domingo, 13 de dezembro de 2015

A celebração do jubileu tem origem judaica


Ressoa no mundo inteiro a convocação do Jubileu da Misericórdia, inspiração dada por Deus ao Papa Francisco. Na Solenidade da Imaculada Conceição, aquela que foi preservada do pecado original, em previsão dos méritos de Cristo, seu Filho, abriram-se portas de reconciliação e de paz para todas as pessoas de boa vontade que desejarem declarar umas às outras um propósito de perdão, cancelamento das dívidas, descanso para a terra martirizada pelos conflitos existentes em toda parte. "Misericordiosos como o Pai" é o convite que se espalha, para que as pessoas busquem o abraço do perdão, oferecido largamente a todos!

A celebração do jubileu tem origem judaica. Seis dias de trabalho, um sábado de repouso; seis anos de trabalho, um ano sabático; sete vezes sete anos, um ano inteiro, no qual os escravos eram libertados, restituíam-se as propriedades às pessoas que as haviam perdido, perdoavam-se as dívidas, as terras deviam permanecer sem cultivar e se descansava. "Contarás sete semanas de anos, ou seja, sete vezes sete anos, o que dará quarenta e nove anos. Então farás soar a trombeta no dia dez do sétimo mês. No dia do Grande Perdão fareis soar a trombeta por todo o país. Declarareis santo o quinquagésimo ano e proclamareis a libertação para todos os habitantes do país. Será para vós um jubileu. Cada um de vós poderá retornar à sua propriedade e voltar para sua família. O quinquagésimo ano será para vós um ano de jubileu: não semeareis, nem colhereis o que a terra produzir espontaneamente, nem fareis a colheita da videira não podada. Porque é o ano de jubileu, sagrado para vós" (Lv 25, 8-12). A palavra jubileu se inspira no termo hebraico "yobel", que faz alusão ao chifre do cordeiro que servia como instrumento. Jubileu também remete ao latim "jubilum" que representa um grito de alegria.

O Jubileu foi proclamado como convocação para que as pessoas se convertam em seu interior e se reconciliem com Deus, por meio da penitência, da oração, da caridade, dos sacramentos e da peregrinação, “porque a vida é uma peregrinação e o homem é um peregrino” (Misericordiae vultus 14). "Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado (Misericordiae vultus 2). É a convicção clara do Papa Francisco, que nos quer respondendo à maldade e à violência com a escolha da bondade e da misericórdia. É o princípio evangélico posto em prática: "Ouvistes que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ Ora, eu vos digo: não ofereçais resistência ao malvado! Pelo contrário, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda! Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a acompanhá-lo por um quilômetro, caminha dois com ele! Dá a quem te pedir, e não vires as costas a quem te pede emprestado" (Mt 5, 38-42). Diante de guerras, vinganças, retaliações, violência e corrupção de todo tipo, nossa resposta de cristãos será diferente! Perdoar, reconciliar-se, derramar o unguento da misericórdia! 

Todas as Catedrais e Santuários espalhados pelo mundo inteiro abrirão nos próximos dias a "Porta da Misericórdia", para expressar a peregrinação, saída de nós mesmos, rumo à casa do Senhor. Na Arquidiocese de Belém, a Porta da Misericórdia será aberta na Catedral da Sé às 9 horas do dia 13 de dezembro e na Basílica de Nazaré às 18 horas do dia 20 de dezembro. Ao passar pela Porta Santa, cada pessoa deve levar consigo as disposições necessárias à recepção da Indulgência Plenária, a saber: a Confissão Sacramental, rejeitando todos os pecados, receber a Sagrada Eucaristia, rezar pelo Papa o Credo, o Pai-nosso e a Ave-Maria. Além da Catedral e da Basílica, todos os enfermos e idosos poderão receber a indulgência, quando cumpridas as condições, em sua própria casa. Para os presos, a porta da misericórdia é a porta da própria cela. E na Arquidiocese de Belém, quem visitar a "Fazenda da Esperança" durante o Ano Santo também poderá receber os benefícios do Ano Santo da Misericórdia.

"Indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida aos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos" (Manual das Indulgências, norma 1). O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que: “pelas indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas do Purgatório, a remissão das penas temporais, sequelas dos pecados” (Catecismo da Igreja Católica, 1498). O pecado tem duas consequências: a culpa e a pena. A culpa é perdoada na Confissão; a pena, que é a desordem que o pecado provoca no pecador e nos outros, e que precisa ser reparada e é eliminada pela indulgência que pode ser plenária ou parcial.

O Papa recomenda ainda a prática das obras de misericórdia, como sinal concreto do acolhimento da Misericórdia de Deus. Para a Arquidiocese de Belém, propomos a prática das Obras de Misericórdia durante o Ano Santo, assim distribuídas: Janeiro, Obras de misericórdia corporais "Dar de comer a quem tem fome e dar de beber a quem tem sede; Fevereiro, Obras de Misericórdia espirituais "Dar bom conselho e ensinar os que precisam; Março, Obra de Misericórdia Corporal "Vestir os nus"; Abril, Obra de Misericórdia espiritual "Corrigir os que erram"; Maio, Obra de Misericórdia Corporal "Dar acolhida aos peregrinos e emigrantes"; Junho, Obra de Misericórdia Espiritual "Consolar os aflitos"; Julho, Obra de Misericórdia corporal "Assistir e visitar os doentes"; Agosto, Obra de Misericórdia Espiritual "Perdoar os que nos ofenderam"; Setembro, Obra de Misericórdia Corporal "Visitar os presos"; Outubro, Obra de Misericórdia Espiritual "Suportar com paciência as fraquezas do próximo" e Obra de Misericórdia Corporal "Dar acolhida aos peregrinos e romeiros do Círio"; Novembro, Obra de Misericórdia Corporal "Enterrar os mortos, visitar os Cemitérios e rezar pelos falecidos"; Dezembro, Obra de Misericórdia Espiritual "Rogar a Deus pelos vivos e falecidos".


Dom Alberto Taveira Corrêa, 

Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

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