“Dizei aos convidados
que já está preparado o meu banquete (…). Vinde às bodas!” (Mt 22,4). Jesus
deixou-nos esse prodígio de amor, que é a eucaristia, para que participemos de
suas alegrias eternas. Ele instituiu o sacramento do seu corpo e do seu sangue
no contexto de uma ceia e se deu em alimento para que nós, fortalecidos,
pudéssemos chegar à glória celestial. Mas a eucaristia não é somente um
banquete, nem é um simples banquete. Trata-se de um banquete sacrificial. O
Catecismo da Igreja Católica faz essa conexão – eucaristia-ceia – já que o Novo
Testamento também o faz: “Jesus expressou de modo supremo a oferta livre de si
mesmo na refeição que tomou com os Doze Apóstolos na “noite em que foi entregue”
(1 Cor 11,23). Na véspera de sua Paixão, quando ainda estava em liberdade,
Jesus fez desta Última Ceia com seus apóstolos o memorial de sua oferta
voluntária ao Pai, pela salvação dos homens: “Isto é o meu corpo que é dado por
vós” (Lc 22,19). “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por
muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,28)” (Cat. 610).
Fomos
convidados para participar do banquete nupcial do Cordeiro. Quem é esse
Cordeiro com letra maiúscula? Explica-nos o evangelista João: “Eu vi no meio do
trono, dos quatro Animais e no meio dos Anciãos um Cordeiro de pé, como que
imolado” (Ap 5,6). Tinha-se anunciado que o Leão abriria o livro selado (cfr.
Ap 5,5), mas aparece um Cordeiro que, efetivamente, pode abrir os sete selos
(cfr. Ap 6,1). Aparente contradição! O que tem a ver um leão com um cordeiro?
Jesus tem a fortaleza de um leão e a mansidão de um cordeiro. O Cordeiro de
Deus, Jesus, aparece “de pé, como que imolado”. Outra aparente contradição!
Quem está de pé não está imolado, que está imolado não está de pé; mas,
explica-nos a Bíblia de Jerusalém, trata-se do “cordeiro que foi imolado para a
salvação do povo eleito (cf. Jo 1,29+; Is 53,7). Ele traz as marcas de seu
suplício, mas está de pé, triunfante (cf. At 7,55), vencedor da morte (1,18) e
por esta razão (…) Senhor de toda a humanidade” (Bíblia de Jerusalém, Ap 5,6,
nota z).
O sacrifício
do Cordeiro foi oferecido ao Pai, mas também foi oferecido a nós. Pelo poder
desse Cordeiro salvador, Jesus, e pela ação do Espírito Santo, atualiza-se em
cada missa o mistério da sua Páscoa. Em cada missa nos encontramos com o
mistério do Cristo morto e ressuscitado, e, ao encontrar-nos com esses fatos
diante de nós, somos transportados à eternidade. Explico-me: o sacrifício de
Cristo oferecido ao Pai foi aceito eternamente pelo Pai que o tem sempre diante
dos seus olhos. Pois bem, esse mesmo sacrifício que o Pai tem diante de si se
nos torna presente em cada santa missa: o céu desce à terra e a terra entra em
contato com o céu. Mais ainda, para que a nossa participação seja mais intensa,
Deus ofereceu-se em comida, isto é, Jesus na comunhão nos faz participar do
banquete que ele mesmo preparou para nós.
Que triste
seria se desprezássemos tanto amor de Deus! Como eu participo da santa missa?
Desejo, de verdade, que chegue o momento de participar da próxima missa?
Procuro ir bem preparado para participar do banquete que o Senhor fez para mim,
para a minha salvação e para o fortalecimento do meu apostolado? Encontro na
santa missa o centro da minha vida espiritual?
Pontos
da ideia principal
Textos: Isaías 25,6-10; Filipenses 4,12-14.19-20; Mateus 22,1-14
Em primeiro lugar, Jesus ficava encantado quando comia com as pessoas. Por
isso, ia aos banquetes. Por isso não é estranho para nós que Ele compara o
Reino a um Rei que preparou um banquete ao que convida todos. Os insistentes
convites do rei no evangelho de hoje através dos seus emissários, que não são
outros que os profetas, encontram os seus destinatários indiferentes,
desprezando a honra que Ele lhes tinha feito, preocupados só pelos assuntos
materiais: negócios e mais negócios. Por terem sido cuidadosamente eleitos pelo
rei como comensais da festa de bodas, se percebe que eram de um certo grau, que
aos olhos do rei tinham um certo privilégio, o que também agrava notavelmente o
seu comportamento, que chega ao ultraje e à mesma morte dos porta-vozes reais
que levam os convites. Que ofensa e que humilhação infligidas ao rei! Desculpas
sem peso que podiam ser feitas noutro dia: “o meu campo me espera…o meu
negócio”. Até pegaram e mataram os que levavam os convites do
Rei. Assim se explica o motivo de porquê na parábola não se considera exagerada
a reação do monarca, o qual ordena que as suas tropas façam justiça aos
assassinos e incendeiem a sua cidade, quase como para apagar da face da terra
toda a lembrança de tão horrível episódio.
Em segundo lugar, apliquemos a nós esta parábola a Deus. Como se pode
considerar diversamente o desprezo dos bens divinos por parte de alguns de nós,
a rejeição de um Deus que oferece a sua própria vida ao homem? Por que alguns
não participam da missa, por que não se confessam, por que não leem a Bíblia?
Veem à minha memória aquelas severas palavras de são Paulo: “Não
façais ilusões, com Deus não se brinca” (Gal 6, 7). Não se
pode desdenhar impunemente os dons de Deus, e ainda menos pretender que Deus
renuncie o seu plano de salvação universal, opondo-lhe um muro de incompreensão
e superficialidade. Excluir-se deste plano indica só o fracasso do homem e não
de Deus. É isso o que quer dizer a parábola quando mostra o rei que envia os
seus servos às ruas para juntar quantos encontrar, “bons e maus”, e assim
encher a sala do banquete, substituindo os “indignos”. Ninguém pode impedir a
festa de Deus. O nosso esquecimento ou a nossa indiferença não podem fazer que
Deus não exista, nem impedir que realize, inclusive sem nós, o seu plano de
salvação.
Finalmente, agora bem, nesse
banquete devemos entrar com traje de gala, isto é, com a graça santificante,
que no Apocalipse se descreve como “vestido de linho das obras justas dos
santos” (19, 8). É preciso ter a túnica branca da pureza, a
coroa de palmeira ou a oliva da caridade, e as sandálias e os pés limpos após a
fadiga e a luta. Segundo o protocolo oriental, o rei não participava no
banquete, porém num certo momento entrava na sala para receber o obséquio e o
agradecimento dos convidados. No Oriente, desde os tempos remotos do rei
Hamurabi (s. XVIII a.C.), os reis acostumavam presentear aos seus hóspedes
vestidos idôneos para a solenidade das suas audiências ou para o privilégio do
comparecimento diante deles. O homem da parábola que não tinha vestido de festa
foi porque não quis prover-se do traje –que estava na entrada do palácio-, o
que indica uma falta de respeito não menos grave que a daqueles que rejeitaram
o convite do Rei. Também foi expulso à geena eterna, o inferno. Nenhuma
interpretação poderá negar que Cristo ameaçou com este castigo irreparável quem
faz vãos os dons de Deus, rejeitando a sua graça. Porém, não nos esqueçamos de
que também esta terrível parábola precede às três parábolas da misericórdia, já
que Deus ameaça com a intenção de perdoar e nos corrigir.
Para refletir
A Palavra de Deus do
Domingo último falava-nos da vinha; a Palavra de Deus deste hoje fala-nos de
banquete! Quantas vezes, na Sagrada Escritura, o Reino dos Céus é comparado a
um banquete! Para os orientais, o banquete, a festa ao redor da mesa, é sinal
de bênção, pois é lugar da convivência que dá gosto de existir, da fartura que
garante a vida e do vinho que alegra o coração. É por isso que Jesus hoje nos
diz que “o Reino dos Céus é como a
história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho”. Ora,
caríssimos irmãos, foi isso que Deus faz desde a criação do homem: pouco a
pouco, ele foi preparando a festa de casamento do Filho seu, Jesus nosso
Senhor, com a humanidade!
Disso nos
trata a primeira leitura de hoje: já no Antigo Testamento, Deus falava a Israel
sobre o destino de vida, luz e paz que ele preparava para toda a
humanidade: “O Senhor dará neste monte,
para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro,
servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos. Ele removerá, neste monte,
a ponta da cadeia que ligava todos os povos. O Senhor Deus dominará para sempre
a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces…” Eis,
caríssimos, é de paz o pensamento do Senhor para nós; é de vida, de liberdade,
de felicidade! Se o Senhor havia escolhido Israel como seu povo, era para que
fosse ministro dessa salvação. O monte Sião seria o lugar donde brotariam a
salvação e a bênção de Deus para toda a humanidade. Infelizmente, Israel não
compreendeu sua missão. É o que Jesus nos explica na parábola de hoje (a
terceira que trata desta questão: a primeira foi a do irmão mais velho que
disse que faria a vontade do pai e não fez; a segunda foi a dos vinhateiros
homicidas, a terceira é a de hoje).
Na parábola,
o rei é o Pai; o casamento do Filho Jesus é a Aliança nova que Deus quer selar
com toda a humanidade; os empregados são os profetas e os apóstolos. Deus
preparou tudo; em Jesus fez o convite: “Vinde
para a Festa!”, mas Israel não aceitou! A festa de acolher o
Messias, o Filho amado, Aquele que traz a vida a toda a humanidade! “O rei ficou indignado e mandou tropas para
matar aqueles assassinos e incendiar a cidade deles” – aqui
Jesus se refere ao incêndio de Jerusalém, a Cidade Santa, que os romanos iriam
realizar no ano 70, quarenta após a sua morte e ressurreição. Eis! Os
convidados não quiseram participar da festa, Israel rejeitou o convite do
Messias! Que fazer? O rei ordena aos servos: “’Ide até às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa
todos os que encontrardes!’ E a sala ficou cheia de convidados”. Somos
nós, os que antes éramos pagãos e não conhecíamos o Deus de Israel. Pela voz
dos Apóstolos e dos pregadores do Evangelho, o Senhor nos reuniu de todos os
povos da terra, das encruzilhadas dos caminhos da vida, e nos fez o seu povo, o
novo povo, a Igreja! Assim, a sala do banquete, a sala da aliança nova e
eterna, ficou repleta, porque o desejo de Deus é que todos se salvem!
Caríssimos,
nunca deveríamos esquecer que a Igreja, da qual fazemos parte como membros e
filhos, e que somos nós mesmos, é fruto de um desígnio de amor do Pai eterno
que, na plenitude dos tempos, no chamou e reuniu em Cristo Jesus! Nunca
deveríamos esquecer que este Banquete eucarístico do qual participamos agora é
o Banquete que o rei, o Pai eterno, nos preparou: banquete da aliança do seu
Filho, o Esposo, com a Igreja, sua Esposa! Eis: somos os convidados para o
banquete das núpcias da aliança do Cristo com a sua amada Esposa… e o alimento,
o Cordeiro, é o próprio Jesus dado e recebido em comunhão! Pensemos um pouco na
responsabilidade de sermos Povo de Deus, de sermos os escolhidos para ser o
povo da Aliança…
Escutemos
ainda, o final da parábola: “Quando
o rei entrou para ver os convidados, observou aí um homem que não estava usando
traje de festa!” Cristão, convidado para o banquete da
Eucaristia, banquete da Igreja, banquete das núpcias do Cordeiro, qual é o
traje de festa? É a veste do teu Batismo, aquela veste branca, que deves
conservar pura pela tua vida, pelas tuas obras, pelo teu procedimento! Não
aconteça ser tu esse homem que entrou na festa sem o traje apropriado! É o que
aconteceria se viesses, é o que acontecerá se vieres para esta Eucaristia santa
com uma vida enodoada pelas ações contrárias ao que o Evangelho do Reino te
ensina! “Amigo, como entraste aqui sem
o traje de festa?” – eis, que pergunta tremenda o Senhor nos
faz! O que lhe responderemos? “O
homem nada respondeu!” Não há o que responder! Amados,
chamados, convidados, por que não nos esforçamos para ser dignos da tal rei, de
tal Filho, de tal festa? “Então,
o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai-o e jogai-o fora, na escuridão! Aí haverá
choro e ranger de dentes!” Eis, caríssimos, a nossa
responsabilidade! O Senhor nos deu o dom de ser cristãos; cobrará de modo
decidido o que fizermos com nossa fé, com nossa vida em Cristo! O próprio Jesus
nos previne, de modo muito claro, que “muitos
são chamados e poucos são escolhidos”… Ninguém se iluda,
pensando que porque é cristão já está salvo! Isso é bobagem e prepotência! Ao
Senhor pertence o julgamento; a nós, conservar pura e conosco a veste do nosso
Batismo!
Pensemos bem
no modo como estamos vivendo nossa vida cristã e, de modo especial, nossa
Eucaristia! E que o Senhor nos dê a graça de participar dignamente do Banquete
do Senhor, nesta vida, nas missas que celebramos, e um dia, por toda a
Eternidade! Amém.