terça-feira, 10 de novembro de 2015

Homilética: 33º Domingo do Tempo Comum - Ano B: "A volta de Cristo".


Estamos no penúltimo domingo do Ano Litúrgico. A Palavra de Deus convida-nos a meditar no fim último do homem, no seu destino além da morte. A meta final, para onde Deus nos conduz, faz nascer em nós a esperança e a coragem para enfrentar as adversidades e lutar pelo advento do Reino.

O Profeta Daniel (Dn 12, 1-3) mostra o povo judeu oprimido sob a dominação dos gregos. Muitos judeus, apavorados pela perseguição, abandonavam até a fé... O objetivo desse livro era animar o povo a resistir diante dos opressores e lembrar que a vitória final será dos justos que perseverarem fiéis. É a primeira profissão de fé na Ressurreição, que se encontra na Bíblia.

Já no Evangelho, no discurso escatológico, Jesus ensina como os seus discípulos devem viver no tempo que vai de sua elevação da terra até o seu retorno glorioso. Jesus anuncia a destruição de Jerusalém e o começo de uma nova era, com a sua vinda gloriosa após a ressurreição. 

A intenção não era assustar, mas conduzir a comunidade a discernir os fatos catastróficos e o futuro da comunidade cristã dentro da história. Não deviam ver como o fim do mundo, mas o início de um mundo novo. Portanto, não deviam dar ouvidos a pessoas que anunciavam o fim do mundo. O nosso Deus é um Deus de paz e não de aflições, nem de desgraças. Deus é Amor. A verdadeira felicidade que nós ansiamos consiste em corresponder ao Seu infinito Amor, consagrando-nos filialmente ao serviço da Sua glória. Quanto ao dia e hora, só o Pai sabe…, mais ninguém… Para nós o mais importante não é saber quando isso irá acontecer, mas sim estar vigilantes e preparados para ele.

A vida é realmente muito curta e o encontro com Jesus está próximo. Isto ajuda-nos a despreender-nos dos bens que temos de utilizar e aproveitar o tempo; mas não nos exime de maneira nenhuma de dedicar-nos plenamente à nossa profissão no seio da sociedade. Mais ainda: é com os nossos afazeres terrenos, ajudados pela graça, que temos de ganhar o Céu. E que a humanidade não caminha para a destruição, para o nada; caminha ao encontro da vida plena, ao encontro de um mundo novo. Cristo que viera, pela primeira vez ao mundo em humildade e sofrimento para o redimir do pecado, regressará no fim dos séculos, em todo o esplendor da Sua glória para recolher os frutos da Sua obra redentora.

Agora, na intimidade da nossa alma, dizemos a Jesus: “Procuro, Senhor a Tua face, que um dia, com a ajuda da tua graça, terei a felicidade de ver face a face”(Sl 26,8). Da nossa parte, devemos estar atentos aos sinais de Deus, confiantes nas palavras de Cristo, que nos garante: “o Céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13, 31).

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Textos: Dn 12,1-3; Hb 10,11-14.18; Mc 13,24-32

Caros irmãos e irmãs, para este domingo a Liturgia da Palavra nos faz um convite à esperança.  A primeira leitura anuncia aos crentes perseguidos e desanimados a chegada iminente do tempo da intervenção de Deus para salvar o Povo fiel. É esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a Deus, apesar da perseguição e do sofrimento.  Nesta primeira leitura, retirada do livro do profeta Daniel (cf. Dn 12,1-3), o autor utiliza símbolos que evocam a transfiguração dos ressuscitados.  Essa vida nova não será como a do mundo presente, mas será uma vida transfigurada.  A mensagem de esperança que o nosso texto nos deixa destinava-se a animar os crentes que sofriam a perseguição numa época e num contexto particulares. No entanto, é uma mensagem válida para os cristãos de todos os tempos e lugares.  É a certeza de que Deus nunca abandona o seu povo e a vitória final será daqueles que se mantiverem fiéis aos seus ensinamentos.

O trecho do Evangelho inicia com algumas imagens de tipo apocalíptico: “O sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas cairão do céu e as forças que estão nos céus serão abaladas” (v. 24-25).   Antigamente os astros do céu eram considerados divindades, com influência sobre a vida dos homens.  Podiam conceder benefícios ou provocar tragédias, por esta razão era preciso conquistar a sua amizade, oferecendo-lhes orações e sacrifícios.  Visando refutar a religião dos que adoravam o sol, a lua e as estrelas, os profetas afirmavam que um dia estes corpos celestes perderam a sua luz e teriam caído (cf. Is 13,10; 34,4; Gl 2,10).  Com estas afirmações os profetas mostravam que o mundo pagão, representado por estes astros, teria sido destruído.  Ao retomar essas imagens, Jesus não quer assustar os seus discípulos, mas confortá-los.

E o texto do Evangelho segue dizendo: “Então verão vir o Filho do Homem sobre as nuvens, com grande poder e glória” (v. 26). A expressão “Filho do homem” é uma referência ao próprio Jesus Cristo, que relaciona o presente e o futuro; as antigas palavras dos profetas encontraram o seu centro no Messias de Nazaré. É Ele o verdadeiro acontecimento que, no meio dos transtornos do mundo, permanece o ponto firme e estável.

Mas Jesus ainda diz: “Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça” (v. 30). Aquela geração, à qual Jesus refere, de fato, não passou; o mundo conhecido por aqueles que o escutavam, o mundo judaico, passou tragicamente com a destruição de Jerusalém no ano 70 depois de Cristo. Quando, no ano 410, sucedeu o saque de Roma por obra dos vândalos, muitos grandes espíritos do tempo pensaram que era o fim do mundo. Não erravam muito, acabava um mundo, o criado por Roma com seu império.  Estes acontecimentos fazem firmar a seriedade do compromisso cristão para com a sua fidelidade ao Senhor. Por isso, Jesus conclui o Evangelho de hoje com a recomendação: “Estai atentos e vigiai, porque não sabeis quando será o momento preciso” (v. 32).

Nestas reflexões, apesar de nos assustar, encontramos uma mensagem de esperança, porque, após todas as trevas e tribulações, depois de todos os horrores e os erros do nosso caminho humano, virá o “Filho do Homem” para nos confortar com a sua palavra eterna, a única que não passará, para devolver-nos com força e com ternura, a verdade da nossa vida.

O modo como Jesus descreveu o fim dos tempos se encaixava no horizonte teológico da época.  De fato, esperavam-se abalos e outros fenômenos terríveis, quando Deus interviesse, definitivamente, na História.  A intenção de Jesus, porém, era a de levar os seus discípulos à vigilância, de maneira a estarem sempre preparados para o encontro com o Senhor.

A exortação de Jesus não passa com o tempo, como eternas são todas as suas palavras.  Elas não passarão, embora tudo o mais perca seu valor.  Assim, é absolutamente certa a vinda do Cristo Senhor e há necessidade de mantermos vigilantes e preparados para colhê-lo.  É, também, firme a palavra do Senhor que apresenta o amor como critério do juízo final, a recompensa para quem se mantiver fiel e a comunhão definitiva com o Pai, como destino último do cristão.  Por conseguinte, o discípulo sensato deixa-se guiar pelos ensinamentos de Jesus.

E Jesus ainda sublinha: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13,30).  O mundo é provisório.  Deve terminar.  Mas a palavra de Jesus é eterna.  E é ela que deve orientar nossa vida e nossas preocupações.  Ela nos ensina que não somos provisórios.  Somos destinados à vida eterna. Com efeito, sabemos que na Sagrada Escritura a Palavra de Deus está na origem da criação: todas as criaturas, a partir dos elementos cósmicos: sol, lua, firmamento, obedecem à Palavra de Deus. Este poder criador da Palavra divina concentrou-se em Jesus Cristo, Verbo feito carne, e passa também através das suas palavras humanas, que são o verdadeiro “firmamento” que orienta o pensamento e o caminho do homem sobre a terra.

Jesus quer subtrair os seus discípulos de qualquer época da curiosidade pelas datas, pelas previsões, e deseja dar-lhes uma profunda chave de leitura e, sobretudo, indicar a senda justa sobre a qual devem caminhar, hoje e amanhã, para entrar na vida eterna. Tudo passa, nos recorda Santa Teresa de Ávila, só Deus basta. Só ele é eterno e a sua Palavra não muda, por isto, deve ser ela a base e o alicerce para os nossos atos e o nosso comportamento.

Na parábola do semeador Jesus explica que a semente é a Palavra (cf. Mc 4, 14).  Todos aqueles que a ouvem, a acolhem e dão fruto, fazem parte do Reino de Deus, isto é, vivem sob o seu senhorio; permanecem no mundo, mas já não são do mundo; levam em si o germe de eternidade, um princípio de transformação que se manifesta já agora numa vida boa, animada pela caridade, e no final produzirá a ressurreição da carne.

O texto da segunda leitura pertence à mesma seção do trecho do domingo passado, no qual se apresenta a diferença entre como os sacerdotes do Antigo Testamento garantiam o acesso a Deus e como Jesus o fez. O ponto central aqui é que Jesus realizou um sacrifício único pelos pecados, pois por ele alcançou plenamente a salvação do gênero humano. O perdão já foi concedido (v. 18), Deus já se tornou propício aos seres humanos e não voltará atrás.

Por esse sacrifício irrepetível, Jesus alcançou a glória (v. 12). A ressurreição de Jesus o constitui Senhor da história. O tempo atual aguarda o momento em que seus inimigos serão colocados como apoio para seus pés (v. 13): quando o Senhor consumará sua obra. Ele é o glorioso, o Filho do homem que julgará o mundo por sua Palavra e tudo levará à plenitude.

Em cada celebração eucarística, após a consagração do pão e do vinho, dizemos: “Anunciamos Senhor a vossa morte e proclamamos a vossa Ressurreição, enquanto esperamos a vossa vinda”.  Embora Cristo disse que ninguém conhece o momento do seu regresso, enquanto isto, podemos perguntar: Estou preparado para encontrar-me com o Cristo quando ele voltar?

Peçamos ao Senhor que nos ajude a trilhar sempre no caminho do bem, observando a sua Palavra e que saibamos também ser a terra boa que acolheu a Palavra de Deus com disponibilidade, de modo que toda a nossa existência, seja transformada e nos conduza à vida eterna.  E seguindo o Cristo pelo caminho da cruz, possamos alcançar juntos a glória da ressurreição. 

PARA REFLETIR

Estamos no penúltimo Domingo do Ano Litúrgico. No Domingo próximo, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo encerrará este ano da Igreja. Pois bem, hoje a Palavra de Deus, nos recorda que, como o ano, também a nossa vida passa, e passa veloz… Assim, o Senhor nos convida à vigilância e nos exorta a que não percamos de vista o nosso caminho neste mundo e o destino que nos espera. Nossa vida tem um rumo, caríssimos; o mundo e a história humana têm uma direção, meus irmãos!

A nossa fé nos ensina, amados no Senhor, que toda a criação e toda a história humana caminham para um ponto final. Este fim não será simplesmente o término do caminho, mas a sua plenitude, a sua finalidade, sua bendita consumação. O universo vai evoluindo, a história vai caminhando… Onde o caminho vai dar? Com palavras e idéias figuradas, a Escritura Sagrada nos ensina que tudo terminará em Jesus, o Cristo glorioso que, por sua morte e ressurreição, tornou-se Senhor e Juiz de todas as coisas. Vede bem: a criação não vai para o nada; a história humana não caminha para o absurdo! Eis aqui o essencial, que o evangelho de hoje nos coloca com palavras impressionantes: “Então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória!” Ou seja: tudo quanto existe caminha para Cristo, aquele que vem sobre as nuvens como Deus, aquele que é nosso Juiz porque, como Filho do Homem, experimentou nossa fraqueza e se ofereceu uma vez por todas em sacrifício por nós! Vede, irmãos: o nosso Salvador será também o nosso Juiz! Aquele que está à Direita do Pai e de lá virá em glória para levar à consumação todas as coisas é o mesmo que se ofereceu todo ao Pai por nós para nos santificar e nos levar à perfeição! Repito: nosso Juiz é o nosso Salvador! Quanta esperança isso nos causa, mas também quanta responsabilidade! Que faremos diante do seu amor? Que diremos àquele que por nós deu tudo, até entregar a própria vida para nossa salvação? Que amor apresentaremos a quem tanto e tanto nos amou? Pensai bem!

Hoje, a Palavra de Deus adverte: tudo estará debaixo do senhorio de Cristo! Por isso, numa linguagem de cores fortes e figuras impressionantes, Jesus diz que a criação será abalada pela sua Vinda: “O sol vai escurecer e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas”. Que significa isso? Que toda a criação será palco dessa Revelação da glória do Senhor, toda a criação será transfigurada e alcançará a plenitude no parto de um novo céu e uma nova terra onde a glória de Deus brilhará para sempre! O Senhor afirma ainda que também a história chegará ao fim e será passada a limpo. Cristo fala disso usando a imagem da grande tribulação, isto é, as dores e contradições do tempo presente, que vão, em certo sentido se intensificando neste mundo. Por isso mesmo, a primeira leitura, do Profeta Daniel, fala em combate e em tempo de angústia… É o nosso tempo, este tempo presente, que se chama “hoje”.

Amados em Cristo, estas leituras são muito atuais e consoladoras, sobretudo nos dias atuais, quando vemos o Cristo enxovalhado, o cristianismo perseguido e desprezado, a santa Igreja católica caluniada… Pensem no Código da Vinci, pensem nas obras de arte blasfemas e sacrílegas frequentemente expostas sem nome de uma pérfida liberdade, pensem nas freiras das porcas novelas da Globo, pensem no ridículo a que os cristãos são expostos aqui e ali, com cínicas desculpas e camufladas intenções, pensem nos valores cristãos que vão sendo destruídos, nas famílias destruídas pelo divórcio, pela infidelidade, pela imoralidade, pensem nos jovens desorientados pela falta de Deus, pela negação de todas as certezas e o desprezo de todos os valores, pensem, por fim, na vida humana desrespeitada pelo aborto, pela manipulação genética, pelas imorais e inaceitáveis experiências com células-tronco embrionárias com pretextos e desculpas absolutamente imorais… Não é de hoje, caríssimos, que a Igreja sofre e que os cristãos são perseguidos, ora aberta, ora veladamente… Já no longínquo século V, Santo Agostinho afirmava que a Igreja peregrina neste tempo, avançando entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus… O perigo é a gente perder de vista o caminho, perder o sentido do nosso destino, esfriar na vigilância, perder a esperança, abandonar a fé…

Caminhamos para o Senhor, caríssimos – tende certeza disto! O mudo vai terminar no Cristo, como um rio termina no mar; a história vai encontrar o Cristo, tão certo quanto a noite encontra o dia; nossa vida estará diante do Senhor, tão garantido quanto o vigia cada manhã está diante da aurora! Por isso mesmo, é indispensável vigiar e trazer sempre no coração a bendita memória do Salvador, a firme esperança nas suas promessas, a segura certeza da sua salvação! Vede bem: na Manifestação do nosso Senhor, ele nos julgará! Na sua luz, tudo será posto às claras: se é verdade que sua Vinda é para a salvação, também é verdade que todos quantos se fecharam para ele, perderão essa salvação. Caríssimos, nosso destino é o céu, mas estejamos atentos: o inferno, a condenação eterna, a danação sem fim, o fogo que devora para sempre, são uma real possibilidade para todos nós! Haverá um Juízo de Deus em Jesus Cristo, meus amados no Senhor: “Muitos dos que dormem no pó a terra despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno. Nesse tempo, teu povo será salvo, todos os que se acharem escritos no Livro”. Caríssimos, não brinquemos de viver, não vivamos em vão, não sejamos fúteis e levianos, não corramos a toa a corrida da vida! É o nosso modo de viver agora que decidirá nosso destino para sempre! Por isso mesmo, Jesus nos previne: “Em verdade vos digo: esta geração não passará até que tudo isto aconteça!” Em outras palavras: não importa quando ele virá – ele mesmo diz: “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” -; importa, sim, que estejamos atentos, importa que vivamos de tal modo que, quando ele vier no momento de nossa morte, estejamos prontos para comparecer diante dele e diante dele estar no último Dia, quando tudo for julgado! O juízo que nos espera é um processo: começa logo após a nossa morte, quando, em nossa alma, estaremos diante do Cristo e receberemos nossa recompensa: o céu ou o inferno! E no final dos tempos, quando Cristo se manifestar em sua glória, nosso destino também será manifestado com toda a criação e o nosso corpo, ressuscitado no fim de tudo, receberá também a mesma recompensa de nossa alma: o céu ou o inferno, de acordo com o nosso procedimento nesta vida!

Meus caros, quando a Escritura Sagrada nos fala do fim dos tempos não é para descrever como as coisas acontecerão. Isso seria impossível, pois aqui se tratam de realidades que nos ultrapassam e que já não pertencem a este nosso mundo. Portanto, palavras deste mundo não podem descrever o que pertence ao mundo que há de vir… O que a Escritura deseja é nos alertar a que vivamos na verdade, vivamos na fé, vivamos na fidelidade ao Senhor… vivamos de tal modo esta nossa vida, que possamos, de fé em fé, de esperança em esperança, alcançar a vida eterna que o Senhor nos prepara, vida que já experimentamos hoje, agora, nesta santíssima Eucaristia, sacrifício único e santo do nosso Salvador que, à Direita do Pai nos espera como Juiz e Santificador. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

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