sábado, 14 de janeiro de 2017

A crente quebra-santo


Não basta quebrar a imagem! Tem que filmar. E não basta filmar! Tem que postar no facebook… E o escândalo incendeia as redes sociais.

O vídeo da"pastora" evangélica quebrando a imagem de Nossa Senhora Aparecida causou espanto em muita gente, desde ontem. Eu, que já estou cansado de me espantar, simplesmente adscrevi o fato a essas boçalidades com as quais precisamos conviver dia-a-dia.

O circo em que se converteram certas "igrejas" oferece espetáculos de gosto mais que duvidoso: desde camisas e facas sujas pelo sangue do "apóstolo esfaqueado" que se transformam num Santo Graal ambulante, passando por outros que se fantasiam de Fred Flintstone para bancar "o profeta", até encenações pitorescas que os saltimbancos medievais considerariam cafonas… E o povo não cai no ridículo, gosta, paga pra ver de novo, e paga, e paga, e paga. Paga porque merece!

Qualquer padre brasileiro já está acostumado com cenas como essas. Basta o fulano se "converter" para qualquer desses grupos, e se transforma num quebra-santo. Sim, há aqueles mais educados que deixam as imagens nas portas das Igrejas ou que as jogam num lugar mais digno. Mas, parafraseando um corinho-reteté cantado nessas garagens de fogo, "a ordem é pra quebrar".

Isso não é de hoje! Desde os tempos de Lutero e Calvino os protestantes se prodigalizaram por seu ódio iconoclasta. A teologia, aqui, é totalmente descartável: vai desde a pregação de que por trás de cada imagem há um demônio, coisa que aterroriza o imaginário protestante aos arroubos (só quem é ex-protestante sabe do que estou falando), até a acusação anti-católica de que somos idólatras porque aquelas são representações de falsos deuses, deuses que a fantasia criativa desses pregadores veem projetados anti-historicamente em nossas esculturas. 

No início foram apenas conveniências de dinheiro: os protestantes alemães em conluio econômico com os bizantinos iconoclastas. Depois, veio a falsa apologética para aveludar a ganância e justificar o revanchismo. E hoje é a pura ignorância, que chega a esse monumento de truculência, ostentação do desprezo à fé e devoção de todo um povo.

O que fazer diante disso? Francamente, há pouco a fazer. Nesses 500 anos da Reforma de Lutero, que dilacerou o cristianismo introduzindo nele o germe do esfacelamento, eu, que acho que há pouco a se comemorar, digo apenas que a Igreja Católica continuará a ser o que sempre foi: Mãe!

Somos católicos. Nossa vocação é a unidade, é congregarmos pessoas, é criarmos sinfonias com diferenças. Cristo estará voltando sobre os céus, e estarão ali os católicos tentando colocar os fanáticos para conversar, para fazê-los pensar, para pacificá-los.

Não precisamos nos chocar com esse fato, que desgraçadamente é tão corriqueiro, e cujo ridículo só não supera aos ridículos que estes mesmos fazem, ridículos que hoje não são mais ocultos sob o curioso véu do mistério, mas são exibidos publicamente, em rede nacional, em suas próprias cadeias de TV. Esse fato é apenas um entre tantos que cairão no vazio, um exemplar entre muitos de uma crente quebra-santo.


Pe. José Eduardo,

Doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma)

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