quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Afinal, o que é que o Estado Islâmico realmente pretende?


Despertou furor um artigo publicado na atual edição da revista norte-americana The Atlantic: “What ISIS Really Wants” [“O que o Estado Islâmico realmente quer”], escrito por Graeme Wood. Enquanto as fantasias ocidentais reduzem o Estado Islâmico a um bando de psicopatas altamente descontentes, o autor vai mais a fundo e o descreve como uma força descomunal, alicerçada solidamente em uma mistura coesa de ideologia e fé.

De acordo com Wood:

1. O Estado Islâmico e a Al-Qaeda estão muito longe de ser a mesma coisa.

O Estado Islâmico já eclipsou a Al-Qaeda e considera seus líderes como apóstatas. É um grave erro ocidental o de não perceber a diferença entre esses dois grupos, particularmente no tocante à sua forma de interpretar o Alcorão.

2. O Estado Islâmico defende a estrita observância do Alcorão e se proclama responsável pelo cumprimento das suas profecias apocalípticas.

Os seguidores do grupo são muito bem doutrinados na fé e seguem a lei islâmica ao pé da letra, o que inclui a “obrigação” de praticar crucificações e amputações e de impor a escravidão.

3. O Estado Islâmico se considera um califado.

O grupo conseguiu cumprir o requisito de possuir um território próprio: depois de ocupar a área ao redor de Mosul, no Iraque, eles têm hoje um território tão grande quanto o do Reino Unido. Agora, os crentes são obrigados a observar todas as leis da sharia. Em tese, isto implica a imigração dos fiéis ao califado.

4. Os membros do Estado Islâmico acreditam que têm um papel a desempenhar no armagedom.

Para eles, está profetizado que haverá uma grande batalha contra “Roma” em Dabiq, na Síria; que eles conseguirão saquear Istambul; e que acontecerá um confronto final com um anti-Messias antes do retorno de Jesus, no final dos tempos.

5. O atual foco do Estado Islâmico é a ofensiva jihadista de expansão.

Uma vez estabelecido, o califado deve expandir-se para territórios não muçulmanos, conquistando novas terras pelo menos uma vez por ano. Suas táticas – decapitações, crucificações e escravização de mulheres e crianças – têm o objetivo de aterrorizar os inimigos e apressar o fim do conflito. 

6. Os Estados Unidos não foram capazes de reconhecer o abismo entre o Estado Islâmico e a Al-Qaeda.

O resultado mais imediato deste erro foi tentativa bizarra e falida de libertar o refém norte-americano Peter Kassig. Os Estados Unidos recrutaram um veterano da Al-Qaeda para interceder junto ao Estado Islâmico em favor de Kassig. A ideia foi um fracasso e culminou na decapitação do refém.

7. Território é um requisito essencial para a existência do Estado Islâmico.

Portanto, se eles perderem seu território, deixarão de ser um califado – o que é um argumento tentador a favor de uma intervenção estrangeira.

8. O Estado Islâmico deseja essa invasão!

Ela reforçaria os recrutamentos e a radicalização de muçulmanos em todo o mundo – o que é um argumento muito forte contra a intervenção estrangeira.

9. O Estado Islâmico pode se tornar vítima do próprio sucesso.

É questão de tempo até que a massa de crentes pobres e com altas expectativas se veja diante da privação econômica, da frustração e da redução do número de fiéis que migram para o califado. Mas o mais provável é que esse tempo não chegue tão cedo.

10. Se a Al-Qaeda se aliar ao Estado Islâmico, será catastrófico.

É por isso que Wood considera tão imprudente a tentativa feita pelo governo Obama de abrir canais de comunicação entre a Al-Qaeda e o Estado Islâmico durante as negociações para libertar reféns.

11. A maioria dos muçulmanos não apoia o Estado Islâmico.

Alguns por serem "moderados" e desconfiarem de qualquer tipo de devoção linha-dura (esses muçulmanos, aliás, são considerados apóstatas pelo Estado Islâmico). Outros se opõem ao Estado Islâmico por motivos conservadores e baseados nas escrituras, como é o caso de segmentos salafistas que preferem abster-se do conflito com outros muçulmanos e concentrar-se no aperfeiçoamento da própria vida pessoal.

12. A fé e a confiança do Estado Islâmico na própria missão divina transforma o grupo num inimigo formidável.

Eles promovem o armagedom prefaciado por uma guerra prolongada. E é improvável, por isso mesmo, que se deixem comover por apelos aos seus “interesses” não religiosos.
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Aleteia

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