domingo, 6 de outubro de 2013

O Vaticano tornou-se em algumas das suas partes uma corte

"É claro que se o Vaticano se reduz a uma corte é uma lepra",
afirma o téologo e cardeal Kasper

Walter Kasper, 80 anos, o cardeal mais idoso que participou do último conclave, prestigioso eleitor de Jorge Mario Bergoglio, foi por dezoito ano prefeito do ministério vaticano que se ocupa do ecumenismo. Ele é um dos poucos capaz de discutir com Joseph Ratzinger sobre questões de alta teologia. Ele se declara contente com o colóquio de Francisco com Eugênio Scalfari.

A entrevista é de Paolo Rodari e publicada pelo jornal La Repubblica, 02-10- 2013. A tradução foi veiculada no dia 3 de outubro na IHU On-Line.

Eis a entrevista.

'Não estou somente contente. Estou contentíssimo".

Por que, eminência?

Principalmente por certos conteúdos que saíram do diálogo, e entre estes, a passagem sobre a "corte é a lepra do papado".

"Os chefes da Igreja muitas vezes foram narcísicos e excitados pelos seus cortesãos. A corte é a lepra do papado", disse Francisco a Scalfari. Palavras duríssimas.

Sim, mas muito verdadeiras. Também eu, do meu pequeno canto, sempre defendi o mesmo conceito. E é um alívio que ele fale isto livremente. O Vaticano tornou-se em algumas das suas partes uma corte. Mas ser corte não corresponde nada ao nosso tempo. Mas sobretudo não corresponde nada ao ser Igreja no sentido da Bíblia, da Escritura, dos Evangelhos. A corte, com tudo o que isto importa, não é a Igreja. É uma outra coisa.


"A Igreja não se ocupa de política", diz Francisco. O senhor concorda?

Sim. A Igreja nunca dever fazer, por qualquer motivo, a política dos partidos. Nunca deve entrar no campo que não é seu. Não é o seu terreno. A política não é a sua tarefa. A Igreja deve ser construtora da paz e chamar todos os homens para esta vocação universal.

Scalfari diz ser um não-crente que não busca a Deus, mas é fascinado pela figura de Jesus de Nazaré. O senhor esperava um diálogo do Papa com ele?

Imaginava que ele procuraria o diálogo com todos, também com quem não crê. Isto sim. É um diálogo importante, me parece, porque não pode haver paz no mundo sem este diálogo. Não é suficiente que a Igreja fale e dialogue com as outras religiões e os seus líderes. O diálogo também deve ser, sobretudo, com aqueles que não crêem, com os ateus, até com os indiferentes. Somos todos seres humanos e devemos colaborar sem nos fechar sobre nós.

O senhor vê uma descontinuidade deste pontificado com os precedentes, entre Francisco, Bento XVI e João Paulo II?

A entrevista de ontem (01-10-2013) do Papa confirma um percurso de aproximação com quem não crê. Trata-se de um percurso que não começou agora. Também Karol Wojtyla e Joseph Ratzinger buscaram este diálogo. Parece-me que este Papa dá um novo vigor, que eu denominaria evangélico, claramente evangélico. Ele trouxe um ar fresco do hemisfério Sul. Cada um traz algo diferente. Os Papas não são iguais. Sempre há sinais de continuidade e, sobretudo no estilo, de descontinuidade.
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Disponível em: Aleteia


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