quinta-feira, 24 de outubro de 2013

As oposições ao Papa Francisco

Naturalmente, o Papa Francisco não tem só opositores 
à direita, mas também à esquerda

Depois das tentativas desajeitadas das primeiras semanas, ninguém agora ousa dizer que nada realmente aconteceu na Igreja Católica depois do conclave de março de 2013. Bergoglio é papa há pouco menos do que sete meses, e no horizonte já se delineia uma variada geografia das oposições às novidades do Papa Francisco.

Como se sabe, a Igreja não é uma democracia, e muito menos uma democracia de alternância, em que forças diferentes se alternam no governo em uma dinâmica maioria-oposição. Mas o início de Francisco representou um vento de novidade, tanto de estilo quanto de substância, e a resistência às novidades é perceptível, e seria redutivo catalogá-las segundo uma dialética entre reformadores e conservadores.


Em primeiro lugar, há os nostálgicos de Bento XVI, aqueles que, no dia 19 de abril de 2005, festejaram como uma vitória pessoal a eleição do papa teólogo, ex-prefeito do ex-Santo Ofício: desde o dia 11 de fevereiro de 2013, eles se sentem, muito mais do que outros, órfãos de Joseph Ratzinger, agora papa emérito. A nostalgia é pelo papa elevado por eles a porta-estandarte da tradição tradicionalista, antiprogressista e conservador, contrária aos excessos do pós-Concílio (como a "inculturação" da teologia católica nas culturas não europeias) e flagelo do modernismo cultural na Igreja.

Todos esses motivos fazem de Bento XVI uma papa incompreendido, isolado e marginalizado na Igreja justamente por causa das suas tentativas de limpar a corrupção, moral e cultural: o órgão semioficial é o blog Papa Ratzinger. Outros grupos, como o Rorate Caeli, são diversamente "nostálgicos", no sentido de que manifestam uma reação anti-Bergoglio especialmente pela questão litúrgica, por causa da acolhida sem meios termos reservada à reforma litúrgica do Vaticano II pelo novo papa – contrariamente a Bento XVI que, em 2007, tinha reabilitado a missa pré-conciliar e em latim.


A nostalgia não é só pelo latim e pelo canto gregoriano, mas também pelas capas magnas e pelos arminhos, pelas cerimônias barrocas e pelo fausto de outros tempos – em suma, por aqueles aspectos de "corte" que o Papa Francisco chamou de "lepra da Igreja" na sua entrevista-diálogo com Eugenio Scalfari.


Há, depois, outro grupo de desfavoráveis ao Papa Francisco enquanto "catolicistas" – católicos por cultura de adoção junto à qual se refugiaram, sem terem sido movidos pelo Evangelho de Jesus Cristo. Esses apologistas de um catolicismo antiliberal e "maurrasiano", reunidos sob o guarda-chuva do jornal Il Foglio, são de extração variadaa: ex-comunistas, intelectuais blasé, ciellini [membros do Comunhão e Libertação], finos literatos, nobres de sangue (como Roberto de Mattei), "inquisidores" dos novos movimentos religiosos (Massimo Introvigne), afiliados ao fascismo católico da Alleanza Cattolica.


O diretor do Il Foglio, Giuliano Ferrara, lançou oficialmente a campanha de outono contra o Papa Francisco. Jornal pequeno, mas muito influente, é a versão convencional e inteligente dos outros órgãos em que os católicos cruzados como De Mattei e Introvigne publicam, como por exemplo o Corrispondenza Romana.


O coletor mais refinado e sofisticado dessas nostalgias ratzingerianas e sentimentos anti-bergoglianos de matriz teológica é o vaticanista do L'Espresso, Sandro Magister, com o seu blog plurilíngue Settimo Cielo (que hospeda não só fofocas da Cúria, mas também alguns contribuidores de referência, dentre os quais se destaca, por frequência e veemência, Pietro de Marco).


Mas também há uma oposição política ao novo papado, aquela que, na imprensa convencional (e, portanto, a partir da costa exatamente oposta à dos ratzingerianos que se sentem desde sempre marginalizados pela cultural corrente) se opõem ao Papa Francisco porque defendem (do lado de fora, que fique claro) um catolicismo naturaliter politicamente centrista, moderado e condescendente diante da grande burguesia, dos poderes fortes e das forças da globalização. Exemplo preclaro dessa atitude é Piero Ostellino no jornal Corriere della Sera do domingo, 6 de outubro de 2013: para eles, o radicalismo social do papa nada mais é do que o populismo de um jesuíta latino-americano.


Do outro lado do oceano Atlântico, há outras oposições conservadoras, teológicas e políticas ao mesmo tempo: diferentes, mas não menos aguerridas, como é típico de um catolicismo fortemente polarizado sobre as questões éticas como o norte-americano. Há os militantes pela civilização do National Catholic Register e da First Things, convencidos de que as palavras do Papa Francisco sobre aborto, contracepção e homossexualidade são o repúdio das batalhas de uma vida inteira pela causa pro-life, e a rendição do catolicismo à cultura liberal.


Naturalmente, o Papa Francisco não tem só opositores à direita, mas também à esquerda, ou seja, entre aqueles que não apreciam a sua moderação com relação às reformas feitas ou anunciadas até agora. Entre eles, alguns colunistas do National Catholic Reporter (especialmente as teólogas feministas) e o órgão mais importante da dissidência católica na Itália, Adista.


No fundo, há uma expectativa de reformas radicais (e por enquanto não anunciadas) por parte do papa: sobre a disciplina dos sacramentos (para os divorciados), o sacerdócio (também para as mulheres), a Igreja e a paz, e finalmente o "sistema Vaticano" como elemento do qual é preciso se desfazer, mais do que reformar.


A lista está apenas no início. Essas são algumas das vozes públicas que, nos primeiros meses do Papa Francisco, manifestaram a sua dissidência, estupor, às vezes confusão e medo diante das novidades trazidas pelo papa jesuíta argentino. Muitas outras vozes não são públicas e são as mais insidiosas, juntamente com aquelas que se converteram ao franciscanismo do Papa Bergoglio um minuto depois da sua eleição, impulsionados por um movimento de aprovação insincera. O salto de corista a solista não é para todos.
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Fonte: Aleteia

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