quinta-feira, 9 de julho de 2015

Houve uma papisa na Igreja?


Algumas pessoas falam de uma mulher que chegou a ocupar o trono papal. Outras vão mais longe, afirmando inclusive que ela se chamada Joana. Esta é uma lenda que teve uma ampla difusão e chegou a abalar a confiança de muita gente na Igreja e na figura do Bispo de Roma, a que nós, católicos, chamamos de Papa.

Esta é realmente uma lenda negra, que não corresponde à verdade histórica e pretende desprestigiar a Igreja fundada por Cristo, bem como a instituição tão respeitada do Papado.

O suposto pontificado dessa mulher aconteceu, segundo diferentes relatos, entre os séculos IX e XI. Uma das versões afirma que ela nasceu na Inglaterra (ou na Alemanha, de pais ingleses) e que se apaixonou por um monge beneditino com o qual fugiu a Atenas disfarçada de homem.

Após a morte do seu amante, segundo a lenda, ela ingressou no sacerdócio, tornou-se cardeal e foi eleita “papa”, tomando o nome de “João VIII”, sucedendo o Papa Leão IV (847-855). Em 857, durante uma procissão papal, afirmam, ela deu à luz um filho, momento no qual teriam descoberto que ela era uma mulher.

A suposta papisa, conclui a lenda, morreu durante o parto. 

A origem de um mito

O mito foi publicado pela primeira vez pelo escritor religioso Estêvão de Bourbon no século XIII, e muitos escritores repetiram a história durante os três séculos seguintes. O historiador bávaro Johannes Aventis foi o primeiro em duvidar desse relato, até então aceito inclusive por membros da Igreja e pelo público em geral.

Mais tarde, outros escritores, entre eles o teólogo calvinista francês David Blondel, o filósofo Gottfried Wilhelm Leibniz e inclusive os enciclopedistas franceses afirmaram que se tratava somente de um mito, sem nenhum fundamento histórico. Finalmente, o teólogo e historiador católico Johann Döllinger o desautorizou de forma definitiva em 1863.

No entanto, ainda houve escritores que espalharam a lenda, como o grego Emmanuel Royidios, que publicou “A papisa Joana” (1886), obra que foi traduzida ao inglês pelo escritor britânico Lawrence Durrel em 1939, favorecendo sua difusão. Por isso, ainda existem pessoas que afirmam que esta personagem existiu de fato.

O verdadeiro Papa João VIII

Para reafirmar que a papisa Joana não existiu, basta dizer que se conhece muito sobre o verdadeiro Papa João VIII (nome que a suposta mulher haveria escolhido ao assumir o trono pontifício), que foi Bispo de Roma de 872 a 882, e que foi considerado um dos pontífices mais competentes do século IX.

João VIII nasceu em Roma, em 820. Entre as reformas que levou a cabo durante seu pontificado, destaca-se uma importante reorganização da cúria papal.

Com pouca ajuda por parte dos monarcas europeus, ele tentou expulsar os sarracenos (muçulmanos) da Itália quando já haviam chegado a Roma. Fracassou e se viu obrigado a pagar-lhes um tributo.

Defendeu São Metódio contra seus inimigos alemães, que se opunham ao uso da língua eslava na liturgia, e com isso confirmava a autorização para usá-la – outorgada pelo seu predecessor, o Papa Adriano II.

Em 879, reconheceu a legitimidade de Fócio (que havia sido condenado em 869 pelo Papa Adriano II) como patriarca de Constantinopla. Em 878, coroou Luis II, rei da França, e dois imperadores do Sacro Império Romano: Carlos II e Carlos III. Morreu em 882, depois de 10 fecundos anos de pontificado.


Ainda hoje há muitas pessoas que repetem a lenda da papisa para desacreditar a Igreja, sem pesquisar com profundidade. Será que agem assim em outros temas também? Fiquemos alertas e não nos deixemos enganar.


Jorge Luis Zarazúa
________________________________
Aleteia

Nenhum comentário:

Postar um comentário