quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A cruz de Jesus é skandalon!


O cristão anda meio perdido nestes tempos líquidos de cultura sentimentalista e subjetivista. O Catolicismo ainda guarda alguma sanidade frente a enxurrada que está levando tudo embora: cultura, religião, ética, política, valores, etc. O tempo que vivemos é de forte sentimentalismo e subjetivismo e todos os âmbitos, inclusive no âmbito da religião. O "sentir", que tem como sinônimos os arrepios, choros e desmaios, vem como expressão de uma propalada "experiência de Deus" sentimentalista e emocional.

O culto neopentecostal e pentecostal já se rendeu a isto há muito tempo. A missa católica ainda não completamente, mas, em parte sim. Basta ver a luta dos Bispos para inculcar no povo que canta nas Paróquias a necessidade de se colocar cânticos litúrgicos na missa. Na maioria das vezes estes são substituídos por cânticos de cunho sentimental e intimista. Outro dia meu Bispo Diocesano celebrou a missa numa Paróquia onde cantaram a música "Como Zaqueu" de cântico de entrada. Outro sinal desta confusão presente na Igreja é o personalismo presidencial na liturgia. A coisa mais comum que se houve dos leigos é: "como o senhor gosta que organizemos a liturgia, padre?". Esta pergunta é absurda, pois a liturgia da Igreja é a Liturgia do Missal e dos livros litúrgicos, das normas litúrgicas e das rubricas. O padre não tem que inventar a roda! Ele é um servo da liturgia! No entanto, por causa do caráter subjetivista e sentimentalista do nosso tempo, muitos padres fazem nos presbitérios e nas santas missas verdadeiros carnavais, festas juninas, sessão de descarrego, entre outras bizarrices, para tentar angariar público! Nada trai tanto a verdadeira identidade católica! 

A Cruz de Cristo é o horror!


Ser católico é, após o santo Batismo, identificar-se com o Cristo em toda a sua existência, acolher a sua Boa Nova, obedecê-la e cumpri-la na vida pessoal em vista da eternidade. A vida de Cristo antecede sua existência na Carne, pois, Ele é eterno com o Pai e o Espírito Santo. No entanto, consideramos mormente sua encarnação como o ponto de partida para a imitação católica. A cruz de Nosso Senhor não só é o ponto alto de sua vida, mas o ponto de partida e a chave de compreensão de tudo o que Ele fez e ensinou. Sua encarnação liga-se à sua cruz por meio da kênose, o rebaixamento espontâneo que Ele fez de si mesmo (cf. Fl 2,7), a morte de si que já o ligava à morte de Cruz. Toda sua existência é uma grande pregação, não um poema! A vida de Cristo não é poética. Pelo contrário! Sua vida, sua pregação, sua prática, colocaram em crise os homens de seu tempo! Se as palavras, a pregação, a prática e a cruz de Jesus não coloca em crise nossos valores, pensamentos e atitudes e não nos levam à conversão, então, significa que nada compreendemos ainda!


Sua Cruz é o divisor de águas. Já no início da sua primeira carta aos Coríntios São Paulo esclarece isso: A cruz de Cristo é escândalo para judeus e gregos, ou seja, elemento de distinção e separação das intenções do coração e das escolhas tomadas na vida. Já no início do cristianismo a Cruz separou judeus e cristãos, gregos e cristãos, cristãos e pagãos. Foi a Cruz que alimentou a força e a piedade dos santos Mártires. Foi a cruz que alimentou a esperança cristã e a Santa Missa desde o primeiro século até os dias de hoje! Foi a Santíssima Cruz, patíbulo do sacrifício que foi oferecido pelo Filho, que unida ao sacrifício dos Santos Mártires trouxe luz e esperança a três séculos de perseguição e morte de católicos nos primeiros séculos.


A cruz, portanto, não é arrepio, sentimentalismo, poesia e choro. A cruz é o horror! A cruz é em si mesma um sinal de morte que só se tornou sinal de salvação por causa do Redentor do gênero humano que nela padeceu. A cruz é sinal de que o homem velho precisa morrer! No entanto, a quem apetece morrer? Morrer para os próprios apetites, prazeres, ideias, conceitos, pensamentos?

Por isso a cruz está sendo trocada pela diversão, pelo sentimentalismo, emocionalismo e subjetivismo. A cruz está sendo escondida e mentida, pois, ela é o critério de discernimento da verdadeira vida católica, do verdadeiro culto católico. A cruz é em primeiro lugar um lugar de morte, para depois se tornar um lugar de vida e ressurreição. Se não morrermos como Cristo, não ressuscitaremos como Ele! Não se pode fugir da Cruz, do horror, da morte! Só assim ressuscita-se para a vida eterna! Fujam todos do emocionalismo, do sentimentalismo e do subjetivismo! São como drogas que anuviam a mente, entorpecem os sentidos, embaralham a consciência, conduzem ao erro e à mentira!

A salvação da Igreja está na cruz! Salve Cruz Bendita! "Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus." (1Cor 1,23-24)



Padre Luis Fernando Alves Ferreira
Sacerdote da Diocese de Itumbiara é também Secretário do Conselho Presbiteral da Diocese de Itumbiara, Coordenador Regional de Pastoral e Promotor Vocacional Diocesano.

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