quarta-feira, 24 de junho de 2015

Homilética: 13º Domingo Comum - Ano B: "O contato de Cristo nos cura e nos salva".


Deus ama a vida! Ele quer apenas a vida! Deus criou o homem para ser incorruptível (primeira leitura). Pelo seu Filho, salva-nos da morte: eis porque Lhe damos graças em cada Eucaristia. Na sua vida terrena, Jesus sempre defendeu a vida. O Evangelho de hoje relata-nos dois episódios que assinalam a defesa da vida: Ele cura, Ele levanta. Ele torna livres todas as pessoas, dá-lhes toda a sua dignidade e a sua capacidade para viver plenamente. Sabemos dizer-lhe que Ele é a nossa alegria de viver?

Neste domingo continuam os milagres com que Jesus demostra a sua condição divina. Se no domingo passado acalmava a tempestade do lago, hoje se apresenta para nós como Senhor e libertador da enfermidade e da morte. E só com um toque. “Grande é o poder de Cristo, poder que não só habita na sua alma, mas que da alma passa o corpo, e do corpo alcança até a própria veste” (Santo Hilário). Para ser curados da enfermidade ou da morte é necessário que sejamos tocados por Cristo (filha de Jairo) ou que nós o toquemos com a fé e com a confiança (mulher com fluxo de sangue). 

Infelizmente nem todos souberam tocar Jesus nem se deixaram tocar por Jesus. Alguns sumos sacerdotes, fariseus e escribas quiseram tocar Jesus desde a sua inveja e inquina, e não permitiram que a força salvadora e curadora de Cristo entrasse nas suas almas e as curasse da sua soberba e orgulho. Também teve reis-Herodes-e procuradores-Pilatos-que tentaram tocar Jesus só desde a razão de Estado; e nada conseguiram. Muitos dos que iam até Ele quiseram tocá-lo exteriormente só por pura curiosidade ou conveniência; e a estes também não chegou a radiação do poder salvador de Cristo. Mas sabemos que teve também bastantes que se aproximaram de Cristo com a fé e com a confiança, como Jairo e aquela mulher que sofria um fluxo de sangue, mulher considerada impura pelos seus semelhantes hebreus, pois sofria já fazia muitos anos. E o que aconteceu? Obtiveram a saúde do corpo e da alma.  

Aliás, como e onde podemos tocar Cristo hoje e ser tocados por Ele, e assim ser curados? Hoje podemos tocar Cristo nos sacramentos, no irmão pobre que está nas periferias existenciais e no irmão que vive do seu lado, na sua família. Primeiro, nos sacramentos: na Eucaristia tocamos esse Pão da vida que nos tonifica, nos alimenta, nos santifica. Na confissão tocamos esse Cristo Médico que nos perdoa, nos anima, cura as nossas chagas que deixou em nós o pecado. Nos outros sacramentos tocamos Cristo que com a sua graça abençoa e eleva o matrimônio ao nível sobrenatural, fazendo esses esposos reflexo fiel e fecundo de Cristo e a Igreja; faz desse homem “outro Cristo”, um ministro ungido e consagrado; na unção dos enfermos, esse toque é ainda mais visível e trepidante quando o sacerdote derrama o óleo consagrado na testa e nas mãos do doente. Segundo, podemos tocar Cristo no nosso irmão pobre que está nas periferias, como nos diz o Papa Francisco; tocá-lo com a nossa caridade misericordiosa, atenta e generosa, sem nojo e sem preconceito. E finalmente, podemos tocar Cristo nesse próximo que está do meu lado: meu esposo, minha esposa, meus filhos, meus parentes, amigos e vizinhos... Com um sorriso, o perdão, um gesto prestativo, uma palavra amável, uma palmadinha nas costas...   

O 13.º domingo celebra a vida mais forte que a morte, celebra Deus apaixonado pela vida. Convém, pois, que na celebração deste dia, a vida exploda em todas as suas formas: na beleza das flores, nos gestos e atitudes, na proclamação da Palavra, nos cânticos e aclamações, na luz. No cântico do salmo e na profissão de fé, será bom recordar que é o Deus da vida que nós confessamos, as suas maravilhas que nós proclamamos. Durante toda a missa, rezando, mantenhamos a convicção expressa pelo Livro da Sabedoria: Deus não Se alegra com a perdição dos vivos.

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: Sab 1, 13-15; 2, 23-24; 2 Co 8, 7.9.13-15; Mc 5, 21-43

O Livro da Sabedoria foi composto um pouco antes da vinda de Jesus. A sua doutrina é mais serena que a dos livros mais antigos, em particular quando apresenta o rosto de Deus. Este anúncio deve ser proclamado com força, porque vem contradizer ideias ainda muito espalhadas, segundo as quais agradaria a Deus fazer morrer o homem. A morte vem de outro, pois “não foi Deus quem fez a morte”. Pelo contrário, Ele cria a vida e dá-la à humanidade, modelada à sua imagem. Ele restaura a vida, quando esta está em perigo de se apagar. Dá a vida quando está perdida, como testemunha o Evangelho deste domingo. “Vivificaste-me”, diz o salmista. No seguimento da primeira leitura, o salmo exprime a experiência de um Deus que quer a vida dos seus fiéis. Em Jesus ressuscitado, e para todos os que n’Ele acreditam, a oração do salmo encontra toda a sua verdade.

O Reino de Deus é a vida. Jesus percorre o país para o anunciar e o estabelecer. Ele fala e age. A sua fama espalha-se, porque uma força brota d’Ele, é a força da ressurreição, o Espírito de vida. 

Um chefe de sinagoga cai de joelhos e suplica a Jesus para curar a sua filha… Uma mulher atingida por hemorragias não diz nada, mas contenta-se em tocar as vestes de Jesus, sem dúvida porque se considera impura. Isto basta Àquele que veio para levantar, curar, salvar a humanidade ferida. As reações dos que acompanham Jesus são diversas. Riem-se d’Ele. Só a fé solicita um sinal de Jesus, a fé de Jairo, a fé da mulher, a fé de Pedro, Tiago e João… E esta fé faz Jesus agir e transforma os beneficiários: a mulher é curada, a jovem levanta-se, as testemunhas ficam abaladas. Decididamente, Jesus não é um taumaturgo: é reconhecido por aqueles que acreditam, recomenda insistentemente que ninguém saiba, com receio, sem dúvida, que se valorize os seus sinais sem os ver com os olhos da fé.

Eis Jesus mergulhado no barulho e nos apertos da multidão. Para mais, circula o rumor: Jesus vai fazer um milagre, curar a jovem filha de Jairo! A multidão esmaga Jesus. E eis que uma mulher quer aproximar-se de Jesus, a todo o custo, para tocar ao menos as suas vestes. Ela quer ser também beneficiária do poder do homem de Deus, ser, enfim, curada da sua doença que dura há doze anos. Ela chega por detrás, toca as suas vestes. Conhecemos o diálogo que se segue… O mesmo acontece com Jairo que se aproxima… No meio da multidão, Jesus está atento a estas pessoas concretas, manifesta uma disponibilidade extraordinária, está extremamente atento à sua presença. No meio da multidão, Jesus está atento a cada um. Ninguém fica anônimo aos olhos de Jesus. Está habitado pelo amor de Deus para com os seus filhos. No Coração do Pai, Jesus é capaz de uma atenção extrema a cada angústia do ser humano. Não interessa quem possa vir junto d’Ele, não interessa qual é a situação: ele será sempre acolhido, Jesus dará sempre a sua atenção como se cada um estivesse sozinho no mundo com Ele. Isto continua a ser verdadeiro, agora que Jesus está na plenitude da glória do seu Pai. Se eu também começasse a fazer silêncio em mim para melhor escutar Jesus, através da sua Palavra, se eu tivesse tempo para a oração interior, para aprofundar o meu silêncio interior… certamente ficaria mais disponível, mais atento aos outros. Senhor Jesus, dá-me a graça do silêncio interior que escuta e que ama.

“Sê curada”. O imperativo de Jesus tem algo de afetuoso para com esta mulher, restaurada na sua dignidade, restabelecida na sociedade que excluía o seu mal. Este “sê curada” aparece também como uma constatação: é a sua fé que a salvou, e Jesus alegra-Se por isso. A cura é consequência da fé, que é sempre fonte de vida e de felicidade.

“Levanta-te”. Este segundo imperativo do Evangelho deste dia é dinâmico e traduz perfeitamente este louco desejo de Deus em ver o homem vivo, o seu amor incondicional pela vida. “Adormecida”, no “sono da morte”… um estado do qual Deus nos quer fazer sair, um estado do qual Jesus nos salva. “Eu te ordeno: levanta-te”. A palavra evoca a ressurreição, o novo surgir da vida, o amor divino que nos coloca de pé. Jesus pede ao pai da jovem apenas uma coisa: “basta que tenhas fé”. E quanto a nós, cremos verdadeiramente?

As duas beneficiárias das ações de Jesus neste Evangelho têm isto em comum: a primeira estava doente desde os 12 anos e a jovem filha morreu aos 12 anos, a idade em que se devia tornar mulher. No povo de Israel, o percurso destas duas mulheres era sinal de um fracasso. Uma estava atingida, como Sara, a mulher de Abraão, na sua fecundidade: ela perdia o seu sangue, princípio de vida na mentalidade semítica. A outra perdia a vida, precisamente na idade em que se preparava para a transmitir (era tradição casar-se muito cedo). Cristo cura as duas mulheres e permite-lhes assim assumir a sua vocação maternal.

Estas duas mulheres representam a Igreja, na sua vocação maternal de dar e de alimentar a vida em Cristo. As alusões aos santos mistérios da Igreja orientam a compreensão do relato: Jairo pede a Jesus para impor as mãos, para salvar e dar a vida à sua filha. Ora, toda a preparação para o Batismo está sinalizada pela imposição das mãos. Jesus levanta a jovem, tomando-a pela mão, como o diácono fazia sair da água o batizado, tomando-o pela mão, para que fosse desperto para a vida em Deus. Jesus pede, de seguida, que se dê de comer a esta jovem ressuscitada da morte: é uma alusão à Eucaristia que se segue ao Batismo.

As primeiras comunidades cristãs praticaram a entreajuda e a partilha, não apenas entre os seus membros, mas também entre comunidades. O apóstolo Paulo solicitou-as nesse sentido. O apóstolo Paulo tinha organizado um peditório junto das comunidades que tinha fundado na Ásia Menor, na Macedónia e na Grécia, em favor dos irmãos de Jerusalém que estavam em dificuldades. Esta iniciativa correspondia às orientações da jovem Igreja, segundo At 4,32-35. Paulo justifica esta ação de partilha pela generosidade de Cristo: esta é modelo para os cristãos e eles próprios já beneficiaram dela.   

PARA REFLETIR

A narração evangélica deste domingo é muito interessante. Narra-nos dois milagres de uma maneira surpreendente e isto acontece em todos os três evangelhos sinópticos. As "beneficiárias" dos milagres são duas mulheres em situações diferentes, mas que simbolizam a debilidade e a necessidade extremas. Uma é já adulta com uma doença que, segundo a lei, a considerava impura e tornava impuros todos aqueles que lhe tocassem. A outra é uma menina que acabava de morrer, expressão de situação de debilidade extrema, que origina um sofrimento atroz e quase sem consolo e também que provoca, por vezes, perguntas angustiantes sobre o porquê e o sentido destas situações. Como em todos os milagres, estas duas mulheres são um exemplo de todos os que eram abandonados e marginalizados; são a expressão da nossa humanidade débil e mortal, apesar de todos os avanços da modernidade. Em ambos os casos, há uma aproximação, quase desesperada, a Jesus que fala da fé, da paz, da liberdade, da vida. Que lição a tirar destes milagres? Há uma frase no evangelho que causou escândalo: "A menina não morreu; está a dormir". Disse o mesmo, quando Lázaro estava morto (Jo 11, 11). Jesus olha para lá do nosso horizonte. A morte visível não é a morte autêntica. A verdadeira morte é aquela da qual já não se pode recuperar, a "segunda morte", segundo o Apocalipse. A menina está a dormir; por isso, pode ser acordada. É assim que Jesus olha para a humanidade que é débil, sujeita a toda a espécie de dificuldades e de indignidades, mas que se pode recuperar; está somente adormecida. É o olhar mais nobre que se pode ter sobre o nosso mundo débil e terrível. O alvoroço das pessoas que choravam e gritavam em casa da menina é a voz daqueles que têm uma visão negativa, dizendo que o homem não tem solução e ainda se riem de quem diz o contrário. São a expressão da nossa pós-modernidade, tão dececionada por sublimes ideologias e estilos de linguagem e tão insegura, olhando para um futuro incerto e ameaçador; são os "profetas das calamidades", como dizia João XXIII. Jesus dá a paz e a esperança. Esta humanidade não está morta, só está adormecida. Ele vem para a despertar. A narração da menina morta e ressuscitada recorda-nos a morte e a ressurreição de Jesus. A frase "Não temas; basta que tenhas fé", recorda-nos.

Tanto na casa da menina como na noite da agonia, Jesus leva consigo os mesmos três discípulos. Na casa da menina e na cruz, riram-se dele. Mas, o resultado final é a vida. É esta a grande novidade do Evangelho. Jesus recupera pessoalmente a vida e entrega-a aos outros: na cruz, dá-se totalmente a Deus e aos homens, fazendo, assim, a passagem para a ressurreição. "Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ele, que era rico, fez-se pobre por vossa causa, para vos enriquecer pela sua pobreza" (2.ª Leitura). A imagem de Jesus dando a mão e levantando a menina morta é o sinal de Jesus dando à humanidade deprimida a única coisa que a poderá recuperar: a fé. Acreditar em Deus, Senhor da Vida e do Amor, é o único caminho para nos erguermos, para perder o medo e encontrar a liberdade, a paz e a vida. Oração Universal Pres. Caríssimos irmãos: Porque um pai Lhe pediu, Jesus ressuscitou-lhe a filha. 

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