sexta-feira, 17 de junho de 2016

Nós que somos filhos de Deus, conservemo-nos na paz de Deus


O Senhor acrescenta uma condição, que é ao mesmo tempo um mandamento e uma promessa: devemos pedir o perdão dos nossos pecados na medida em que perdoamos a quem nos ofendeu, conscientes de que é impossível alcançar o perdão para as nossas culpas, se não o concedemos àqueles que nos tenham ofendido. Por isso diz também noutro lugar: Com a medida com que medirdes vos será medido. Aquele servo a quem o seu senhor tinha perdoado toda a dívida, foi apesar disso metido no cárcere porque não quis perdoar ao seu companheiro. Por recusar indulgência ao seu companheiro, perdeu a indulgência que tinha obtido do seu senhor.

Cristo volta ainda a insistir nisto mesmo, com maior força e energia, quando nos manda severamente: Quando estiverdes em oração, perdoai se tiverdes alguma coisa contra alguém, para que o vosso Pai que está no Céu vos perdoe os vossos pecados. Se porém, não perdoardes, também o vosso Pai que está no Céu vos não perdoará os vossos pecados. Nenhuma desculpa terás no dia de juízo, porque serás julgado segundo a tua própria sentença e serás tratado segundo o teu modo de proceder.

Deus quer que sejamos homens de paz e concórdia, unânimes em sua casa, e que perseveremos na nossa condição de renascidos para uma vida nova: se somos filhos de Deus, conservemo-nos na paz de Deus, e se temos um só Espírito, tenhamos também um só coração e uma só alma.

Por isso Deus não aceita o sacrifício do que vive em discórdia e manda-o retirar-se do altar para ir primeiro reconciliar-se com seu irmão, porque só as orações de um coração pacífico poderão obter a reconciliação com Deus. O sacrifício mais agradável a Deus é a nossa paz e a concórdia fraterna e um povo cuja união seja um reflexo da unidade que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Também naqueles primeiros sacrifícios que ofereceram Abel e Caim, Deus não olhava para as suas ofertas, mas para os seus corações; por isso aceitou a oferta daquele que a apresentava de coração sincero. Abel, pacífico e justo, oferecendo a Deus um sacrifício irrepreensível, ensina os homens que, ao aproximarem-se do altar para apresentar a sua oferta, devem fazê-lo com temor de Deus, com simplicidade de coração, com a lei da justiça, com a paz da concórdia. Com razão Abel, depois de ter apresentado a Deus um sacrifício perfeito, converteu-se ele próprio em sacrifício a Deus. Deste modo, como primeiro mártir, iniciou com a glória do seu sangue a paixão do Senhor, porque manifestou a justiça e a paz do Senhor. Aqueles que o imitam serão coroados pelo Senhor e no dia do juízo serão glorificados com o Senhor.

Ao contrário, o que vive na dissensão e discórdia e não tem paz com seus irmãos, segundo o testemunho do bem-aventurado Apóstolo e da Sagrada Escritura, não escapará à acusação de ser fautor da discórdia, ainda que sofra a morte pelo nome de Cristo, como está escrito: O que odeia o seu irmão é homicida; e o homicida não poderá entrar no reino dos Céus nem viver com Deus. Não poderá viver com Cristo aquele que preferiu ser imitador de Judas a ser imitador de Cristo.


Do Tratado de São Cipriano, bispo e mártir, sobre a Oração Dominical (Nn. 23-24: CSEL 3, 284-285) (Sec. III)

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