quinta-feira, 7 de agosto de 2014

No Angelus, Papa destaca necessidade de compaixão e partilha

ANGELUS
Praça São Pedro – Vaticano
Domingo, 3 de agosto de 2014

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Neste domingo, o Evangelho nos apresenta o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes (Mt 14, 13-21). Jesus o realiza ao longo do lago da Galileia, em um lugar isolado onde havia se retirado com os seus discípulos depois de saber da morte de João Batista. Mas tantas pessoas os seguiram e os alcançaram; e Jesus, vendo-as, sentiu compaixão e curou os doentes até a noite. Então os discípulos, preocupados com a hora tardia, sugeriram-lhe despedir a multidão para que pudesse ir aos povoados comprar algo para comer. Mas Jesus, tranquilamente, respondeu: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16); e fazendo-se levar cinco pães e dois peixes, abençoou-os e começou a fracioná-los e a dá-los aos discípulos, que os distribuíam ao povo. Todos comeram e ficaram satisfeitos e mesmo assim sobrou!

Neste acontecimento, podemos ver três mensagens. A primeira é a compaixão. Diante da multidão que O segue e – por assim dizer – “não O deixa em paz”, Jesus não reage com irritação, não diz: “Este povo me cansa”. Não, não. Mas reage com um sentimento de compaixão, porque sabe que não o procuram por curiosidade, mas por necessidade. Mas estejamos atentos: compaixão – aquilo que sente Jesus – não é simplesmente sentir piedade; é mais! Significa com-paixão, isso é, identificar-se no sofrimento do outro a ponto de tomá-lo para si. Assim é Jesus: sofre junto a nós, sofre conosco, sofre por nós. E o sinal dessa compaixão são as numerosas curas por Ele realizadas. Jesus nos ensina a colocar as necessidades dos pobres antes das nossas. As nossas necessidades, por mais legítimas, não serão nunca tão urgentes como aquelas dos pobres, que não têm o necessário para viver. Nós falamos dos pobres. Mas quando falamos dos pobres, sentimos que aquele homem, aquela mulher, aquelas crianças não têm o necessário para viver? Que não têm o que comer, não têm o que vestir, não têm a possibilidade de remédios… Também que as crianças não têm a possibilidade de irem à escola. E por isto, as nossas necessidades, por mais legítimas, nunca serão tão urgentes como aquelas dos pobres que não têm o necessário para viver.


A segunda mensagem é a partilha. A primeira é a compaixão, aquilo que sentia Jesus, a segunda é a partilha. É útil confrontar a reação dos discípulos, diante do povo cansado e faminto, com aquela de Jesus. São diferentes. Os discípulos pensam que seja melhor dispensá-lo, para que possa ir procurar comida para si. Jesus, em vez disso, diz: dai-lhe vós mesmos de comer. Duas reações diferentes, que refletem duas lógicas opostas: os discípulos raciocinam segundo o mundo, para o qual cada um deve pensar em si mesmo; raciocinam como se dissessem: “Arranjem-se sozinhos”. Jesus raciocina segundo a lógica de Deus, que é aquela da partilha. Quantas vezes nós nos viramos para outro lado para não vermos os irmãos necessitados! E este olhar para outra parte é um modo educado para dizer, em luvas brancas, “arranjem-se sozinhos”. E isto não é de Jesus: isto é egoísmo. Se tivesse dispensado a multidão, tantas pessoas teriam ficado sem comer. Em vez disso, aqueles poucos pães e peixes, compartilhados e abençoados por Deus, foram suficientes para todos. E atenção! Não é uma magia, é um “sinal”: um sinal que convida a ter fé em Deus, Pai providente, que não nos deixa faltar o “nosso pão cotidiano” se nós sabemos compartilhá-lo como irmãos.

Compaixão, partilha. E a terceira mensagem: o milagre dos pães preanuncia a Eucaristia. Vê-se isso no gesto de Jesus que “pronunciou a benção” (v. 19) antes de fracionar os pães e distribui-los ao povo. É o mesmo gesto que Jesus fará na Última Ceia, quando instituirá o memorial perpétuo do seu Sacrifício redentor. Na Eucaristia, Jesus não dá um pão, mas O pão de vida eterna, doa a Si mesmo, oferecendo-se ao Pai por amor nosso. Mas nós devemos ir para a Eucaristia com aqueles sentimentos de Jesus, isso é, a compaixão e aquela vontade de compartilhar. Quem vai à Eucaristia sem ter compaixão pelos necessitados e sem compartilhar não se encontra bem com Jesus.

Compaixão, partilha, Eucaristia. Este é o caminho que Jesus nos indica neste Evangelho. Um caminho que nos leva a enfrentar com fraternidade as necessidades deste mundo, mas que nos conduz além deste mundo, porque parte do Pai e retorna a Ele. A Virgem Maria, Mãe da divina Providência, acompanhe-nos neste caminho.


Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

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