sábado, 2 de março de 2019

Palavra de Vida: “Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36).





De acordo com a narração de São Lucas, Jesus, depois de ter anunciado as bem-aventuranças aos seus discípulos, propõe-lhes o seu revolucionário convite: amar cada pessoa como a um irmão, mesmo que se revele um inimigo.

Jesus sabe bem o que isso significa e explica-o: somos irmãos porque temos um único Pai, que está sempre à espera dos seus filhos.

Ele quer estabelecer um relacionamento com cada um de nós, apelando para isso à nossa responsabilidade. Mas, ao mesmo tempo, mostra que o seu amor é um amor que se preocupa, que trata, que nutre. A sua é uma atitude maternal, de compreensão e ternura.

Assim é a misericórdia de Deus que vai, pessoalmente, ao encontro de cada ser humano, com todas as suas fragilidades. Aliás, Ele tem predileção por aqueles que estão à beira da estrada, os que são excluídos e marginalizados.

A misericórdia é um amor que enche o coração, para depois transbordar sobre os outros, tanto sobre os vizinhos como sobre os estranhos, sobre a sociedade à sua volta.

Porque somos filhos deste Deus, podemos assemelhar-nos a Ele naquilo que O carateriza, isto é, no amor, no acolhimento, no saber esperar os tempos do outro.


Sede misericordiosos, 
como o vosso Pai é misericordioso.
 

Infelizmente, na nossa vida pessoal e social respira-se uma atmosfera de crescente hostilidade e competição, de suspeição recíproca, de julgamentos sem apelo, de medo do outro. E assim acumulam-se os rancores, levando a conflitos e a guerras.

Como cristãos, podemos dar um decisivo testemunho de ir contra a corrente: tomemos a decisão de nos libertarmos de nós mesmos e de tudo o que nos condiciona, e comecemos a reconstruir as ligações deterioradas ou desfeitas na família, no local de trabalho, na comunidade paroquial, no partido político.

Se fizemos mal a alguém, peçamos corajosamente perdão e continuemos em frente. É um ato de grande dignidade. E, se alguém nos ofendeu realmente, tentemos perdoar-lhe, arranjar-lhe um novo espaço no coração, de maneira que a ferida possa sarar.

O que é o perdão?

«O perdão não é esquecimento, […] não é fraqueza, […] não é afirmar que não tem importância o que é grave, nem dizer que é bem aquilo que é mal, […] tão-pouco é indiferença. O perdão é um ato de vontade e de lucidez, portanto, de liberdade. Consiste em aceitar o irmão como ele é, apesar do mal que nos provocou. Como Deus nos aceita a nós, pecadores, apesar dos nossos defeitos. O perdão consiste em não responder à ofensa com outra ofensa, mas em fazer como São Paulo diz: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem” (1)» (2).

Esta abertura do coração não se improvisa. É uma conquista quotidiana, um constante crescimento na nossa identidade de filhos de Deus. É, sobretudo, uma dádiva do Pai que podemos e devemos pedir-Lhe diretamente.

Sede misericordiosos, 
como o vosso Pai é misericordioso.

Conta M., uma jovem filipina: «Eu tinha apenas onze anos, quando o meu pai foi assassinado. Mas não se fez justiça porque éramos pobres. Quando cresci, estudei jurisprudência com a intenção de conseguir que se fizesse justiça à morte do meu pai.

Deus, porém, tinha um outro plano para mim: uma colega convidou-me para ir a um encontro de pessoas seriamente empenhadas em viver o Evangelho. E assim, também eu comecei a fazer o mesmo.

Um dia pedi a Jesus que me ensinasse a viver concretamente a sua palavra: “Amai os vossos inimigos” (3), pois sentia que o ódio por aqueles que tinham assassinado o meu pai me envolvia ainda. No dia seguinte, no trabalho, encontrei o chefe do grupo. Cumprimentei-o com um sorriso, perguntando-lhe como estava a sua família. Esta saudação deixou-o desconcertado, mas mais desconcertada fiquei com aquilo que eu tinha feito.

O ódio dentro de mim estava a dissolver-se, transformando-se em amor. Mas aquele tinha sido apenas o primeiro passo: o amor é criativo! Pensei que cada membro do grupo devia receber o nosso perdão. Eu e o meu irmão fomos visitá-los para restabelecer o nosso relacionamento e mostrar-lhes que Deus os ama! Um deles pediu-nos perdão pelo que tinha feito, pedindo-nos também que rezássemos por ele e pela sua família».


Letizia Magri

1) Cf. Rm 12, 21; 2) Cf. C. Lubich, Construir sobre a rocha, Cidade Nova, Parede 1984, pp. 58-59; 3) Cf. Mt 5, 44; Lc 6, 27.
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