa da comunhão.

O presépio de Belém representa, então, a Igreja, que perdoa os nossos pecados e nos alimenta com o corpo de Cristo, o maná que desceu dos céus.

Mas "os seus não o receberam", e não havia lugar para eles na estalagem".

Espantamo-nos com a frieza e a dureza de coração dos habitantes de Belém, que recusavam receber Maria e José.

Espantamo-nos com a cegueira da Sinagoga, que abria o rolo da profecia e respondia a Herodes: "Sim. É verdade. Estamos na época em que deve nascer o Messias prometido. E Ele vai nascer em Belém, palavra que significa casa do pão". E depois de ler a profecia, a Sinagoga fechava o rolo, e não ia a Belém adorar o Rei dos judeus que nascera. E O recusava, não lhe dando lugar na estalagem. 

Cristo nasceu no presépio, fora da cidade dos judeus. Cristo nasceu na Igreja que O recebeu, e que durante dois Milênios distribuiu o seu Corpo a todos que se aproximavam devidamente da mesa da comunhão. A igreja, durante dois milênios, guardou o Corpo de Cristo, nascido em Belém, no presépio do sacrário. Adorou-O santamente, cercando-O de honras devidas ao Redentor, o Filho de Deus feito Homem.

Desgraçadamente, hoje, -- chegados ao III Milênio -- não há mais lugar para o sacrário de Jesus nos altares das Igrejas. O sacrário foi relegado para longe do altar. Para fora de Belém.
Porque "os seus não o receberam".

Hoje, em muitas Igrejas, comemora-se o nascimento de Cristo até de modo herético e blasfemo. Como numa paróquia de São Paulo, em que se teatralizou o Natal de Cristo com um casal de mendigos, representando a Virgem Maria e São José. E a mulher, grávida, simulava as dores do parto. Como se Nossa Senhora tivesse sofrido as consequências do pecado original. Como se Nossa Senhora não fosse concebida sem pecado. Como se o parto da Virgem Maria tivesse sido na dor.

Ele veio para o que era seu, e os seus não o compreenderam. "A luz brilhou nas trevas, e as trevas não o conheceram" (Jo. I, 5).

E se as trevas da Sinagoga foram espessas, como não se tornaram espessas as trevas que chegaram a cobrir a Luz do Mundo que é a Igreja de Cristo?

Porque as trevas que impedem, hoje, de ver a luz de Cristo que brilhou em Belém, são as trevas provenientes da fumaça de Satanás que entrou no Templo de Deus, como confessou Paulo VI.

Hoje -- chegados ao III Milênio -- parece que não há, de novo, "lugar para eles na estalagem", porque quase já não há corações que crêem na verdade trazida por Cristo.

"Não há mais lugar para eles na estalagem" dos corações. Crê-se num Cristo humanitário e naturalista, sim . Num Cristo que é uma substituição do Jesus verdadeiro, o filho da Virgem Maria, a Sabedoria de Deus feita homem. Crê-se numa paz que não vem do céu, mas da ONU, como se a ONU fosse a única instituição do mundo que poderia trazer a paz à terra.

Fala-se de Pacem in Terris, mas sós se ouve o troar da guerra. Fala-se de boa vontade, mas o terrorismo espanta o mundo.

E quase não não há mais cristãos, mas apenas aquilo a que se chama de "homens de boa vontade"...

E por "boa vontade" entende-se uma vontade indiferente à verdade de Cristo, tolerante de todas as heresias, preocupada apenas com "alimentação, habitação, saúde, transporte e escola". Uma escola que a ninguém reprova, fruto de um deus que a ninguém condena, de um deus que não tem justiça,e, por isso, não tem misericórdia.

Os anjos, em Belém, prometeram a paz na terra aos homens que tem realmente a boa vontade de Deus.

Mas, aos que têm má vontade, como Herodes, a notícia do nascimento de Cristo, traz não a paz, mas perturbação e desejo assassino.

A paz de Cristo não é para os ímpios.

A paz de Cristo só reina no coração daqueles que aceitam a revelação de Cristo inteiramente, e não para aqueles que querem adaptá-la ao mundo que está todo posto no maligno. Non est paz impiiis! Apaz não é para os ímpios.

Que neste Natal, e sempre, o menino Jesus dê a paz a todos os que amam a Verdade trazida por Cristo e conservada pela única Igreja verdadeira, pela única Igreja de Cristo, a Igreja Católica Apostólica Romana. E que a luz de Cristo brilhe de novo em toda a parte, e em todas as almas, convertendo a todos, é o que deseja in Corde jesu, semper,
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Associação Cultural Montfort

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