terça-feira, 24 de setembro de 2019

O Sínodo da Amazônia será cismático?


Nos dias 06 e 07 de setembro, o CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) se reuniram em Bogotá para falar do Sínodo de Bispos que será realizado no Vaticano entre 06 e 27 de outubro com o título “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

No comunicado final da reunião, o presidente do CELAM, Monsenhor Miguel Cagrejos, e o presidente do REPAM, o Cardeal Cláudio Hummes, após expressarem “alegria pela convocação do Sínodo pelo Santo Padre”, reiteram sua “esperança de seguir promovendo uma Igreja com rosto amazônico e rosto indígena, para continuar o processo na implementação”.

Por ocasião do encontro com o Papa, o recém-nomeado Cardeal Michael Czerny, secretário especial para o Sínodo da Amazônia, declarou: “Amazônia é a primeira palavra do nome do Sínodo. Pode-se afirmar que a Amazônia, com os seus povos, sua realidade, território, habitantes, é o tema do Sínodo, é o seu tema central. Por isso, como primeira, ou melhor, como primeiríssima preocupação está a população, os povos, principalmente os povos indígenas”.

No entanto, como sempre acontece nesses encontros, o importante não são as declarações oficiais, mas as reuniões privadas entre os homens-chave e os documentos que circulam entre eles tendo em vista organizar melhor a estratégia com a qual possam alcançar seus objetivos.

Um desses documentos, intitulado “Rumo ao Sínodo Pan-Amazônico: desafios e contribuições a partir da América Latina e do Caribe”, é fruto de uma reunião anterior realizada também na capital da Colômbia, no último mês de abril, por iniciativa das organizações Ameríndia e REPAM. O LifeSiteNews publicou no último dia 03 de setembro este artigo e revelou que, no encontro de Bogotá, estiveram presentes quatro personagens encarregados pelo Papa Francisco da preparação do Sínodo: o padre Paulo Suess, colaborador próximo do Bispo Erwin Kräutler, membro do conselho pré-sinodal; Maurício López, secretário da REPAM e membro também do mencionado conselho; o padre Justino Sarmento Rezende, assessor indígena; e Peter Hughes, também assessor.

Esses quatro senhores seriam os principais redatores do Instrumentum Laboris, com o qual trabalharão os padres sinodais em outubro. Como apontam Maike Hickson e Matthew Cullinan Hoffman, autores do artigo publicado pelo LifeSiteNews, o documento de Bogotá tem por objetivo solapar ou inverter os elementos fundamentais da doutrina católica, sustentando que a Igreja não tem o monopólio da salvação, e que o pluralismo e a diversidade de religiões são expressões de uma sábia vontade divina; que as religiões não cristãs têm capacidade para proporcionar a salvação, e que é preciso revalorizar as tradições religiosas pagãs dos indígenas amazônicos; o texto redefine a Eucaristia como ato simbólico da comunidade; ataca o sacerdócio hierárquico do Novo Testamento e prevê a criação de novos ministérios para os leigos, assim como a possibilidade de ordenação de diaconisas e a ordenação sacerdotal de homens casados; promove também uma nova teologia indigenista, feminista e ecológica, e se propõe a exportar esse modelo para criar uma Igreja de rosto amazônico.

Por sua vez, o Cardeal Müller assinalou:

    “Se na Amazônia são ordenados sacerdotes homens dignos que vivem em uniões declaradamente estáveis (sejam eles matrimônios canonicamente válidos ou não?) a fim de proporcionar (!) sacramentos aos fiéis, inclusive sem formação teológica (IL 129, 2), por que isso não seria um incentivo para introduzir os viri probati na Alemanha, onde a sociedade já não aceita o celibato e onde muitos teólogos casados estariam dispostos a ocupar como sacerdotes postos vacantes entre o clero celibatário?”

No dia 14 de agosto, em Bogotá, que está se transformando em um dos principais centros de difusão dos erros amazônicos, Isidoro Jajoy, feiticeiro da tribo colombiana inga, concedeu sua bênção a religiosos de ambos os sexos em um dos jardins da sede da Conferência Episcopal Colombiana durante uma das reuniões preparatórias para o Sínodo. A foto viralizou e confirma até que ponto chegou o processo de alteração e constituição da doutrina da Igreja. Está certo o Arcebispo José Luis Azcona, Bispo emérito da Prelazia de Marajó, na região amazônica brasileira, que em uma entrevista concedida à ACI Digital manifestou o seu temor quanto ao perigo de um cisma.

Da mesma forma, na Alemanha, o Cardeal Rainer Woelki, Arcebispo de Colônia, expressou em suas declarações ao Kirchenzeitung Köln o seu temor de que “o caminho sinodal empreendido pelo episcopado alemão conduza a um cisma na Igreja alemã e na universal”. É comum na história da Igreja que os cismas precedam as heresias, como aconteceu com o cisma anglicano no século XVI.

Hoje, a difusão de erros e heresias precede a formação de uma fratura eclesial, também porque é frequente que, além da Igreja que confronta o Papa, alguns Bispos em nome do Papa preparam sua separação da Igreja. O que fará o Pontífice Bergoglio se o confronto for aberto? No dia 10 de setembro, no avião que o levava de volta a Roma após sua viagem à África, o Papa declarou: “Rezo para que não aconteça, mas não tenho medo de que haja um cisma na Igreja”. Para o mesmo Papa, a possibilidade de uma divisão intereclesial não é remota. Porém, o Vigário de Cristo se equivoca ao não temer uma separação no Corpo Místico.

Os católicos que amam de verdade a Igreja têm horror aos cismas e heresias, e estão dispostos a defender até a última gota do seu sangue a pureza e a integridade dos ensinamentos de Cristo. Por essa razão, aumenta a resistência a um Sínodo que poderia passar para a história como o Sínodo cismático da Amazônia.

Se os erros panteístas, pelagianos e luteranos do documento de Bogotá e do próprio Instrumentum Laboris não forem corrigidos, o Sínodo da Amazônia corre o risco de transformar-se em um Sínodo abertamente cismático, como o foram o filo-ariano de Milão (355), o monofisita de Éfeso (449), o nestoriano de Constantinopla (553), o conciliarista da Basileia (1438) e o jansenista de Pistoia (1786).

Na luta contra o arianismo, poucos foram os Bispos, entre eles Santo Eusébio de Vercelli e São Paulino de Tréveris, que no século IV em Milão tiveram a coragem de enfrentar a assembleia e o imperador Constâncio II, que convocou o Sínodo e pretendia impor a ele a sua vontade política.

Parece que hoje também são poucos os Cardeais e Bispos que estão dispostos a fazer frente à política do Papa Francisco com o heroísmo exigido pelas circunstâncias. No entanto, crescem as manifestações de fidelidade à Igreja por parte de sacerdotes e leigos, e não só nos Estados Unidos, como disse o Santo Padre, mas em todos os países. Somos filhos de uma Igreja militante que não acolhe nem dá abrigo ao erro, mas o combate e defende a verdade. Uma Igreja que quer conquistar as almas e toda a sociedade para Cristo. Uma Igreja que se afasta de quem no seu foro íntimo professa outra religião. Uma Igreja que confia à Santíssima Virgem Maria para que a proteja com os seus anjos nas próximas e decisivas semanas.



Prof. Roberto de Mattei (Adelante La Fe).
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Centro Dom Bosco

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