quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Homilética: 2º Domingo do Advento - Ano C: "Preparar-se para a vinda do Senhor".


O homem muitas vezes põe a sua confiança nos próprios projetos de felicidade. Por isso, opõe resistência ao encontro com a salvação oferecida por Deus. Tal resistência pode durar algum tempo mas, no fim, o homem acabará certamente por se deixar conquistar e preparar para O acolher.


O tempo do Advento recorda-nos que o Senhor continua a vir para realizar esta obra. Que fazer, então, para O acolher? A liturgia da Palavra deste domingo aponta-nos o caminho. Procuremos escutá-la com atenção e, no íntimo do coração, peçamos perdão ao Senhor pelas ocasiões em que recusamos acolhê-l’O.

Preparar o caminho do Senhor é o centro do anúncio de João Batista. A conversão exige empenho pessoal, mas ela é impulsionada por Deus, que é capaz de realizar em nós a mais profunda transformação. Essa transformação tem como ponto central a vivência sempre crescente do amor.

Comentário dos textos bíblicos

Evangelho (Lc 3,1-6)

O texto do evangelho tematiza a missão do Batista. A referência à história profana, com a qual a narrativa se inicia (v. 1-2a), não é sem significado. A história não é estranha ao agir de Deus. Deus age nela e através dela. Considerando-a atentamente, portanto, pode-se destrinchar, de modo mais ou menos evidente, a providência e o domínio absoluto de Deus. A história humana, porém, por si mesma é ambígua e só pode ser avaliada na profundidade à luz de Deus. Por isso, Deus envia sua Palavra (v. 2b). João Batista é apresentado como um profeta, a quem foi dirigida a Palavra de Deus (cf. Os 1,1). É essa, e só essa Palavra que ele transmitirá.

O conteúdo dessa Palavra é o “batismo de conversão para a remissão dos pecados” (v. 3). Trata-se de uma imersão ritual para significar a prontidão para a conversão (cf. v. 8.10-14), para a reestruturação da vida conforme as exigências de Deus. Converter-se não é somente mudar de rumo, mas andar em sentido contrário ao escolhido até então, retornando ao Senhor do qual se estava afastado. Como fruto da conversão, está a remissão dos pecados. A “conversão para a remissão dos pecados” é uma frase muito utilizada por Lucas para falar da obra salvífica de Jesus; é um modo sintético de apresentá-la (cf. Lc 24,47; At 2,38; 10,43; 26,17-18). O ministério de João Batista prepara a obra de Jesus, predispondo seus ouvintes a acolhê-la.

A missão de preparar o caminho do Senhor (v. 4; cf. 1,16-17.76-77) é apresentada pela citação de Isaías. Em Is 40,3-5, o Senhor virá para fazer retornar os judeus de Babilônia à sua terra. Ele mesmo os conduzirá e sua vinda coincide com a salvação esperada. Para isso, é necessário abrir os acessos, retirar os obstáculos (v. 4b-5). O caminho a ser preparado é o próprio coração, a própria consciência, a própria vida. Isso anuncia João Batista, à luz do que Deus lhe falou. Onde alguém ouve a Palavra de Deus e se deixa interpelar por ela, ali começa uma missão salvífica para este mundo. Por meio dessa pessoa, Deus opera.

A Palavra de Deus é proclamada no deserto (v. 4a). O deserto é lugar de solidão, de instabilidade, de falta de segurança. É onde, vazia de tudo, a pessoa só pode contar com o auxílio de Deus. Ao mesmo tempo (e por esse fato), é lugar do encontro “face a face” com Deus, sem subterfúgios. É o lugar onde Deus fala e, no silêncio, pode-se fazer ouvir. A partir desse encontro pessoal, é lugar do início de nova relação de comunhão (cf. Os 2,16).

A mensagem de João Batista é, na perspectiva de Lucas, endereçada não somente aos judeus, mas também aos pagãos (v. 6). “Ver a salvação” é experimentá-la realmente; isso ocorre se o caminho foi preparado. A conversão e a consequente salvação são, assim, respectivamente, chamado e oferta de Deus a todo ser humano. Já não há nenhum privilégio religioso: judeus e pagãos estão na mesma condição de destinatários da salvação.

Advento é ir ao encontro do Senhor que vem como salvador, que pede e deseja nosso retorno a ele, para o encontrarmos no deserto da vida e, face a face, sempre de novo, entrarmos em comunhão com ele. É tempo de preparação do caminho de nossas consciências para o Senhor que veio, vem a cada momento e virá. 

I leitura (Br 5,1-9)

O texto de Br 5,1-9 pertence à quarta parte do livro de Baruc (4,5-5,9), que contém súplicas de Jerusalém a Deus pelo perdão e pela libertação dos exilados na Babilônia (4,5-29), às quais se seguem duas palavras proféticas que prometem a restauração da cidade santa (4,30-37; 5,1-9). O texto da liturgia de hoje corresponde à segunda palavra profética. São palavras de consolo, que descrevem a glória da Jerusalém restaurada e a volta jubilosa dos exilados.

A primeira parte do texto (v. 1-4) apresenta a mudança da sorte de Jerusalém (do exílio babilônico para a volta à terra). A transformação aparece primeiramente em duas imagens: tirar os sinais de luto e vestir os sinais da glória. Glória é uma realidade própria de Deus que transparece no mundo criado e na história: é a santidade de Deus tornada visível (cf. Sl 18/19,2: “os céus narram a glória de Deus”). Que Jerusalém se revestirá de glória significa, assim, que a santidade de Deus se manifestará tão plenamente na cidade eleita, que, por meio dela, será contemplado algo da santidade de Deus. Deus faz Jerusalém participar de sua própria santidade. Essa realidade é retomada na imagem do “manto de justiça”. Justiça, no Antigo Testamento, é, em última instância, a correspondência entre uma realidade e sua medida. Vestir o manto de justiça indica então que Israel corresponderá totalmente à medida que Deus tem para ele em seu desígnio, seu plano de salvação. Isso se concretizará na vivência dos mandamentos. Glória e justiça não serão fruto do empenho dos fiéis, mas exclusivamente dons de Deus (v. 1.2.4: “vem de Deus”).

Completa essa descrição a mudança de nome. O novo nome mostra em que se tornará a Jerusalém renovada: paz da justiça (relembrando o nome Jerusalém, que, em hebraico, contém em si a palavra shalôm, “paz”: yerushalaim) e glória da piedade (demonstrando a profunda veneração diante da majestade de Deus).

A segunda parte do texto descreve o retorno dos exilados (v. 5-7). Jerusalém é chamada a olhar para o oriente e ver sua população retornando. O retorno é marcado pela alegria (v. 5) e pela glória (v. 6). É Deus mesmo que prepara o caminho para que Israel possa voltar “com segurança e na glória de Deus” (v. 7). Deus é guia dos que retornam, como a nuvem luminosa o foi para o povo do êxodo (cf. Is 40,3-4; Ex 13,21-22).

A terceira parte (v. 8-9) indica que o caminho do retorno contará com a proteção de Deus, que aparece na imagem da sombra (cf. Sl 90/91,1) de árvores que, obedecendo ao Senhor, evitarão que os exilados sejam molestados pelo sol (v. 8). Isso se explica (v. 9) porque Deus conduzirá Israel. Quatro qualificativos marcam seu agir: de um lado, a alegria e a luz da glória (que retomam o início do texto) e, de outro, a misericórdia e a justiça que ele outorga.

O texto, anunciando assim a restauração do povo eleito, mostra que o grande protagonista é Deus. É ele quem realiza a salvação, e o faz de modo glorioso. Todo passado foi superado (v. 1.6); haverá somente júbilo. Os próprios atributos divinos (glória e justiça) serão dados a Jerusalém. Deus prepara o caminho, cria as condições e restaura Israel. Tudo se concentra na ação divina.

Sempre a obra de Deus em nossa vida é absoluta iniciativa e gratuidade sua. No evangelho de hoje, contudo, é posto em maior evidência que essa obra gratuita de Deus usa e exige a generosa cooperação da criatura agraciada. Embora tudo tenha iniciativa na ação de Deus, que, enviando sua Palavra a João, cria as condições para que a conversão se realize, o Batista deve, por sua pregação e pelo batismo, preparar os corações. Exige-se o empenho humano. O povo deve se converter e o pode fazer porque Deus está aberto a recebê-lo de novo.

II leitura (Fl 1,4-6.8-11)

No início da carta aos Filipenses, são Paulo reza pela comunidade. O motivo de sua oração é a alegre constatação de que os filipenses têm colaborado fielmente na difusão do evangelho, desde que o acolheram (v. 5), seja por sua atividade missionária, seja pela ajuda material que deram a Paulo (cf. 4,15-16). Tal fato leva o Apóstolo à convicção de que o Senhor, que é fiel, não deixará cair no vazio o empenho até agora feito. Ele dará ainda a graça de perseverar até o fim, quando o Cristo consumar sua obra (o “dia de Cristo Jesus”), num crescendo que a levará à perfeição (v. 6).

Paulo invoca então o testemunho de Deus para afirmar sua estima pelos filipenses. Para com aqueles que se dedicam ao mesmo ideal da evangelização, Paulo nutre uma religiosa e profunda estima, que tem sua origem, seu modelo e seu motor no próprio coração de Jesus Cristo (v. 8). Sua prece (v. 4) concretiza-se, então, na súplica para que o amor que move a comunidade cresça sempre mais. Conhecimento e sensibilidade (v. 9) são duas características do amor que o impedem de ser simples afeição passageira e superficial. O amor deve ser iluminado pelo conhecimento e por delicado sentimento, que o façam a um só tempo reflexivo e cheio de ternura espiritual. Esse amor conduz ao discernimento, torna mais sutil a capacidade de avaliar e distinguir entre o bem e o mal (v. 10). Crescendo nesse amor cristão, os filipenses chegarão ao dia do Senhor “puros e irrepreensíveis”, ricos de frutos de santidade, de boas obras. Desse modo, chega à perfeição a obra que Deus iniciou (v. 6) e que é realizada por Cristo Jesus (v. 11).

A oração do Apóstolo desemboca, então, numa doxologia: tudo isso é para a glória e o louvor de Deus. A salvação final e a glorificação de Deus, realizadas por meio de Jesus Cristo, são a meta para a qual tendem os fiéis.

Colocado no segundo domingo do Advento, esse trecho da carta aos Filipenses indica como, vivendo em atitude de constante conversão, podemos preparar o caminho para o Senhor que vem (cf. evangelho).

Para Refletir

Advento! Tempo de se preparar para acolher o Senhor que vem! Por mais escuro que esteja o horizonte à nossa frente, precisamos acreditar que dias melhores virão, pois Deus é fiel e não abandona seu povo.

Nesse segundo domingo do Advento, João Batista aparece como uma voz no deserto, fazendo um apelo à conversão, para preparar o caminho do Senhor!

Na linda da pregação de João Batista (cf. Lc 3, 1-6), acodem-me à mente as palavras do Profeta Isaías: “Uma voz exclama: abri no deserto um caminho para o Senhor  […]. Que todo vale seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas… Subi a uma alta montanha, para anunciar a boa nova a Sião. Elevai com força a voz…, dizei às cidades de Judá: “Eis o vosso Deus!” (Is 40, 1-5.9-11).

Está na hora de retornar a boa notícia sobre Jesus Cristo, Filho de Deus, para gritá-la com força (é o sentido do Kerigma!) em Jerusalém e nas cidades de Judéia, isto é, na Igreja e fora da Igreja.

João Batista nos oferece um esplêndido exemplo de proclamação do Evangelho. O que o Batista compreendeu a respeito de Jesus é que se trata de alguém de que ele não é sequer digno de aproximar-se para desatar-lhe as sandálias; que é “o mais forte”, aquele que batizará no Espírito Santo e que desafiará, por assim dizer, o mundo a ferro e fogo!

João Batista teve a capacidade de fazer sentir Cristo “perto”, às portas (Jo 1,26), como alguém que está “no meio” dos homens e não como uma abstração mental; como alguém que já tem na mão a pá (Mt 3,12) e se apresenta para atuar o juízo, por isso não há mais tempo a perder. A força de seu anúncio estava em sua humildade (Jo 3,30): Importa que ele cresça e eu diminua, em sua austeridade e em sua coerência.

Hoje precisamos de anúncios inspirados e corajosos, como os de Isaías e de João Batista; diante deles o mundo não poderia ficar insensível, como acontece quando se fala de Jesus Cristo só com sabedoria de palavras, com livros que não acabam mais, mas sem a força e sem a coerência de vida.

Toda a essência da vida de João, desde o seio materno, esteve subordinada a essa missão! João se entrega totalmente nessa missão, dedicando-se a ela, não por gosto pessoal, mas por ter sido concebido para isso. E vai realizar a sua missão até o fim, até dar a vida, no cumprimento da sua vocação.

Foram muitos os que conheceram Jesus graças ao trabalho apostólico do Batista. Os primeiros discípulos seguiram Jesus por indicação expressa dele e muitos outros se prepararam interiormente para segui-Lo,, graças à sua pregação.

É bela a Vocação de João Batista! A vocação abarca a vida inteira e leva a fazer girar tudo em torno da missão divina. Cada homem, no seu lugar e dentro das suas próprias circunstâncias, tem uma vocação dada por Deus; de que ela se cumpra dependem outras coisas queridas pela vontade divina!

“Eu sou a voz que clama no deserto!” João Batista não é mais do que a voz, a voz que anuncia Jesus. Essa é a sua missão, a sua vida, a sua personalidade. Todo o seu ser está definido em função de Jesus, como teria que acontecer na nossa vida, na vida de qualquer cristão. O importante da nossa vida é Jesus!

À medida que Cristo se vai manifestando, João procura ficar em segundo plano, ir desaparecendo. Dizia São Gregório: “João Batista perseverou na santidade porque se conservou humilde no seu coração.”

Como precursor, indica-nos o caminho que devemos seguir! Na ação apostólica pessoal- enquanto preparamos os nossos amigos para que encontrem o Senhor-, devemos procurar não ser o centro. O importante é que Cristo seja anunciado, conhecido e amado.

Sem humildade, não poderíamos aproximar os nossos amigos de Deus. E então a nossa vida ficaria vazia.

Não somos apenas precursores! Somos  também testemunhas de Cristo. Recebemos, com a graça batismal e a Crisma, o honroso dever de confessar a fé em Cristo, com as nossas ações e com a nossa palavra.  Que tipo de testemunhas nós somos? Como é o nosso testemunho cristão entre os nossos colegas, na família?

Temos que dar testemunho e , ao mesmo tempo, apontar aos outros o caminho. “Também conduzir-nos de tal maneira que, ao ver-nos, os outros possam dizer: este é cristão porque não odeia, porque sabe compreender, porque não é fanático, porque está acima dos instintos, porque é sacrificado, porque manifesta sentimento de paz, porque ama” (É Cristo que passa, nº 122).

Nesse tempo do Advento, encontramos muitas pessoas olhando em outra direção, de onde não virá ninguém; ou onde outros estão debruçados sobre os bens materiais, como se fossem o seu último fim; mas eles jamais satisfarão o seu coração!  Cabe a nós apontar-lhes o Caminho. A todos! Diz-nos Santo Agostinho: “Sabeis o que cada um de nós tem que fazer em casa, com o amigo, com o vizinho, com os dependentes, com o superior com o inferior. Não queirais, pois, viver tranquilos até conquistá-los para Cristo, porque vós fostes conquistados por Cristo.”

A nossa família, os amigos, os colegas de trabalho, as pessoas que vemos com frequência, devem ser os primeiros a beneficiar-se  do nosso amor por Deus. Com o exemplo e com a oração, devemos chegar até mesmo àqueles com quem não temos ocasião de falar habitualmente, porém, não devemos nos esquecer que é a graça de Deus, não as nossas forças humanas, que consegue levar as almas ao Senhor!

Que o Senhor nos ilumine para descobrirmos, em nossa vida, quais as estradas tortuosas temos que endireitar para chegar até Ele.  E quais os vales a preencher na vida profissional, na vida espiritual, na vida familiar, na vida de comunidade?

Possamos perceber que temos que abaixar nosso orgulho, nossa auto-suficiência!

Deus quer servir-se de nós para preparar os homens de hoje para a vinda de Cristo no Natal desse ano.

Temos o mesmo espírito de João Batista?

Para ilustrar a reflexão acrescento o texto de São Gregório Magno, doutor da Igreja (séc. XI); Sermão no Advento 20, 1-7: “Assim como está escrito no livro do Profeta Isaías: Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Sendo perguntado ao glorioso Batista quem ele era, respondeu: eu sou a voz que grita no deserto. Por isso o profeta lhe chamou voz, porque ia à frente do Verbo. Todo aquele que anuncia a verdadeira fé as boas obras, que outra coisa faz senão preparar o caminho do Senhor que vem aos corações dos ouvintes? Porque formando com a palavra da santa pregação pensamentos limpos nas almas dos que o ouvem, faz com que a força da graça penetre, e a luz da verdade os ilumine, para que façam direitas as sendas por onde o Senhor há de vir, e em conformidade a isso disse: todo vale será aterrado, e todo desfiladeiro será humilhado.

Está muito claro nesta passagem do Evangelho que por vales não se identificam senão os humildes, e por montanhas e colinas quer que entendamos os soberbos. Vindo, pois, o Senhor nosso a nós, os vales muitos baixos foram cheios, e os montes e colinas soberbos foram humilhados; porque a voz de sua majestade assim o significou quando disse: quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado…

E todo o povo observando que a vida do santo Batista era tão áspera, com tanta solidão e perfeição de penitência, acabaram por crer que ele fosse o Cristo. E vendo a nosso Senhor, que comia com os publicanos e conversava com os pecadores, não creram que ele fosse o Cristo, mas um profeta. Porém, passando o tempo, Cristo que era tido por profeta foi reconhecido como o Cristo verdadeiro, e o glorioso João, que era tido por Cristo, foi reconhecido como verdadeiro profeta, e assim se cumpriu o que o bem-aventurado Batista havia dito ao falar de Cristo: convém que ele cresça e eu diminua. Porque Cristo nosso redentor cresceu na reputação do povo, e foi conhecido pelo que era; e o santo precursor diminuiu, porque cessou de ser tido pelo que não era.

Vendo, pois, como o glorioso João perseverou na santidade, porque teve constância verdadeira na humildade de seu coração; e como muitos outros caíram, porque estavam cegos pelas vaidades e se ensoberbeceram dentro de si mesmos, digamos com razão que todos os vales serão cheios e todos os montes e colinas serão rebaixados, porque desce as mãos dos humildes as graças que os corações dos soberbos lançam para longe de si.

As passagens tortuosas serão endireitadas e os caminhos acidentados serão aplainados. Endireitam-se as coisas tortuosas quando os corações dos maus, torcidos pelos pecados, endireitam-se por meio da penitência; e os lugares acidentados se tornam planos quando as almas cheias de soberba e de ira, recebendo a graça do Espírito Santo, tornam-se humildes e mansas; porque não é outra coisa a alma soberba não querer receber a palavra da verdade, senão um caminho áspero e pedregoso, que contradiz a que quer caminhar. E quando a alma do soberbo, aplainada pela virtude da mansidão, recebe com amor as palavras de repreensão e exortação, então dizemos que o pregador encontra o caminho plano, por onde primeiramente nem conseguia caminhar, impedido com a sua aspereza.

E toda a carne verá a salvação de Deus. Dizer toda a carne é o mesmo que se dissesse todos os homens. É fato que nem todos os homens puderam ver a Cristo na vida presente; diremos, pois, que  a intenção do profeta nestas palavras é assinalar o dia do juízo, quando se verão os céus abertos, e virão os anjos por ministros, estarão os apóstolos sentados juntos, e aparecerá Cristo nosso Redentor, Juiz Soberano, sentado na sede de sua majestade, e todos os bons e maus o verão. E desta visão resultará que os bons gozem sem fim, recebendo o galardão de seus trabalhos; e os maus, castigados por suas próprias culpas, chorem para sempre os tormentos do inferno.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário