terça-feira, 17 de setembro de 2013

China: continua a pressão contra os católicos


A Comissão de Justiça e Paz da diocese de Hong Kong (China) apresentou um documento de 7 páginas sobre a situação daliberdade religiosa no país, diante do Conselho de Direitos Humanos da ONU, no qual manifesta a preocupação da Igrejalocal, que sofre políticas "contra os princípios e práticas da fé católica".

O documento denuncia as violações dos direitos humanos dos fiéis e casos de sequestros, desaparecimentos, maus-tratos, dos quais os membros da Igreja são vítimas.
 
O cardeal Joseph Zen, bispo emérito de Hong Kong, carregou uma cruz de madeira durante uma manifestação pela liberdade religiosa na China em 2011. As políticas do Estado chinês contra aliberdade religiosa "fizeram que os católicos na China Continental se dividissem nas comunidades chamadas 'Igreja oficial' e 'Igreja clandestina'. Isso traz dor e sofrimento dentro da Igreja", denunciou o relatório.


Segundo a comissão, ambas as comunidades são vítimas das violações aos seus direitos por parte das autoridades. "Os fiéis na China não só têm sua liberdade religiosa limitada, como também sua liberdade pessoal e de associação violentadas."

 
Entre as situações concretas denunciadas no relatório, encontra-se a pretensão oficial de que a Igreja Católica na China seja "independente" da Santa Sé, o que viola os princípios de unidade e comunhão, essenciais para a fé católica. Isso afeta diretamente a ordenação de bispos, mas é explicado pelo Estado como um princípio de "autonomia, independência e autogestão da Igreja", o que foi energicamente rejeitado no relatório.
 
"Na verdade, isso viola a liberdade de consciência dos fiéis e as propriedades essenciais da Igreja Católica", esclareceu o relatório, que, além disso, criticou a promoção da "Associação Patriótica Católica Chinesa" e da "Assembleia Nacional de Representantes Católicos", organizações criadas pelo Estado para a ordenação de bispos "sem o indispensável mandato papal". A Comissão também denunciou o controle estatal sobre as nomeações feitas na Igreja, que viola as normas estabelecidas pelo Código de Direito Canônico para o trabalho nas Igrejas locais.
 
Um elemento especialmente preocupante no relatório é o dedicado aos métodos com os quais o Estado impõe o cumprimento destas disposições aos membros da Igreja. "Os católicos são frequentemente vítimas de maus-tratos, sequestros, prisões domiciliares, e alguns padres são obrigados a servir os oficiais. Estes atos violam seriamente a liberdade de religião e consciência", afirma o documento.
 
Estes abusos se acentuam durante as ordenações episcopais ilícitas – quatro das quais aconteceram entre 2010 e 2012. Vários bispos foram obrigados a assistir às ordenações ilícitas, enquanto diversos padres foram sequestrados e só libertados após as ordenações.
 
A Comissão de Justiça e Paz lançou um apelo ao governo da China para que acabe com as "detenções ilícitas prolongadas e o desaparecimento forçado", a fim de respeitar os direitos humanos. Foi citada a detenção atual dos padres Ma Wuyong e Liu Honggeng, da diocese de Baoding, que estão presos desde 2004 e 2006, respectivamente, sem que tenha havido um julgamento sobre eles.
 
Também se denunciou o desaparecimento de Dom James Su Zhemin, desde 1997, quem, se continuar com vida, tem hoje 81 anos de idade; de Dom Cosmas Shi Enxiang, que teria 92 anos e foi preso em 2001; e do Pe. Lu Genjun, preso em 2006 e de quem não se tem notícia alguma há 4 anos.
 
Outra modalidade de violação dos direitos humanos é o confinamento dos membros da Igreja em seu próprio templo ou residência, hotéis ou nas chamadas "escolas de socialismo", algo comum durante eventos relevantes da vida da Igreja. Foi citado o exemplo de Dom Thaddeus Ma Daqin, que renunciou aos cargos impostos pelo Estado ao ter sido ordenado bispo e que, nessa mesma tarde, foi confinado ao seminário de Sheshan, onde foi privado de sua liberdade e impedido de realizar seu trabalho pastoral.
 
A última seção do relatório foi dedicada ao trato desumano e às torturas, que também afetaram os membros do clero. Segundo a comissão, desde 2006, pelo menos 20 clérigos foram objetos de ataques físicos para impor seu registro e controle por parte de organismos oficiais.
 
O Pe. Zhang Guangjun foi detido em um hotel em janeiro de 2011, onde foi vítima das autoridades. "Foi tratado de maneira desumana durante sua detenção: não o deixaram dormir por 10 dias e 10 noites, e ele foi obrigado a permanecer em pé durante todo esse tempo." Após ser libertado temporariamente, foi detido novamente e espancado. Quando recuperou sua liberdade, em abril de 2011, as sequelas físicas eram evidentes.
 
Também no mês de abril de 2011, o Pe. Joseph Chen Hailong foi submetido à mesma tortura durante 4 dias, e depois disso foi confinado em um quarto sem janelas, onde viveu em completo isolamento e desnutrição durante 2 meses. Ele esteve a ponto de perder a razão e negaram-lhe tratamento médico para sua deteriorada saúde, até o último momento. O clérigo foi libertado somente em julho de 2011.
 
A comissão exigiu do governo chinês que acabe com todas essas violações aos direitos humanos e respeite de maneira integral a liberdade religiosa dos católicos do país.



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(Com informações da diocese de Hong Kong)
Disponível em: Aleteia

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