quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Homilética: 2º Domingo Comum - Ano B: "Quem é “discípulo” de Jesus? Quem pode integrar a comunidade de Jesus?"


No Brasil, a festa do Batismo do Senhor, com a qual se dá o encerramento do tempo do Natal, substitui o primeiro domingo do tempo comum, de modo que este começa com o segundo domingo. A espinha dorsal da liturgia da Palavra nos domingos do tempo comum é a leitura contínua do evangelho do ano (no caso, Marcos), e os textos evangélicos são ilustrados, na 1ª leitura, por episódios do Antigo Testamento. A 2ª leitura não se integra nesse sistema e recebe sua temática, de modo independente, da leitura semicontínua das cartas do Novo Testamento (hoje, a questão da fornicação em Corinto).

O início da vida pública de Jesus, o começo de sua missão, é marcado pelo chamamento (VOCAÇÃO) dos primeiros discípulos. O Evangelho (Jo 1, 35-42) nos fala da vocação de João e André. O chamado nasce do testemunho de João Batista que aponta Jesus presente entre o povo: “Eis o cordeiro de Deus”. E segue aquela cena comovente. Jesus volta-se para eles e pergunta: “Que procurais?”  Eles responderam: “Rabi, onde moras?”  Ele disse: “Vinde e Vereis”! Eles foram e viram onde morava, e permaneceram com Ele aquele dia. O encontro causou tal impressão que o evangelista nunca mais esqueceu a hora.

A experiência do encontro com Cristo faz de André, um dos dois que O haviam seguido, um apóstolo: Encontrou seu irmão Simão e lhe disse: “Encontramos o Messias”. Ele o conduziu a Jesus!

Coisa maravilhosa! André conduz Pedro a Jesus. A experiência do convívio com Jesus transforma as pessoas em apóstolos! Todo o Cristão de acordo com o seu estado de vida, é um chamado a seguir Jesus, à santidade, ao apostolado.

Será que nossa experiência de encontro com Cristo, o Messias, é tão forte que sejamos capazes de conduzir outras pessoas a Jesus? Cada Domingo deveria repetir-se esta experiência do nosso encontro com Jesus Cristo, na Eucaristia, na escuta da Palavra, no encontro com os irmãos…

A Liturgia, além da vocação dos primeiros discípulos, apresenta-nos a vocação de Samuel (1Sm 3, 3-10. 19). No silêncio da noite Samuel se encontra com Deus que o chama.

A vocação é sempre uma iniciativa misteriosa e gratuita de Deus.

Seguir o Senhor, tanto naquela época como hoje, significa entregar-lhe o coração, o mais íntimo, o mais profundo do nosso ser, a nossa própria vida. Entende-se, pois, que para corresponder ao chamamento de Jesus, seja necessário guardar a castidade e purificar o coração. É São Paulo que nos ensina: “Fugi da fornicação… Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que habita em vós, que o recebestes de Deus e que, portanto, não vos pertenceis? Fostes comprados por um grande preço. Glorificai a Deus no vosso corpo” (1Cor 6, 13-15; 17-20). Jamais ninguém como a Igreja ensinou a dignidade do corpo. “A pureza é glória do corpo humano perante Deus. É a glória de Deus no corpo humano” (São João Paulo II).

A castidade, fora ou dentro da vida matrimonial, segundo o estado e a peculiar vocação recebida por cada um, é absolutamente necessária para se poder seguir a Cristo e exige, juntamente com a graça divina, uma grande luta e esforço pessoais. As feridas do pecado original (na inteligência, na vontade, nas paixões e nos afetos), que não desaparecem com o Batismo, introduziram um princípio de desordem na nossa natureza: a alma, de maneiras muito diversas, tende a rebelar-se contra Deus, e o corpo resiste a submeter-se à alma; os pecados pessoais revolvem o fundo ruim que o pecado original deixou em nós e aumentam as feridas que causou na alma.

Os atos de renúncia, ainda que sejam imprescindíveis, não são tudo na guarda da castidade; a essência desta virtude é o amor: delicadeza e ternura com Deus, respeito pelas pessoas, que devem ser encaradas como filhos de Deus. A castidade “mantém a juventude do amor, em qualquer estado de vida” (São Josemaria Escrivá, É Cristo que passa, nº 25).

Para seguirmos o Senhor com um coração limpo, é necessário que pratiquemos um conjunto de virtudes humanas e sobrenaturais, apoiados sempre na graça, que nunca nos há de faltar se a pedimos com humildade e se desenvolvemos todos os esforços ao nosso alcance.

Entre as virtudes humanas, merece destaque a laboriosidade, o trabalho constante e intenso; muitas vezes, os problemas de pureza são uma questão de ociosidade ou de preguiça: “Cabeça vazia é oficina do diabo”. Também são necessárias a valentia e a fortaleza, para fugirmos da tentação…; a sinceridade na confissão e na direção espiritual.

Nenhum meio humano seria suficiente se não recorrêssemos ao trato íntimo com o Senhor na Oração e na Eucaristia. Nelas encontramos sempre a ajuda necessária, as forças que vêm em socorro da nossa fraqueza pessoal, no amor que nos cumula o coração, criado para o que é eterno, e, portanto, sempre insatisfeito com tudo o que há neste mundo. E o Sacramento da Penitência (Confissão) purifica-nos a consciência, concede-nos as graças específicas do sacramento para vencermos naquilo em que fomos vencidos, seja em matéria grave ou leve.

A beleza deste tempo está no fato de que nos convida a viver a nossa vida ordinária como um itinerário de santidade, isto é, de fé e de amizade com Jesus, continuamente descoberto e redescoberto como Mestre e Senhor, Caminho, Verdade e Vida do homem. É o que nos sugere o Evangelho de João, apresentando – nos o primeiro encontro entre Jesus e alguns dos que se tornarão seus apóstolos. Eles eram discípulos de João Batista, e foi precisamente ele quem os orientou para Jesus, quando, depois do Batismo no Jordão O indicou como “Cordeiro de Deus” ( Jo 1, 36). Então dois dos seus discípulos seguiram o Messias, o qual lhes perguntou: “Que procurais?”. Os dois perguntaram – Lhe: “Mestre, onde moras?”. E Jesus respondeu: “Vinde e vereis”, isto é, convidou – os a segui – Lo e a estar um pouco com Ele. Nas poucas horas transcorridas com Jesus, eles ficaram tão admirados, que imediatamente um deles, André, falou com o irmão Simão dizendo – lhe: “Encontramos o Messias”. Eis duas palavras singularmente significativas; “procurar”, “encontrar”.

Procurar e encontrar Cristo, fonte inexaurível de verdade e de vida: a Palavra de Deus convida – nos a retomar, neste início de ano novo, o caminho de fé que nunca se conclui. “Mestre, onde moras?”, dizemos também nós a Jesus e Ele responde – nos: “Vinde e vereis”. Para o crente é sempre uma incessante busca e uma nova descoberta, porque Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre; mas nós, o mundo, a História, nunca somos os mesmos, e Ele vem ao nosso encontro para nos oferecer a sua comunhão e a plenitude da vida. Peçamos à Virgem Maria que nos ajude a seguir Jesus, saboreando todos os dias a alegria de compreender cada vez mais o seu Mistério.

Como Samuel, sejamos disponíveis: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sm 3, 10).

COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Leituras: 1Sm 3,3b-10.19; 1Cor 6,13c-15a.17-20; Jo 1,35-42

Caros irmãos e irmãs, para este domingo a Liturgia da Palavra nos apresenta o tema da vocação. No texto evangélico temos a chamada dos primeiros discípulos por parte de Jesus e na primeira leitura, a chamada do profeta Samuel. Em ambas as narrações é evidenciada a importância da figura que desempenha o papel de mediador, ajudando as pessoas chamadas a reconhecer a voz de Deus e a segui-la. No caso de Samuel, o mediador é o sacerdote Eli, do templo de Silo e no caso dos discípulos de Jesus, o mediador é São João Batista. 

Lançando o nosso olhar inicialmente para a primeira leitura observa-se que a vocação é sempre uma iniciativa de Deus. É Ele quem escolhe e chama. A indicação de que “Samuel ainda não conhecia o Senhor, pois, até então, a palavra do Senhor não se lhe tinha manifestado” (v. 7); isto sugere claramente que o chamamento de Samuel parte de Deus; é uma iniciativa exclusiva de Deus, à qual Samuel, em um primeiro momento, parece estar alheio.  Ele é chamado pelo nome: Samuel, Samuel! Para Deus nós sempre somos um ser único. Chamar pelo nome indica o apreço divino, somos amados de modo pessoal e nos é dada uma missão única. 

Deus chama Samuel enquanto este estava deitado, presume-se, durante a noite. É o momento do silêncio, da tranquilidade e da calma.   Este quadro temporal sugere descanso, as tarefas do dia chegaram ao fim e tudo está envolvido na tranquilidade, na calma e no silêncio. Provavelmente, o autor do texto não escolheu este enquadramento por acaso, isto sugere que é mais fácil sentir a presença de Deus e ouvir a sua voz nesse ambiente de silêncio que favorece a escuta.  

A maneira como se processa a resposta de Samuel ao chamamento de Deus é também peculiar.  O autor sagrado sublinha a dificuldade de Samuel em reconhecer a voz do Senhor. Deus chamou Samuel por quatro vezes e só na última vez o jovem conseguiu identificar a voz de Deus. O fato sublinha a dificuldade que qualquer chamado tem no sentido de identificar a voz de Deus. É o sacerdote Eli quem compreende “que era o Senhor quem chamava o menino” e que ensina Samuel a abrir o coração ao chamamento de Deus: “Volta a deitar-te e, se alguém te chamar, responderás: ‘Senhor, fala, que teu servo escuta!’” (v. 9).

Na Sagrada Escritura a palavra “escutar” significa acolher no coração e transformar aquilo que se ouviu em compromisso de vida.  Com a resposta, Samuel está a dizer a Deus que aceita embarcar no desafio profético e ser um sinal vivo de Deus, voz “humana” de Deus, na vida e na história do seu Povo.  A vocação é sempre uma iniciativa misteriosa e gratuita de Deus. 

A palavra “escutar” deve ser entendida no sentido bíblico pleno.  Ela designa uma atitude global que inclui a obediência.  Escuta-se com o coração, do íntimo de si mesmo, como nos indica também o Salmo 94,8: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não permitais que se endureçam vossos corações”. Também São Bento escolheu esta palavra para iniciar a sua Regra.  A palavra “escuta” caracteriza a espiritualidade de toda a Regra de São Bento e indica a prioridade da palavra sobre a imagem, do escutar sobre o ver.  

O texto do evangelho nos apresenta os primeiros três discípulos de Jesus: André, um outro discípulo não identificado e Simão Pedro. Os dois primeiros são apresentados como discípulos de São João Batista dizendo: “Eis o cordeiro de Deus!” (v. 36).  Ao dizer: “Eis o cordeiro de Deus!” (v. 36), equivaleria dizer: “Eis o Messias”.  Depois dessa declaração, os discípulos reconhecem em Jesus esse Messias com uma proposta de vida verdadeira e passam a segui-lo. Esse “seguir Jesus” significa caminhar atrás de Jesus, percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu e colaborar com Ele na missão. A reação dos discípulos é imediata. Eles simplesmente seguem Jesus.  Mas o texto apresenta um breve diálogo entre Jesus e os dois discípulos.  Jesus começa com uma pergunta: “O que estais procurando?” (v.38).  Esta pergunta sugere que é importante para os discípulos terem consciência do objetivo que perseguem, do que esperam de Jesus, daquilo que Jesus lhes pode oferecer.

Por sua vez, esses primeiros discípulos responderam a pergunta de Jesus com uma outra pergunta: “Rabbi, onde moras?” (v. 38). Neste questionamento está implícita a vontade desses discípulos de aderir totalmente a Jesus, de aprender com Ele, de habitar com Ele, de estabelecer comunhão de vida com Ele. Ao identificarem Jesus como “Rabbi”, isto é, mestre, mostram que ele estão dispostos a seguir as suas instruções, a aprender com Ele um modo de vida; a referência à “morada” de Jesus indica que eles estão dispostos a ficar perto de Jesus, a partilhar a sua vida, a viver sob a sua influência.  E os dois seguiram Jesus, permaneceram por muito tempo com Ele e convenceram-se de que Ele era deveras o Cristo. Imediatamente o disseram aos outros, e assim formou-se o primeiro núcleo daquele que se teria tornado o colégio dos Apóstolos. 

Como de fato, quem encontra Jesus e experimenta a comunhão com Ele, não pode deixar de se tornar testemunha da sua mensagem e da sua proposta. Trata-se de uma experiência tão marcante que transborda os limites estreitos do próprio eu e se torna anúncio para os irmãos. O encontro com Jesus, se é verdadeiro, conduz sempre a uma dinâmica missionária. 

No texto evangélico aparecem dois verbos importantes: seguir e procurar.  É importante a união dessas duas palavras, pois pode-se procurar e não seguir! O seguir implica numa atitude dinâmica de caminhada e é a isto a que somos todos convidados. Seguir é buscar colocar na nossa vida os valores que o Senhor nos ensinou e viver seu exemplo de vida e entrega. Mas para seguir é preciso permanecer com Ele, estar com ele, como, por exemplo, pela oração e meditação. Assim nossa vida será sempre um constante estar com Jesus. 

Mas, como nos mostra as leituras de hoje, Deus tem para cada um uma procura singular.  Esta procura é o primeiro movimento, a primeira iniciativa de nosso encontro e amizade com Deus: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16).  A essa procura de Deus devemos responder com uma atitude de espera vigilante. Deus nos procura, mas não quer impor a sua presença.  Quer que a sua presença seja descoberta por nós, por um ato livre de escolha e de amor.  Por isso a sua presença se faz meio nublada, não se impõe pela evidência, mas solicita uma adesão de fé.  

Possamos estar também nós atentos ao chamado do Senhor que também hoje nos convida a escutá-lo, a segui-lo e a anunciá-lo.  Que Ele mesmo nos auxilie e nos dê ouvidos atentos de discípulos, para que, a exemplo de Samuel, de André, de Pedro, de Paulo e de muitos outros, tenhamos um encontro transformador com Ele, a ponto de repetirmos com o Apóstolo: “Para mim viver é Cristo”.  E vimos ainda que Jesus mostrou aos seus primeiros Apóstolos o local onde morava.  E eles ficaram com Ele.  Construamos também nós uma morada no nosso coração, onde Cristo possa habitar, onde Ele possa instruir-nos e conversar conosco.  Assim seja. 

PARA REFLETIR

Caríssimos em Cristo, após as santas festas do Tempo do Natal do Senhor, estamos iniciando o Tempo Comum. Terminada ontem a primeira semana deste tempo “verde”, entramos hoje no Segundo Domingo chamado Comum: comum do dia-a-dia, da vida miúda, vivida na presença do Senhor que está sempre presente na sua Igreja na potência do seu Espírito Santo, dando vigor à Palavra e eficácia aos sacramentos.

A Escritura que escutamos nesta Missa falou-nos de um Deus que chama, que entra na nossa vida e nos dirige o seu apelo. Foi assim com Samuel que, novinho, sequer sabia reconhecer a voz do Senhor; foi assim com os primeiros discípulos, traspassados pela palavra do Batista que, apresentando o Cordeiro de Deus, quase que forçava aqueles dois, André e Tiago, a seguirem Jesus. E lá vão eles: “Rabi, onde moras? Onde tens tua vida?” E Jesus os convida: “Vinde e vereis! Somente se tiverdes a coragem de virdes comigo, de comigo permanecerdes, podereis ver de verdade!” Não é impressionante, quase que inacreditável, caríssimos, que Deus nos conheça pelo nome, que o Senhor nos chame e nos queira parceiros seus no caminho da vida? E, no entanto, é assim! Também nós somos conhecidos pelo nome, nossos passos, nosso coração, nossa vida são conhecidos pelo Senhor… E ele nos chama com amor. A nós, que estamos procurando a felicidade e a realização na vida, o Senhor também dirige a pergunta: “O que estais procurando?” Vinde, caríssimos, fiquemos com o Senhor e encontraremos aquilo que nosso coração procura, aquilo que faz a vida valer a pena.

Mas, esse “estar com o Senhor”, esse “permanecer com ele”, que é o início da própria vida eterna já neste mundo, não pode se dar sem que realmente sejamos de Cristo, com todo o nosso ser, corpo e alma. Aqui aparece com toda clareza a urgência e atualidade da advertência de São Paulo, feita aos coríntios e a nós. Corinto era uma cidade perticularmente devassa do Império Romano. E, como hoje, os cristãos eram tentados a “corintiar”, a entrarem na onda, achando tudo normal, moderno e compatível com a fé. O Apóstolo, em nome de Cristo, desmascara essa ilusão, tão comum entre os cristãos de hoje. Ouçamo-lo! É incômodo, é chato, mas é a Palavra de Deus, que nos ilumina, liberta e nos salva… Ouçamo-la! “O corpo não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo!” Eis cristão: teu corpo pertence ao teu Senhor Jesus Cristo que nele habita pela potência do seu Espírito Santo desde o dia do teu Batismo: “Porventura ignorais que vossos corpos são membros de Cristo? Ou ignorais que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós e que vos é dado por Deus? E, portanto, ignorais que não pertenceis a vós mesmos? Então, glorificai a Deus em vosso corpo!” Compreende, cristão! Tu pertences a Cristo, tu és sagrado porque no Batismo foste consagrado pelo Espírito de Cristo que habita em ti! Teu corpo foi lavado pela água, símbolo do Santo Espírito, foi ungido pelo óleo batismal, sinal da graça de Cristo, foi untado pelo santo Crisma, sinal da força e da energia do Espírito de Cristo; teu corpo foi alimentado com o Corpo do Senhor… Teu corpo é sagrado, cristão, teu corpo é santo, teu corpo pertence ao Senhor! “Portanto, ignorais que não pertenceis a vós mesmos? Então, glorificai a Deus em vosso corpo!” Solteiro ou casado, todos nós temos o dever sagrado, o dever de amor de fugir da imoralidade! À medida que o paganismo avança, perde-se o sentido cristão do corpo e da sexualidade! Tem-se a idéia que o corpo é para o prazer, para a satisfação da libido; pensa-se que o corpo é uma coisa, um objeto de prazer, que a bel prazer pode ser usado… Isso pensam os pagãos, isso vivem os pagãos. Nós sabemos que não é assim: “O corpo é para o Senhor e o Senhor é para o corpo…” para este corpo, que será ressuscitado para a glória de Cristo!

Eis, caríssimos em Cristo, os pecados de hoje: a impureza (ou seja a busca do prazer solitário e de atos e pensamentos sensuais que aguçam propositalmente o erotismo), a fornicação (isto é, o ato sexual antes do casamento com pessoas do mesmo ou do outro sexo) o adultério (ou seja, a relação fora do casamento). Nunca deveremos esquecer qual a verdade do Evangelho: o ato sexual somente é santo, responsável, bendito e plenamente agradável a Deus no casamento. Fora dele, é sempre um pecado – e esta regra não conhece nenhuma exceção! E mais: a vida sexual do casal deve ser santa. Como diz a Palavra do Senhor: “O matrimônio seja honrado por todos, e o leito conjugal, sem mancha; porque Deus julgará os fornicadores e os adúlteros” (Hb 13,4).

Caríssimos, o modo que os cristãos têm de vivenciar a sexualidade não pode ser o modo dos pagãos. Eles seguem seus caprichos, suas paixões… Nós, mesmo frágeis, mesmo com nossos instintos e tendências muitas vezes desordenadas, por amor do Cristo que nos amou, temos o dever de lutar para colocar nossa sexualidade debaixo do senhorio de Cristo! Esse senhorio é mistério de cruz, mas também de ressurreição. Nós, que somos um só corpo com o Senhor pelo Batismo e a Eucaristia, nós que pelo Espírito Santo nos tornamos uma só coisa com o Senhor, de corpo e alma, não podemos pensar e viver nossa sexualidade como os pagãos! Então, jovem solteiro, jovem solteira, tua vida sexual, teu namoro, devem ser vividos à luz do Senhor Jesus! Casados cristãos, vossa vida conjugal não deve ser como a dos pagãos, sujeita e ditada simplesmente pela libido… Vossa sexualidade deve ser vivida na luz do Senhor! Homossexual cristão, vive tua tendência de modo cristão, lutando para seres casto, recorrendo à oração, completando corajosamente na carne da tua vida e da tua luta, aquilo que falta à paixão do Cristo. Procura viver dignamente, procura acompanhamento espiritual e coloca em Cristo a tua esperança e a tua alegria. Solteiro cristão, vive tua sexualidade na castidade e na continência por amor a Cristo! Padre, religioso, religiosa, tem coragem e generosidade para viveres o que prometeste a Cristo diante de toda a Igreja reunida no dia da tua profissão religiosa ou da tua ordenação sacerdotal! O Senhor nos pedirá contas, a todos nós! Ninguém está acima da Palavra, ninguém está acima do juízo do Cristo Jesus!

Talvez, caríssimos, alguns de vocês pensem como os judeus pensaram ao término do Discurso sobre o Pão da Vida: “Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?” (Jo 6,60). Pois bem, a nós, com doçura e também com firmeza o Senhor diz: “Isto vos escandaliza? Quereis também vós ir embora?” (Jo 6,61.67). Não é fácil, irmãos! Não somos melhores nem mais fortes que ninguém… Sentimos em nós pensamentos, afetos e desejos contraditórios… Mas, sabemos que Cristo nos chamou, nos amou e por nós entregou a vida. Então, que digamos como Pedro: “Senhor, a quem iremos? Tens palavra de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (Jo 6,69).

É isto, caríssimos, dizer na vida como Samuel disse: “Eis-me aqui”; é isto atender ao convite do Senhor: “Vinde e vereis”; é isto, finalmente, “ir ver onde ele mora e permanecer com ele”.  Que ele nos dê também a nós a sua graça! Amém. 

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