quinta-feira, 30 de junho de 2016

Irei ao tabernáculo admirável


Como suspira o veado pelas correntes das águas, assim minha alma suspira por Vós, Senhor. Assim como aqueles veados suspiram pelas correntes das águas, também os nossos veados, ao fugirem do Egito e do mundo, aniquilaram nas águas do baptismo o Faraó com todo o seu exército. E depois de destruírem o poder do demónio, buscam as fontes da Igreja, que são o Pai e o Filho e o Espírito Santo.

Que o Pai seja fonte, está escrito em Jeremias: Abandonaram-Me a Mim, fonte de águas vivas, e escavaram para si cisternas, cisternas rotas que não podem conservar a água. Sobre o Filho, lemos noutro lugar: Abandonaram a fonte da sabedoria. Finalmente sobre o Espírito Santo: Se alguém beber da água que Eu lhe der, nascerá nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna. E o Evangelista explica, logo a seguir, que as palavras do Salvador se referiam ao Espírito Santo. As passagens citadas provam claramente que as três fontes da Igreja são o mistério da Trindade.

Busca estas fontes a alma do crente, por elas suspira a alma do batizado, dizendo: A minha alma tem sede de Deus, fonte viva. Não se trata de um simples desejo de ver a Deus, mas de um desejo ardente, de uma sede abrasadora. Antes de receberem o baptismo, falavam uns com os outros e diziam: Quando irei contemplar a face de Deus? Agora conseguiram o que desejavam: vieram à presença de Deus, aproximaram-se do altar e do mistério do Salvador.

Admitidos a formar parte do Corpo de Cristo e regenerados na fonte da vida, podem dizer, cheios de confiança: Irei ao tabernáculo admirável, à casa de Deus. A casa de Deus é a Igreja, seu tabernáculo admirável, porque nele ressoam as vozes de louvor e de alegria, da multidão em festa. Vós que acabais de revestir-vos de Cristo e que, seguindo a nossa orientação, pela palavra de Deus fostes tirados do mar deste mundo como peixes com o anzol, dizei: Em nós mudou-se a ordem natural das coisas. Porque os peixes tirados do mar morrem; a nós, porém, os Apóstolos tiraram-nos do mar deste mundo e pescaram-nos para que passássemos da morte à vida. Enquanto vivíamos no mundo, os nossos olhos olhavam para o fundo do abismo e a nossa vida arrastava-se no pântano; mas depois que fomos tirados das ondas, começámos a ver o sol, começámos a contemplar a verdadeira luz e, inebriados de alegria, dissemos à nossa alma: Espera em Deus: ainda O hei de louvar, meu Salvador e meu Deus.    


Homilia de São Jerónimo, presbítero, aos neófitos, sobre o Salmo 41
(CCL 78, 542-544) (Sec. V)

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