sábado, 2 de novembro de 2013

Lázaro, vem para fora!


Vivemos uma mudança de época. Isto faz com que verdades de fé intocáveis passem a ser discutidas e duvidosas. Para alguns o Dia de Finados é um dia igual a outro feriado, para sair por aí e esfriar a cabeça. Para outros é um dia para lembrar tudo, menos da morte, para fazer tudo, menos um gesto de piedade cristã. Para outros ainda é o dia mais trágico e triste de todos os dias do calendário humano.

E para nós, cristãos fieis, é o que o Dia de Finados? É um dia para um justa homenagem aos nossos entes queridos que já morreram. A morte é uma das piores dores humanas. A morte é a pedra de toque dos seres humanos. Mas é preciso purificar a morte cristã do niilismo, do materialismo, do magicismo e do fatalismo. O Dia de Finados é o dia da esperança, da fé, do amor e da comunhão com aqueles e aquelas que já nos precederam na partida desta vida para a morada eterna, a casa do Pai.

Por incrível que pareça, no dia em que mais nos lembramos da morte é o dia em que tudo fala de vida, de modo que podemos afirmar que morrer é viver. A razão para tudo isso é Jesus Cristo, a primícia da ressurreição. A história de Jesus é a história de um Vivente: “estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre” (Ap 1,18). E a nossa é a história da passagem dos limites e da morte à vida plena dos filhos e filhas de Deus. Em Jesus, a fé no amor venceu a morte. Nele a morte foi tragada pela vida, perdeu seu aguilhão para a vida.

Diante da morte do seu amigo Lázaro, Jesus chora sozinho. O seu choro por Lázaro morto é choro de quem ama, não de quem está desesperado: “vejam como Ele o amava!” (Jo 11,36) - disseram. Será que a morte nos separa dos entes queridos, a quem tanto amamos? Jesus não amou Lázaro somente até o dia da sua morte. Jesus o amou mesmo depois de quatro que havia morrido. O amor de Jesus por Lázaro e por nós é um amor sem limites, que não é barrado nem pela morte. “Aquele que ama, diz Santo Agostinho, já pregusta o céu e a glória”. Diante do grito orante de Jesus: “Lázaro, vem para fora” (Jo 11,43), o túmulo se abriu, a pedra foi rolada, as amarras foram retiradas e o morto saiu e caminhou: ressuscitou.

O dia dois de novembro é um dia marcado, no calendário cristão, para prestarmos homenagens aqueles e aquelas que já morreram. A nossa missão de ministros de Deus é ajudar as pessoas a encarar a morte como parte integrante da vida: viver é, em certo sentido, morrer. A morte é uma certeza humana: vamos todos morrer. Mas não há só morte, há vida também. A vida eterna é também uma certeza da fé: vamos ressuscitar. Morrer é, sobretudo, viver! É isto o que diz teopoeticamente Santa Teresa: “vivo sem viver em mim, e tão alta vida espero, que morro por não morrer”.

Uma das atitudes mais duras para quem vive e para quem morre é o esquecimento. “Se de ti me esquecer, Jerusalém, que se cole a minha língua e se prenda ao céu da boca” (Sl 137,5-6). A palavra “esquecer” só não deveria ser riscada do dicionário para não ser esquecida que ela existe e que faz muito mal quando não é usada correta e adequadamente. Santa Teresinha dizia: “não morre aquele que vive na mente dos vivos”. Não morre a quem os vivos amam, lembram e rezam por eles.

Em pleno Ano da Fé, somos chamados a professar novamente: “creio na ressurreição da carne, na vida eterna”. É esta fé que nos permite viver e celebrar a memória de todos os que já morreram com fé, esperança e amor. Assim seja!


Dom Pedro Brito Guimarães,
Arcebispo de Palmas

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