sábado, 30 de abril de 2016

A Porta Santa


No dia 08 de dezembro de 2015 o Papa Francisco inaugurou para toda a Igreja o Ano Santo Jubilar Extraordinário da Misericórdia. Uma oportunidade que o Santo Padre está oferecendo a todos os fieis católicos e aos homens e mulheres de boa vontade de todo o mundo para ajudar as pessoas a viver um tempo real e concreto de paz e de reconciliação.

Muitas, talvez, já se perguntaram sobre como viver bem o Jubileu da Misericórdia, até porque nunca se viveu um Jubileu tão próximo das nossas realidades locais como esse. Na verdade, há inúmeras iniciativas em nível pessoal e comunitário que podem ser realizadas nesse tempo de graça e de conversão. Aqui falaremos de modo especial sobre um exercício espiritual bem particular desse Ano Santo, a Porta Santa.

Peregrinação

Uma prática espiritual dos Jubileus é o da peregrinação. Peregrinar significa fazer caminhada, romaria. Claro que nossa peregrinação definitiva é rumo ao Céu, mas para sinalizar essa caminhada rumo ao Céu, realizamos aqui na terra pequenas peregrinações, pequenas romarias. Assim fala o Papa Francisco: “A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até à meta anelada” (MV, n.14).

Nos Jubileus sempre são indicados alguns locais para a realização das peregrinações, sejam as Basílicas Romanas sejam Santuários, enfim. Neste Ano da Misericórdia um ponto central de peregrinação é a Porta Santa!

O Papa Francisco, para que o maior número de pessoas tivesse oportunidade de fazer sua peregrinação à Porta Santa, instituiu na bula “Misericordiae Vultus”, n.03, que os Bispos Diocesanos abrissem uma Porta Santa em cada Catedral e em Santuários ou Igrejas especiais nas suas Dioceses:

“No domingo seguinte, o Terceiro Domingo de Advento, abrir-se-á a Porta Santa na Catedral de Roma, a Basílica de São João de Latrão. E em seguida será aberta a Porta Santa nas outras Basílicas Papais. Estabeleço que no mesmo domingo, em cada Igreja particular – na Catedral, que é a Igreja-Mãe para todos os fiéis, ou na Concatedral ou então numa Igreja de significado especial – se abra igualmente, durante todo o Ano Santo, uma Porta da Misericórdia. Por opção do Ordinário, a mesma poderá ser aberta também nos Santuários, meta de muitos peregrinos que frequentemente, nestes lugares sagrados, se sentem tocados no coração pela graça e encontram o caminho da conversão. Assim, cada Igreja particular estará diretamente envolvida na vivência deste Ano Santo como um momento extraordinário de graça e renovação espiritual. Portanto o Jubileu será celebrado, quer em Roma quer nas Igrejas particulares, como sinal visível da comunhão da Igreja inteira”.

Assim, segundo a intenção do Papa Francisco, os fiéis podem peregrinar rumo à Porta Santa da Misericórdia, para lucrar indulgências do Ano Santo e fazer um caminho de reconciliação. 

Oração e Penitência

As romarias à Porta Santa devem ser sempre feitas em espírito de oração e de penitência. Não basta apenas atravessar a Porta Santa, é preciso fazer uma caminhada penitencial, mesmo que pequena; orações, alguma mortificação, se possível confessar-se antes (ou imediatamente depois).

Essa iniciativa pode ser feita de modo pessoal, mas também é interessante que a peregrinação seja realizada em grupo; quem sabe reunir o grupo de oração, de pastoral, da vizinhança, etc… e sair em direção à Catedral ou de algum Santuário onde haja uma Porta Santa? Claro que aqueles que puderem ir a Roma, será uma oportunidade única.

Sacramento da Reconciliação

Como vimos um aspecto fundamental do Ano Santo, e especialmente deste Ano da Misericórdia, é o do Sacramento da Reconciliação, inclusive para atravessar a Porta Santa. Por isso, os fieis são convidados a procurarem com coração arrependido e contrito a Confissão sacramental, pois ali é o lugar onde a Misericórdia de Deus se derrama com abundância sobre o fiel arrependido.

No Rito de abertura da Porta da Misericórdia na Catedral ou Santuário, era importante que essa entrada solene fosse feita através da Porta principal para que as pessoas visualizassem esse eminente símbolo cristológico, e bíblico: “Então Jesus afirmou de novo: ‘Digo a verdade: Eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta; quem entra por mim será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem”. (cf. Jo 10, 7-9).

Além dessa passagem neotestamentária estão as palavras antigas e novas do Salmo 118,19: “Abri as portas da justiça, nelas entraremos para dar graças ao Senhor”. A invocação dessas passagens da Palavra de Deus na abertura da Porta Santa, faz-nos lembrar a porta do Coração de Jesus, todo misericordioso e que foi aberto na cruz (cf. Jo 19, 34).

Naquele dia tão especial da abertura da Porta Santa, o Bispo, enquanto abria a Porta dizia essas palavras: “Esta é a Porta do Senhor: por ele entramos para alcançar misericórdia e perdão”. E apresentava o Evangeliário aos fieis. O que isso significava? Na Palavra de Deus o caminho da reconciliação e de conversão são apresentados, e nessa mesma Palavra de Deus reconhecemos as ações misericordiosas de Deus ao longo da História da Salvação.

Assim, temos uma oportunidade única de vivermos com intensidade o Ano Santo da Misericórdia, uma vez que está ao nosso alcance vivermos esse tempo especial. Deste modo, “também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta [peregrinação] será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é conosco” (MV, 14).

Ficam as dicas para a travessia da Porta Santa:

1.    Confissão Sacramental;
2.    Breve Peregrinação rumo à Porta Santa;
3.    Participar da Santa Missa, imediatamente à travessia da Porta Santa;
4.    Antes da Missa, fazer um tempo de meditação sobre a Misericórdia de Deus; 
5.    Rezar a Profissão de Fé (Credo) e alguma outra oração nas intenções do Papa Francisco
6.    Na nossa Arquidiocese de Fortaleza os locais da Porta Santa são a Catedral Metropolitana e a Basílica Santuário de São Francisco das Chagas, em Canindé.

Vivamos bem esse exercício espiritual e sejamos também nós Portas pelas quais a Misericórdia de Deus chegue a tantas pessoas.



Pe. Rafhael Silva Maciel
Padre da Arquidiocese de Fortaleza

Missionário da Misericórdia

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