domingo, 16 de outubro de 2016

"Nem batizado sou!" Que glória, que liberdade, que iluminado e maduro...


Quero muito... Quero tudo... 
Faz uns quatro anos... 

Assistia a um debate na TV. Era uma conversa de gente esperta e experta, sobre temas técnicos, complexos do mundo atual.

Lá para as tantas, perguntou-se a um dos integrantes do debate: "Você é cristão?" E aquele lá, rindo, gozoso, triunfante, satisfeito, respondeu, ligeiro: "Nem batizado sou!" Que glória, que liberdade, que iluminado e maduro...

Fiquei pensando... Como será a vida, o coração (ou seja, o núcleo mais profundo do eu, com sua consciência, seus anseios, seus projetos, seu amores, seus medos, seus limites, sua perspectiva de que um dia morrerá) de alguém assim?

Nunca deixarei de "admirar" (isto é, de olhar, com respeito, curiosidade e total incompreensão) como alguém pode viver sem crer! É demais!

Como suporta a vida?

Como se suporta?

Como suporta a existência, se ela é fechada "nisto aqui", se ela não é um todo com sentido, mas somente um amontoado de vivências, emoções e projetos que, quando muito, têm alguma duração para frente, mas não decolam para o Infinito, para o Definitivo?

Como se suportar, como suportar, desse jeito?

Não somos nós uma sede?

Não é o nosso coração uma espera e, mais ainda, uma esperança? 

Não somos nós eternos peregrinos, constantes insatisfeitos?

Não temos uma saudade louca de Algo que pressentimos no mais íntimo de nós?
Como fugir do drama expresso por São João da Cruz? "Ó cristalina Fonte,/ se eu nestes Teus semblantes prateados/ visse, ó Fonte divina,/ os olhos desejados/ que trago nas entranhas esboçados!"

Não tem jeito, não podemos fugir - ao menos eu não posso; e desconfio que ninguém pode:
temos algo em nós de eterno,
de infinito,
de saudade visceral,
de sede insaciável,
de espera feita esperança sem cansaço e sem descanso!
Não! Aquele homem do debate é sabido, mas não é sábio!

Respeito seu ateísmo!
Mas, sinceramente, cordialmente, quanto me sinto triste por ele: tão inteligente, tão bem informado, tão articulado... E, no entanto, vive somente no aqui, para o aqui, sem mais nada além do quebradiço, superficial, inconclusivo, frágil e limitadíssimo aqui...
Como suporta? Como seu coração consegue?

Ah! Que esforço viver distraído, fingindo estar satisfeito e fugir de pensar que não estamos aqui para rastejar feito répteis, mas para voar feito as águias!

Eu não me conformo!
Eu não me contento!
Eu não quero pouco!
Eu não quero muito!
Eu quero tudo!
Eu quero o Tudo!
Eu quero o Sentido!
Eu quero viver, viver, uma vida que não seja bolha, que valha a pena, que dure para a eternidade!
Por isso creio - e esta é a maior aventura e a maior graça da minha pobre existência!



Dom Henrique Soares da Costa

Bispo de Palmares, PE

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