quinta-feira, 14 de abril de 2016

A Eucaristia, penhor da ressurreição


Se a carne não se salva, também o Senhor não nos redimiu com o seu Sangue, nem o cálice da Eucaristia é a comunhão do seu Sangue, nem o pão que partimos é a comunhão do seu Corpo. O sangue, efetivamente, não procede senão das veias, da carne e da restante substância humana, dessa substância que o Verbo de Deus assumiu em toda a sua realidade e pela qual nos resgatou com o seu Sangue, como diz o Apóstolo: N’Ele temos a redenção pelo seu Sangue, a remissão dos pecados.

E porque somos seus membros e nos alimentamos das criaturas que nos proporciona, fazendo nascer o sol e cair a chuva segundo a sua vontade, Ele afirmou que aquele cálice, fruto da criação, é o seu Sangue que fortalece o nosso sangue, e confirmou que aquele pão, fruto também da criação, é o seu Corpo que fortalece os nossos corpos.

Uma vez que o cálice de vinho misturado com água e o pão natural, ao receberem a palavra de Deus, se transformam na Eucaristia do Sangue e do Corpo de Cristo, com os quais se alimenta e revigora a substância da nossa carne, como há quem negue que a carne é capaz de receber o dom de Deus, que é a vida eterna, essa carne que se alimenta do Sangue e Corpo de Cristo e se torna membro do seu Corpo?

Por isso diz o santo Apóstolo na carta aos Efésios: Somos membros do seu Corpo, da sua carne e dos seus ossos; não é de um homem espiritual e invisível que o diz, – o espírito, com efeito, não tem ossos nem carne – mas sim do organismo verdadeiramente humano, que consta de carne, nervos e ossos, e que se nutre com o cálice do seu Sangue e se robustece com o pão que é o seu Corpo.

O ramo de videira, mergulhado na terra, frutifica no tempo devido, e o grão de trigo, caindo na terra e dissolvendo-se, multiplica-se pelo Espírito de Deus que sustenta todas as coisas. Em seguida, pela arte da fabricação, são transformados para uso do homem e, recebendo a palavra de Deus, convertem-se na Eucaristia, que é o Corpo e o Sangue de Cristo. Assim também os nossos corpos, nutridos pela Eucaristia, depositados na terra e nela desintegrados, ressuscitarão a seu tempo, quando o Verbo de Deus lhes conceder a ressurreição para glória de Deus Pai. É Ele que reveste o corpo mortal com a sua imortalidade e dá gratuitamente a incorruptibilidade à carne corruptível, porque é na fraqueza do homem que se manifesta o poder de Deus.



Do Tratado de Santo Ireneu, bispo, «Contra as heresias»
(Livro 5, 2, 2-3: SC 153, 30-38) (Sec. II)

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