segunda-feira, 1 de abril de 2013

Deus o ressuscitou!




O livro dos “Atos dos Apóstolos”, escrito pelo evangelista Lucas para narrar a vida das primeiras comunidades cristãs após a morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo aos céus, tem seu ponto alto nos discursos de Pedro e de Paulo. Tais discursos, chamados “querigmáticos” (Aurélio: proclamação em alta voz, anúncio), apresentam o núcleo central e essencial da mensagem cristã. Num deles, que ocorreu na cidade de Cesareia da Palestina, o apóstolo Pedro foi particularmente ousado, ao afirmar: “Eles o mataram, pregando-o na cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia” (At 10,39-40). A preocupação principal de Pedro, de Paulo e dos demais apóstolos não era a de anunciar que Jesus Cristo havia morrido, mas que ressuscitara e, portanto, estava vivo! Eles estavam convictos de que essa era a verdade mais importante que tinham para transmitir ao mundo.

Há documentos históricos que comprovam a existência de Jesus de Nazaré na Palestina e sua crucifixão em Jerusalém. Mas em que nos baseamos para afirmar que ele ressuscitou dos mortos? Em dados científicos? Certamente, não! Por mais importante que seja a ciência, ela não serve para comprovações no campo da fé. A fé é um dom e um mistério: nós a recebemos por graça divina e a razão humana não é capaz de demonstrar ou explicar o conteúdo do que nós acreditamos.

Quando se trata da ressurreição de Cristo, valem para nós o testemunho e as afirmações dos apóstolos: eles viveram para proclamar que Jesus ressuscitou, e morreram para testemunhar essa verdade. Curioso, e ao mesmo tempo significativo, foi que eles não esperavam essa ressurreição. Quando, ao terceiro dia após a morte, naquele domingo que ficaria célebre e que daria sentido a todos os demais domingos da história, os apóstolos e as santas mulheres foram ao sepulcro, tinham como objetivo cuidar do corpo de uma pessoa que havia morrido. Se estivessem esperado encontrar-se com Jesus, não teriam levado perfumes para embalsamar seu corpo. Ao verem o sepulcro vazio, ficaram inicialmente chocados; ao ouvirem a mensagem que um jovem havia transmitido às mulheres – “Procurais Jesus, o nazareno, aquele que foi crucificado? Ele ressuscitou!” –, manifestaram surpresa. Surpresos ficaram nas diversas vezes em que Jesus lhes apareceu, quando lhes perguntou se tinham alguma coisa para comer e, particularmente, ao verem que ele próprio lhes havia preparado um peixe assado.

Pode-se dizer que o coração dos apóstolos realmente mudou quando eles passaram pela experiência de Pentecostes. Cheios do Espírito Santo, perceberam a unidade que havia na pregação de Jesus, nos seus milagres e nos vários momentos de sua vida. Antes, segundo o evangelista João, “eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos”. Tendo recebido o Espírito Santo, compreenderam que tudo o que fora anunciado antes de Cristo chegara a seu ponto máximo em sua ressurreição. Ela é que dava sentido ao que haviam visto e ouvido. Essa certeza, que mudou radicalmente suas vidas, foi, portanto, fruto de um processo, de um crescimento – um processo longo e difícil.

Para nós, que vivemos em 2013, o que significa crer que Jesus ressuscitou? Crer em sua ressurreição significa ter consciência de que participamos da fé dos apóstolos. Cremos em seu testemunho. Nossa fé nos liga a Pedro, a João, a Tiago, a Bartolomeu... Somos herdeiros de suas convicções e de seu entusiasmo.

Crer na ressurreição de Cristo significa ter a convicção de que ele está vivo. Porque ele ressuscitou, nos dispomos a escutar seus ensinamentos, a viver como ele viveu e a segui-lo, dia por dia. Numa vida conduzida por essa certeza, o pecado perde cada vez mais seu espaço. Cresce, então, a dedicação pelos outros, fortalece-se o espírito de justiça e fortifica-se o desejo de construir um mundo fraterno.

“Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia”. Se essa verdade nortear nossa vida, não há mais dúvidas: entendemos o sentido da Páscoa.


Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)

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