domingo, 20 de outubro de 2013

Oração em línguas assusta o Papa


Adiante o vídeo abaixo até os 3:40 min. e note os zóim arregalados, a na carinha hilária de “Valei-me, Jesus Cristinho!” do JP II:


Que o Beato não achou a tal “oração em línguas” nada normal, ah isso não achou mesmo. Agora, o que ele pensou sobre o evento, ninguém sabe. Fica ao gosto de cada um interpretar a sua reação.

Muitos leitores têm pedido a nossa opinião sobre aquilo que os carismáticos chamam de oração em línguas. Bem, tudo o que temos pra dar é só isso mesmo: uma mera opinião, já que o Magistério da Igreja jamais se pronunciou sobre o assunto.

Não vou enrolar: eu não creio que a oração em línguas seja um dom carismático, não creio que seja uma oração impulsionada pelo Espírito Santo. Não vejo ali mais do que mera autossugestão: a pessoa entra no barato, na onda do grupo, e se convence de que está num semi-transe.

Aos haters: por favor, não me taquem ovos; esses eu os tenho aos montes em casa. Mas tomates serão muito bem-vindos.


O que é oração em línguas?

Em primeiro lugar, vamos entender o que é a tal oração em línguas. Bem, vou tomar os conceitos dados pelo Pe. Paulo Ricardo em seu curso sobre os dons carismáticos:

·                     é uma oração feita com palavras que ninguém entende;
·                     não é um fenômeno milagroso;
·                     é um dom carismático;
·                     “é êxtase, mas não êxtase no sentido técnico da palavra: a pessoa não está fora de si (…). Ela pode iniciar ou parar quando ela quiser”;
·                     é a oração da qual fala São Paulo fala em I Coríntios 14;
·                     é diferente do fenômeno que o ocorreu com os Apóstolos em Pentecostes, que falaram e todos entenderam.

O que diz a Bíblia?

O Pe. Paulo Ricardo, cuja opinião tem grande peso para nós aqui do blog e também para muitos católicos, afirma que a oração em línguas é um fenômeno autêntico.

Além de I Coríntios 14, ele cita um trecho da Carta de São Paulo aos Romanos:

“…o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois nem sabemos o que nos convém pedir; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis.” - Romanos 8, 26

Segundo a interpretação do Pe. Paulo Ricardo, os tais “gemidos inefáveis” citados na Bíblia seriam justamente as sílabas desconexas que são proferidas durante a oração em línguas. Hummm… não me convenceu.

Mas, partindo do princípio de que a interpretação do Pe. Paulo Ricardo sobre I Coríntios 14 esteja correta, é preciso dizer que boa parte dos Grupos de Oração a realiza em desacordo com as orientações de São Paulo. Afinal, o Apóstolo dos Gentios diz que, numa assembleia, se todos começarem a orar em línguas ao mesmo tempo, vão parecer um bando de doidos, e não vão ajudar ninguém com isso.

Ora, mas em muitos Grupos de Oração, parece que, quanto mais gente fazendo aquele burburinho do Shalaridrim ao mesmo tempo, melhor!

“São Paulo deixa intuir que isso é uma realidade mais privada, mais pessoal. Portanto, é algo um pouco inadequado para assembleias. Vamos ser honestos: eu sei que isso destoa com a prática da Renovação Carismática (…). São Paulo diz claramente que nas assembleias diz que é melhor falar uma língua que se entenda do que ficar falando em línguas. Acho que ninguém pode negar isso. Por isso, o uso do dom de línguas poderia ser um pouco mais contido e um pouco mais restringido.” - Pe. Paulo Ricardo

Por isso, em seu curso, o Pe. Paulo Ricardo aponta para a existência de “exageros de uma certa expressão histérica, de uma histeria coletiva que não é boa, porque quando eu crio uma histeria coletiva, você vê claramente que Deus não está no centro”.

O que diz a Tradição da Igreja?

Nos textos da Tradição, até onde sei, não há nenhuma linha sequer fazendo referência à oração em línguas da forma que a RCC ensina. Ao menos não de forma positiva…

No blog Apostolado Tradição em Foco com Roma, colhi diversas citações em que os primeiros Padres criticam pessoas que pronunciam coisas “estranhas” e “sem sentido” como se estivessem num tipo de êxtase. Entre eles, estão Santo Irineu (século II), Eusébio de Cesareia e Orígenes (ambos do século III).

Sempre que se referem ao dom de línguas, os primeiros Padres e os doutores da Igreja sempre se referem à capacidade da falar idiomas estrangeiros. Nunca falam em nada parecido com a pronúncia de sílabas desconexas.

Se a oração em línguas como é feita hoje era um fenômeno comum nos tempos da Igreja primitiva, porque os primeiros Padres parecem não conhecê-lo? Ou, se o conhecem, o desaprovam, como sendo coisa de farsantes ou hereges?

Pe. Paulo Ricardo afirma que o carisma da oração em línguas está atestando biblicamente e está atestado na vida dos santos. Será? Isso é muito controverso, já que se trata de uma interpretação pessoal da Bíblia, não confirmada pela interpretação de nenhum santo, grande teólogo ou Papa. E, quanto à vida dos santos, Pe. Paulo cita um único caso: o depoimento de um Frei dizendo que viu São Francisco de Assis fazendo barulho como um pássaro.

Isso tudo me parece muito frágil para atestar qualquer coisa.

Por que razão Deus teria daria esse dom?

Depois de ressaltar que Deus não cabe em nossos conceitos, o Pe. Paulo Ricardo parece relacionar o “dom” da oração em línguas a pessoas mais emocionalistas, menos propensas a abraçar a fé por amor à doutrina. Então, ele sugere que esse “dom” é uma consolação do Espírito Santo para sustentar essas pessoas e no início de sua caminhada.

Então, seria uma coisa boa, porque a pessoa sente uma emoção especial quando ora, e assim seria motivada a perseverar na fé a progredir espiritualmente.

Como se faz para orar em línguas?

Para começar a orar em línguas, a pessoa, com a sua própria vontade, abre a boca e começa a falar umas sílabas desconexas. A partir daí, a expectativa é que o Espírito Santo conduza o processo, e inspire a pessoa a emitir os sons.

Eu aprendi, saca só:

Ahhhhhh, lele-lek-lek-lek…

Por que eu não acredito na oração em línguas como a RCC prega?

Vou listar as razões:

·                     quando ensinou os discípulos a orar, Jesus não citou a oração em línguas;

·                     não há base bíblica irrefutável para afirmar que essa oração alguma vez tenha se manifestado na comunidade cristã;

·                     nenhum dos primeiros Padres cita esse tipo de oração como dom do Espírito;

·                     ao que parece, nenhum santo jamais revelou orar em línguas;

·                     fenômenos de autossugestão são comuns em quase todas as religiões.

Em suma: não há base bíblica comprovada, não há base na Tradição, não há sustentação no Magistério da Igreja, não há relatos incontestáveis vida dos santos. Que razão teria eu para acreditar nisso?

Enfim, se você, como o Pe. Paulo Ricardo, acredita na oração em línguas na forma como é pregada pela RCC, ok. Como já dissemos, o Magistério jamais se pronunciou sobre assunto, então cada um pode pensar o que bem entender. E eu penso assim.


E, antes que alguém pense que tenho alguma coisa contra a RCC, digo como o Beato João Paulo II: “Vida longa aos carismáticos!”. Nem toda crítica é sinônimo de ataque, mas pode partir do apreço e do desejo de maior aperfeiçoamento do objeto criticado.

NOTA DA RESISTÊNCIA CATÓLICA:
SE O PADRE PAULO ACREDITA ELE TEM SUAS RAZÕES E EXPLICAÇÕES ADEQUADAS. BOM NÓS ESTAMOS COM PADRE PAULO RICARDO. PORÉM A QUESTÃO DE ORAR EM LINGUÁS COMO A RCC FICA A CRITÉRIO, PORÉM ENQUANTO A IGREJA NÃO PRONUNCIAR SOBRE ESTA QUESTÃO, FICAREMOS NEUTROS.

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Um comentário:

  1. sugiro q leia o livro “som de milagres” recomendado por diversos padres! A fé católica é muito mais que biblia e durante os 2000 anos de magistério houve MUITA oração em linguas e júbilo, sugiro que se informe melhor

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