segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Comer bombons de Cosme e Damião, pode ou não pode?


Todos os anos, no dia 27 de setembro, em diversas regiões do Brasil há uma farta distribuição de um saquinho quase irresistível, recheado com doces de Cosme e Damião. Quem nunca comeu não foi criança, ou então é daqueles protestantes que veem capeta, capeta everywhere. Mas quem é católico não precisa ter grilo com essas coisas!

Alguém aí já viu alguém “recebendo santo” ou entoando hits da Clara Nunes após comer uma maria-mole do saquinho de Cosme e Damião? Eu, nunca.

É bem verdade que a tradição de distribuir docinhos em homenagem aos santos nada tem a ver com o catolicismo, sendo originada na Umbanda. Nessa religião, pelo sincretismo, São Cosme e São Damião formam um trio com Doum: são entidades infantis. Daí a distribuição de guloseimas, para agradar os pequenos. Já no catolicismo, Doum não existe, e São Cosme e Damião nada tinham de crianças: eram irmãos gêmeos, médicos e mártires.

“Deurrrrmilive de comer os doces desses ídolos!”, alguns dizem. Porém, São Paulo desmistifica isso em uma de suas cartas (I Coríntios 8). Naquela comunidade, os cristãos estavam confusos: seria pecado ou não comer carnes que foram sacrificadas em altares de deuses pagãos? A situação era complicada, pois boa parte da carne vendida nos mercados havia sido antes ofertada aos ídolos, assim como a refeição oferecida na casa de um amigo pagão.


São Paulo respondeu que comer essas carnes não fazia nem bem nem mal. Tanto fez quanto tanto faz, pois os ídolos não são NADA! O mesmo pode-se dizer dos doces de Cosme e Damião: não trazem em si nenhum bem nem mal; não há neles nenhuma “mágica” benéfica ou maldição. Portanto, tanto faz comê-los ou não!


Mas São Paulo bem sabia que nem todos os cristãos tinham o mesmo nível de conhecimento. Por isso, pediu que os cristãos mais esclarecidos evitassem comer carnes ofertadas aos ídolos, para não dar a impressão aos menos esclarecidos de que estavam praticando idolatria (o que de fato não estavam). Entendam: a carne em si nada tinha de mal, o mal estava na cabeça dos outros!

Esse conselho não se aplica aos doces de Cosme e Damião, pois quem os come, em 99% das vezes, nem mesmo pensa em religiosidade. Igualmente, um menino que brinca com um boneco do Thor não está idolatrando uma divindade viking. Outro dado relevante: boa parte das pessoas que dão doces de Cosme e Damião não têm o menor contato com religiões afro! Isso já é parte da cultura brasileira, independente de religião.

Assim, quem come doce de Cosme e Damião com a consciência de que são só doces, e ídolos não existem, não peca. Mas o católico que come esses doces pensando que neles há algum tipo de “magia”, esse peca.

Outro exemplo: quem veste branco nas comemorações do Ano-Novo pensando que isso vai lhe trazer coisas boas, esse peca. Mas quem veste branco pra entrar no clima da festa, pra seguir a tradição, esse não peca. O pecado não está nas coisas nem no ato, mas na consciência com que fazemos as coisas!

O mesmo não se pode aplicar ao ato de jogar flores para Iemanjá: é um ato explícito de homenagem. Ainda que a pessoa não creia no orixá, está sinalizando a todos à sua volta que crê, afinal, ninguém joga flores ao nada – joga para “alguém”. Nesse caso, a tradição cultural não exclui o pecado de idolatria.


Agora, misinfi, deem licença, que eu vou comer mais um doce do meu saquinho…
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Fonte: O Catequista

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