terça-feira, 3 de junho de 2014

Sem palmas na missa por favor!


Olá caro leitores, eu como tinha prometido nas redes sociais estou preparando dois artigos um sobre as “Cruzadas” e outro sobre a “Teologia da Libertação” mas um assunto foi muito colocado esta semana em minhas mãos sobre a polêmica das palmas na santa missa; antes de qualquer coisa quero dizer que ao contrário do que eu faço rotineiramente eu procurarei neste artigo usar de reflexões não somente minhas, mas também de pessoas do clero, que darão mais credibilidade do que um simples “leigo” que sou, sempre baseio minhas reflexões nas sólidas doutrinas da Igreja, mas hoje deixarei escancarado isso, então espero que leiam e se aprofundem.
 
Sacralidade Histórica

A santa missa desde de o cristianismo primitivo, na teologia católica ela teve um único e específico sentido, que é reviver o sacrifício do calvário, nas palavras do mais renomado Biblista católico Scott Hahn: “Era a Eucaristia: a representação do sacrifício de Jesus Cristo, a refeição sacramental em que os Cristãos consumiam o corpo e o sangue de Jesus.” (Hahn, 2011. P 37), creio que até aqui não haja desavenças de opiniões, até porque se houver já estamos no âmbito da heresia, mas enfim, continuemos, sendo assim a igreja desde seus primórdios viu que se necessitava de uma certa “sacralidade” quando havia a eucaristia envolvido, afinal não era mero simbolismo, ou teatro mas sim o verdadeiro sacrifício de Jesus. A verdade é que os primeiros cristãos já tinha esta visão de que a eucaristia é sacrifício de Jesus, isto é um fato para os teólogos, é óbvio que cada um vivia a sacralidade que lhe era próprio de seu tempo, os primeiros cristãos não havia paramentos de ouro, nem vestes tecidas a linho nobre, pois eram perseguidos e não eram de poder aquisitivo elevado em sua maioria, mas havia o respeito único e primordial com o corpo de Cristo, é com certeza a contemplação algo típico dos primeiros cristãos, até por que os judeus em seus ritos previam regras quase que super-sacras, ao ponto de somente o sumo sacerdote ter contato com os “santo dos santos” prevendo um respeito divino para com os ritos. Chegando à idade média a Igreja se viu envolta de beleza, e presentes de reinos cristãos, presentes estes como ouro, terras, obras de artes e até catedrais feitas por reis em honra a suas devoções pessoais, através desta riqueza podendo assim elevar a eucaristia ainda mais ao nível de sagrado, agora adornando Jesus como um rei (Ap 1, 5), muito merecido dado as discrições do livro do apocalipse; para Scott Hahn e para a Igreja o apocalipse é a chave para compreensão da missa, e na missa vemos toda soberania descrita no apocalipse, Jesus como Rei, nossa Senhora como Rainha, os santos ao redor do cordeiro, os sete candelabros de ouro (Ap1, 12) até as vestes do sacerdote (Ap 1, 13).

Você deve estar se perguntando mais o que tudo isso tem a ver com as palmas? Ora, tem tudo a ver, a missa tem dois princípios básicos quanto ao rito eucarístico, ela é o sacrifício de Jesus, e ela é solene pois representa o celeste, a céu na terra, ai vamos para o segundo tópico, sobre a essência da santa missa.


Missa e sua essência

A santa missa foi feita em para ser reflexiva e não festiva, foi feito para revivermos o dia do sacrifício, “0 mistério eucarístico disjunto da própria natureza sacrifical e sacramental deixa simplesmente de ser tal” (João Paulo II, 1980) este é o sentido mais intrínseco de sagrado e sacralidade Cristã, não supõe nem danças, palmas ou músicas que não contem melodias sacramentais, isto pode ser duro de ler para algumas pessoas, mas a essência da missa, não é festiva e sim reflexiva de alto grau de interioridade; diante da Cruz de Cristo ninguém mais bateu palmas a não ser os assassinos de Cristo.

Para dar mais credibilidade a minha fala, vamos ver o que Papa Bento XVI ainda como Cardeal Joseph Ratzinger disse:

“A dança não é uma forma de expressão cristã”. Já no século III, os círculos gnóstico-docéticos [portanto, uma Heresia!] tentaram introduzi-la na Liturgia. Eles consideravam a crucificação apenas como uma aparência: segundo eles, Cristo nunca abandonou o corpo, porque nunca chegou a encarnar antes da sua paixão; consequentemente, a dança podia ocupar o lugar da Liturgia da Cruz, tendo a cruz sido apenas uma aparência. As danças culturais das diversas religiões são orientadas de maneiras variadas – invocação, magia analógica, êxtase místico; porém, nenhuma dessas formas corresponde à orientação interior da Liturgia do “Sacrifício da Palavra”. É totalmente absurdo – na tentativa de tornar a Liturgia “mais atraente” – recorrer a espetáculos de pantomimas de dança – possivelmente com grupos profissionais – que, muitas vezes (e do ponto de vista do seu desígnio com razão), terminam em aplauso. Sempre que haja aplauso pelos atos humanos na Liturgia, é sinal de que a natureza se perdeu inteiramente, tendo sido substituída por diversão de gênero religioso. [...] A Liturgia só pode atrair pessoas olhando para Deus e não para ela própria; deixando-O ingressar e agir.” (Ratzinger, 2010. P 146 – 147, grifos meus).


A missa não suporta palmas, danças, shows, músicas, como solos de guitarras ou baterias de shows de rock ou ritmos profanos que sejam, ao passar do tempo pós concílio Vaticano II, tivemos uma grande influência pentecostal protestante nos movimentos carismáticos católicos, principalmente nas décadas de 70 à 90, em que não se previa tanto o uso reflexivo da razão para se amadurecer a fé, mas sim exaltar a emoção e por vezes até o extremo emocionalismo, e outra influência grande pós concilio Vaticano II foi o advento da teologia da libertação, também principalmente nas décadas de 70 à 90, que quis fazer da liturgia um convívio social destituído da hierarquia divina e trazer o transcendente para um mísero agir social imanente, ou um convívio de amigos que o que menos importava era a eucaristia como sendo o próprio Deus. Neste pano de fundo houve duas grandes deformações no campo eucarístico, a primeira foi a exaltação exacerbada da emoção e a quebra do silêncio reflexivo para se ter orações de cunho emotivas, muitas vezes tirando a atenção de Deus e colocando na forma de oração pentecostal; e a segunda deformação do espírito eucarístico provido pela Teologia da Libertação, foi o desprezo para com o sagrado, a queda do sentido de obediência e respeito para com a eucaristia e a liturgia, a destruição para com o seu significado  sacrificial singular para os católicos, a missa se tornou uma rotina superficial, ou encontros sociais, mas menos o comungar do Deus vivo e sacrificado no altar.

As palmas não são litúrgicas

As palmas distraem, retira o momento solene de sacralidade e dispersa a atenção que deveria ser única e exclusiva a Deus para uma convenção social em massa (salva de palmas, ou danças). Bom, se você procura ser inteiramente fiel à Igreja e suas diretrizes, eis mais um motivo, o Missal não prevê palmas, logo se não prevê é porque não havia de se ter palmas na missa, o Missal é um “manual de missa” em que tudo que se refere à missa esta ali. Usando da lógica, se o que se vive no altar da santa missa é o sacrifício de Jesus, qual o sentido das palmas? Para quem quer argumentar que na missa africana existe a dança como algo previsto pelo Missal, o Cardeal Francis Arinze (Cardeal da Nigéria) fala sobre isso:

“As pessoas que estão discutindo dança litúrgica deveriam usar o seu tempo rezando o Rosário, ou (…) lendo um dos documentos do Papa sobre a Sagrada Eucaristia. Nós já temos problemas suficientes. Por que banalizar mais? Por que dessacralizar mais? Já não temos confusão suficiente?” (fonte, Grifos meus);

para finalizar as palavras de um Bispo brasileiro, Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, Bispo auxiliar de Niterói:

“Porque bater palmas é um gesto que dispersa e distrai das finalidades da missa gerando um clima emocional que faz passar a assembleia de povo sacerdotal orante à massa de torcedores, inviabilizando o recolhimento interior.” (fonte),

“Roma Locuta, Causa fina est” = “Roma falou, Caso encerrado” (Santo Agostinho), e ponto final.

Frase que marca

“A liturgia não vive de surpresas simpáticas, de invenções cativantes, mas de repetições solenes. Não deve exprimir a atualidade e o seu efêmero, mas o mistério do Sagrado.” (Bento XVI, comentário a Carta Apostólica Domenica Caena)

Bibliografia:

HANH, Scott. O banquete do Cordeiro. 5º Edição. Edições Loyola: Ipiranga, SP
RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da Liturgia. 3ª Edição. Paulinas: Prior Velho, Portugal.
Biblia Ave Maria, Edições de estudos. 3º Edição. Editora Ave Maria. São Paulo
PAULO II, João. Carta Apostólica Domenica Caena, 24/02/1980
http://ocatequista.com.br/archives/5571#sthash.QuKGAtCc.dpuf, acessado em: 31/05/2014., acessado em: 31/05/2014.


Disponível: Pro Ecclesia Catholica

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