quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Oração: não só com a cabeça, mas também com o coração e a ação

Rezar não é repetir as frases mecanicamente; 
é amizade, carinho, atividade, pensamento, 
o envolvimento de toda a pessoa na relação com Deus

A pessoa que tem fé e é coerente com ela descobre a oração como elemento fundamental para entrar em relação com Deus, elevando a mente, o coração e a vontade ao encontro com a Pessoa que nos ama sem cessar.
 
Porém, em muitos âmbitos cristãos, a oração tem uma conotação superficial, e acaba sendo considerada como uma prática repetitiva, chata e monótona. Além disso, muitas pessoas acham que ter uma boa oração deve ser igual a ter uma experiência mística, na qual o diálogo com Deus flui com facilidade e a pessoa "sente" sua presença.

 
É nobre ter este desejo, mas provavelmente, para a maioria dos cristãos, a oração não será precisamente mística. No entanto, isso não deve nos fazer perder de vista que é possível estar na presença de Deus e que podemos experimentar sua proximidade. Para isso, precisamos conhecer melhor como a nossa oração deve ser.



Para entender a relação com Deus, poderíamos compará-la à experiência humana da amizade. Na relação pessoal entre amigos, estão em ação integralmente no ser humano a mente, o coração e a ação.

 
A mente me dá razões para evidenciar quão especial esta pessoa é para mim; o coração me mostra um vínculo afetivo com esta pessoa a quem amo e estimo; e a vontade me leva a sair de mim mesmo para viver a proximidade com esta pessoa, realizando atos próprios de amizade, como dar um abraço, telefonar, propor algo, pedir ajuda etc.

 
Com estas mesmas manifestações da amizade, a relação com Deus exige de nós uma participação ativa de todas as dimensões do nosso ser (mente, coração e ação).

 
Sabemos que, para amar uma pessoa, é preciso conhecê-la. Também sabemos que a amizade é construída a partir dos momentos que compartilhamos com certas pessoas, seja pelo tempo em que nos conhecemos, pelo que pensamos e fazemos juntos, pelos favores mútuos, pelos ideais buscados em conjunto, entre outras razões.

 
E aqui eu gostaria de explicar o núcleo da minha reflexão: acho que temos de ter presente a participação do coração na experiência de amizade; de maneira especial, entender sua função na oração como canal de amizade com Deus e manifestação da nossa fé.

 
É preciso conhecer Deus com o coração. E o coração aqui é entendido em sua concepção bíblica, como o centro da vida do homem, onde se entrelaçam todas as suas dimensões: o corpo e o espírito, a interioridade da pessoa e sua abertura ao mundo e aos outros, o entendimento, a vontade e a afetividade.

 
Quando conhecemos Deus com o coração, e nos relacionamos com Ele também com o coração, nossa experiência de oração se transforma: da monotonia a uma experiência viva e intensa, quando buscamos o diálogo e a comunhão com Deus. Isso permitirá uma mudança qualitativa em nossa oração.

 
Na oração, pode acontecer de não experimentarmos uma forte emoção ou uma experiência sensível intensa. Talvez não sejamos capazes de identificar que sentimentos estão presentes enquanto rezamos. É comum, para muitas pessoas, experimentar certa aridez espiritual.

 
Não há necessidade de pretender ou aparentar ter sentimentos na nossa oração que, na verdade, não temos com relação ao Senhor. Não podemos julgar nossa oração como ruim por isso, nem podemos pensar que não amamos Jesus de verdade só porque não vivenciamos fortes emoções.

 
Esta falta de emoções às vezes expressam a aridez; e isso é compreensível, dado que não vemos Deus face a face, mas apenas através do sacramento. Esta aridez também pode ser um convite do Senhor a dirigir nosso olhar ao que é essencial – sua Palavra –, porque talvez não o percebamos perto de nós, mas Ele está aí.

 
A aridez também é uma experiência afetiva que, vivida com fé firme, pode ser motivo de crescimento espiritual, fortalecendo-nos em nossa fé, pedindo ao Senhor que nos ajude a estar mais perto dele.


 
A oração que elevamos a Deus transcende as dificuldades (experiências de aridez, distrações) e é sempre uma ação agradável a Deus, pelo fato de estarmos de joelhos buscando entrar em um diálogo de amor, lutando por fortalecer a amizade com o Senhor.
 
O coração, aquele que nos permite perceber os afetos humanos, carregados de alegria, amor e contrição, são respostas próprias da natureza humana, que, ao serem vividas no âmbito do encontro com o Senhor, transformam-se em uma experiência espiritual, própria de quem vive uma profunda oração e amizade com o Senhor.
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Fonte: Aleteia

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