sexta-feira, 18 de março de 2016

Em meio à turbulência política, Leonardo Boff lança carta de apoio a Lula

 
Conhecido pelos seus trabalhos sobre a Teologia Marxista da Libertação, o autor Leonardo Boff, que em ocasiões definiu-se como “ecoteólogo de matriz católica”, escreveu na quarta-feira, 16, no Jornal do Brasil, uma coluna dedicada a prestar solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acaba de tomar posse como ministro apesar dos protestos contra sua nomeação que ocorrem em Brasília e outras cidades do Brasil e a grande marcha deste 13 de Março que levou mais de 3 milhões de brasileiros às ruas pedindo a saída da presidente Dilma. Junto à sua missiva está uma outra carta aberta em italiano de apoio a Lula assinada por intelectuais da esquerda de diversos países e pelo Partito della Rifondazione Comunista, o partido comunista italiano.

“Lula, quer gostemos ou não, se tornou um ícone de um político que pensou nos pobres do mundo, primeiro do Brasil e depois da África. No interior da macroeconomia capitalista imposta ao mundo todo, conseguiu cavar espaços ou abrir cunhas que permitissem a inclusão de toda uma Argentina na cidadania, tirando-os daquilo que Gandhi chamava de ‘a forma mais aviltante e assassina que existe que é a fome’. E ainda inaugurou políticas sociais que resgataram a dignidade dos ofendidos e humilhados”, escreve Leonardo Boff.

“Esse dado de puro humanitarismo granjeou-lhe o reconhecimento (sic) internacional. Esta lista de notáveis do mundo inteiro reconhece esse fato e ao mesmo mostra a estreanheza (sic) e até a indignação de grupos que vem da velha ordem, filhos da Casa Grande e seus aliados, que não visam a discutir politicamente projetos, ideias e visões generosas do mundo, mas destruir a liderança de Lula e destruí-lo como pessoa no intento de voltar ao poder central que nunca se importou com a sorte de milhões de cidadãos relegados à marginalidade, à pobreza e à morte prematura”, prossegue.

A carta de Boff chega em um momento de intensa turbulência em Brasília, dado que além das manifestações contra o Partido dos Trabalhadores e a nomeação de Lula como Ministro-Chefe da Casa Civil, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, autorizou a divulgação de grampos telefônicos com conversas do ex-presidente com outras figuras da política, incluindo a Presidente da República, Dilma Rousseff, sob a interpretação de que tais comunicações poderiam ser tentativas do ex-presidente de livrar-se das investigações da operação Lava-Jato. Alegando que Lula não tinha foro privilegiado na ocasião e poderia ser investigado como cidadão comum, o juiz federal liberou o conteúdo das conversas horas antes de que o Diário Oficial da União anunciasse Lula como ministro.

As gravações rapidamente chegaram à imprensa, complicando a situação já difícil da presidente da República, que poderia ser alvo de um processo de Impeachment, o qual já teve seu rito determinado pelo STF e poderia começar a tramitar em breve na Câmara dos Deputados.

Segundo Boff, grupos e indivíduos contrários à nomeação de Lula, “são inimigos da vida, da justiça sicietária (sic) e do povo. Mas – prossegue – a história não tolera para sempre uma sociedade montade (sic) sobre a insensibilidade, a falta de humanidade e de coração. Ela possui, como pensavam os filósofos gregos, o seu “logos” interno, o sentido sagrado das coisas que mais cedo ou mais tarde acabará por impor-se e condenar à irrisão os seus negadores”.

“É o que esperamos e estamos seguros de que história não nos defraudará. Lula pertence a esse lado luminoso da realidade, reconhecido pelos notáveis do mundo e que subscrevem (sic) esta carta de apoio”, conclui Boff, um dos mais notáveis nomes da Teologia da Libertação, que já foi condenada pelos Papas João Paulo II e Bento XVI, e que o Papa Francisco jamais apoiou.

Quem afirma o rechaço do Papa à teologia de Boff é seu irmão Clodovis, hoje crítico desta proposta, em um artigo publicado pelo reconhecido vaticanista Sandro Magister. Segundo Magister, Clodovis Boff sustenta a tese de que o acontecimento que significou “o adeus da Igreja Católica latino-americana ao que restava da teologia da libertação” foi a Conferência Continental de Aparecida, no ano de 2007, inaugurada por Bento XVI e que teve como protagonista, o então cardeal Bergoglio.

A carta em italiano assinada por mais de uma dezena de pensadores da esquerda internacional e com o apoio do Partito della Rifondazione Comunista italiano, afirma que o ex-presidente sofre um “massacre contra sua reputação”, e uma “caça” por parte das autoridades da Polícia Federal que levaram adiante uma condução coercitiva do agora ministro para prestar depoimento em São Paulo. Segundo a carta, juristas brasileiros de fama internacional e um ministro do STF, consideraram o fato uma violação da Constituição.

Considerando Lula como uma referência histórica e um legado digno de pertencer “ao patrimônio inestimável’ da humanidade, a carta aberta, publicada também no dia 16 de março pelo JB, pede que as autoridades brasileiras ponham fim à perseguição ao presidente, sua família e colaboradores, e acabe com a violação de direitos que sofre o ex-mandatário.
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ACI Digital

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