quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Homilética: 25º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Trabalhadores na vinha do Senhor".


“Amados Irmãos e Irmãs, depois do grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes.” Com essas palavras, Bento XVI iniciava o seu pontificado no dia 19 de abril de 2005. Você se lembra daquele momento? Pois bem, o Evangelho de hoje nos fala exatamente da importância de trabalhar na vinha do Senhor. Deus Pai, todos os dias e a todas as horas deseja empregar um novo trabalhador.

Mas, note-se, Deus quer trabalhadores, isto é, pessoas que estejam interessadas em capinar a terra, lavrá-la, prepará-la bem, semear o campo, cuidar das plantinhas e colher os frutos. Talvez não participemos de todas as etapas, mas uma coisa é certa: somos trabalhadores na vinha do Senhor. Nós agradamos a Deus ao arregaçar as mangas para estender o seu reino de amor e de paz. Nesse trabalho é preciso docilidade, esforço e criatividade.

“Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são os meus”, diz o Senhor (Is 55,8).

O homem não pode reduzir Deus à medida dos seus pensamentos, nem condicionar o comportamento do Altíssimo às suas categorias de justiça e de bondade. Deus está muito acima do homem, muito mais do que está o céu acima da terra (Is 55,9); por isso, muitas vezes os projetos da sua providência são incompreensíveis à inteligência humana, que os deve aceitar com humildade, sem pretender advinhá-los ou julgá-los. Quantas vezes ficamos aquém das maravilhas que Deus nos preparou! Quantas vezes os nossos planos se revelam tão estreitos! É este o ensinamento profundo contido na parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20,1-16). 

Com esta parábola o Senhor não deseja dar-nos uma lição de moral salarial ou profissional, mas sublinhar que, no mundo da Graça, tudo é um puro dom, mesmo o que parece ser um direito que nos assiste pelas nossas boas obras.

No campo do Senhor há trabalho para todos! Deus não chega nem demasiado cedo nem demasiado tarde às nossas vidas. O que Ele quer é que, a partir do momento em que nos visitou na sua misericórdia, nos sintamos verdadeiramente comprometidos a trabalhar na sua vinha, com todas as forças e com todo o entusiasmo, sem nos esquivarmos com promessas futuras, nem desanimarmos com o tempo perdido.

Não são gratas ao Senhor as queixas estéreis, que revelam falta de fé, ou mesmo um sentido negativo e cético do ambiente que nos rodeia. Esta é a vinha e este é o campo em que o Senhor quer que estejamos inseridos nessa sociedade que apresenta os seus valores e deficiências. É na nossa própria família, e não em outra, que devemos santificar-nos , e é essa família que devemos levar a Deus; e o trabalho que nos espera hoje, na Universidade ou no escritório, e não outro, que devemos converter em trabalho de Deus…Esta é a vinha do Senhor, onde Ele quer que trabalhemos sem falsas desculpas, sem saudosismos, sem exagerar as dificuldades, sem esperar oportunidades melhores.

O Senhor quer nos mostrar que no mundo da Graça não se podem fazer valer quaisquer direitos. É certo que o homem deve colaborar na sua salvação eterna, mas esta é um bem tão sublime que jamais deixa de ser um dom, até mesmo para as almas mais santas.

A parábola mostra-nos ainda que nunca é tarde para começar. O Senhor chama sempre, em todas as horas. Importa estar atento e corresponder ao apelo. A resposta final, por parte de Deus, superará sempre a nossa expectativa.

Deus pode chamar a qualquer hora e o homem deve estar sempre pronto para responder ao Seu chamamento. “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o, enquanto Ele está perto” (Is 55,6).
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Textos: Isaías 55, 6-9; Filipenses 1, 20-24.27; Mateus 20, 1-16

Caros irmãos e irmãs

No Evangelho deste Domingo, Jesus conta aos seus discípulos a parábola dos trabalhadores da vinha. A parábola fala de um proprietário de vinha que saiu a contratar trabalhadores para a sua vinha.  Saiu logo de manhã cedo e contratou alguns que encontrou, prometendo dar a eles, no fim do dia, o pagamento de um denário, o que equivale a uma moeda de prata, que era o salário normal para um dia de trabalho. Este proprietário saiu novamente na hora terceira e contratou mais outros que estavam na praça, com a mesma promessa de dar a eles o que fosse justo. Saiu de nova à hora sexta e à hora nona e contratou mais outros, com a mesma promessa: pagaria o que fosse justo.  Já quase no fim do dia, à décima primeira hora, que corresponde ao horário das cinco da tarde, saiu e encontrou outros que estavam ainda na praça sem trabalho, uma vez que ninguém os convocara, e os mandou também para a sua vinha.

A oração canônica da Igreja, rezada pelo clero, pelos religiosos e religiosas e por leigos mais integrados na oração litúrgica, é dividida ao longo do dia em quatro horas:  prima, terça, sexta e noa.  Essa divisão é retirada do modo de contar o tempo usado pelos judeus.  À semelhança dos gregos e dos romanos, eles dividiam o dia, do amanhecer ao entardecer, em doze horas.  Mas, na prática, depois das primeiras horas do dia, falavam apenas em hora terceira, das nove ao meio-dia; hora sexta, do meio-dia às três da tarde; e hora nona, das três ao fim da tarde.  Jesus se refere a essas horas na parábola que nos conta, em conformidade com o Evangelista São Mateus.

Os homens que estavam na praça, aguardavam possíveis convites para trabalho.  Na Palestina, a praça era uma espécie de bolsa de trabalho.  Muitos que estavam desempregados iam muito cedo à praça com suas ferramentas e esperavam até que viesse alguém para contratá-los. O fato de alguns permanecerem nesse lugar até às cinco da tarde, demonstra que estavam ansiosos por encontrar alguma ocupação. A jornada de trabalho naquela época era de 12 horas, iniciava às seis da manhã, e era concluída às 6 da tarde, não sendo mais possível trabalhar após este horário.

A parábola nos diz que, ao findar o dia, o patrão mandou o seu administrador efetuar o pagamento aos trabalhadores, começando pelos últimos. E eles receberam um denário. Depois vieram os outros, que tinham começado a trabalhar desde cedo. Vendo como tinham sido pagos os da última hora, ficaram na esperança de receber mais. Porém receberam apenas o denário que lhes tinha sido prometido. Naturalmente, reclamaram contra o patrão que pagava o mesmo valor aos que tinham trabalhado apenas uma hora e a eles que tinham suportado o peso do cansaço e do calor do dia inteiro.

E vem então a explicação do proprietário da vinha a um dos que reclamavam:  “Meu amigo, não estou sendo injusto para contigo.  Não tínhamos combinado que receberias um denário?  Toma o que é teu e vai em paz.  Se eu quero dar a este último o mesmo que te dei, não tenho o direito de fazer com o meu dinheiro o que eu quiser?  Ou estás vendo de maus olhos o bem que eu estou fazendo?”  (Mt 20,13-15).

A queixa que os primeiros operários expressam reflete a mentalidade de inveja que normalmente domina o coração do homem. O invejoso, quando vê alguém feliz, se entristece com a sua alegria. Mas o patrão, através de Jesus, denuncia a inveja que tal queixa esconde. O proprietário cumpre a justiça, entregando o que fora estabelecido com os primeiros: receber o denário habitual de uma jornada de trabalho, mas, além disso, ele se compadece dos últimos. Se eles recebessem proporcionalmente aos seus méritos, não receberiam o suficiente para seu sustento e o de suas famílias.  O proprietário é generoso com os últimos sem ser injusto com os primeiros.

A parábola é dirigida aos fariseus, povos observantes da lei de Moisés, mas eram pessoas incapazes de assimilar conceitos como o amor e o perdão, fechavam o caminho de Deus aos pobres, ignorantes, pecadores, publicanos e marginalizados; e criticavam Jesus porque acolhia esses pecadores, como fez com Maria Madalena, com o publicano Zaqueu e muitos outros que encontrou em seu caminho.  Assim age Deus: oferece a todos um espaço em seu Reino de salvação. Este Reino é um dom oferecido por Deus a todos, sem qualquer exceção.

Cristãos da primeira hora ou da última hora são filhos amados do mesmo Pai. O dom de Deus destina-se a todos, por igual. A parábola nos convida a perceber que Deus oferece gratuitamente a salvação a todos, aos primeiros e aos últimos.  Os últimos são os pecadores que Jesus veio buscar e que, convidados por Ele, entram no âmbito da misericórdia de Deus.  Um ocaso que se pode destacar como um sinal do amor gratuito do Senhor, como o dos operários da última hora, foi o Bom Ladrão, que conseguiu acesso ao Reino de Deus no último instante. A ele Jesus disse: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).

Também muitos outros santos tiveram este privilégio.  É o caso, por exemplo, do próprio São Mateus. Antes de ser chamado por Jesus, desempenhava ele a profissão de publicano e, por este motivo, era considerado um pecador público. Mas tudo mudou quando Jesus disse a ele: “Segue-me” (Mt 9,9).  O então publicano, considerado o último, converteu-se imediatamente em discípulo de Cristo, pregando o evangelho até o martírio.  Ele é, portanto, o exemplo das duas realidades: não só se converteu, mas também foi o que trabalhou até o fim, ganhando do Senhor a graça de merecer morrer por sua causa.  Também o apóstolo São Paulo experimentou a alegria de sentir-se chamado pelo Senhor a trabalhar em sua vinha. Mas como ele mesmo confessa, foi a graça de Deus que atuou nele, essa graça o fez passar de perseguidor da Igreja a apóstolo dos povos (cf. Fl 1,22).

Esta parábola mostra a gratuidade e universalidade da salvação porque Deus é bom e generoso.  Este denário oferecido pelo patrão aos seus operários, representa a vida eterna, dom que Deus reserva para todos.

Chama a nossa atenção nesta parábola que o dono de uma vinha, precisando de operários, saiu de casa diversas horas do dia para chamar trabalhadores para a sua vinha (cf. Mt 20,1-16). Não saiu apenas uma vez. Na parábola Jesus diz que ele saiu pelo menos cinco vezes: ao alvorecer, às nove, ao meio-dia, às três e às cinco da tarde.  Havia tanta necessidade de operários na sua vinha que ele passou quase todo o tempo em busca de operários. Podemos dizer que este patrão representa Deus e é Ele que também vem ao nosso encontro e nos convida a trabalhar na sua vinha. Mas também esta deve ser a nossa missão, sair incansavelmente ao encontro daqueles que ainda não conhecem a vinha do Senhor. Cabe também a nós convidar mais pessoas para fazer parte desta vinha.

Peçamos a intercessão da Virgem Maria, para que saibamos corresponder com dignidade e alegria o convite do Senhor que a todo momento nos chama a segui-lo; e que possamos estar entre os bons e fiéis operários da sua vinha.  Assim seja. 


PARA REFLETIR


Tomemos como norte de nossa meditação da Palavra que o Senhor nos dirige neste Domingo a leitura primeira desta Liturgia sagrada, retirada da profecia de Isaías. O profeta convida-nos, dirigi-nos um apelo para que busquemos o Senhor, o invoquemos, voltemos para ele. Eis aqui, caríssimos, um grito tão necessário nesses tempos do homem cheio de si, preocupado consigo, embriagado pelos seus próprios feitos e tão confiado em suas próprias idéias! O profeta grita-nos, quase que nos prevenindo, ameaçando-nos: “Buscai o Senhor; invocai-o! Que volte para o Senhor!”

Mas, isso significa ter a coragem de sair de si mesmo para abraçar os pensamentos e caminhos do Senhor. Pensem bem, caríssimos, que felicidade, que graça: abraçar os desígnios de Deus, entrar no seu projeto, viver a sua proposta! Pensem bem: não seria isso a sabedoria plena, a felicidade verdadeira da humanidade e do mundo? E, no entanto, isso não é possível sem um doloroso e generoso processo de conversão. Porque, infelizmente, os pensamentos do Senhor não são os nossos e os nossos caminhos não são os do Senhor! Que triste desacordo, que desencontro danado! Escutem: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor!” Isto não é brincadeira: o homem sozinho não pensa como Deus, não caminha no caminho de Deus: nem na ONU nem na Casa Branca nem no Palácio do Planalto nem no Congresso nem mesmo no nosso coração! Somente a conversão pode nos elevar ao pensamento de Deus e fazer com que nossos caminhos sejam os dele: “Abandone o ímpio seu caminho e o homem injusto, suas maquinações; volte para o Senhor!” Voltar para o Senhor! Volte, ó homem do século XXI, para o Senhor! Deixe sua auto-suficiência, seu cinismo, deixe sua ilusão de pensar que sabe tudo, que é maduro o bastante para prescindir de Deus! “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o, enquanto está perto; volte para o Senhor, que terá piedade, volte para o nosso Deus, que é generoso no perdão!”

O Senhor nos procura, como o dono da vinha do Evangelho de hoje – e procura-nos com insistência: sai de madrugada à nossa procura, porque o amor tem pressa, o amor anseia encontrar a pessoa amada. E, como o amor é insistente, o Senhor vem sempre, a cada momento, em cada ocasião, sempre à nossa procura: pelas nove, ao meio-dia, pelas três… e até mesmo às cinco da tarde, quando o sol já se esconde, o Senhor vem novamente! Sempre é tempo de conversão, sempre é tempo de voltar para o Senhor! Aí, então, experimentaremos que tudo é graça, que o pensamento de Deus para nós é amor que não é mesquinho, que sabe tratar a todos com generosidade, fazendo primeiro no seu Reino aquele que tem coragem de crer no amor, de ir ao encontro do Senhor mesmo que seja a última hora! Ó mundo, ó humanidade, ó cristão, voltai para o Senhor! A única coisa que vos pede é que acrediteis no seu amor generoso e no seu perdão abundante e vos convertais de todo o coração!

Converter-se, caríssimos, significa entrar na maravilhosa experiência que São Paulo testemunha na segunda leitura de hoje: viver de um modo novo, de um viver diferente: “Para mim, viver é Cristo! Cristo vai ser glorificado no meu corpo, seja pela minha vida, seja pela minha morte!” Para que idéia mais bela do que seja a conversão: viver em Cristo! Notemos os passos do pensamento do Apóstolo. Ele é tão unido a Cristo, tão apaixonado por ele, que seja na vida seja na morte sabe que está unido ao seu Senhor e em tudo o Senhor é nele glorificado. Que é a vida para quem voltou para o Senhor? A vida é Cristo! Que é a morte para quem vive mergulhado no Senhor? A morte é estar com Cristo e, por isso, é lucro! Por isso, a vida de Paulo – e a do cristão, com Paulo – é atraída para o seu Senhor: “Tenho o desejo de partir para estar com Cristo!” Eis por que Paulo vive, eis para que vive: para estar com Cristo! Aqui, uma observação: prestem atenção que São Paulo sabe muito bem que assim que morrer vai estar com Cristo. Por isso mesmo ele diz que isso “para mim, seria de longe o melhor!” Jamais o Apóstolo compartilharia a afirmação errônea das seitas protestantes, que pensam que os que morrem em Cristo ficam dormindo. Se ficassem, não seria melhor para Paulo partir para estar com Cristo; seria melhor continuar vivendo e trabalhando pelos irmãos. Portanto, nem a vida nem a morte nos podem mais separar do amor de Cristo. É só voltarmos para o Senhor, é só procurá-lo de todo o coração com nosso afeto, com nossos atos, com nosso desejo sincero de a ele nos converter de todo coração!

Caríssimos, buscai o Senhor, voltai para o Senhor, invocai o Senhor! E, lembrai-vos: ele é tão bom, que se deixa encontrar! Primeiro nos atrai e, depois, deixa que o encontremos e, como o senhor da parábola, nos enche de dons, sem levar em conta a hora em que nos convertemos em trabalhadores da sua vinha. Mas, querem saber qual é a hora da conversão? Esta, agora! Voltai para o Senhor! Amém.

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