segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Homilética: Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro): "No início era a bênção!"



No início de um novo ano muitas vezes somos relembrados de que devemos adequar ou, até mesmo, readequar nossas expectativas; o ideal, dizem, é que tenhamos nossos corações e mentes tomados pela plenitude da esperança. Não há como discordar dessas palavras. No entanto, faz-se necessário refletir que não existimos sozinhos. Nossas esperanças e expectativas não devem ser pensadas e construídas sem a presença do outro que nos acompanha na história de nossas vidas. Todo ano-novo também deveria ser um novo ano para a comunidade da qual fazemos parte. Quando nos pensamos de forma plural, estamos dizendo aos outros que também eles fazem parte das nossas esperanças e expectativas e que o novo ano que se apresenta não poderá ser construído sem ou até mesmo contra eles. Pensar nos outros é sair de nós mesmos e romper as estruturas que criamos ao nosso redor e que nos impedem de conhecer novas pessoas e com elas interagir. Quando caminhamos em direção aos outros, não somente conhecemos novas pessoas, mas, principalmente, passamos a conhecer melhor a nós mesmos.

Maria Santíssima é uma boa mãe que em tudo procura a honra do Filho. Nunca foi, nem será a intenção de Maria roubar glória a Deus. Ela sempre foi a serva fiel que apontou o caminho de Deus a tantas pessoas, e seguirá realizando esse trabalho. Ela é estrela da evangelização!

A Escritura diz que “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19) e que “sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2,51). Maria, Mãe de Deus – porque Jesus é Deus – pensava e repensava nos acontecimentos da história da salvação, da qual o seu Filho é o centro e ela está profundamente inserida. A meditação de Maria é uma meditação de Mãe, ela pensa no seu Filho continuamente. E como bem se sabe, as mães tem uma espécie de sexto sentido.

As mães intuem, sabem, tem o sentido mais profundo da realidade. Nossa Senhora é especializada na vida de Jesus. Ela é mãe. Peçamos a ela que nos ensine através do rosário, que é meditação do que aconteceu com o Filho de Deus e Filho de Maria. 

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: Nm 6,22-27; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21

Começamos, hoje, novo ano e guia-nos pela mão a esperança cristã; iniciamo-lo invocando a bênção divina e implorando, por intercessão de Maria, Mãe de Deus. O dom da paz: para as nossas famílias, para as nossas cidades, para o mundo inteiro. No primeiro dia do Ano Novo, temos a alegria e a graça de celebrar a Santíssima Mãe de Deus e, ao mesmo tempo, o Dia Mundial da Paz. Em ambas as comemorações celebramos Cristo, Filho de Deus que nasceu de Maria, Virgem e nossa verdadeira paz! A todos repito as palavras da antiga bênção: “ O Senhor dirija o seu rosto para vós e vos conceda a paz” ( cf. Nm 6, 26 ). O tempo transcorre e a sua passagem inexorável leva-nos a dirigir o olhar com íntimo reconhecimento Àquele que é o eterno – ao Senhor do tempo.

Ao iniciar mais um ano, vale refletir que o Verbo Eterno entrou no tempo, veio nos visitar por meio de Maria. Recorda-o o Apóstolo Paulo, afirmando que Jesus nasceu “de uma mulher”: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher” ( Gl 4, 4 ). Nesta “mulher”, a Igreja contempla os lineamentos de Maria de Nazaré, mulher singular porque é chamada a cumprir uma missão que a coloca numa relação profundamente estreita com Cristo: aliás, uma relação absolutamente única, porque Maria é a Mãe do Salvador. No entanto, com igual evidência, podemos e devemos afirmar que ela é também a nossa Mãe porque, vivendo a sua singularíssima relação materna com o Filho, compartilhou a sua missão por nós e pela salvação de todos os homens. Contemplando-a, a Igreja vislumbra nela os traços da sua própria fisionomia: Maria vive a fé e a caridade; Maria é uma criatura, também ela salva pelo único Salvador; Maria colabora na iniciativa de salvação de toda a humanidade. Deste modo, Maria constitui para a Igreja a sua imagem mais genuína: aquela em quem a comunidade eclesial deve descobrir continuamente o sentido autêntico da sua vocação e do seu próprio Mistério.

Na liturgia de hoje sobressai a figura de Maria, verdadeira Mãe de Jesus, Homem-Deus. Portanto, a Solenidade não celebra uma ideia abstrata, mas um Mistério e um acontecimento histórico: Jesus Cristo, Pessoa Divina, nasceu da Virgem Maria, a qual é, no sentido mais verdadeiro, sua mãe. Maria é Mãe espiritual de toda a humanidade, porque Jesus derramou o seu Sangue na Cruz por todos, e a todos confiou da Cruz à sua solicitude materna.


Olhando para Maria, iniciemos, portanto, este novo ano, que recebemos das mãos de Deus como um “talento” precioso para fazermos frutificar, como uma ocasião providencial para contribuir para a realização do Reino de Deus. Neste clima de oração e de gratidão ao Senhor pelo dom de um novo ano que participamos da liturgia de hoje.

A piedade cristã plasmou de mil formas diferentes a festa da Mãe de Deus que celebramos hoje! Um exemplo disso é que inúmeras são as imagens de Maria com o Menino nos braços. A Maternidade de Maria é o fato central que ilumina toda a vida da Virgem e é o fundamento dos outros privilégios com que Deus quis adorná-la.

Maria é a Senhora, cheia de graça e de virtudes, concebida sem pecado, que é Mãe de Deus e Mãe nossa, e está nos céus em corpo e alma. A Bíblia fala-nos dela como a mais excelsa de todas as criaturas, a bendita, a mais louvada entre as mulheres, a cheia de graça (Lc 1,28), Aquela que todas as gerações chamarão bem-aventurada (Lc 1,48).

A Igreja ensina-nos que Maria ocupa, depois de Cristo, o lugar mais alto e o mais próximo de nós, em função da sua maternidade divina. Diz o Concilio Vaticano II, na Lumen Gentium, 63: “Ela, pela graça de Deus, depois do seu Filho, foi exaltada sobre todos os anjos e todos os homens.”

Ensina S. Paulo: “Quando, porém, veio a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei…” (Gl 4,4). Orígenes comenta: “Observa bem, que não disse: nascido através de uma mulher, mas sim: nascido de uma mulher”. Esta observação perspicaz do grande exegeta e escritor eclesiástico é importante: com efeito, se o Filho de Deus tivesse nascido somente “através” de uma mulher, na realidade não teria assumido a nossa humanidade, o que, contudo, fez, tomando a carne “de” Maria. Portanto, a maternidade de Maria é verdadeira e plenamente humana.

Na expressão “Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher”, encontra-se resumida a verdade fundamental sobre Jesus como Pessoa divina, que assumiu completamente a nossa natureza humana. Ele é o Filho de Deus, é gerado por Ele e, ao mesmo tempo, é Filho de uma mulher, Maria. Ele provém dela. É de Deus e de Maria. Este título, que em grego se diz Theotókos, aparece talvez pela primeira vez precisamente na área de Alexandria do Egito onde, na primeira metade do século lll viveu o próprio Orígenes. Contudo, ele foi definido dogmaticamente só dois séculos mais tarde, em 431, pelo Concílio de Éfeso.

Jesus não apareceu de repente na terra vindo do céu, mas fez-se realmente homem, como nós, tomando a nossa natureza humana nas entranhas puríssimas da Virgem Maria. Enquanto Deus, é eternamente gerado, não feito, por Deus Pai. Enquanto homem, nasceu, “foi feito”, de Santa Maria. “Muito me admira – diz por isso São Cirilo – que haja alguém que tenha alguma dúvida de que a Santíssima Virgem deve ser chamada Mãe de Deus. Se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que a Santíssima Virgem, que O deu à luz, não há de ser chamada Mãe de Deus? Esta é a fé que os discípulos do Senhor nos transmitiram, ainda que não tenham empregado essa expressão. Assim nos ensinaram os Santos Padres”.

“Quando a Virgem respondeu livremente Sim àqueles desígnios que o Criador lhe revelava, o Verbo divino assumiu a natureza humana: a alma racional e o corpo formado no seio puríssimo de Maria. A natureza divina e a natureza humana uniam-se numa única Pessoa: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e, desde então, verdadeiro Homem; Unigênito eterno do Pai e, a partir daquele momento, como Homem, filho verdadeiro de Maria. Por isso Nossa Senhora é Mãe do Verbo encarnado, da segunda pessoa da Santíssima Trindade que uniu a si para sempre – sem confusão – a natureza humana. Podemos dizer bem alto à Virgem Santa, como o melhor dos louvores, estas palavras que expressam a sua mais alta dignidade: Mãe de Deus” (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 274).

“Concebendo Cristo, gerando-o, alimentando-o, apresentando-o ao Pai no templo, padecendo com seu Filho quando morria na Cruz, cooperou da forma inteiramente ímpar com a obra do Salvador mediante a obediência, a fé, a esperança e a ardente caridade, a fim de restaurar a vida sobrenatural das almas. Por isso Ela é nossa Mãe na ordem da graça” (LG,61).

Jesus deu-nos Maria como Mãe nossa no momento em que, pregado na Cruz, dirigiu à sua Mãe estas palavras: “Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe” (Jo 19,26-27). Desde aquele dia, toda a Igreja a tem por Mãe; e todos os homens a têm por Mãe. Todos entendemos como dirigidas a cada um de nós as palavras pronunciadas na Cruz.

Quando Cristo dá a sua Mãe por Mãe nossa, manifesta o amor aos seus até o fim. Quando a Virgem Maria aceita o Apóstolo João como seu filho, mostra o seu amor de Mãe para com todos os homens.

Que a Virgem Maria, que hoje veneramos com o título de Mãe de Deus, nos ajude a contemplar a face de Jesus, Príncipe da Paz. Que a Mãe de Deus nos ajude e nos acompanhe neste Novo Ano; que Ela obtenha para nós e para o mundo inteiro o dom da paz. Amém!


PARA REFLETIR

Meus caros irmãos e irmãs, iniciamos um novo ano e a Igreja nos convida a confiá-lo à celeste proteção de Nossa Senhora, que hoje a liturgia nos faz invocar com o seu título mais antigo e importante, o de Mãe de Deus.  Ainda envolvidos pelo clima espiritual do Natal, no qual contemplamos o mistério do nascimento de Cristo, celebramos, com estes mesmos sentimentos, a Virgem Maria.

O dogma que declara verdade de fé que Maria é Mãe de Deus foi proclamado pelo Concílio de Éfeso, no ano 431. Maria recebeu o nome de “Theotokos”, palavra grega que diz exatamente “Mãe de Deus”.

Para este dia a Liturgia da Palavra nos apresenta como primeira leitura a solene bênção que os sacerdotes pronunciavam sobre os Israelitas nas grandes festas religiosas, marcada precisamente pelo nome do Senhor, repetido três vezes, como que para exprimir a plenitude e a força que deriva desta invocação: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26).

Este texto da bênção litúrgica, de fato, evoca a riqueza de graça e de paz que Deus concede ao homem. Trata-se de uma bênção dada por Deus através de Moisés, a Aarão e aos seus filhos, ou seja, aos sacerdotes do povo de Israel. É um tríplice voto cheio de luz que brota da repetição do nome de Deus e da imagem de seu rosto. Cada repetição do santo nome de Deus está inserido dois verbos que indicam uma ação do Senhor em favor de cada ser humano. A paz é, portanto, o ponto culminante dessas seis ações em prol do homem, a quem Deus dirige o esplendor da sua face. Esta bênção evoca a riqueza de graça e de paz que o Criador concede a cada um de nós, sinal da Sua benevolência para conosco.

A palavra bíblica “shalom”, que normalmente traduzimos por “paz”, indica um conjunto de bens que Cristo Salvador, o Messias anunciado pelos profetas, trouxe para cada um de nós. Por isso, reconhecemos Nele o Príncipe da paz. Ele se fez homem e nasceu numa gruta em Belém para trazer a sua paz aos homens de boa vontade, aos que o acolhem com fé e amor.

Neste primeiro dia do ano pedimos ao Senhor que nos abençoe e nos conceda a paz. Todos nós desejamos viver em paz, mas a paz verdadeira, a que é anunciada pelos anjos na noite de Natal, é antes de tudo, dom divino que se deve implorar constantemente e, ao mesmo tempo, compromisso que se deve levar em frente com paciência e perseverança.

O texto evangélico narra o nascimento de Jesus e as circunstâncias que o acompanhara.  Neste contexto está o anúncio do anjo aos pastores daquela região e, ao mesmo tempo, indica a eles os sinais para que possam reconhecer a criança.  Enfim, os pastores constatam a realidade do anúncio evangélico. Eles fazem a experiência do encontro com Deus na pessoa um “recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2.16). É justamente desse menino que se irradia uma nova luz que brilha na escuridão da noite. Agora, é Dele que nos vem a bênção.

E os pastores passam a ser os anunciadores da boa nova anunciada pelo anjo (v. 17), e esta novidade da mensagem dos pastores enche os ouvintes de admiração (v. 18).  Esses pastores, considerados impuros e de reputação duvidosa, são os primeiros a propagar o nascimento do Salvador.

A passagem do Evangelho termina com uma menção à circuncisão de Jesus. Como de fato, Maria, como qualquer mãe judia, leva seu filho até o templo para que se cumpra a lei da circuncisão.  Conforme a Lei de Moisés, oito dias após o nascimento, o menino devia ser circuncidado, e nesse momento lhe era dado o nome. O próprio Deus, através de seu Anjo, dissera a Maria e também a José, que o nome a ser dado para a criança era “Jesus” (cf. Mt 1,21; Lc 1,31). Aquele nome que Deus já tinha estabelecido antes mesmo que o menino fosse concebido, lhe é dado oficialmente no momento da circuncisão. E isto marca definitivamente a identidade de Maria: ela é a mãe de Jesus, ou seja, a mãe do Salvador.

O nome Jesus, no hebraico, significa “Deus salva”. Jesus é o Verbo de Deus, o Filho de Deus, por isso a Igreja deu a Maria o título de “Theotokos”, ou seja, Mãe de Deus, porque Jesus Cristo é Deus. Certa vez, disse Filipe a Jesus: “Mostra-nos o Pai, isso nos basta” (Jo 14,8). Ao que Jesus lhe respondeu: “Há tanto tempo estou convosco Filipe e não me conheces?”. E o Senhor logo acrescentou: “Quem me vê, vê o Pai”  (Jo 14,9).

E o Evangelho acrescenta também que Maria “conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19). Como Ela, também a Igreja conserva e medita a Palavra de Deus, confrontando-a com as diversas e mutáveis situações que encontra ao longo do seu caminho.  O título de “Mãe de Deus”, a que hoje a liturgia dá relevo, ressalta a missão única da Virgem Santa na história da salvação: missão que está na base do culto e da devoção que o povo cristão lhe reserva.

Maria deu a vida terrena ao Filho de Deus, continua a oferecer aos homens a vida divina, que é o próprio Jesus. Por esta razão, Maria é considerada mãe de todos os homens que nascem para a Graça e ao mesmo tempo é invocada como a Mãe da Igreja.  Nas bodas de Caná, Maria pronuncia uma frase que pode ser considerada a solene ordem do seu coração para os seus filhos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,1-11).  Este mandato de Maria aos serventes em Caná da Galileia vale para todos os momentos da nossa vida cristã.

É no nome de Maria, Mãe de Deus e dos homens, que desde o dia 1º de Janeiro de 1968 se celebra em todo o mundo o Dia Mundial da Paz.  Ao olharmos Cristo, vindo sobre a terra para nos dar a sua paz, nós celebramos no primeiro dia do ano o “Dia Mundial da Paz”.

Que a Virgem de Nazaré, que hoje veneramos com o título de Mãe de Deus, nos ajude a contemplar a face de Jesus, Príncipe da Paz (cf. Is 9,5). Que ela nos acompanhe e nos proteja ao longo deste ano.  E, com a sua poderosa intercessão, possamos progredir no caminho do bem, da paz e da concórdia. Assim seja.

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