quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Necroses de um tecido


A sociedade ocidental está se decompondo, desfigurando-se rapidamente. Sua matriz geradora foi a tradição judeu-cristã, que pariu nossa cultura do Ocidente. Foi o cristianismo, com sua crença de que cada indivíduo é imagem e semelhança de Deus em Cristo, quem possibilitou que essa cultura desenvolvesse conceitos como pessoa, direitos humanos, democracia, dignidade do indivíduo, etc. Foi o judeu-cristianismo, ao afirmar que a história é aberta e caminha para uma plenitude e que o homem tem a função de “dominar” a terra, quem inspirou e possibilitou o desenvolvimento tecnológico que fez com que o Ocidente se afirmasse hegemonicamente frente a outras culturas. Sem o cristianismo, o Ocidente não existiria. Até mesmo correntes de pensamento que se mostraram visceralmente antirreligiosas e anticristãs, beberam no cristianismo as bases de suas afirmações...

Desde o século XVIII, no entanto, com o iluminismo racionalista, o homem ocidental deu as costas a Deus, a Cristo, à Igreja e engendrou um projeto suicida: conservar e aprimorar os valores de nossa sociedade negando Deus. Tal projeto continua de pé; vai de vento em popa: a ilusão de um humanismo sem Deus e o Seu Cristo, um plano de fraternidade universal escondendo Jesus Cristo, nosso Senhor... Só há um problema, grave, urgente, inevitável: sem a sua seiva cristã, a grande árvore ocidental vai murchar, morrer e secar. Renegando a cosmovisão cristã que os inspirou, nossa sociedade não poderá conservar os valores admiráveis que construiu.

Atualmente, é moda criticar o cristianismo, avacalhar a Igreja e seu passado, relativizar Cristo, destruir a moral cristã, desfigurando-a. Fazem isso nas universidades, promovem isso nos meios de comunicação, levam adiante essa política nos vários programas de governos... O preço será alto, as consequências serão tremendas, porque o homem não pode matar Deus e continuar sendo humano, vivendo uma vida humana. Seremos lobos de nós mesmos, de nós mesmos desiludidos, por nós mesmos desgostosos. Exemplos dessa necrose? A destruição do conceito de família e de sua realidade mesma, o desencanto e falta de ideal de nossos jovens, a banalização e aviltamento da sexualidade, a exaltação da homossexualidade como ideologia, a corrupção deslavada na política, a violência nas suas mais diversas manifestações, a droga e a guerrilha urbana nas nossas cidades, o desprezo pela vida: aborto, experimentos imorais com embriões humanos, a promoção da eutanásia.

O Ocidente está matando Deus. O Ocidente, por isso mesmo, morrerá! A continuar assim, nosso destino não muito distante serão a barbárie e a tirania. Ao fim das contas, valem para toda a nossa sociedade as palavras que o ateu Miguel de Unamuno dizia ao Deus em Quem não conseguia crer: “Que pena que Tu não existas. Se existisses, eu também existiria de verdade”.


Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares, PE

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