terça-feira, 29 de novembro de 2016

A onda de secularização que assola os países da América Latina


O aborto, o casamento gay e os ataques à liberdade religiosa são realidades que o Uruguai, Chile e Argentina têm em comum e que desafiam diretamente a família e o direito inalienável à vida de toda pessoa. O Grupo ACI conversou com alguns representantes da sociedade civil para conhecer esta realidade mais de perto e propor alternativas a respeito.

Uruguai: Aborto e ausência de Deus

No Uruguai, o aborto está despenalizado até as 12 semanas de gravidez e, segundo cifras de 2015 do Ministério de Saúde Pública, são praticados aproximadamente 780 abortos por mês.

A ideologia de gênero teve mais força em 2013, quando o Uruguai se tornou o segundo país na América Latina a autorizar o casamento gay e, em 2014, com a Guia “Educação e Diversidade Sexual”, na qual incentivam a população a “sair do armário”, “desconstruir o modelo tradicional de família e favorecer a construção de novos modelos”.

Além disso, o Estado vive um profundo processo de secularização há mais de 100 anos, o qual constitui um desafio para os católicos que procuram manifestar a sua fé na esfera pública.

Um exemplo disso é a solicitação da Igreja em Montevidéu para instalar uma imagem da Virgem Maria em um lugar público, algo que causou reclamações de algumas pessoas que asseguram que afetará a laicidade do país.

Frente a este panorama, a secretária executiva da Comissão Nacional para a Pastoral Familiar e a Vida do Episcopado do Uruguai, Gabriela López, advertiu sobre as “correntes ideológicas, educativas e pressões internacionais muito fortes sobre nossos países para que tomemos determinadas formas, programas e metas, que muitas vezes são contra o que a Igreja propõe”.

“Todos estes anti-valores propostos pelo Estado evidentemente geram uma quebra e, quando a Igreja começa a dizer estas coisas, pedem para que fique calada e volta à esfera privada”, disse ao Grupo ACI.

“Hoje não há laicidade, mas laicismo. A laicidade respeitava todas as crenças, mas hoje é a absoluta ausência de religião e, além do mais, eu diria que é até anticlerical”, afirmou López.

Apesar disso, “vem sendo criado a nível social um movimento, não só católico, que vê que isto não nos convém e tentamos levar avante esta sociedade de uma maneira distinta, educando em virtudes, em valores, promovendo outros critérios, como o papel irrenunciável dos pais como os primeiros educadores”, observou. 

Chile: Agenda ideológica e ataque anticatólicos

No Chile atualmente é discutido o projeto de despenalização do aborto, impulsionado pelo governo de Michelle Bachelet. Além disso, a ideologia de gênero segue avançando depois da aprovação em 2015 do Acordo de União Civil, que regula os efeitos jurídicos da convivência entre casais do mesmo sexo e heterossexuais.

Embora a Constituição defenda o direito “preferencial” dos pais de educarem os seus filhos, nos últimos anos existe uma forte pressão para suprimir esta faculdade, mediante estratégias que incluem a promoção do livro ‘Nicolás tiene dos papas’ (Nicolás tem dois pais), promovido pelo lobby gay e distribuído nas escolas infantis públicos do país.

No âmbito da liberdade religiosa, além dos constantes ataques às igrejas durante manifestações cidadãs em Santiago, onze templos católicos e um seminário foram incendiados no sul do Chile somente neste ano, na região do histórico conflito mapuche, nas mãos de alguns extremistas que consideram que a Igreja faz parte do Estado, do qual exigem a devolução das suas terras.

Para o Pe. Francisco Javier Astaburuaga, Doutor em Direito Canônico da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, “o fenômeno da secularização manifesta com todas as leis contra a família e a vida promovida especialmente por governos socialistas e liberais nos últimos 40 anos”.

“Outro aspecto, grave ao meu ver, é tentar encurralar a Igreja Católica às ‘sacristias’ dos templos, evitando deste modo que a mensagem de Cristo seja anunciada”, disse o sacerdote chileno ao Grupo ACI.

Por outro lado, “quando se priva da formação religiosa ou esta se torna muito difícil, as futuras gerações vão perdendo o sentido de Deus. E quando se perde o sentido de Deus, perdem o respeito pela dignidade da pessoa humana e promovem leis a favor do aborto, do consumo de maconha e da ideologia de gênero”.

Argentina: Ideologias por trás de um rosto populista

O aborto na Argentina é permitido nos casos de risco de vida da mulher, violação, ou por um atentado contra o pudor. Por outro lado, o país conta com a lei de “casamento igualitário”, “divórcio expresso” e outras leis sobre esterilização, procriação artificial, identidade de gênero, “morte digna” (eutanásia), entre outras.

Em relação à educação, em maio de 2010, o Ministério de Educação apresentou os “Cadernos ESI” (Educação Sexual Integral), dirigidos a todos os níveis de formação, com evidente conteúdo de ideologia de gênero e ofensas ao pudor de alunos e docentes.

A respeito da fé, os templos católicos foram alvo de profanações e ataques durante marchas feministas.

Além disso, em outubro deste ano, a morte suspeita do Pe. Heraldo Viroche, que denunciou em suas homilias grupos de narcotraficantes, abriu um sério debate sobre o poder da máfia no país e os perigos para aqueles que a combatem.

Para o advogado pela faculdade de Direito e Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires e Doutor em Ciências Jurídicas, Jorge Nicolás Lafferriere, esta situação “expõe uma ordem legal que se separa profundamente da visão do homem e da sociedade fundada na lei natural e que também anima a cosmovisão cristã”.

Disse também que a defesa da liberdade religiosa é “um dos desafios mais atuais dos próximos tempos”, devido ao surgimento de iniciativas que procuram “impor visões únicas e silenciar quem dissente com o discurso hegemônico individualista e reducionista que muitas vezes impõe a ideologia de gênero ou o paradigma tecnocrático”.

“É necessária uma fé mais madura e disposta a ser sinal de contradição, de forma pacífica e inteligente, assumindo uma lógica pascal”, disse o advogado ao Grupo ACI.

Por sua parte, o Pe. Ruben Francisco Bellante, Delegado episcopal para a pastoral de comunicação da Arquidiocese de Rosário, explicou que nos últimos 20 anos as ideologias conseguiram entrar nos governos “por trás de um rosto populista, igualitarismo, integração e todos outros discursos e relatos vendidos, iniciaram uma corrupção, não somente a nível econômico, mas na alma dos argentinos”.

Isto causou um “desprezo a tudo o que está relacionado com o institucional, onde a Igreja também entra, e tudo o que supostamente defende, a vida, a pessoa, sem perceber tudo o que a Igreja trabalhou nos direitos humanos e na igualdade das pessoas. Isso parece ser ridicularizado e só se vê um lado escuro”, disse o sacerdote ao Grupo ACI.

Acima de tudo isto, o que um católico pode fazer?

O Pe. Sebastián Correa, Diretor do Centro de Estudos Católicos no Chile, compartilhou com o Grupo ACI 4 conselhos para que os católicos possam enfrentar a secularização.

1. Estar informados

“Hoje em dia os católicos não têm o direito de estar desinformados”, disse o Pe. Correa, acrescentando que os meios de comunicação estão para informar “o que está acontecendo e quem está impulsionando cada uma das ideologias que estão por trás, entre outros temas”.

2. Comprometer-se com a realidade

“Também comprometer-se com tantas pessoas que são vítimas destas ideologias, porque lhes causam confusão, lhes mentem diretamente e os desumaniza, pois o que a secularização está trazendo é um processo de desumanização”, sustentou o sacerdote.

“Por isso, o católico deve se comprometer com a verdade de Jesus Cristo e com os valores que desprende para a sociedade. Se isso significa defendê-los publicamente e sair em uma marcha deverá fazê-lo, se implica entrar em diferenças com pessoas próximas é necessário estar disposto”, acrescentou.

3. Não ter medo

“O que querem é que tenhamos medo e vergonha por ser católicos, por isso devemos fazer o contrário e viver com liberdade”, sublinhou.

4. Estar alegres

“É necessário viver com uma profunda liberdade a alegria de ser cristão e que isso nos leve a sair ao mundo com confiança em Deus, sabendo que Ele é quem sustenta toda a realidade e, como Ele disse, ‘não deverá temer àqueles que podem matar o corpo’”, concluiu o Pe. Correa.
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ACI Digital

Um comentário:

  1. Obrigada padre pelos conselhos aqui no Brasil ainda estamos sob um governo que luta pelo direito da família ,mas está também sendo duramente atacado...Que Nossa Senhora de Guadalupe interceda pela América Latina e seus filhos!

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