domingo, 20 de dezembro de 2015

Homilia do Papa Francisco na Missa em honra a Nossa Senhora de Guadalupe


SANTA MISSA POR OCASIÃO DA FESTIVIDADE DE 
NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basílica Vaticana
Sábado, 12 de Dezembro de 2015


«O Senhor teu Deus está no meio de ti [...]. Ele exultará de alegria por causa de ti; Ele te renovará pelo seu amor; Ele dançará por ti com gritos de júbilo» (Sf 3, 17-18).

Estas palavras do profeta Sofonias, destinadas a Israel, podem ser dirigidas também à nossa Mãe, a Virgem Maria, à Igreja e a cada um de nós, à nossa alma amada por Deus com amor misericordioso. Sim, Deus ama-nos a ponto de se alegrar e rejubilar juntamente connosco. Ama-nos com um amor gratuito, ilimitado, sem nada esperar em troca. Ele não gosta do pelagianismo. Este amor misericordioso é o atributo mais surpreendente de Deus, a síntese na qual está resumida a mensagem evangélica, a fé da Igreja.

A palavra «misericórdia» é composta por dois vocábulos: miséria e coração. O coração indica a capacidade de amar; a misericórdia é o amor que abarca a miséria da pessoa. É um amor que «sente» a nossa indigência como se fosse sua, com a finalidade de nos libertar dela. «Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho para expiar os nossos pecados» (1 Jo 4, 10). «A Palavra fez-se carne» — a Deus não agrada nem sequer o gnosticismo — e quis compartilhar todas as nossas fragilidades; desejou experimentar a nossa condição humana, a ponto de assumir com a Cruz toda a dor da existência humana. Esta é a profundidade da sua compaixão e da sua misericórdia: humilhar-se para se transformar em companhia e serviço à humanidade ferida. Nenhum pecado pode anular a sua proximidade misericordiosa, nem pode impedi-lo de praticar a sua graça de conversão, sob a condição de que a invoquemos. Aliás, é o próprio pecado que faz resplandecer com maior força o amor de Deus Pai que, para resgatar o escravo, sacrificou o seu próprio Filho. Esta misericórdia de Deus alcança-nos mediante o dom do Espírito Santo, que no Baptismo torna possível, gera e alimenta a nova vida dos seus discípulos. Por muito grandes e graves que sejam os pecados do mundo, o Espírito que renova a face da terra torna possível o milagre de uma vida mais humana, repleta de alegria e de esperança.

E também nós clamamos com alegria: «O Senhor é o meu Deus, o meu Salvador!». «O Senhor está próximo!», é o que nos diz o apóstolo Paulo; nada nos deve angustiar, Ele está próximo. E não está sozinho, mas com a sua Mãe. Ela dizia a são João Diogo: «Por que tens medo? Não estou porventura aqui Eu, que sou a tua Mãe?». Ele e a sua Mãe estão próximos! A maior misericórdia reside no seu estar no meio de nós, na sua presença e companhia. Caminha ao nosso lado, mostra-nos a senda do amor, levanta-nos quando caímos — e com quanta ternura o faz! — sustenta-nos nas nossas dificuldades, acompanha-nos em todas as circunstâncias da nossa existência. Abre os nossos olhos para que vejamos as misérias, nossas e do mundo, mas ao mesmo tempo enche-nos de esperança. «E a paz de Deus [...] haverá de guardar os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus» (Fl 4, 7), diz-nos Paulo. Esta é a fonte da nossa vida pacificada e feliz. Nada nem ninguém pode privar-nos desta paz e felicidade, não obstante os sofrimentos e as provações da vida. Com a sua ternura, o Senhor abre-nos o seu Coração, oferece-nos o seu amor. O Senhor é alérgico à rigidez! Cultivemos esta experiência de misericórdia, de paz e de esperança, durante o caminho de Advento que percorremos e na luz do Ano jubilar. Anunciar a Boa Nova aos pobres, como João Baptista, realizando obras de misericórdia, é um bom modo de esperar a vinda de Jesus na Natividade. Devemos imitar Aquele que doou tudo, que se entregou inteiramente. Nisto consiste a sua misericórdia, que nada espera em troca. 

Deus alegra-se e deleita-se de maneira totalmente especial em Maria. Numa das orações mais querida ao povo cristão, a Salve Rainha, denominamos Maria «Mãe da misericórdia». Ela experimentou a misericórdia divina, acolhendo no seu ventre a própria fonte desta misericórdia: Jesus Cristo. Ela, que sempre viveu intimamente unida ao seu Filho, sabe melhor do que ninguém o que Ele deseja: que todos os homens se salvem, que a ninguém jamais faltem a ternura e a consolação de Deus. Que Maria, Mãe da misericórdia, nos ajude a compreender quanto Deus nos ama.

A Maria Santíssima confiemos os sofrimentos e as alegrias dos povos de todo o Continente americano, que a amam como Mãe, reconhecendo-a como «Padroeira» com o título devoto de Nossa Senhora de Guadalupe. Que «a doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo, para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus» (Bula Misericordiae Vultus, 24). Peçamos-lhe que este Ano jubilar seja uma sementeira de amor misericordioso no coração das pessoas, das famílias e das nações; que continue a repetir-nos: «Não tenhas medo, não estou porventura aqui Eu, que sou a tua Mãe», Mãe da misericórdia? Que nos convertamos em misericordiosos, e que as comunidades cristãs saibam ser oásis e mananciais de misericórdia, testemunhas de uma caridade que não admite exclusões! Para lhe pedir isto de uma maneira forte, irei venerá-la no seu Santuário no dia 13 do próximo mês de Fevereiro. Assim, pedir-lhe-ei tudo isto para a América inteira, da qual é uma Mãe especial. Dirijo-lhe uma súplica a fim de que oriente os passos do seu povo americano, povo em peregrinação que está à procura da Mãe da misericórdia e só lhe pede uma coisa: que lhe mostre o seu Filho Jesus!
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Santa Sé

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