segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Carta aberta ao Arcebispo de São Luís, Dom Belisário, sobre encontro arquidiocesano para Trabalhar o Protagonismo da Mulher


“Havendo perigo próximo para a fé, os prelados devem ser arguidos, até mesmo publicamente, pelos súditos. Assim, São Paulo, que era súdito de São Pedro, arguiu-o publicamente, em razão de um perigo iminente de escândalo em matéria de Fé. E, como diz a Glosa de Santo Ambrósio, ‘o próprio São Pedro deu o exemplo aos que governam, a fim de que estes afastando-se alguma vez do bom caminho, não recusassem como indigna uma correção vinda mesmo de seus súditos’ (ad. Gal. 2, 14)” (Suma Teológica, II – IIae, 33, 4, 2).

Reverendíssimo Senhor Arcebispo de São Luís, Dom José Belisário da Silva,

Tomo a liberdade de me dirigir a V. Exa. – em carta aberta, pois tratarei de assunto de grande interesse a todos os católicos – com o propósito de expor algumas considerações em face do insólito Encontro Arquidiocesano de Base para Trabalhar o Protagonismo da Mulher, a se realizar, de 18 a 20 de janeiro próximo, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Anil.

Sabe muito bem V. Exa. Revma., sobretudo por vossa alta dignidade de Bispo da Igreja, que atualmente um dos maiores inimigos do que restou de Civilização Cristã, senão o maior, é a tão propalada ideologia de gênero, através da qual elementos de índole claramente marxista, ou comuno-progressista, com o amplo apoio dos meios de comunicação e de grupos financiados por fundações internacionalistas, procuram difundir a falácia segundo a qual a identidade sexual não se pauta por critérios biológicos, senão enquanto construção social, dependente única e exclusivamente do livre arbítrio individual.

Sabe também V. Exa. que outra das mais sérias ameaças ao nosso modo de vida cristão é, inegavelmente, o feminismo, que não pretende, como tão difundindo pela chamada grande mídia, elevar a “autoestima das mulheres”, defendendo-as das agressões físicas e psicológicas que podem porventura sofrer, quer da parte de estranhos, quer de familiares – mas, lançando mão de um discurso de ódio, acaba por lançá-las numa guerra desnecessária e absurda contra o gênero masculino, criando um clima em tudo avesso ao ambiente de harmonia e cordialidade muito próprio de nossos costumes ibéricos e católicos.

Dito isto, convém dizer que o estranhíssimo Encontro Arquidiocesano de Base para Trabalhar o Protagonismo da Mulher, organizado pela Pastoral da Juventude da Arquidiocese de São Luís, tal como eu mesmo pude verificar de seu anúncio nas redes sociais, apresenta linguagem e forma no mínimo inadequadas, para não dizer incompatíveis, em face do ensinamento de sempre da Santa Igreja, Mãe e Mestra de vida e sabedoria, cuja missão, conferida pelo próprio Cristo, é, como fundamento de uma comunidade política virtuosa, de pessoas essencialmente iguais e acidentalmente diferentes, oferecer os meios necessários sem os quais ninguém poderá alcançar o seu fim último, a saber: a Bem-Aventurança Eterna.

Causou-me particular apreensão que os termos utilizados na apresentação do evento tenham evitado referir-se aos gêneros masculino e feminino, como que a endossar veladamente as teses anticatólicas da ideologia de gênero e sugerindo que não há sexos biologicamente constituídos, o que equivaleria a dizer que a própria Criação, tal como ordenada por Deus, contém erros.

Nada teria, evidentemente, qualquer pessoa de boa vontade a apontar de contrário à nossa fé em evento destinado à formação de mulheres conscientes de sua condição de mães, filhas, cidadãs, com um papel social e moral de suma importância a desempenhar, tendo Nossa Senhora Virgem Santíssima como modelo a ser imitado. Especulo se seria esse o intuito, e não outro, do tal Encontro… idealizado pela Pastoral da Juventude de São Luís, atrelada à nossa veneranda Arquidiocese.
Minha perplexidade – e, digo-vos com franqueza, indignação – só fazem aumentar quando me lembro que, trabalhando, em fins de 2016, no projeto do que seria o I Encontro Maranhense Pró-Vida, a se realizar ainda no primeiro semestre de 2017, com a presença de personalidades marcantes – que já haviam sido convidadas –, a exemplo do prof. Felipe Aquino, do Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior e do meu querido amigo e editado dr. Ives Gandra da Silva Martins, fui informado, por pessoa cujo nome acho melhor não revelar, que a reação de V. Exa. foi a mais negativa possível, chamando-nos de “reacionários” e outros epítetos que não deixariam nada a dever ao tratamento dispensado pela esquerda mais revolucionária aos cristãos. Como consequência, o que seria o I Encontro Maranhense Pró-Vida não se realizou, não obstante a minha vontade em contrário, por entender, amparado no Código de Direito Canônico, que não precisaríamos da autorização do Arcebispo para tal.

A mentalidade modernista a que V. Exa. deu provas de possuir – esse mesmo modernismo tão justa e duramente condenado por São Pio X, na extraordinária e nunca assaz lida encíclica Pascendi Dominici Gregis (1907), como “a síntese de todas as heresias” –, ao menos em parte, parece também influenciar S. Exa. Revma., Dom Esmeraldo Barreto Farias, Bispo Auxiliar de São Luís, pelo episódio deplorável que vos conto a seguir: ao ser padrinho de Crisma de um queridíssimo amigo meu, pude presenciar S. Exa., Dom Esmeraldo – com o qual havíamos conversado cordialmente antes da Missa –, recusar-se a dar a comunhão a esse meu amigo, exigindo que ele recebesse a Eucaristia de pé; com a corajosa e respeitosa persistência do meu bom amigo em receber a comunhão de joelhos e na boca, Dom Esmeraldo, visivelmente contrafeito, deu por fim a comunhão.

Não quero, ao rememorar episódios tão pouco edificantes, lançar qualquer animosidade contra V. Exa. Com a gravidade da situação, porém, não me restou senão outra alternativa que tornar pública a minha profunda indignação – que é a de vários outros católicos, conhecidos meus ou não – em face dos absurdos cometidos por numerosos membros do clero. Deus me julgará.

Pelo exposto, em meu nome e em nome de inúmeros outros católicos, solicito com urgência esclarecimentos a respeito do supracitado Encontro Arquidiocesano de Base para Trabalhar o Protagonismo da Mulher.

Imagino que não incorro no pecado capital da soberba em afirmar – sem me considerar nada além do que sou, valendo-me da lição imortal de Santa Teresinha do Menino Jesus, para quem “a humildade é a verdade” – que trago estas considerações na condição de um católico – tão pecador quanto qualquer outro – que já deu mostras de seu compromisso com a Igreja, o Maranhão e o Brasil, na condição de editor, empresário, jornalista, conferencista, estudioso da história pátria, de vida pública tão ainda curta quanto já honrada e fecunda. Laus Deo.


José Lorêdo de Souza Filho
Cavaleiro da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém
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Disponível em: Juventude Conservadora UFMA

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