quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A missão das famílias na Igreja e no mundo


A celebração da Solenidade da Sagrada Família no Tempo do Natal nos ajuda a compreender a importantíssima missão da família na Igreja e no mundo. O Filho de Deus veio ao mundo na Sagrada Família de Nazaré para nos revelar a singular missão da família no desígnio de Deus para a salvação da humanidade. Como parte deste projeto, a Santíssima Trindade escolheu a família como lugar para manifestar o Seu amor por nós. Ao mesmo tempo, a família é o lugar privilegiado para corresponder ao amor que Deus manifestou a nós em Jesus Cristo, no amor à família, aos pais, aos irmãos, aos filhos, aos avós. Desde o princípio do cristianismo, a família já era uma verdadeira igreja doméstica, onde os cristãos tinham um lugar privilegiado para o encontro com Deus. Ao mesmo tempo, a família já era também um lugar propício para, em Cristo, encontrar com os familiares, mas também irmãos e amigos na fé, para o enriquecimento mútuo, através da comunhão, da partilha e da vivência autêntica da fé. A família já era também, desde tempos remotos, um lugar de refúgio contra as perseguições do mundo, contra as maldades e ciladas de Satanás e contra o “espírito do mundo”1, que se opõe ao Espírito de Deus.

A família como lugar da manifestação do Amor

Deus, que é Amor2, veio ao mundo na Sagrada Família, para fazer da família um “lugar particular do amor”3. A comunhão de amor entre Deus e os homens, conteúdo fundamental da Revelação e da experiência da fé de Israel, encontra uma sua significativa expressão na aliança nupcial, que que se realiza entre o homem e a mulher. Este vínculo de amor entre os esposos torna-se a imagem e o símbolo da Aliança que une Deus e o seu povo4. No entanto, “a comunhão entre Deus e os homens encontra o seu definitivo cumprimento em Jesus Cristo, o Esposo que ama e se doa como Salvador da humanidade, unindo-a a Si como seu corpo”5. A revelação da verdade do “princípio” a respeito do Matrimônio, que liberta o homem da dureza do seu coração6, chega à sua definitiva plenitude no dom do amor que o Verbo de Deus faz à humanidade, assumindo a natureza humana, e no sacrifício que Jesus Cristo faz de si mesmo sobre o altar da cruz, pela sua Esposa, a Igreja. Da mesma forma, os esposos devem amar as suas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela7. Os esposos são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação realizada por Cristo na Cruz, da qual o sacramento do Matrimônio os faz participantes. “Deste acontecimento de salvação, o Matrimônio como cada sacramento, é memorial, atualização e profecia: ‘Enquanto memorial, o sacramento dá-lhes a graça e o dever de recordar as grandes obras de Deus e de as testemunhar aos filhos; enquanto atualização, dá-lhes a graça e o dever de realizar no presente, um para com o outro e para com os filhos, as exigências de um amor que perdoa e que redime; enquanto profecia dá-lhes a graça e o dever de viver e de testemunhar a esperança do futuro encontro com Cristo’”8 , no Reino dos Céus.

Quanto à fecundidade do amor conjugal, esta “alarga-se e enriquece-se com todos aqueles frutos da vida moral, espiritual e sobrenatural que o pai e a mãe são chamados a doar aos filhos e, através dos filhos, à Igreja e ao mundo”9. A este respeito, a Palavra de Deus nos ajuda a compreender como deve ser o relacionamento familiar entre os cristãos: “As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, […] Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. […] Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo. O primeiro mandamento acompanhado de uma promessa é: Honra teu pai e tua mãe, para que sejas feliz e tenhas longa vida sobre a terra10. Pais, não exaspereis [não faças perder a esperança os] vossos filhos. Pelo contrário, criai-os na educação e doutrina do Senhor.”11. A este respeito, deu testemunho o próprio Filho de Deus que, depois de ser encontrado no Templo entre os doutores da lei, voltou para casa com a Virgem Maria e São José: “desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso”12. Em vista disso, se o Verbo de Deus feito homem foi submisso a seus pais durante sua vida terrena, com muito mais razão devemos ser submissos, em primeiro lugar a Deus e a Igreja, mas também as esposas aos seus esposos e os filhos aos seus pais, como nos ensina São Paulo. Por sua vez, os esposos devem amar suas esposas como Cristo amou sua Igreja, ou seja, entregando a suas vidas por amor a elas13, numa doação total por amor. Estes são ensinamentos preciosíssimos, principalmente em nossos dias, nos quais quer se estabelecer uma igualdade absoluta entre homem e mulher, entre pais e filhos. É verdade que todos temos a mesma dignidade diante de Deus, independente do sexo ou do nosso lugar na família, pois somos todos filhos de Deus. No entanto, o esposo, o pai de família, tem sua dignidade própria e deve ser respeitado como tal pela esposa e pelos filhos. Da mesma forma a esposa, a mãe de família, que deve ser amada e respeitada, pelo esposo e pelos filhos. Por sua vez, os filhos devem amar, honrar e respeitar os pais, e estes devem respeitar, amar e educar seus filhos, no Senhor.

A família como igreja doméstica

A família católica, “convocada qual igreja doméstica pela Palavra e pelo Sacramento, torna-se, conjuntamente, como a grande Igreja, mestra e mãe”14. O próprio Filho de Deus quis nascer e crescer no seio da Sagrada Família, com São José e a Virgem Maria, como que em testemunho a favor da família. Pois, a Igreja outra coisa não é senão a “família de Deus”15. Desde as suas origens, a Igreja era formada por pessoas que se reuniam em suas casas para partilhar a sua fé, seus bens, e até mesmo celebrar a Eucaristia. “Nos nossos dias, num mundo muitas vezes estranho e até hostil à fé, as famílias crentes são de primordial importância, como focos de fé viva e irradiante”16. Por isso, a Igreja chama a família, segundo uma antiga expressão, de “Ecclesia domestica – Igreja doméstica”17. Pois, “na família, como numa igreja doméstica, devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um”18. Dessa forma, de modo privilegiado, realiza-se o “sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família, ‘na recepção dos sacramentos, na oração e ação de graças, no testemunho da santidade de vida, na abnegação e na caridade efetiva’. O lar é, assim, a primeira escola de vida cristã e ‘uma escola de enriquecimento humano’. É aqui que se aprende a tenacidade e a alegria no trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e sempre renovado, e, sobretudo, o culto divino, pela oração e pelo oferecimento da própria vida”19. Além disso, os pais devem favorecer especialmente a “vocação sagrada”20.

A exemplo da Sagrada Família, na qual o Menino Jesus encontrou o ambiente propício para desenvolver-se para sua missão, o lar cristão deve ser o lugar onde se recebe a formação humana e espiritual que favorecem o despertar de autênticas vocações para o sacerdócio, a vida religiosa, as novas comunidades. Além disso, enquanto igrejas domésticas, as famílias não podem esquecer do grande número de pessoas celibatárias, que são sozinhas não por opção própria, mas que em consequência das adversidades da vida não tem uma família. Algumas destas pessoas vivem a sua solidão no espírito das bem-aventuranças, servindo a Deus e ao próximo de modo exemplar. De qualquer forma, “a todas essas pessoas devemos abrir as portas dos nossos lares, verdadeiras “igrejas domésticas”, e da grande família que é a Igreja. “Ninguém se sinta privado de família neste mundo: a Igreja é casa e família para todos, especialmente para quantos estão ‘cansados e oprimidos’”21.

Descubra por que a família é uma instituição de suma importância para a Igreja e para o mundo atual.

A família como lugar de refúgio da perseguição do mundo

Logo depois do nascimento de Jesus, a Sagrada Família teve que fugir às pressas para o Egito, pois o rei Herodes procurava matar o Menino22. Esta perseguição de Herodes contra o Filho de Deus é, de certa forma, a imagem da perseguição do mundo contra os cristãos, profetizada por Jesus Cristo: “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir”23. Hoje, mais do que em outros tempos, esta profecia de Jesus Cristo é uma realidade. No entanto, a perseguição do mundo contra os cristãos em nossos dias tem um alvo bem determinado: as famílias cristãs. A respeito desta perseguição contra as famílias, são esclarecedoras as palavras de Satanás, ditas durante um exorcismo: “o divórcio, a separação de casais foi invenção minha. […] É das minhas descobertas mais inteligentes. Desta forma, destruo a família e a sociedade, onde sou adorado como verdadeiro rei do mundo”24. Um das formas desta perseguição do Inimigo contra os cristãos é o aborto. Vejam quão terríveis são as suas palavras: “[o aborto] foi a minha descoberta mais saborosa! Matar os inocentes em vez dos culpados da máfia! Destruo a humanidade e assim termino, antes do nascimento, com os adoradores do vosso falso Deus”25.

Outra forma de perseguição contra as famílias é a ideologia de gênero, segundo a qual o homossexualismo, a pedofilia, o incesto e outros tipos de relações sexuais são considerados normais e estão sendo aprovados na legislação de muitos países. Em alguns países, não somente a prática sexual, mas inclusive “casamentos” entre parentes próximos ou familiares, entre homossexuais, entre adultos e crianças, são realizados. Outra forma de ataque contra a família são as leis que são supostamente criadas para proteger mulheres e crianças, mas que acabam por prejudicar estas duas classes de pessoas e a unidade da família. Com a lei da igualdade entre homens e mulheres, as viúvas perderam o direito ao perdão das dívidas de seus falecidos esposos, leis estas que vigoravam em muitos países desde a Idade Média. Ademais, com esta igualdade, as mulheres praticamente perderam o direito de cuidar da casa e da educação dos filhos. Pois, a entrada da mulher no mercado de trabalho acarretou a diminuição dos salários dos homens. Em consequência, muitos homens não conseguem mais sustentar suas famílias, por isso, mesmo que não queiram, não poucas mulheres são obrigadas a trabalhar para ajudar nas despesas da casa. Além disso, estas leis de proteção da mulher e das crianças também criam um certo clima de hostilidade, inimizade e de provocação dentro das famílias. Consequentemente, muitas famílias se separam todos os dias em todo o mundo, criando um grande problema social. Para “fugir” desta perseguição do mundo, a família cristã e a Igreja Católica devem ser refúgios seguros para os seus filhos, como foi outrora a Sagrada Família para o Filho de Deus. A Igreja e as famílias devem oferecer os antídotos da fé, da moral e das virtudes cristãs para proteger os seus filhos da perseguição do mundo e do demônio. Além disso, a família pode e deve também ser refúgio para tantos cristãos perseguidos pelo mundo inteiro, especialmente pelos islâmicos.

As famílias na formação da grande família de Deus

Portanto, devemos “compreender a importância da instituição da família e do Matrimônio entre homem e mulher, fundado sobre a unidade e a indissolubilidade e a apreciá-la como base fundamental da sociedade e da vida humana”26. Pois, a família é uma instituição sagrada, criada por Deus como fundamento da verdadeira humanidade e, ao mesmo tempo, o lugar privilegiado para a manifestação do amor entre os esposos e do amor destes para com os seus filhos. Na família, cada pessoa é formada para ser parte da família humana e da grande família de Deus, que é a Igreja. Para tanto, na formação da família, o casal deve adquirir as capacidades humanas e a formação religiosa necessárias para a educação dos futuros filhos. No entanto, a melhor escola de fé para os filhos é a vivência autêntica da fé e da moral cristãs. Por isso, para ser bons mestres dos seus filhos, os pais devem ensinar não somente pelas palavras, mas também pelo exemplo de suas vidas. Ademais, a família deve ser o refúgio seguro para os proteger os filhos espírito do mundo e de Satanás, que querem a destruição das famílias e da humanidade. Nesse sentido, a família deve ser uma autêntica igreja doméstica, um lugar de formação humana e espiritual, de oração contínua e de oferecimento de sacrifícios. “Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal [espalhadas] nos ares”27. Por fim, que a Sagrada Família, Jesus Maria e José, nos ajude na grande missão de formar filhos e filhas para a família humana e para a grande família de Deus, no Reino dos Céus.

Oração de São João Paulo II pelas famílias

“Ó Deus, de quem procede toda a paternidade no Céu e na Terra. Pai, que és amor e vida, faze que cada família humana sobre a terra se converta, por meio de Teu Filho, Jesus Cristo, nascido de mulher e mediante o Espírito Santo, fonte da caridade divina, em verdadeiro santuário da vida e do amor para as gerações que sempre se renovam. Faze que tua graça guie os pensamentos e as obras dos esposos para o bem de suas famílias e de todas as famílias do mundo. Faze que as jovens gerações encontrem na família apoio para sua humanidade e para seu crescimento na verdade e no amor. Faze que o amor reafirmado pela graça do sacramento do Matrimônio, se revele mais forte que qualquer debilidade e qualquer crise, pelas quais às vezes passam nossas famílias. Faze, finalmente, Te pedimos por intercessão da Sagrada Família de Nazaré, que a Igreja, em todas as nações da Terra, possa cumprir frutiferamente sua missão na família e por meio da família. Tu, que és a vida, a verdade e o amor, na unidade do Filho e do Espírito Santo. Amém”28.
_________________________________________
Links relacionados:
DESTRAVE. Cristãos perseguidos.
TODO DE MARIA. Nossa Senhora e a perseguição das famílias.
TODO DE MARIA. O caminho com Jesus, Maria e José.
Referências:
1 1 Cor 2, 12.
2 Cf. Jo 4, 8
3 PAPA JOÃO PAULO II. Angelus, 27 de Dezembro de 1981.
4 Cf. Os 2, 21; Jer 3, 6-13; Is 54.
5 PAPA JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 13.
6 Cf. Mt 19, 5-9.
7 Cf. Ef 5, 25.
8 PAPA JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 13.
9 Idem, 28.
10 Cf. Dt 5, 16.
11 Ef 5, 22-25.28; 6, 1-4.
12 Lc 2, 51a.
13 Cf. Ef 5, 25.
14 PAPA JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 38.
15 Ef 2, 19.
16 PAPA JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, 1656.
17 Idem, ibidem.
18 CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, 11.
19 PAPA JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, 1657.
20 CONCÍLIO VATICANO II. Op. cit., 11.
21 PAPA JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, 1658. Cf. Mt 11, 28.
22 Cf. Mt 2, 13-14.
23 Jo 15, 18-20.
24 PADRE PELLEGRINO ERNETTI. Estratégias de Satanás: O Demônio existe! A era de Satanás: a nossa!, p. 20.
25 Idem, p. 21.
26 Discurso do Papa Francisco na conclusão da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.
27 Ef 6, 12.
28 ORAÇÃO. Oração do Papa João Paulo II pela Família.
______________________________
Natalino Ueda 
é brasileiro, católico, formado em Filosofia e Teologia. Na consagração a Virgem Maria, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, explicado no seu livro “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”, descobriu o caminho fácil, rápido, perfeito e seguro para chegar a Jesus Cristo. Desde então, ensina e escreve sobre esta devoção, o caminho “a Jesus por Maria”, que é hoje o seu maior apostolado.
________________________________________
Canção Nova

Nenhum comentário:

Postar um comentário