segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Homilética: 5º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Com sua vida, o discípulo dá sabor ao mundo e o ilumina!".


As três leituras de hoje nos mostram a condição do discipulado de Cristo: encarnar o próprio Jesus e agir em conformidade com ele. Só assim podemos dar sabor ao mundo e iluminá-lo.

Paulo, em sua primeira carta aos cristãos de Corinto, com sua teologia da cruz, sustenta que a salvação provém da gratuidade do Pai. Não há mérito em nós que faz com que mereçamos a salvação. Diante da cruz de Cristo, toda pretensão humana de julgar conhecer Deus e, através desse saber, poder salvar a si mesmo encontra-se destruída. A cruz nos remete à nossa situação de criatura totalmente dependente do seu criador. Permitir que a graça de Deus aja em mim: eis a misericórdia divina operando em mim a salvação!

Na primeira leitura, o profeta Isaías apresenta-nos o jejum que agrada a Deus: atos de misericórdia totalmente voltada ao nosso irmão! Repugna a Deus atos intimistas com o coração carregado de interesses próprios: deixo de comer, mas me alimento todos os outros dias do suor do meu irmão; faço longas orações a Deus, mas, em vez de dialogar com o outro, ordeno; mostro-me totalmente dependente do Criador, mas nego o direito de viver dignamente aos meus semelhantes. O ouvido de Deus volta-se para aqueles que se voltam para os pobres! Não esqueçamos: os pobres que nos procuram fazem isso porque Deus nos recomendou a eles!

Cristo deixou-nos a sua doutrina e a sua vida para que os homens encontrassem o sentido da sua existência e achassem a felicidade e a salvação. “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens…” E para isso é necessário, em primeiro lugar, o exemplo de uma vida reta, a pureza de conduta, o exercício das virtudes humanas e cristãs na vida simples de todos os dias. A luz, o bom exemplo, deve abrir caminho.

Perante a onda de materialismo e de sensualidade que sufoca os homens, o Senhor “quer que das nossas almas saia outra onda – branca e poderosa, como a mão do Senhor –, que afogue com a sua pureza a podridão de todo o materialismo e neutralize a corrupção que inundou o mundo: é para isso que vêm – e para mais – os filhos de Deus”: para levar Cristo a tantos que convivem conosco, para que Deus não seja um estranho na sociedade.

Transformaremos verdadeiramente o mundo – a começar por esse pequeno mundo em que se desenvolve a nossa atividade – na medida em que o ensinamento começar com o testemunho da nossa própria vida.

O exemplo prepara a terra em que a palavra frutificará. Sem cairmos em atitudes grotescas, impróprias de um cristão corrente, podemos mostrar ao mundo o que significa seguir verdadeiramente o Senhor na tarefa cotidiana, tal como fizeram os primeiros cristãos. São Paulo dizia aos cristãos de Éfeso: “Eu vos exorto a que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados…” (Ef 4, 1).

Devemos ser conhecidos como homens e mulheres leais, simples, verazes, alegres, trabalhadores, otimistas; devemos comportar-nos como pessoas que cumprem retamente os seus deveres e que sabem atuar a todo o momento como filhos de Deus, que não se deixam arrastar por qualquer vento. A vida do cristão constituirá então um sinal claro da presença do espírito de Cristo na sociedade.

Por isso devemos refletir e perguntar-nos com frequência se os nossos colegas de trabalho, os nossos familiares e amigos se vêem levados a glorificar a Deus quando presenciam as nossas ações, porque vêem nelas a luz de Cristo. Seria um bom sinal de que em nós há luz e não escuridão, amor a Deus e não tibieza.

Outro aspecto importante em que os cristãos devem ser sal e luz é a temperança, a sobriedade. A nossa época “caracteriza-se pela busca do bem-estar material a qualquer custo, e pelo correspondente esquecimento — melhor seria dizer medo, autêntico pavor— de tudo o que possa causar sofrimento. Com esta perspectiva, palavras como Deus, pecado, cruz, mortificação, vida eterna…, são incompreensíveis para um grande número de pessoas, que desconhecem o seu significado e o seu conteúdo” ( Beato Álvaro del Portillo, Carta, 25-12-1985, n. 4 ).

Por isso é urgente dar testemunho generoso de temperança e de sobriedade, que manifestam o espírito senhoril dos filhos de Deus e levam a utilizar os bens “segundo as necessidades e deveres, com a moderação de quem os usa, e não de quem os valoriza excessivamente e se vê arrastado por eles” ( Santo Agostinho ).

As nossas boas obras! Não vamos fazer o bem para nos orgulhar, mas para a glória de Deus.

As boas ações, este colocar-se a serviço do próximo, passa pelo mistério da Cruz (1Cor 2, 1-5).

Comentário dos textos bíblicos

Leituras: Is 58,7-10; Sl 111; 1Cor 2,1-5; Mt 5,13-16

Ao praticar o jejum, o povo de Israel busca atrair sobre si os benefícios divinos: “Por que foi que jejuamos e tu nem olhaste? Nós nos humilhamos totalmente e nem tomaste conhecimento” (v. 3). Com o jejum, o povo exige que Deus seja misericordioso, como se Deus agisse com misericórdia mediante as obras de piedade do ser humano. Eles desconhecem totalmente Deus e a história da salvação. Se conhecessem, veriam que a misericórdia divina age sempre e independentemente das ações humanas. Quanto mais afastado estiver o ser humano, mais Deus vem ao encontro dele.

O jejum do povo não agrada a Deus porque, juntamente com essa prática, explora-se os trabalhadores e não se abre mão de interesses. Agrada a Deus o jejum que consiste em dar de comer a quem tem fome, vestir os nus, hospedar os pobres, não permitir a opressão nem testemunhar falsamente (vv. 7 e 9).

A prática dessas obras de justiça atingirá o coração de Deus! Ele estará sempre pronto para atender todos os que as põem em ação. Brilhará a luz em todos os que praticarem o verdadeiro jejum: “Teus atos de justiça irão à tua frente, e a glória do Senhor o seguirá” (v. 8). Não só: “A tua luz brilhará nas trevas, o teu escuro será igual ao meio-dia”. As obras de justiça são luzes para a humanidade. Quem as pratica revela quem é o seu Senhor!

A questão que se apresenta na segunda leitura relaciona-se à fé dos cristãos de Corinto: “para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria humana” (v. 5).

A salvação do Pai é dom gratuito. Não há mérito humano na salvação. Por mais sábio e entendido que possa ser a pessoa, sua salvação não decorre de sua sabedoria, mas exclusivamente da misericórdia divina. Salvação é graça! Portanto, Deus não leva em conta nenhuma posição privilegiada. Ao contrário, escolhe os simples e humildes para participar de seu Reinado.

Alguns cristãos de Corinto julgavam que, pelo fato de conhecerem Deus e terem uma cultura mais elevada que os demais, eram “merecedores” da salvação. Por possuírem sabedoria humana, acreditavam merecer a salvação.

À sabedoria humana, Paulo opõe a sabedoria da cruz. A cruz simboliza o plano de salvação de Deus Pai. Ela expressa o poder de Deus: o Pai ressuscita o Filho. O cristão deve depositar total confiança no poder de Deus e jamais confiar em si mesmo. Do mesmo modo, a cruz assinala a nossa condição humana: somos criaturas. O poder de nos salvar não está em nós mesmos. Ele pertence ao nosso criador! Com efeito, a cruz nega toda pretensão do ser humano de salvar a si mesma. Diante da cruz, o orgulho humano é aniquilado!

A cruz de Cristo conduz o ser humano a uma decisão: abandonar-se confiantemente à gratuidade do amor de Deus. Graça essa que fulgura na morte e ressurreição de Jesus!

Na visão paulina, a fé do discípulo deve ter como fundamento o poder de Deus. Todas as suas ações devem ser expressão dessa fé, pois somente assim suas obras demonstrarão o “poder do Espírito” (v. 4) agindo nele.

Caros irmãos e irmãs, relemos neste domingo umas das mais belas imagens com que Jesus comparou seus discípulos, na maioria pescadores que deixaram tudo para segui-lo. A eles disse: “Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13.14). Inicialmente, Jesus chama seus discípulos de sal da terra porque o sal serve para preservar muitos alimentos da corrupção. Essa é a missão dos discípulos. Eles devem salvar os homens da corrupção moral.  O sal serve ainda para dar gosto e sabor, e a missão dos discípulos de Jesus é semelhante: devem eles preservar e salvar os homens da corrupção do pecado por meio do exemplo e da palavra.

Jesus adverte que se o sal se corromper, para nada mais serve, por isto é lançado fora e pisado pelos homens (v. 13).  Na Palestina, as pessoas pobres frequentemente recolhiam sal nas margens do mar morto. Este sal, como vinha cheio de impurezas, facilmente se deteriorava, por isto, era jogado fora e pisado pelos homens.  Os orientais, naqueles tempos, tinham o costume de jogar nas estradas todo e qualquer lixo. Vale lembrar que naquele tempo a população era menor e não adotava os costumes de higiene que temos hoje, como a coleta de lixo. O sal corrompido se tornava lixo e era então pisado e desprezado por todos.

E Jesus compara os seus discípulos ao sal, pois cabia aos discípulos transmitir à comunidade o sabor dos ensinamentos do Divino Mestre. O sal é feito para dar gosto, para dar sabor aos alimentos.  É o sal que tempera os alimentos. “Temperar” quer dizer dar gosto justo; nem sal demais, nem sal de menos. Ele vem a significar, então, que o discípulo de Cristo deve representar na comunidade o equilíbrio, o bom senso, a prudência própria do homem sábio, o homem da harmonia, da tranquilidade e da paz.

O sal é a primeira das imagens à qual Jesus apela para definir a identidade de seus discípulos.  Elemento familiar a qualquer cultura, desde sempre foi empregado para dar sabor à comida. Inclusive, até a aparição do frio industrial, geladeira ou frigorífico, era praticamente o único meio para preservar os alimentos que se corrompem facilmente, especialmente a carne. Mas, além disso, na cultura bíblica e judaica, o sal significava também a sabedoria, por esta razão, nas línguas latinas os vocábulos sabor, saber e sabedoria pertencem à mesma raiz semântica e família linguística.  Neste sentido, o sal acaba sendo um simbolismo feliz, de grande riqueza expressiva, para sinalizar a missão do seguidor de Jesus no meio da sociedade.

O sal é ainda um protagonista muito especial no âmbito culinário.  Sua presença discreta na comida não é detectada; mas sua ausência não pode ser dissimulada. O sal dissolve-se completamente nos alimentos e se perde em agradável sabor. Essa é sua condição: passar despercebido, mas atuar eficazmente. Como símbolo religioso o sal significa que o cristão deve temperar o mundo, com o seu exemplo e testemunho. Por isto, o uso do sal, no ritual do batismo, representa o sabor com o qual cada cristão deve temperar o mundo. Devido a estas características do sal, a lei judaica prescrevia colocar um pouco de sal em cima da oferenda apresentada a Deus, em sinal de aliança: “Salgarás toda a oblação que ofereceres, e não deixarás de pôr na tua oblação sal da aliança de teu Deus; a toda a oferenda juntarás uma oferenda de sal a teu Deus” (Lv 2,13). 

O simbolismo da luz, por sua vez, tem um longo e fecundo itinerário bíblico: desde a primeira página do Livro do Gênesis, que descreve a criação da luz por Deus, passando depois para a coluna de fogo que guiava o povo israelita em seu êxodo do Egito, e continuando pela luz dos tempos messiânicos anunciada pelos profetas, especialmente pelo profeta Isaías, para chegar à plena luz da revelação de Cristo Jesus.  Ele afirmou de si mesmo: “Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não anda em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). 

E Jesus disse também: “Vós sois a luz do mundo” (v. 14).  Naturalmente, um reflexo da grande luz da verdade e da santidade, que é o próprio Cristo.  Acende-se se uma luz para que ilumine. Ninguém acende uma lâmpada para escondê-la debaixo de uma vasilha, mas para colocá-la em lugar alto, a fim de que brilhe para todos os que estão na casa.  Ninguém deve fazer o bem com a finalidade de ser visto, seria vaidade. Mas, por outro lado, sua vida deve ser tão digna e tão pura, que possa servir de luz para o caminho dos outros.

Jesus compara seus discípulos à luz, por isto, devem eles iluminar o mundo com a doutrina que receberam de Jesus. Iluminar com a vida exemplar e santa e devem ter em mira a glória de Deus e a salvação das almas, luz para iluminar o caminho, para que todos caminhem em busca da verdadeira fé. A verdade e a doutrina da salvação devem ser propagadas por toda parte. Jesus diz que ninguém acende uma luz para escondê-la. A fé cristã é uma luz, a única luz e deve estar acima de tudo para iluminar.

Destas considerações nasce uma lição: o testemunho que devemos dar de nossa vida e o serviço que podemos prestar aos outros. E neste serviço Jesus concretiza a nossa identidade: luz e sal da terra. Bela maneira de expressar a nossa tarefa, a tarefa de cada cristão: ser sal da terra, ser luz do mundo, sal humilde, que atua por dentro, que não se nota, mas que é indispensável, a tal ponto que se perder o seu sabor não serviria mais para nada.

Somos chamados a ser aquele que ilumina. E aquele que crê em Jesus se converte em luz para si mesmo e para os outros. A palavra do Senhor era para o povo Israelita “a lâmpada para os seus passos e luz em seu caminho” (Sl 118,105). Também o novo Povo de Deus, a comunidade dos fiéis que seguem a Cristo, tem a missão de ser luz do mundo. A fé em Cristo é a luz do cristão. Jesus se serve de um dos elementos simbólicos mais significativos da vida humana. A luz é símbolo de vida, de alegria e felicidade.  Está indissoluvelmente ligada à vida, a ponto de se identificar com ela. A luz se torna símbolo do próprio Deus, da vida divina. Deus não é só Criador da luz (cf. Gn 1,3-5), Ele se manifesta como luz que exprime sua glória, que salva e dá a vida ao homem (cf. Is 10,17; 60,19). Neste sentido, ressalta o apóstolo Paulo: “Deus é luz e nele não há trevas” (1Cor 1,5).

No Antigo Testamento, o Servo do Senhor é anunciado como “luz das nações” (Is 51,4).  A luz de Deus, a sua vida, apareceu visivelmente em Jesus (cf. Jo 1,4.9). Ele é a luz do mundo (cf. Jo 3,19) que ilumina todo homem. Como o sol ilumina a estrada, assim o Cristo ilumina o caminho da humanidade para Deus, fonte de vida e de alegria. Em forma exortativa, o evangelho dá uma indicação sobre testemunho do cristão: “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5,16). O agir do cristão deve ser um espelho do agir de Deus, um reflexo de sua glória que não atrai a atenção para si, mas para Deus. Os cristãos recebem, portanto, uma missão em relação a todos os homens: com a fé e com a caridade podem orientar, consagrar, tornar fecunda a humanidade.

Todos nós somos também discípulos do Senhor e somos chamados, através da nossa vida cristã, a dar sabor aos mais diversos ambientes, para preservá-los da corrupção, como faz o sal. Mas se perdermos sabor e cancelarmos a nossa presença de sal e luz, perderemos a eficiência.  Peçamos uma vez mais a intercessão da Virgem Maria, ela que também é chamada pelo povo cristão de Nossa Senhora da Luz, para que possamos ser, em todos os instantes, sal e luz para todos. Assim seja. 

PARA REFLETIR

Hoje, no Evangelho, escutamos umas frases de Jesus que nos são velhas conhecidas, tão velhas, que riscam não significar muita coisa: “Vós sois o sal da terra; vós sois a luz do mundo” – diz-nos o Senhor! Pois bem, com unção e humildade, como se escutássemos pela primeira vez, escutemos, procuremos compreender e acolhamos essas afirmações, para encontrarmos nelas a Vida e vivermos de verdade!

“Vós sois o sal da terra!” O sal, na Escritura, aparece como o elemento que dá sabor, purifica e conserva, tornando perenes e duradouros os alimentos… Daí a expressão “aliança de sal”, isto é, “uma aliança perene aos olhos do Senhor” (Nm 18,19). Por causa dessa pureza e perenidade, é que Israel deveria ajuntar o sal a toda oferta que fizesse ao Senhor Deus: “Salgarás toda a oblação que ofereceres, e não deixarás de pôr na tua oblação sal da aliança de teu Deus; a toda a oferenda juntarás uma oferenda de sal a teu Deus” (Lv 2,13). Pois bem, irmãos caríssimos, vós sois o sal que dá sabor, pureza e conservação ao mundo diante de Deus! Sois a pitadinha de sal que torna o mundo uma oferenda agradável e aceitável ao Senhor! Sois tão pequenos, tão poucos, tão frágeis, tão impotentes, tão tolos! Lembrai-vos da leitura do Domingo passado: “Entre vós não há muitos sábios de sabedoria humana nem muitos poderosos nem muitos nobres… Deus escolheu o que o mundo considera como estúpido, para assim confundir o que é forte; Deus escolheu o que o mundo considera sem importância e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para, assim, mostrar a inutilidade do que é considerado importante… É graças a ele que vós sois em Cristo..” (1Cor 1,26-31). Sim, sois essa pitadinha de nada, esse tico desprezível de sal.. E, no entanto, sois o sabor, a purificação, a conservação da aliança entre Deus e o mundo! Sois, em Cristo Jesus, o povo sacerdotal! Por isso, a nós, o Senhor ordena: “Tende sal em vós mesmos” (Mc 9,50); em outras palavras: uni-vos a mim, ao meu sacerdócio, à minha vida entregue ao Pai como amor que se entrega para a vida do mundo! Lembremo-nos do conselho de São Paulo: “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: esse é o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,1-2). Era este o significado daquela pitadinha de sal que o sacerdote colocou nos nossos lábios no momento do nosso Batismo, quando nos tornamos membros do povo da aliança, povo sacerdotal. Colocando-nos o sal, ele recordou as palavras de Jesus: “Vós sois o sal da terra!” No entanto, não nos iludamos: somente seremos sal, se permanecermos unidos a Cristo! Sem ele, seremos insípidos, seremos como o mundo, sem sabor e para nada serviremos, “senão para sermos jogados fora e pisados pelos homens”.

“Vós sois a luz do mundo!” – Que afirmação impressionante! Um só é a luz: Aquele que disse de si próprio: “Eu sou a luz do mundo!” (Jo 8,12). Como pode, então, dizer agora que nós somos luz? Escutemos: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida!” (Jo 8,12). Eis: se em Cristo – e somente nele – somos sal da aliança selada na cruz, também somente na sua luz, seguindo seus passos, tornamo-nos luz. É isso que nos afirma o Apóstolo: “Outrora éreis treva! Agora, sois luz no Senhor! Andai como filhos da luz!” (Ef 5,8). Por nós mesmos não somos sal, mas insípidos; por nós mesmos não somos luz, mas trevas tenebrosas! Mas, em Cristo, damos sabor ao mundo e somos reflexos da luz do Senhor! Não somos luz, mas iluminados pela luz de Cristo, refletiremos a luz sobre o mundo tenebroso, como a lua que, sem ter luz própria, mas iluminada pela luz do sol, ilumina de modo belíssimo a noite escura…

Portanto, meus caros, tenhamos cuidado: somente seremos sal se nos deixarmos salgar pelo Senhor no cadinho da provação e da participação na sua cruz; somente seremos luz se nos deixarmos iluminar pela luz fulgurante que brota da sua cruz! Que o cristão não busque outro sal ou outra luz, a não ser o Cristo e Cristo na sua humildade, na sua pobreza, no seu serviço, na sua disponibilidade total em relação ao Pai: “Não julguei saber coisa alguma entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado!” Aquilo que passa da cruz do Senhor, que foge da cruz do Senhor, que procura outro caminho e outra lógica, que não a da cruz que conduz à ressurreição, não salga e não ilumina! Então, que brilhe a luz de Cristo em nossa vida e em nossas obras! Que o nosso modo de viver dê novo sabor a este mundo tão insosso pelo pecado – vede no carnaval: quanta treva, quanta insipidez, quanto velho gosto da velha podridão do velho pecado! Se no nosso modo de viver formos sal e luz, cumprir-se-á em nós a palavra do Profeta: “Então, brilhará tua luz como a aurora e a glória do Senhor te seguirá!”.

Eis a nossa missão, eis a nossa vocação, eis a ordem que o Senhor nos dá! Agora, compete a nós! Como nos perguntava Paul Claudel, poeta francês, convertido a Cristo na metade do século XX: “Ó vós, cristãos, que tendes a luz, que fazeis com essa luz?” Ó irmãos, ó irmãs! “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus!” Que o Senhor no-lo conceda por sua graça. Amém!

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