segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Manipular para fazer avançar: o caso do aborto!



Já falamos por aqui uma das estratégias mais abjetas e, ao mesmo tempo, mais eficazes – justamente porque tem suas origens na astúcia do próprio Satanás – que é utilizada para fazer com que uma agenda específica avance. Outros exemplos poderiam ser dados, certamente, observando o mesmo modus operandi em outras áreas e ações. A televisão é a campeã número 1 em fazer esse tipo de joguete: trata-se de manipular as pessoas através de suas emoções, fazendo com que adiram a determinadas manifestações e causas por sentimentalismo.

Precisamos dizer, por mais óbvio que seja, que certo “sentimentalismo” não é ruim em essência. É necessário que nos indignemos com os males do mundo, é necessário que soframos em consonância com Cristo as dores pelas quais o mundo também passa. Isso é, para usar uma palavra da moda, o que popularmente se chama de empatia, que para o Catolicismo ganhará o nome de Caridade. Aquela mesma Caridade que São Paulo vai dizer que é o “vínculo da perfeição” na carta aos Colossenses (3,14) e que dirá ainda em Coríntios (13,13) ser suprema a todas as outras maiores virtudes, permanecendo mesmo após a nossa morte.

Esse tipo de “sentimentalismo” – que, na verdade, é a Caridade, o sofrer por amor as dores de outrem – nunca deixará de ser, inclusive, uma via segura de salvação dos homens, a lei suprema deixada por Nosso Senhor ao dizer que devemos amar incondicionalmente (Jo 13,34). É característica própria dos cristãos, uma maneira imediata de reconhecê-los, como nos mostra o mesmo Cristo (Jo 13,35).

Acontece, entretanto, que os filhos das trevas, os cães de Satanás, não descansam um único segundo de seus intentos malignos e, por malícia e astúcia, sabem se valer das coisas criadas por Deus para perverter os homens. Foi o que aconteceu ontem com o caso da menina de dez anos, estuprada pelo tio desde os seis, que foi levada a fazer o aborto de seu bebê de cinco meses. O caso aconteceu na pequena cidade de São Mateus, no Espírito Santo.

Aqui, não percamos de vista: estamos falando do estupro sistemático de uma menina de dez anos cometido por um familiar. É um crime tão abjeto, uma violência tão inimaginável, que nunca saberemos bem o tanto de sofrimento e dor que essa menina, divulgada apenas como K., passou em sua breve vida. Seu corpo e sua alma foram maculados e profanados de uma maneira indelével, sabemos bem. É o tipo de coisa que brada aos céus por reparação e justiça. Em nenhum momento minimizaremos isso e em nenhum momento deixaremos de lutar para que, na justiça de Deus e na justiça dos homens, o estuprador seja punido devidamente por seus atos.

Pois bem. Sabendo desse caso tão absurdo, movimentos feministas e “pró-escolha” – uma palavra moderninha para “abortista”, “assassino”, “infanticida” ou outras similares – organizaram-se para induzir a criança a cometer o aborto do bebê que crescia em seu ventre. Aproveitaram-se da fragilidade da menina e do caos da situação para transformar o cenário em uma bandeira ideológica muito bem orquestrada, articulada e mascarada. Vamos a uma breve cronologia:

– Procuraram a criança sorrateiramente e incutiram nela que “o que crescia” em sua barriga precisava ser retirado porque era a continuação dos estupros.

– Com a avó da criança, convenceram-na de que o aborto era a melhor solução para que a violência não fosse mais lembrada. Afinal, o bebê vivo seria a recordação perene dos estupros e do estuprador.

– Foram à justiça pedir pela “interrupção da gravidez” (um eufemismo mesquinho e demoníaco para aborto) alegando que era o que a menina queria.

– Internaram a criança para o procedimento do aborto no Espírito Santo, alegando que era uma questão de saúde e que a menina de dez anos poderia sofrer, dentre outras coisas, de diabetes gestacional. Alegavam ainda que corria severo risco de morte porque poderia desenvolver diabetes gestacional.

– Na opinião pública, igualmente serva de Satanás, começaram uma campanha de mobilização para o caso, acompanhando cada passo da história.

Até aqui, já é possível perceber claramente a estratégia implantada. Basta seguir o fio do novelo:

– Que criança de dez anos tem consciência para compreender o que é um aborto, quais as suas consequências, qual o procedimento a ser realizado e o que mais está envolvido em todo o processo? Mais do que isso, que criança de dez anos ESTUPRADA durante quatro anos pode responder a isso?

– Que avó, ao saber que seu filho estuprou a própria sobrinha durante anos e que agora ela engravidou, não ficaria transtornada com a notícia? Nesse quadro, qual o grau de consciência e raciocínio em que ela está para decidir algo tão grave?

– Que juiz – compreendendo ainda a atual formação marxista de nossas universidades – não ficaria “comovido” com o caso e não aceitaria os pedidos dos advogados pelo aborto? Afinal, o juiz seria o único nesse caso que poderia dar “um fim” a toda a dor.

– E, por fim, o mais importante: que homem ou mulher poderia ter conhecimento de todo o caso e não ficar indignado com tudo o que aconteceu? Não sofrer junto com essa menina, por “empatia”? Seria necessário ser algum psicopata para não se compadecer da menina. 

É aí que começa o “jogo”. Apoiados naquele sentimentalismo que dissemos antes, manipulando os sentimentos das pessoas e sua justa indignação com o caso, os abortistas começam uma campanha sistemática para convencer a todos de que o aborto é o único modo de reparar o mal praticado. Foram da menina à avó, da avó aos juízes, dos juízes aos médicos. Foram, como passo mais ousado, atrás da população. Escolheram as palavras, criaram o cenário, cuidaram dos detalhes e montaram a narrativa: o aborto era a única forma de fazer justiça para a pobre menina.

Repetimos: a narrativa foi muito bem planejada, orquestrada e executada. Não se anteciparam, não meteram os pés pelas mãos, não se precipitaram. Souberam dar os passos nos momentos corretos de acordo com sua estratégia. Como convencer os juízes se a avó e a criança não fossem convencidas antes? Como dar respaldo aos médicos sem antes terem conseguido autorização judicial? Conseguem compreender a sordidez do planejamento da morte?

Qualquer argumento favorável ao aborto, por mais aparentemente elaborado que seja, não é mais do que retórica, manipulação, falácia ou joguete de linguagem. Nada, absolutamente nada, sob nenhuma hipótese, poderia justificar a barbaridade do aborto. Para não alongarmos muito o texto, comentaremos apenas um dos argumentos utilizados pelos abortistas: o de que estavam fazendo tudo pelo bem da menina.

O bebê no ventre tinha já cinco meses. Nessa idade, muitos outros bebês prematuros ou prematuros extremos sobrevivem, ainda que demandem muitos cuidados e recursos – e, claro, nenhum recurso pode ser anteposto à dignidade de uma vida. O bebê estava saudável, com peso e idade superior à já iníqua lei que permite o aborto em determinados casos. Dizendo em outras palavras, o bebê, em pouco tempo, nasceria de maneira habitual e saudável. Não havia nenhum indício em contrário.

Ao passar pelo procedimento do aborto, ao menos três pontos chamam a atenção de maneira imediata: K. passou por um processo psicologicamente desgastante ao extremo, terá de retirar cirurgicamente os restos de seu bebê e ainda lidar com as consequências do aborto.

Alguém consegue imaginar o que se passa na cabeça e no coração de uma menina de dez anos, estuprada, vulnerável, fragilizada, que passa por meses de tentativas de movimentos abortistas para convencê-la a realizar o aborto, que vê sua história virando notícia em todo o mundo e que peregrina de hospital em hospital, mudando até de estado, para realizar o procedimento de morte?

Alguém consegue imaginar o que se passa na cabeça e no coração de uma menina de dez anos, estuprada, vulnerável, fragilizada, que é obrigada a injetar veneno no coração de seu bebê para matá-lo, passar por um procedimento de indução ao parto (e por toda a dor que um parto possui), por outros procedimentos de raspagem, curetagem, limpeza e outros para retirar dela um bebê saudável de cinco meses?

Alguém consegue imaginar o que se passa na cabeça e no coração de uma menina de dez anos, estuprada, vulnerável, fragilizada, e que ainda terá de conviver pelo resto da vida com os traumas de todo o processo do aborto e do circo midiático em que foi inserida? Isso, ainda, sem esquecer o trauma já existente dos estupros.

Ao fim, assim como manipularam os sentimentos das pessoas para trazer a opinião pública para o lado favorável à morte, manipularam a menina e sua dor para que ela servisse como objeto de promoção do aborto no Brasil. Usaram a menina e sua triste história para avançar um passo a mais na legalização do aborto, no convencimento popular de que o aborto é uma saída e de que não é moralmente condenável realizá-lo porque ele foi feito “pensando no melhor para a vítima”.

Do estuprador, nenhuma palavra foi dita por esses movimentos. Da captura, julgamento e condenação do estuprador, nenhum juiz manifestou nada. Dos valorosos médicos do Espírito Santo que inicialmente se negaram a realizar o aborto, ficará apenas uma vaga lembrança, assim como dos valorosos católicos que foram para a porta do hospital rezar o terço e manifestar a justa indignação com o caso.

Ontem foi dia de perder uma batalha. Dolorosamente, nada pudemos fazer. O que nos resta agora, e que é possível fazermos, é apontar a estratégia utilizada pelos servos do inferno para que ela não se repita nunca mais. E, claro, rezar: algo assim não passa desapercebido por Deus.


Por Jefferson Evaristo
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Centro Dom Bosco

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