segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O que fazer quando um familiar ou amigo está em uma seita?

Conheça algumas pautas para saber como agir,
sem jamais perder a esperança de ajudar a pessoa a discernir a verdade

É possível ajudar um familiar ou amigo a sair de uma seita. Não podemos perder a esperança. Porém, isso não significa um ato concreto, e sim um processo – muitas vezes longo e doloroso. Em tal processo, é preciso envolver a família, os amigos e os especialistas em seitas e psicologia clínica.
 
A seita não é um bom lugar

 
A seita, nenhuma seita, apesar de haver graus de periculosidade, jamais será um lugar adequado para se estar. Sabemos, além disso, que é possível sair de uma seita. Muitas pessoas permanecem, mas muitas outras conseguem sair.

 
Em suma, quando o grupo já não satisfaz as expectativas da pessoa, e esta percebe que lá fora ela pode se realizar, e além disso há um gatilho capaz de vencer o medo da mudança, a pessoa consegue sair. Não é fácil; é um processo difícil e doloroso. Inclusive, há seitas que impedem a saída dos seus membros, sob ameaças e coerções de todo tipo.

 
Diferentes tipos de seita, diferentes tipos de saída

 
Hoje em dia, dentro dos grupos sectários, existem muitos que são de estrutura menos rígida, mais "light", mais volúveis, permeáveis, tanto na forma de entrar como de sair. Falamos dos grupos, oficinas e atividades da Nova Era. Nelas, as pessoas entram e saem com grande liberdade, deixam um grupo ou guru e vão para outro, de maneira mais fácil que em uma seita organizada.

 
Vão perdendo o dinheiro de lugar em lugar, e satisfazendo desejos e frustrações de curso em curso, de oficina em oficina – com propostas pseudoespirituais, mágicas e de cura e interioridade. Não obstante, o que apresentamos aqui vale tanto para estas seitas New Age como para os grupos clássicos, mais organizados e estruturados.
 
A resistência a mudar para sair da seita

 
As seitas sempre enganam, mas também oferecem a promessa de suprir as necessidades dos adeptos. São necessidades não satisfeitas da pessoa, que a levam a continuar no grupo, inclusive apesar de ver as manipulações e enganos, mas justificando-os e permanecendo no grupo sectário.

 
As seitas são lugares que impedem, em maior ou menor medida, o fluxo e movimento de informação com o exterior; controlam os sentimentos, comportamentos e pensamentos do adepto mediante processos de prêmio e castigo, anulação do senso crítico e coerção psicológica; difundem a crença de que o exterior é ruim e o interior (o grupo) é bom, que só neles se encontra a verdade e lá serão salvos, que o líder é quem conhece os destinos e é onisciente, e que só ele é capaz de dar luz e respostas. O medo de romper os laços com a seita às vezes é um grande impedimento para muitas pessoas.

 
Algumas pautas gerais para ajudar uma pessoa a sair de uma seita

 
Apresentamos alguns princípios gerais, que deverão ser colocados em prática em cada caso concreto dentro do processo de ajuda.

 
- Grande envolvimento dos familiares, amigos, professores, agentes de pastoral, padres etc., que possam ser de ajuda e confiança para o afetado.

 
- Contar com a ajuda de especialistas em seitas, psicólogos e, às vezes, de advogados, segundo as necessidades de cada caso.

 
- Não é um ato, mas um processo, às vezes lento e doloroso, com recaídas e retrocessos. Não perder a esperança. A entrada não foi pontual, mas gradual. Por isso, é preciso ir com calma, conhecendo todas as causas que levaram a pessoa à seita.
 
- Às vezes, o afetado estava fugindo de uma situação familiar ou social, ou buscando o que não tinha no seu ambiente. É preciso sanar e restabelecer as condições prévias para acomodar a pessoa no ambiente do qual talvez fugiu.

 
- Não qualificar o grupo como seita, pois isso sempre tem uma conotação negativa. Falar apenas de "grupo".

 
- A pessoa deve ir, pouco a pouco, reconhecendo o grupo como seita, mas sozinha, nunca de maneira diretiva por parte de outros.

 
- Jamais cortar a comunicação com o afetado. Estar disponíveis para que ele possa conversar e se abrir com confiança. Escutar, e não ficar dando lições.

 
- Oferecer sempre proximidade e amor incondicional à pessoa. Os adeptos costumam permanecer na seita por medo da reação dos seus familiares e amigos, se ele voltar.

 
- No começo, a pessoa pode estar muito distante dos padrões, formas, concepções, ideias, linguagem dos seus familiares e amigos. É preciso ser pacientes. O afetado foi prejudicado em seu senso crítico e em seus sentimentos; foi reeducado e manipulado.

 
- O diálogo será mais frequente, íntimo e profundo com o tempo. Isso acontecerá de forma natural e gradual – talvez com retrocessos e recaídas. Tentar não abordar temas conflituosos ou profundos demais; buscar conversar sobre assuntos gerais e cotidianos, sobretudo se as relações familiares foram dissolvidas e estão se reconstruindo.
 
- Isso supõe um interesse real pelas atividades e pelo grupo sectário no qual a pessoa está ou esteve. Ela precisa sentir que seus familiares e amigos se interessam pelas suas coisas.

 
- Estar disponíveis, mas sem pular etapas; não exagerar em ligações e torpedos. A pessoa recuperará a confiança e vencerá seus medos aos poucos.

 
- Conforme for obtendo informação do grupo sectário e dos processos de captação vividos, é preciso comunicar isso aos especialistas, para receber orientações de como proceder.
 
- Valorizar o que o grupo oferece de positivo, mas mostrar (ainda que indiretamente) que nem tudo é tão perfeito nessa agrupação, ou que existem mais motivações e finalidades que as simples e aparentes. Mas quem deve ir percebendo a realidade global é a pessoa afetada.

 
- Por outro lado, nas seitas, a maioria das pessoas que as integram desconhece o que se faz na cúpula e como se manipula. Ajudar o afetado a diferenciar os integrantes das bases (muitos dos quais já são seus amigos agora) dos líderes das seitas.

 
- Evitar buscar culpados, nem com relação ao afetado, nem com relação aos familiares. A ajuda psicológica e terapêutica também deverá incidir nos demais familiares, para ajudar neste processo.

 
- Não dar dinheiro à pessoa, mas ajudá-la concretamente no que precisar (alimento, hospedagem, roupas etc.). Mas nunca dar-lhe dinheiro, porque este poderá ser destinado à seita.

 
- As seitas costumam reeducar os adeptos fazendo-lhes ler suas histórias de maneira negativa. Para curar isso, é preciso lembrar das coisas boas do passado, bem como ajudar a pessoa a reencontrar velhos amigos.

 
- Ajudar a pessoa a projetar-se de maneira feliz, livre e autônoma, em um futuro que ela construirá à margem do grupo sectário.

 
- Se necessário, buscar assessoria jurídica (em casos de doações ao líder ou ao grupo, perdas financeiras, testamentos etc.).

 
- O procedimento pode ver-se frustrado com a volta da pessoa à seita. Para que todo este processo de ajuda seja eficaz, é importante contar com a ajuda de especialistas no assunto, e não tentar fazer tudo sozinho.

 
- Certamente, rezar pela pessoa, pedindo a ajuda de Deus para o bom desenvolvimento deste processo.

 
A quem pedir ajuda?

 
Rede Ibero-americana de Estudo das Seitas (RIES).

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BIBLIOGRAFIA

LIVROS:
-José Mª Baamonde, La manipulación psicológica de las sectas, Paulinas, Madrid, 2003.
-Varios autores de la RIES, "Sectas y familia", Revista Familia, Instituto Superior de Ciencias de la Familia, Universidad Pontifica de Salamanca, nº 44, Salamanca, 2012.

-Manuel Guerra, Las sectas. Su dimensión humana, sociopolítica, ética y religiosa, EDICEP, Valencia, 2011.


ÁUDIOS:
-Vicente Jara, "Conoce las sectas", Radio María España, programas "Ayudando a salir de la secta" (I) [http://estrategia.info/ries/?p=episode&name=2011-08-06_d-cd-2011-03-12.mp3], 
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Disponível em: Aleteia

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