sexta-feira, 22 de abril de 2016

São Jorge, Cavaleiro da Misericórdia



 
Todos sabemos que o amado povo do Rio de Janeiro tem uma bela devoção a São Jorge, o assim chamado “santo guerreiro”. Isso eu aprendi logo no primeiro ano que assumi a missão de servir a esta Igreja nesta cidade. Damos graças a Deus por esta devoção! Temos poucas informações sobre a vida de São Jorge. O carinho de seus devotos acrescentou elogios em sua vida, dando algumas características daquilo que o coração fala e admira, embora nem sempre corresponda a fatos históricos. 

Temos na antiguidade vários santos mártires que foram soldados: São Sebastião, nosso padroeiro, Santo Expedito, celebrado no dia 19 de abril, e São Jorge, que comemoramos dia 23 de abril. 

Trago aqui alguns poucos fatos que são de domínio público em livros e na internet: a vida de São Jorge se dá no século III, quando Diocleciano era imperador de Roma: havia nos domínios do seu vasto Império um jovem soldado chamado Jorge de Anicii. Filho de pais cristãos, converteu-se a Cristo ainda na infância, quando passou a temer a Deus e a crer em Jesus como seu único e suficiente salvador pessoal. Nascido na antiga Capadócia, região que atualmente pertence à Turquia, Jorge mudou-se para a Palestina com sua mãe, após a morte de seu pai. Tendo ingressado para o serviço militar, distinguiu-se por sua inteligência, coragem, capacidade organizativa, força física e porte nobre. 

Foi promovido a capitão do exército romano devido à sua dedicação e habilidade. Tantas qualidades chamaram a atenção do próprio Imperador, que decidiu lhe conferir o título de Conde. Com a idade de 23 anos, passou a residir na corte imperial em Roma, exercendo altas funções. Nessa mesma época, o Imperador Diocleciano traçou planos para exterminar os cristãos. No dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião, declarando-se espantado com aquela decisão, e afirmou que os ídolos adorados nos templos pagãos eram falsos deuses. 

São Jorge foi um grande defensor e testemunha da fé cristã.  Com grande coragem e sua fé em Jesus Cristo como Senhor e salvador dos homens. Indagado por um cônsul sobre a origem desta ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da verdade. O tal cônsul, não satisfeito, quis saber: "o que é a verdade?". Jorge respondeu: "A verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, e n’Ele confiado me pus no meio de vós para dar testemunho da Verdade." Como Jorge mantinha-se fiel a Jesus, o Imperador tentou fazê-lo desistir da fé, torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o Imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar os ídolos. 

A fé deste servo de Deus era tamanha que muitas pessoas passaram a crer em Jesus e confessá-Lo como Senhor, por intermédio do testemunho e da pregação do jovem soldado romano. Conta-se que seu testemunho de fidelidade e amor a Deus arrebatou uma geração de incrédulos da época. Por fim, Diocleciano mandou degolar o jovem e fiel discípulo de Jesus, em 23 de abril de 303. Logo, a devoção a “São” Jorge tornou-se popular. Celebrações e petições a imagens que o representavam se espalharam pelo Oriente e, depois das Cruzadas, tiveram grande entrada no Ocidente.

O início de sua popularidade ocorreu no auge da perseguição aos cristãos pelo imperador romano Deocleciano – final do século III, quando o ousado guerreiro passou a defender com muita fé o cristianismo. A imagem de São Jorge é representada por um jovem vestido com uma armadura, sentado em um cavalo branco com uma lança atravessando o dragão, pois o santo é imortalizado no “conto” em que mata um dragão. No tema deste ano em nossa Arquidiocese para essa festa, “Cavaleiro da Misericórdia”, nós recordamos os vários dragões que hoje existem e que é necessário, como Igreja, a empunharmos a espada da Palavra de Deus para eliminar do meio de nossa sociedade.

São Jorge, que é santo da Igreja Católica, traz, porém, um apreço de inúmeras pessoas e grupos que o têm em grande consideração. São Jorge é patrono da Inglaterra, Portugal, Geórgia, Catalunha, Aragão, Lituânia, da cidade de Moscou e de muitos outros locais e entidades. Quando recebi neste ano a visita do Patriarca de Moscou, Kiril, o presente que lhe dei foi justamente uma imagem de São Jorge, patrono de sua cidade. Muito venerado também em outros lugares, inclusive em todo o nosso Estado. Seu culto na Igreja, mesmo com poucos dados históricos, e mesmo com as dificuldades encontradas na comprovação das atas de seu sofrimento, remonta ao século V, e com as "cruzadas", através da "legenda dourada", o fizeram popular no Ocidente.

Os restos mortais de São Jorge foram transladados para Lida (ou Lod, antiga Dióspolis), que é uma cidade da região da atual Israel e foi onde teria residido sua mãe. Aí ele foi sepultado, e mais tarde o imperador cristão Constantino mandou erguer um suntuoso oratório aberto aos fiéis, para que a devoção ao santo fosse espalhada por todo o Oriente. Dessa maneira foi propagada a sua devoção por meio do seu belo testemunho de seguidor de Jesus e homem que deu a sua própria vida por Aquele que é a Suprema Verdade.

Neste dia em que milhares de pessoas se deslocam até as igrejas, capelas e oratórios de São Jorge para manifestar seu carinho e a busca de ver nesse homem de Deus um grande exemplo de vida e um intercessor junto a Deus, contemplemos a todos com os olhos da fé e oremos para que todos busquem a vida nova em Cristo. 

Ao olhar para São Jorge possamos, a exemplo dele, lutar contra o dragão do mal para sermos vencedores nesta batalha contra os questionamentos da nossa fé. Que com a mesma coragem professemos esta nossa fé neste tempo de tantas questões e problemas, e que, com o coração aberto, vivamos como irmãos e irmãs que em Cristo se amam. 

No seu dia, com grande devoção, quero pedir pela paz em nossa amada cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e em nosso Estado. Que São Jorge nos ensine a dialogar permanentemente na defesa de nossa fé e na construção da paz. E que, pela intercessão de São Jorge, possam descer sobre as nossas vidas muitas bênçãos de Deus!



Cardeal Orani João Tempesta, O.Cist.
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

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